Livro: O Terceiro Testamento
Título Original: The Third Testament
Autor (a): Christopher Galt
Editora: Jangada
Páginas: 416
ISBN: 9788555390760
Sinopse: O mundo parece estar enlouquecendo. Em toda parte, as pessoas começas a ter visões. Um adolescente francês assiste a Joana D'Arc ser queimada na fogueira e até tenta tirar uma foto com o celular. Uma garota chinesa se vê diante de um animal pré-histórico. Um rapaz do litoral norte europeu testemunha o desembarque dos vikings. E a presidente dos Estados Unidos tem visões de seus antecessores dentro da Casa Branca. Ninguém sabe se essas aparições são uma espécie de alucinação coletiva, uma doença virótica causada por bioterrorismo ou um prenúncio do que, segundo algumas religiões, ocorrerá antes do Apocalipse: O Arrebatamento, quando Jesus vem buscar os escolhidos antes da batalha final entre as forças do Bem e do Mal. Com o tempo as visões se tornam cada vez mais reais, vivas, apocalípticas. Ocorrem suicídios em massa em várias partes do mundo. Algumas pessoas se voltam desesperadamente para a religião. Cientistas buscam uma explicação racional. O psiquiatra e neurocientista John Macbeth, à frente de um projeto para criar uma inteligência artificial autônoma, busca freneticamente uma resposta. Com uma equipe de cientistas e agentes do FBI, ele se empenha para descobrir o que está acontecendo antes que seja tarde demais. E descobre que a verdade por trás de tudo pode mudar os rumos da humanidade para sempre. E até custar sua vida. Uma história eletrizante que o fará questionar a sua perspectiva da realidade. E até mesmo a sua sanidade...


Christopher Galt é o pseudônimo de Craig Russell, autor britânico best-seller, premiado e aclamado pela crítica. Seus thrillers já foram publicados em vinte e três idiomas no mundo todo. Ele é autor das séries Lennox e Jan Fabel, adaptadas pela TV alemã, que atraíram um público de mais de seis milhões de espectadores. Em 2007, Russell foi nomeado para o prêmio CWA Duncan Lawrie Golden Dagger, o maior prêmio literário da Alemanha do gênero policial. Em 2008, ganhou o CWA Dagger in the Library, pelos seus livros da série Jan Fabel. Em 2013, foi nomeado para o CWA Ellis Peters Historical Dagger.

   O Terceiro Testamento trata-se de uma ficção científica que apresenta nosso mundo contemporâneo em uma aparente situação apocalíptica. Um homem em Nova York morreu de inanição num luxuoso apartamento do Central Park. Vinte e sete jovens saltaram juntos da ponte Golden Gate. Cinquenta estudantes japoneses, acampados na densa Floresta Aokigahara, o Mar das Árvores, ao pé do Monte Fuji, dividiram uma refeição e entoaram canções, em volta de uma fogueira, antes de se embrenhar pela mata e corta a própria jugular; três cientistas e um escritor se mataram em Berlim, num acontecimento memorável. Um físico russo que se tornara um místico neopagão dizia ser o Filho de Deus. Uma mulher de meia-idade se sentou calmamente no meio da estrada, perto da estrada da Organização Europeia para a Pesquisa Nuclear e pôs fogo em si mesma. No entanto, isso não chega nem perto de resumir tudo o que vem acontecendo no mundo. 
   Um estúdio de Hollywood foi atacado por bombas incendiárias. Uma seita fundamentalista cristã sequestrou e assassinou um geneticista. Todas essas coisas aconteceram antes do começo. Mas, a bem da verdade, tudo começou com o olhar perdido, o semblante inexpressivo das pessoas e a aquela inquieta sensação de déjà-vu. As pessoas, por toda parte do globo, estavam tendo visões e pior: vivenciavam a experiência com todos os sentidos do corpo humano. Tudo parecia extremamente real. Ninguém sabe as causas dos acontecimentos peculiares. É um vírus? É um apocalipse? Como descobrir o que vem deixando o mundo de pernas para o ar?
   O psiquiatra e neurocientista John Macbeth, à frente de um projeto para criar uma inteligência artificial autônoma — um tipo de cérebro, que representasse uma versão artificial do poderoso órgão humano —, busca por uma resposta, assim como outros profissionais da área. Talvez seja uma doença virótica que esteja afetando o funcionamento do cérebro das pessoas, certo? No entanto, quando as coisas começam a ficar ainda mais sérias, o FBI se empenha em descobrir a verdade e convida Macbeth e outros cientistas para descobrir o que está, de fato, acontecendo com o mundo. E a verdade que eles encontram pode revelar muitas coisas, inclusive a possibilidade do futuro já ter acontecido.

