Livro: O Príncipe dos Canalhas
Título original: Lord of Scoundrels
Editora: Arqueiro
Páginas: 288
ISBN: 9788580413991
Sinopse: "Sebastian Ballister é o grande e perigoso marquês de Dain, conhecido como lorde Belzebu: um homem com quem nenhuma dama respeitável deseja qualquer tipo de compromisso. Rejeitado pelo pai e humilhado pelos colegas de escola, ele nunca fez sucesso com as mulheres. E, a bem da verdade, está determinado a continuar desfrutando de sua vida depravada e pecadora, livre dos olhares traiçoeiros da conservadora sociedade parisiense. Até que um dia ele conhece Jessica Trent... Acostumado à repulsa das pessoas, Dain fica confuso ao deparar com aquela mulher tão independente e segura de si. Recém-chegada a Paris, sua única intenção é resgatar o irmão Bertie da má influência do arrogante lorde Belzebu. Liberal para sua época, Jessica não se deixa abater por escândalos e pelos tabus impostos pela sociedade – muito menos pela ameaça do diabo em pessoa. O que nenhum dos dois poderia imaginar é que esse encontro seria capaz de despertar em Dain sentimentos há muito esquecidos. Tampouco que a inteligência e a virilidade dele pudessem desviar Jessica de seu caminho. Agora, com ambas as reputações na boca dos fofoqueiros e nas mãos dos apostadores, os dois começam um jogo de gato e rato recheado de intrigas, equívocos, armadilhas, paixões e desejos ardentes."
Sebastian Ballister é um depravado altamente conhecido pela alta sociedade. O perigoso e infame Marquês de Dain é conhecido como Belzebu — o poderoso Príncipe dos Demônios mitológico —, devido a sua reputação de ser como o próprio demônio: feio, impetuoso e depravado. Ele é brutal com todos, não dando espaço para que ninguém entre em sua vida, sempre estando na companhia de meretrizes e no meio de jogos de azar. Insanamente rico e com problemas familiares antigos, nenhuma mulher jamais conseguiu o tirar de sua perfeita compostura: isto é, até conhecer Jessica Trent.
Jessica é uma verdadeira femme fatale. Com uma mentalidade muito afrente de seu tempo e não se deixando intimidar nem pela sociedade, nem pelos homens que pensam menos das mulheres, ela toma as rédeas de sua própria vida. Mesmo com idade o suficiente para ser uma solteirona, devido aos costumes da época, ela recebe diversas propostas de casamento e é cortejada por onde passa. Isso não a afeta, pois ela está decidida a viver sua vida como bem entende, e casar apenas com alguém que ame.
Eles se encontram, primeiramente, por acaso, e Jessica está certa de que o Belzebu não é uma boa companhia para seu irmão, que admira o marquês fervorosamente. Os dois passam se encontrar por acaso, e apesar de Jessica não dar a mínima atenção às fofocas da sociedade, especulações acerca de um possível envolvimento são levantadas. O que ocorre entre eles, contudo, é uma atração que nenhum dos dois esperava, mas grande demais para ser apenas ignorada; como os dois, tão diferentes e repulsivos um ao outro, podem lidar com esse poderoso sentimento?
Loretta Chase é uma renomada escritora de romances. "O Príncipe dos Canalhas", mesmo que publicado apenas esse ano pela Editora Arqueiro, é um livro publicado há mais de vinte anos atrás. Nesse ínterim, foi indicado e recebeu os mais diversos prêmios, sendo, inclusive, eleito o melhor romance histórico de todos os tempos.
Já li uma quantidade razoável de romances de época, e, apesar de a maioria contar com um enredo um tanto previsível e romances já conhecidos, ainda é um dos gêneros que mais me agradam quando preciso apenas ler "um livro bom". E, se devo me expressar livremente, "bom" era o que eu esperava da obra de Chase ao solicitá-la à Editora Arqueiro. É claro, imaginem minha surpresa quando encontrei algo muito além disso: encontrei um romance profundo, com personagens complexos, inteligente e muito bem desenvolvido.
A narração foi a primeira coisa a me conquistar em relação à obra. Escrita em terceira pessoa, ela alterna o foco entre as visões tanto de Jessica, quanto de Dain, nos fornecendo uma visão muito mais ampla e clara sobre o ponto de vista de cada um. Admirei muito a capacidade da autora de fazer essa troca rapidamente, com uma maestria incrível, sem mesmo que o leitor perceba, e nunca dando alarde.
