Livro: A cidade Murada 
Título original: The walled city
Autor (a): Ryan Graudin
Editora: Seguinte
Páginas: 400
ISBN: 9788565765633

Sinopse: A Cidade Murada é um terreno com ruas estreitas e sujas, onde vivem traficantes, assassinos e prostitutas. É também onde mora Dai, um garoto com um passado que o assombra. Para alcançar sua liberdade, ele terá de se envolver com a principal gangue e formar uma dupla com alguém que consiga fazer entregas de drogas muito rápido. Alguém como Jin, uma garota ágil e esperta que finge ser um menino para permanecer em segurança e procurar sua irmã. Mei Yee está mais perto do que ela imagina: presa num bordel, sonhando em fugir… até que Dai cruza seu caminho. Inspirado num lugar que existiu, este romance cheio de adrenalina acompanha três jovens unidos pelo destino numa tentativa desesperada de escapar desse labirinto.

   Ryan Graudin nasceu na Carolina do sul, sempre rodeada de contos de fadas, músicas e irmãos que encenavam batalhas no quintal com ela. A autora frequentou uma escola que incentivava a arte no ensino médio. Entre concertos de violoncelo no corredor e slams no refeitório, ela decidiu que mais do que qualquer coisa na vida, queria escrever. “A Cidade Murada” é seu primeiro romance publicado no Brasil.

   A vida em Hak Nam é perigosa. Murada, espremida entre construções que se aglomeram e isso é passado de uma forma tão intensa no livro que cheguei a me sentir sufocada ao imaginar como seria viver ali, naquela cidade em que mal dá para ver o céu. O que uma vez foi uma construção com fins militares, acabou se tornando um local onde pessoas mais pobres, marginalizadas e criminosos passaram a morar.
   Lá vivem os três protagonistas do livro. Mei Yee, uma jovem garota que, ainda criança, foi vendida pelo pai para o dono de um bordel da cidade. Jin, irmã de Mei Yee, que está se refugiando em Hak Nam, depois de seguir a irmã quando foi vendida. Dai, um jovem que veio de família abastada que tem um propósito não revelado em Hak Nam.

   Conheci esse livro há alguns meses, antes de ser lançado no Brasil, através do NetGalley, porém não li o livro na época. Quando vi que seria lançado por aqui fui procurar novamente a sinopse do livro, assim que li já me senti encantada pelo livro. Não conhecia nenhum trabalho da autora, porém lia apenas resenhas positivas sobre o trabalho dela, o que me fez ansiar ainda mais pela leitura. A sinopse é bastante marcante, e me fez ter certas expectativas para o livro, porém nenhuma delas chegou aos pés deste livro incrível!
   Um ponto muito peculiar do livro é a narrativa. Acompanha três personagens diferentes (Mei Yee, Dai e Jin Ling), em jornadas diferentes, e as narrativas seguem esses três personagens. Gostei muito de como era nítida a diferença entre os personagens, a autora conseguiu definir e delinear muito bem cada um dos três protagonistas, de modo que mesmo sem ler quem era o narrador, ficava bastante claro quem estava contando a história.
   Além disso algo bem interessante também é que o livro faz uma contagem regressiva para algo que não nos é revelado de início. Foi um ponto que me fez virar as páginas com ainda mais ansiedade, pois precisava descobrir o que aconteceria no fim daquela contagem. A narrativa do livro foca mais no desenvolvimento dos personagens, um estilo de narrativa que particularmente me atrai bastante, e na ambientação, feita com maestria pela autora.

   “A Cidade Murada” de Hak Nam foi inspirada na real cidade murada da China, Kowloon. O livro traz uma realidade agressiva e complexa, que foi trabalhada pela autora de uma forma tão bonita. Pode parecer ambíguo, porém foi o que senti ao ler o livro. Há uma descrição crua da realidade de Hak Nam, porém a crueza é poética e me encantou. A ambientação é definitivamente um dos pontos mais fortes do livro!
   Os personagens foram outro aspecto do livro que me agradaram bastante. Mei Yee e Jin são irmãs, e sofreram com um lar abusivo. O pai era agressivo, e tratava as filhas e a esposa de forma violenta. Isso reflete principalmente no caráter de Jin, que fazia frente às agressões do pai para defender a mãe a a irmã. Jin representa bem o trecho da letra de Superheroes, da banda The Script, “all her life she has seen/ all the meaner side of men (...) now she’s stronger than you/ a heart of steel starts to grow” (por toda sua vida ela viu/ o pior lado do homem (...) agora ela é mais forte que você/ um coração de aço começou a crescer). Ela é um personagem cujo caráter foi fortalecido pelas pancadas que recebeu na vida. 
   Sua irmã, Mei Yee vive em uma situação extrema, escrava de um bordel, depois de todo o abuso que sofria em casa. Também é uma personagem cujo caráter é moldado e fortalecido pelas dificuldades que passou. E temos Dai, um personagem bastante misterioso e apresenta muitas facetas ao longo do livro, é um personagem esférico, o que me fez gostar muito dele — sua complexidade, sua profundidade, sua realidade. 

   É um conjunto pouco provável de personagens, porém foi algo que deu muito certo no livro, ver a história dos três se desenrolando e se entrelaçando ao longo do livro. Além dos protagonistas temos outros personagens que também são essenciais para a história, e levam a mesma qualidade que Ryan dedicou aos protagonistas — todos são muito bem construídos e trazem uma profundidade incrível ao livro. 
   O livro é bastante profundo, a escrita é poética, e o foco é no desenvolvimento dos personagens e na ambientação. São características que me agradam, porém sinto que isso será um ponto negativo para muitos leitores. O foco nos personagens pode deixar a história maçante para muitos quem lê. Há ação, porém em sua maioria, não é um livro com ritmo veloz. E em alguns pontos, mais para o final do livro, senti que algumas coisas podem parecer levemente forçadas, porém, prefiro não comentar muito mais sobre isso para não entregar surpresas do livro — apenas digo que, em suma, foi um ponto chato, mas não afetou minha experiência de leitura. 
   A Editora Seguinte fez um trabalho incrível na edição de “A Cidade Murada”. A capa é aveludada e transmite muito bem a ambientação do livro (muito mais do que a capa original), repleta de detalhes de casas amontoadas e espremidas, que representam muito bem Hak Nam. A diagramação, como sempre nos livros da editora, ficou muito agradável aos olhos, não tornando a leitura cansativa, e a tradução ficou impecável! 
   “A Cidade Murada” entrou na lista dos meus favoritos do ano! Com uma escrita poética, personagens cativantes, desenvolvimento de personagens e uma história que me fez virar as páginas rapidamente, acredito que todos deveriam dar uma chance à esse livro, mesmo que não seja um estilo que te atraia, tenho certeza que você irá se surpreender e se encantar. É um livro que recomendo aos quatro ventos e à plenos pulmões! 

Primeiro parágrafo do livro: 
"Existem três regras para sobreviver na Cidade Murada. Corra muito. Não confie em ninguém. Ande sempre com uma faca."
Melhor quote: 
"Posso até não ser uma boa pessoa, mas vou virar uma. Vou escrever uma nova resposta para quem sou eu: o herói que a menina da janela vê."



2 Comentários

  1. Nossa!! Essa frase atribuida como melhor quote tocou meu coração! Estou louca pra ler o livro

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  2. Quero porque quero LER ♥!
    Minha Wishlist de livros nunca para de crescer!!!!!

    http://leitoracomamor.blogspot.com.br/

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