Livro: A Filha do Sangue
Título original: The Daughter of Blood
Autor (a): Anne Bishop
Editora: Saída de Emergência Brasil
Páginas: 432
ISBN: 9788567296104
O Reino Distorcido se prepara para o cumprimento de uma antiga profecia: a chegada de uma nova Rainha, a Feiticeira que tem mais poder que o próprio Senhor do Inferno. Mas ela ainda é jovem, e por isso pode ser influencidade e corrompida. Quem a controlar terá domínio sobre o mundo. Três homens poderosos, inimigos viscerais - sabem disso. Saetan, Lucivar e Daemon logo percebem o poder que se esconde por trás dos olhos azuis daquela menina inocente. Assim começa um jogo cruel, de política e intriga, magia e traição, no qual as armas são o ódio e o amor. E cujo preço pode ser terrível e inimaginável.
TRILOGIA "AS JOIAS NEGRAS"
    1.  A Filha do Sangue
    2.  Heir to the Shadows (ainda sem previsão de lançamento no Brasil)
    3.  Queen of the Darkness (ainda sem previsão de lançamento no Brasil)

    Primeiro de tudo, afirmo que a sinopse do livro não cobre nem a metade do cenário inicial. Vou dizer que não tentarei explicar muito profundamente A Filha do Sangue. Explicar esse livro seria, mais ou menos, como tentar resumir  “As Crônicas de Gelo e Fogo”: é impossível contar a história e abranger tudo o que deveria, já que ela é extremamente complexa. 

    Os Sangue são uma espécie mágica que vive em uma sociedade matriarcal. Inicialmente foram criados para serem protetores do reino e servirem as Trevas, contudo, ao longo dos anos, os mais ambiciosos chegaram ao poder e todos sofreram sob o comando de Rainhas cruéis. A sociedade atual consiste nessas fêmeas tirânicas no poder, quando qualquer macho poderoso, que poderia ter sido uma ameaça ao sistema, é dominado e torna-se um escravo sexual. 
   O poder dos Sangue precede de pedras chamadas Joias – sendo que, quanto mais escura sua joia, mais poderoso você é –, e cada indivíduo possui duas: uma, recebida como um Direito de Progenitura, e outra, que pode ser “evoluída” três níveis acima da sua de direito. A magia desse povo é chamada de Arte. 
   Centenas de anos atrás, uma profecia foi feita. Uma Rainha, A Feiticeira, chegaria, e o seu destino seria governar o povo de Teirelle da maneira correta, destruindo a sociedade corrompida que agora existe. Tal Feiticeira, de fato, chega; contudo, ela ainda não passa de uma menina. Dona de tamanho poder nunca antes visto, Jaenelle é um extramente talentosa, mas ainda é vulnerável, jovem e inocente – estando, assim, sujeita a influências que podem corrompê-la.
    Cabe agora a três homens – príncipes do Sangue, machos muito poderosos –, que estão destinados a servir a Feiticeira de direito, a instruírem para o caminho correto. Cada um deles possui um passado tormentoso e almas desfiguradas. Saetan, o Senhor Supremo do Inferno, e seus dois filhos, Daemon, O Sádico, e Lucivar, precisam lutar contra seus próprios demônios para ajudar Jaenelle: e, ao mesmo tempo, protegê-la do perigo que representa a si mesma.

     Não consigo lembrar do último livro que me empurrou para fora de minha zona de conforto como A Filha de Sangue fez. Anne Bishop escreveu uma obra magistral, possuidora de um mundo extremamente original e fantástico. A autora possui um talento de poucos: ela consegue, em algumas páginas, transportar o leitor a um mundo único, e, de tal modo, totalmente estranho, mas do qual é impossível de duvidar.
    A narração é em terceira pessoa, contudo, o interessante sobre a história é que nada é narrado pela perspectiva da Jeanelle, a protagonista. Os fatos são contados por outros personagens, os encarregados de guiá-la e auxiliá-la nessa iminente jornada, ou, até mesmo, por aqueles que desejam sua destruição. 
   A quantidade de realismo imposto no livro é enorme, e, algumas vezes, chocante. Trata-se de um livro sombrio, que, de modo paradoxal, é também sobre esperança e amor. É cheio de cenas explícitas, tortura, insinuações sexuais, violência, crueldade é até mesmo abuso infantil. Bishop faz seus personagens passarem por situações perversas, que não devem funcionar para todos os leitores. É preciso estômago para ler o livro, e, especialmente, lidar com a ideia de algumas das crueldades presentes.