Desse modo, a leitura vai fluindo de maneira incrível. A escrita delicada, poética e inteligente auxilia, e muito, nesse fator, mas não há algo específico que eu possa afirmar que defina a narração além de simples e puro talento. Loretta Chase é incrivelmente talentosa, e isso é algo que fica claro, tanto pela criação da história quanto pelo modo como ela a escreve. Não há como parar de ler de a obra, e entrei em um dilema muito conhecido: queria ler toda a história logo, ao mesmo tempo em que não queria que ela acabasse.
Mas, apesar de ter amado a escrita, esse não é o ápice da obra. Esse título vai à seus personagens, que são incrivelmente bem construídos e extremamente reais. E isso sempre é ótimo, obviamente, mas, em minha opinião, creio que, por se tratar de um romance de época, a situação toda apenas é multiplicada. Eu explico: todos sabemos que, nesse gênero, o foco sempre é o romance. O passado dos personagens, o desenvolvimento gradual ou o lado mais sombrio (e, por isso, mais real!) da história usualmente não é o destaque. E isso é compreensível e perdoável, exatamente por todos sabermos "qual é a do livro".
O Príncipe dos Canalhas, entretanto, conseguiu trazer todos os elementos essenciais a uma boa construção. E mesmo que isso não seja completamente inédito, já que outras séries de época também já se preocuparam em aprofundar seus personagens, essa é a primeira vez que vejo isso de maneira tão completa. A série "Os Bridgertons", por exemplo, é uma das minhas preferidas do gênero e uma das mais completas em minha opinião, mas, nem ela possui um personagem masculino que não seja estonteantemente lindo.
“Ele era Dain, o lorde Belzebu em pessoa. Não temia a fúria da Natureza nem a da sociedade civilizada.”
E isso acontece aqui. Dain é um personagem que sofreu muito em uma idade tenra, e o modo como seu falecido pai o tratou o deixou duro e implacável, muitas vezes rude e temido. E apesar de ele, obviamente, não ser alguém essencialmente ruim, Chase quis criar um personagem que não fosse impecavelmente lindo, assim como acontece, muitas vezes, no mundo real. E não poderia ter adorado mais esse aspecto do livro!
Jessica, por sua vez, é uma mulher linda e encantadora como muitas das heroínas românticas, mas ela também é incrivelmente forte e decidida. Mesmo em uma época na qual, tristemente, as mulheres tinham direitos praticamente nulos, ela consegue se impor e sabe muito bem que não deve ser rebaixada por nenhum homem. E Chase cria uma protagonista tão independente, inteligente e que foge dos esteriótipos perfeitamente, nunca parecendo forçada ou irreal demais à época na qual vive.
É claro, o romance dos dois funciona de forma impecável, também. Poucas vezes vi um casal com tanta química como Dain e Jessica, e isso contribuiu (e muuito!) para a leitura — eu não podia esperar a hora de dois ficarem juntos! Foi deveras divertido e incrivelmente envolvente ver como os dois, tão cheios de teimosia, mas astutos e decididos, se comportavam quando afrente de um sentimento que era estranho a ambos, e igualmente forte para os dois também.
A edição da Editora Arqueiro é simplesmente linda. A capa é muito bela, e conseguiu captar muito bem toda a atmosfera da história, e, na minha opinião, superou de longe a original (que, por sua vez, escolheu seguir o padrão das capas de romances de banca). Já a diagramação é limpa, mas ainda delicada, e não encontrei, durante a leitura, nenhum erro de revisão ou ortografia, o que é sempre ótimo.
Por fim, reafirmo que esse foi um ótimo, e um dos meus preferidos do ano. Não posso dizer que seja uma história que vai mudar a vida de quem a lê, contudo, definitivamente irá alegrar sua semana e trazer alguns suspiros à tona. Uma história envolvente e muito romântica, possivelmente o melhor livor do gênero que já li. Super recomendado!
Primeiro parágrafo do livro:
"Na primavera de 1792, Domicik Edward Guy de Ath Ballister, terceiro marquês de Dain, conde de Blackmoor, visconde de Launcells, barão de Ballister e Launcells, perdeu esposa e quatro filhos para o tifo. [...]"
Melhor quote:
"E ela não se soltou de seu pescoço. Não afastou sua boca da de Dain. Seu beijo era tão doce e inocentemente ardente quanto o dele era ousado e provocante. Ele se sentiu derreter soba aquele ardor virginal, como se ela fosse a chuva e ele um pilar."