   Conheci O Terceiro Testamento quando o Grupo Pensamento entrou em contato com os blogs parceiros, apresentando seus mais recentes lançamentos. Logo que li a sinopse, o livro me pareceu extremamente interessante — afinal, não é todo dia que nos deparamos com um enredo que mistura de forma intrigante e inteligente os gêneros thriller apocalíptico e ficção científica, certo? Eu não sabia exatamente o que esperar, mas acredito que qualquer que seja a expectativa que se crie para O Terceiro Testamento, ela há de ser superada, tanto positivamente quanto negativamente — vai depender da forma como você vai se abrir para a leitura. 
   Ficção científica é um gênero sempre recheado com muita ciência, isso já sabemos; no entanto, também podemos encontrar reviravoltas, intrigas políticas e aquela costumeira crítica distópica. O Terceiro Testamento acaba sendo uma mistura de tudo isso que citei e, apesar de eu não ser exatamente fã do gênero, não posso deixar de ressaltar o quanto foi uma leitura válida e tão contundente quanto Matrix, uma produção cinematográfica estadunidense e australiana de 1999, dos gêneros ação e ficção científica, dirigido pelas irmãs Wachowski e protagonizado por Keanu Reeves e Laurence Fishburne. 
   O Terceiro Testamente é uma obra extremamente plural, em todos os sentidos, a começar pela narrativa. O livro possui um prólogo, alguns prelúdios e é dividido em três grandes e importantes partes. Muitos personagens aparecem como foco narrativo, tudo isso para que tenhamos uma visão ao máximo ampla sobre o que vem acontecendo no mundo. No entanto, o protagonista John Macbeth ganha a maioria dos capítulos — no final do livro descobrimos o porquê. Oscilando o tempo todo entre um país e outro, um personagem e outro, a narrativa em terceira pessoa se torna, em muitos momentos, supérflua — sem, entretanto, perder a fluidez e a maestria. Apesar de tudo, Christopher Galt escreve muito bem e manipula o sentimento do leitor com a mesma facilidade que tem para escrever. 

"O problema com os fenômenos notáveis e extraordinários é que, quando fazem parte do cotidiano, tornam-se por definição irrelevantes e corriqueiros. Aquilo que desperta assombro e perplexidade deixa de ser percebido". 