"– Não. Somos o que somos. Nem mais, nem menos. O bem e o mal existem em todos os povos. Atualmente, quem domina é o mal que existe entre nós."
  Um ponto alto de A Filha do Sangue são seus personagens, e a complexidade que eles carregam – características humanas, é claro, mas que muitas vezes são deixadas de lado na ficção. Ninguém é completamente bom, ninguém é de todo mau. Começando pelos três homens que devem guiar Jeanelle: Saetan é o Senhor Supremo do Inferno, e muito poderoso, tendo um passado turbulento e cruel. O carinho e amor que demonstra por Jeanelle, contudo, mostra outra faceta do homem, que a idolatra. Com Lucivar ocorre o mesmo, contudo, ninguém recebe mais destaque do que Daemon (e ninguém se mostra mais complexo do que ele, também). 
    Daemon é, na realidade, o legítimo anti-herói. Criado como um escravo sexual desde muito jovem, assim como o irmão, pode-se dizer que o homem não recebeu a reputação de Sádico a toa. Ele é agressivo, cruel e violento. Contudo, mesmo nunca deixando de lado tais características, possui um código moral e protege aqueles que ama a qualquer custo, sendo que a única coisa pela qual anseia é a Feiticeira para servir. Quando toma conhecimento de que a Feiticeira é Jaenelle, por sua vez, os sentimentos dele em relação a criança tornam-se tempestuosos – ao mesmo tempo que sabe ser errado ser atraído por uma menina de doze anos, não consegue evitar como se sente, o poder que emana dela.
    Jaenelle, por sua vez, é uma criança, mas possui dentro de si uma sobriedade impressionante. É claro, tamanho poder como o dela não viria sem um preço. A menina é atormentada, tanto pelas coisas que viu em uma idade tão tenra, mas, também, pelo sofrimento imposto por sua família, que a taxa de louca. A personagem passa por maus bocados do começo ao fim do livro, mas está claro que está destinada a algo grande. Ela precisa ser ensinada e orientada, mas vive surpreendendo seus mestres com habilidades nunca vistas e um poder enorme. 
    Chego, aqui, a um dos pontos um tanto quanto incômodos sobre o livro. Primeiramente, explico que os Sangue machos possuem um desejo intrínseco de servir, ser fiel às fêmeas, especialmente se elas forem suas Rainhas. Isso é compreensível, é claro. Contudo, o modo como os Saetan e Daemon são devotos a Jaenelle transparece um pouco mais do que apenas servidão. Saetan nem tanto, contudo, Daemon, mesmo sabendo que ela ainda é uma criança, ainda tem sentimentos amorosos em relação a ela.

   Isso me incomodou bastante, até por que algumas cenas possuem um certo apelo à pedofilia. Deixo claro que Daemon não força ela a nada, e na verdade, não há um romance especificamente, contudo, é evidente que ele deseja ser seu amante e seus sentimentos são explícitos. Ele mesmo reconhece isso, e reconhece que ela ainda é muito nova, fazendo um voto de esperar até Jaenelle chegar à idade correta para um relacionamento. É certo que existe, no mundo real, a atração de homens por crianças, contudo, eu, pessoalmente, achei um pouco perturbador o fato de um homem com séculos de idade sentir-se atraído por uma menina de doze anos.

