Título original: Allegiant
Autor (a): Veronica Roth
Sinopse: "Uma escolha irá te definir. E se todo o seu mundo fosse uma mentira? E se uma única revelação - assim como uma única escolha - mudasse tudo? E se o amor e a lealdade fizessem você fazer coisas que jamais esperaria? A conclusão explosiva para a trilogia Divergente, bestseller mais vendidos do New York Times, revela os segredos de um mundo distópico que cativou milhões de leitores em "Divergente" e "Insurgente"!"
TRILOGIA "DIVERGENTE"
Depois de encabeçar a lista dos mais vendidos por semanas consecutivas com seu primeiro livro, Divergente, Veronica Roth continuou a fazer a alegria daqueles que se apegaram à série com o segundo volume, Insurgente. Eis que depois de muita polêmica quanto ao segundo livro, finalmente chega ao Brasil o terceiro e último volume da série. Convergente, traduzido (erroneamente, devo frisar!) do original "Allegiant", é o livro mais polêmico da carreira de Roth — e o mais chocante também.
Se eu gostei? Sim. Não. Até agora não tenho certeza.
O vídeo de Edith Prior a respeito dos Divergentes e do mundo fora da cerca foi revelado a toda Chicago, e Tris é a pessoa que podem culpar por isso. Mantida prisioneira sobre o regime da mãe de Tobias, Evelyn, Tris não sabe em quem confiar — os sem-facção liderados por Evelyn não são nada mais do que outro regime opressor, parcamente diferentes do que o comandado por Jeanine.
Com as facções recém diluídas, em uma nova era onde os líderes, supostamente, pregam pela igualdade, há uma guerra acontecendo dentro de Chicago. De um lado, os que desejam a volta das facções e estão insatisfeitos em ter a antiga tirania substituída por outra, e, de outro, aqueles anteriormente excluídos — os sem facções — que, finalmente, reivindicaram seus lugares na sociedade. Além desses dois grupos, entretanto, forma-se uma união não prevista: auto-denominados os Leais (The Allegiant, no original), esses membros vão contra o atual governo e desejam saber o que há além da cerca.
Embarcando nessa jornada desconhecida, Tris encontra uma maneira de descobrir mais sobre sua própria história, e os mistérios que ainda rondam sua família. Ela e Tobias juntam-se ao grupo em uma excursão para fora dos limites de Chicago, e é a partir desse ponto que começamos a entender de forma mais plena o universo criado por Veronica Roth.
Quem sabe ao menos um pouquinho sobre meu gosto literário, sabe que sou apaixonada por distopias. Preciso ser sincera ao dizer que Divergente foi, desde a primeira obra, minha série distópica preferida, mesmo que eu possuísse uma relação de amor/ódio com a história. Talvez, minhas expectativas para um volume final fossem muito altas. Eu estava esperando um desfecho genial, com todas as respostas para as perguntas levantadas durante os dois primeiros livros. Se encontrei tudo isso? Sim. Mas não da forma como eu esperava.
Convergente já surpreende pela narração inédita. Dessa vez, a história é contada tanto por Tris quanto por Tobias, alternados, mais ou menos, em um capítulo cada. O modo da narração deu uma dinâmica ótima para a história, já que deixa o leitor a par de todos os acontecimentos, além de mostrar uma visão mais ampla sobre as situações. Dessa vez, não estamos apenas limitados à visão da Tris, uma "novata" naquele mundo. Estava muito ansiosa para saber mais sobre o modo como Tobias pensa, para conhecer um pouco mais o personagem, e não tive nenhuma decepção quanto a isso.
É notável a mudança na
personalidade, tanto de Tobias quanto na da Tris. Eles não são mais apenas jovens, irracionais e um pouco irresponsáveis. Ambos estão amadurecidos, já viram mais do mundo do que tantos outros, e, certamente, isso os afetou. É claro, eles ainda valorizam muito as emoções, suas vontades
— porém, é perceptível o crescimento dos dois ao notá-los fazer isso de modo mais racional. Outro fator que sempre adorei sobre o relacionamento dos dois é a quantidade de
realidade imposta sobre o tal. Eles brigam, discutem e discordam, mas se perdoam também. Tudo isso é altamente mostrado em Convergente, e até há um pouquinho mais de
romance do que houve em Insurgente.
