Livro: Sombras na Place des Vosges
Título Original: L'Ombre Chinoise
Autor (a): Georges Simenon
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 136
Sinopse: Raymond Couchet, dono de um grande laboratório de soros, é assassinado em seu escritório na Place des Vosges. No Hôtel Pigalle, vivem a amante da vítima e o filho do primeiro casamento de Couchet, o qual logo desperta as suspeitas de Maigret. Mas de repente, o filho comete suicídio. E ele sabia o que estava por trás da morte do pai.
Este é mais um conto do Comissário Maigret, o mocinho da série de livros (28 ao todo, sem ordem de leitura) de investigação e mistério de Georges Simenon — um brilhante escritor do século XX, que marcou a literatura europeia com seus romances policiais, tomando como cenário, na grande parte de suas obras, a sublime e imponente França. E assim fez com Sombras na Place des Vosges.
Em um prédio da periferia francesa, situado na Place des Vosges,
um crime aconteceu na calada da noite. O milionário Raymond Couchet teve o dinheiro do laboratório do qual era dono, roubado, e logo em seguida foi assassinado. O
Comissário Maigret é logo chamado à cena do crime pela zeladora do prédio, que não sabe lhe dar mais informações sobre o ocorrido, apenas que achara o corpo baleado no escritório. A partir daí, Maigret passa a se envolver com aquele caso, e consequentemente, com as pessoas que rodeavam Couchet — como sua amante, seu filho, sua ex-mulher e seu atual marido, sua viúva e a família dela — sabendo que o responsável
pode ser qualquer um deles. Ou, provavelmente, mais de um.
Infiltrando-se cada vez mais na
vida daquele homem, Maigret passa a vê-lo quase como um amigo, com o detalhe
peculiar que a amizade iniciara depois da morte do outro. Conhecendo seu
passado, e as relações nas quais se via envolvido
, sua visão é ampliada. O Comissário não vê o caso apenas de forma
superficial – se assim fosse, não conseguiria ir muito longe. Ele também
analisa os sentimentos de todos aqueles
que considera suspeitos, encontrando
razões
para cometer um assassinato em cada um deles, criando uma
teia enorme e confusa, que, ao final, é
logicamente desenrolada.
Essa foi minha primeira
experiência com uma obra de Georges Simenon, mas a ficção policial e o mistério
foi algo que me instigou. E não pude evitar comparar a história de Simenon com
as de Ágatha Christie: além das temáticas serem as mesmas, as histórias também
são curtas (percebi que livros finos, com poucas
páginas, são marcas comuns em ambos escritores, e isso faz com que o leitor
se envolva facilmente). Também há traços do Realismo em cada parte do conto, e Simenon é justamente conhecido
por seus “romances duros”, com grande densidade
psicológica – o que me faz ter ainda mais vontade de ler outras obras do
autor.
Narrado em terceira pessoa, mostra o ponto de vista de Maigret, circulando
sempre em torno dele, de suas descobertas, pensamentos, etc. Tudo isso de forma simples, sem revelar muito profundamente
os sentimentos do personagem central, apenas impressões superficiais que ele concluía a respeito dos demais. Os
detalhes eram bem descritos, fazendo com que tudo fluísse e fosse imaginado com
facilidade. E é justamente essa escrita
detalhada (e formal, considerando a época) que faz com que os personagens sejam construídos — através de suas
roupas, seus modos de caminhar, mover as mãos, suas moradias, enfim, tudo observado minuciosamente por
Maigret.
"São impressões que não se
explicam; sentia-se que havia alguma coisa anormal no prédio, alguma coisa que
se manifestava desde a fachada”.
Interessante destacar a facilidade com que Simenon pode
fazer com que o leitor entre na história, juntamente com o protagonista, que
pouco tempo antes jamais imaginaria que estaria inserido com muitíssima
facilidade nesse caso, conseguindo se infiltrar e deduzindo de forma prática como o assassinato fora cometido. Isso
faz com que nós entremos em seu
raciocínio sem muito esforço, como se estivéssemos em seu lugar.
O Comissário Maigret, na verdade, não passa de mais um
leitor, como todos nós, decifrando os mistérios de um crime. Não é difícil
imaginá-lo como um espectador, pois é exatamente isto que ele é. Sua forma de
captar os suspeitos em suas maiores sutilezas é o que um leitor mais atento
faria ao absorver cada detalhe escrito numa obra. Até os
menores personagens conseguem chamar atenção, de forma que também
sejam vítimas de desconfiança. São
bem
construídos e se adéquam a uma França do século XX, com seus temores e
psicológicos bem decifráveis, quase transparentes, para Maigret.
O final não foi nada arrebatador como normalmente se vê em
outros livros do gênero – com uma grande revelação, emoções à flor da pele e
surpresas chocantes. O desfecho era
previsível desde o início, mas foi ele que carregou o maior ápice de todo o enredo, pois a
descoberta do grande mistério trouxe uma carga de outras coisas importantes. O
que estranhei também foi tudo ter ocorrido de forma estranhamente simples, sem
grandes distúrbios significativos, assim como o futuro indefinido e cheio de pontas soltas de alguns personagens que
haviam sido cruciais para as conclusões do Comissário.
Desde a capa – com sua bela sobriedade – até a diagramação
simplificada, captou a essência do livro. Nada muito floreado, o que se
encaixou perfeitamente. Mesmo com alguns erros mínimos de edição, a tradução
foi coesa, assimilando a simplicidade detalhista de Simenon.
Sombras na Place
des Vosges traz
consigo um ótimo conto investigativo, com um enredo instigante para os amantes
do gênero, mas peculiar em alguns
pontos, o que encarei de forma positiva. O Realismo presente e o trabalho
psicológico brilhantemente analisado pelo personagem central faz com que
tenhamos uma perfeita visão da
história na qual nos envolvemos. Um romance escrito com maestria, para ser lido
da mesma forma.
Primeiro parágrafo: “Eram dez da noite. Os portões
do gramado central estavam fechados e a Place des Vosges, deserta, com os
rastros luzidios dos carros desenhados no asfalto e o silvo contínuo dos
chafarizes, as árvores desfolhadas e o recorte monótono dos telhados idênticos
contra o fundo do céu”.
Melhor quote: “Maigret sorriu novamente.
Estava num humor esplêndido. Aquela manhã, tinha uma súbita impressão de
participar de uma farsa! A vida inteira era uma farsa! A morte de Couchet era
uma farsa, em especial seu testamento!”
o livro parece mt bom Bianca, adoreii a resenha, tava dificil de achar outra e quero ler
ResponderExcluirAdoro conto investigativo, talvez eu dê uma chance porque confesso que dou mais atenção aos 5 estrelas. Beijos ^.^
ResponderExcluirVanessa | http://closetdelivros.blogspot.com/
Fiquei muito interessada nesse livro por causa dessa resenha.
ResponderExcluirObrigada pela dica!
SUA ESTANTE
Gatita&Cia.