 
    Deixando de lado essa faceta do relacionamento dos dois, entretanto, Daemon e Jaenelle formam uma amizade que é verdadeiramente doce, quase paternal. Ela o torna uma pessoa melhor, em sua inocência, o faz ver um lado mais bonito da vida, e ele deseja protegê-la e ensiná-la. Há momentos hilários dessa amizade, também, como quando Jaenelle mostra a língua para Deamon e ele – o homem mais temido do Reino –, naturalmente, retribui o gesto e faz caretas. 
    O que mais me aborreceu, contudo, foi a falta de explicação presente no livro. Para se ter uma  ideia, antes do começo da história há uma nota do editor, explicando um pouco sobre esse mundo dos Sangue, e, depois, um pequeno resumo sobre os personagens e a hierarquia das Joias. Acontece que, mesmo essas pequenas sínteses, a história é, até um pouco depois da página 100, uma completa confusão. 
   Não somente pelos nomes muito parecidos, mas pela total falta de explicação da autora sobre coisas essenciais como os territórios existentes – há narrações em vários territórios, até dimensões diferentes, que até agora não consegui entender aonde ficam –, como exatamente as Joias funcionam, e para que servem as tão citadas Teias criadas pelos Sangue (que transmitem pensamentos, ou veem o futuro, ou âmago de alguém ou... não sei!). Nada disso seria um problema se, em algum momento do livro essas coisas fossem explicadas, contudo, o leitor é deixado completamente no escuro, tendo que tirar suas próprias conclusões. 
     O design do livro me deixou encantada! A editora Saída de Emergência caprichou nos detalhes, criando para o livro essa atmosfera fantástica para a qual somos transportados. A capa é linda, e meio que "abre"; e essa abertura em moldura mostra o lado de dentro da orelha do livro. Deu para entender? rs. De qualquer jeito, a edição possui alguns poucos erros de gramática, mas nada gritante, e as folhas são amareladas e de um material bom. O design interno também é deslumbrante, romântico e sombrio ao mesmo tempo.
    Por fim, mesmo com alguns defeitos e a buracos, trata-se de uma estória incrível. Fazia tempo que eu não era tão profundamente transportada a um universo totalmente genuíno e mágico. Anne Bishop criou, sem dúvidas, um prato cheio para os apreciadores de fantasia, com até mesmo algumas referências um pouco medievais. 
   Provavelmente, A Filha do Sangue lhe deixará inconfortável. Talvez lhe enjoe, talvez lhe confunda, talvez lhe intrigue: mas, provavelmente, também lhe impressionará. Dito isso, acredito ser uma leitura especialmente destinada aos fãs de uma fantasia sombria, real. Cheio de reviravoltas e com uma mensagem sobre o bem e o mal, acredito ser o tipo de livro que todos deveriam experimentar. 
Primeiro parágrafo do livro:
"Sou Tersa, a Tecelã, Tersa, a Mentirosa, Tersa, a Louca"
Melhor quote:
"(Ele) Diz que é bom sermos todos diferentes, senão o Inferno seria um lugar horrivelmente desinteressante."


   
 


4 Comentários

  1. Que resenha magnífica, eu já estava atraída por essa história simplesmente pela capa e sinopse, mas agora, depois desta sua explicação e resumo, ele entra na minha lista de desejados nos 10 primeiros!
    Claro, eu li sobre os pontos irritantes e estressantes do livro, mas pelo que você disse, parece que a história te transporta tão bem que isso - não esquecido -, mas compensado.
    Primeira vez que passo por aqui e pretendo voltar, meus parabéns.
    Natálie

    www.nossosmundos.com

    ResponderExcluir
  2. Quero muito esse livro na minha estante! Pelos mesmos motivos aos quais ele te chamou a atenção: a capa maravilhosa e o enredo inteligente!

    ResponderExcluir
  3. É a História aparenta ser muito boa e olha que é o primeiro livro kk, mas eu adorei já de cara o livro por causa da capa, perfeita!

    ResponderExcluir
  4. Eu comecei o livro ontem, mas pensei seriamente em desistir, justamente por essa confusão do começo.A autora joga muita informação sem dar nenhuma base antes, vc sente como se tivesse começado a ler uma trilogia pelo livro 2. Só estou persistindo porque a história parece ser maravilhosa.

    ResponderExcluir

.