Veronica Roth sempre soube combinar esse clima romântico com muita ação e adrenalina. Nesse volume entretanto, as coisas estão um pouco diferentes. Não há mais o ritmo alucinante, cheio de reviravoltas que tornou-se tão característico com Divergente: o livro é mais concentrado em prestar as devidas explicações sobre como as facções foram formadas, o que levou a cidade a tornar-se o que é hoje, e resolver o grande problema com a ditadura de Evelyn. E é nesse ponto em que, pessoalmente, acredito residir o maior problema da história.
Sempre gostei da escrita extremamente realista da autora. Ela nunca suavizou fatos nem pessoas, nunca idealizou as coisas — os personagens de Roth brigam, traem, zangam-se e ficam felizes. O incômodo, contudo, foi que, por mais que a autora tenha explicado tudo detalhadamente, senti uma falta de nexo enorme na história. Há tantas coisas que ficaram mal explicadas ou parcamente críveis — porém, ao mesmo tempo, existem fatos que fazem total sentido, e condizem com o que foi explicado da estória desde Divergente.
Possivelmente, creio que o que aconteceu foi que Veronica Roth não conseguiu trabalhar muito bem com o desenrolar dos fatos que ela mesma criou. A atitude dos personagens ao ver um mundo completamente novo, por exemplo, é um dos fatos que meramente não fez sentido — sem acharem nada muito estranho, sem uma curiosidade enorme. Eles apenas entraram em uma esfera inédita, e a aceitaram sem fazer muitas perguntas. Sem contar que a justificativa para o clímax final foi muito mal formulada, algo que não é característico da autora. Será que não passou pela cabeça de ninguém que eles poderiam, simplesmente, fazer mais soro?!
Apesar de todo o supracitado, quero deixar bem claro que Convergente não é um livro ruim, ou completamente decepcionante. Eu fiquei totalmente presa à leitura, como sempre aconteceu com a série, mesmo que não estivesse gostando do decorrer da história. O meu impasse é que, para uma das minhas séries preferidas, eu esperava um final magistral. Não é um livro ruim, mas está muito longe de ser um volume de desfecho ótimo.
O humor presente no livro é notável, como já é de costume. Acho incrível o fato de que, em um livro com tanto drama e uma carga emocional extremamente pesada, ainda seja possível, em alguns momentos, o leitor dar gargalhadas, ou encontrar-se suspirando com o romance de certas partes. Sobre tudo isso, alguns personagens secundários, como Uriah e Caleb, por exemplo, tem certo destaque na trama, e trazem alguns conflitos que estão esperando para serem resolvidos desde o primeiro volume.
E, POR FIM, A ESCOLHA QUE TE DEFINE...
Finalmente, como fã e como leitora, não há como terminar essa resenha sem citar
o final do livro. Vou tentar não dar nenhum
spoiler nem estragar o enredo para quem ainda lerá o livro, mas preciso deixar aqui minha opinião como alguém que acompanhou a trilogia desde o início.
"Suponho que um fogo que queima tão brilhante não é feito para durar."
Trata-se de um assunto espinhoso para mim, pois, em suma, é simples, mas tão complicado:
eu queria um final épico. Queria uma grande cena final, um acerto de contas, romance e tudo que acho que a série merecia. Mas nada disso aconteceu. Repito o que já disse ao afirmar que Convergente não é um livro essencialmente ruim. Entretanto, acredito que o livro ficou tão
aquém ao que a série merecia, ao que os personagens mereciam, e ao que a própria autora já mostrou-se capaz de escrever.
O final acabou comigo. Chorei, solucei e tive que parar para me recompor depois do epílogo, porque tudo era simplesmente demais para mim. Acredito que, como fã, nunca vou aceitar completamente o desfecho que Roth deu para a série, mas, ao mesmo tempo, como uma leitora, senti um pouco de orgulho da estória. Não foi um final utópico. Tudo não terminou bem. Contudo, simultaneamente, o significado dos acontecimentos finais é tão palpável, tão bonito, que torna-se difícil odiar completamente o fim (mesmo que eu não concorde com ele). É o relato sobre um grupo de jovens que fez a diferença, mas que não salvou todo o mundo.
Se Convergente me decepcionou? Sim, e muito. Mas, apesar disso, o final não foi o suficiente para tirar todo o mérito que a série vinha acumulando, e não consegue tornar os livros anteriores, nem a estória, menos merecedora de admiração.
E, para aqueles ainda vão terminar a série, vou dizer uma última vez.
Be brave.
Melhor quote:
"... Todo mundo tem algum mal dentro deles, e o primeiro passo para amar alguém é reconhecer o mesmo mal em nós mesmos, assim seremos capazes de perdoá-lo."