   Todavia, se tivesse que apontar um problema em O Terceiro Testamento, esse problema seria a narração. O autor é, nitidamente, um gênio brilhante e talentoso, mas talvez ele tenha deixado isso um pouco visível demais. Apesar de os capítulos serem curtos, em alguns momentos a paciência falta, principalmente quando nos deparamos com descrições extensas, monólogos igualmente supérfluos e teorias científicas que, no mais informal dos vocábulos, bugam nossa mente. Por isso, já afirmo: O Terceiro Testamente não é para qualquer um. Se você não gostar, paciência, o livro simplesmente não foi escrito para você. É uma obra para quem realmente gosta do gênero e está acostumado com o mesmo, e ainda que nada do que citei chegue a atrapalhar a leitura — já que em muitos momentos a construção se faz necessária — o sentimento de impaciência se mostra o tempo todo determinado a nos vencer.
   O que mais chama atenção no livro é a pluralidade do mesmo, em todos os sentidos. Tudo em O Terceiro Testamente é extremamente vasto e plural, desde os temas abordados (religião e ciência) aos protagonistas. A trama é construída com maestria e com bastante oscilação, o que cria uma atmosfera que, querendo ou não, nos prende ao livro — o leitor pode se ver no meio de um ataque viking e, logo depois, se deparar com Joana D'Arc sendo queimada na fogueira, entendem? O livro também é uma poderosa fonte de conhecimento. Para quem gosta de uma leitura extremamente rica, principalmente em termos e teorias científicas, O Terceiro Testamento não é apenas um prato cheio, é um prato que transborda. 
   Críticas a sociedade, a religião e a ciência estão presentes em boa parte do livro e tornam a leitura ainda mais intrigante. No entanto, é necessário realizar a mesma de mente aberta. Nada de ignorância, pessoal! Estamos no século XXI, não se esqueçam. Quanto a parte científica, tecnológica, de teorias, de termos e tudo aquilo que encontramos no gênero sci-fi, o que se pode ressaltar é que, embora apresentado de forma excessiva, tudo acaba sendo compreendido. É preciso apenas ter paciência. O Terceiro Testamento exige isso, sem dúvidas.
   Por se tratar de uma ficção científica com um teor profundo e sério, a obra conta com muitas informações e muito conteúdo, e essa pluralidade não é diferente nem mesmo quando falamos do foco narrativo, que é dado a vários personagens — ainda que John Macbeth, que eu não quero comentar muito para não revelar demais, seja o principal. No entanto, é meio que uma situação onde todos os personagens que aparecem — até mesmo aqueles que ganham apenas algumas linhas — são importantes, envolvidos numa teia que testa o leitor e exige uma atenção redobrada para a assimilação correta do enredo.
   A edição da editora Jangada está belíssima e a capa faz uma alusão perfeita ao que acontece no enredo e as características do gênero. No entanto, não posso deixar de ressaltar que finalizei a leitura e não compreendi o porquê do título O Terceiro Testamento — talvez até isso exija uma atenção redobrada. A diagramação é simples, mas extremamente agradável e com folhas amareladas. A tradução também merece parabenizações, sendo muito clara e coerente. 
   Por fim, percebi ser extremamente difícil pausar a leitura uma vez que eu pegava o livro, já que o enredo é demasiadamente envolvente e instigante, passando sempre a sensação de que algo está prestes a acontecer. Adorei os momentos que passei lendo O Terceiro Testamento, que me transportou com maestria, e de maneira quase inédita, ao mundo da ficção científica. É como bem ressaltou o Publishers Weekly: "poucos leitores poderão imaginar o final de cair o queixo, e os fãs de thrillers de ficção científica vão rezar para que Galt continue escrevendo sobre este gênero". Eu recomendo! 


Primeiro Parágrafo: "O ar no Mainframe Hall parecia artificial: filtrado, limpo, a temperatura só variando numa fração de grau; parado, sem brisa. Todos, reunidos diante da pessoa responsável pelo Projeto, observavam as imagens virtuais". 
Melhores Quotes: "A coisa mais fácil do mundo é enganar os sentidos e induzir a mente a aceitar como verdade o que é falso".
"— Às vezes, o poder intelectual de nossa grande nação me deixa mesmo sensibilizado".
"— Não é a isso que me refiro — resmungou Markus, exasperado. — Como o senhor bem disse ninguém tem culpa por ser medíocre. O que desprezo é a exaltação da estupidez. Não é algo que precisemos ter dó, e sim medo. A estupidez, um dia, matará todos nós".



Um Comentário

  1. De fato, não é todo dia que encontramos uma obra que mescle esses dois gêneros. Embora eu não conheça profundamente ficção científica, adoro thrillers e essa coisa toda de apocalipse. Só em ler a resenha já fiquei aterrorizada, imaginando essas coisas absurdas acontecendo.
    É uma pena que o autor seja tão descritivo. Eu realmente não gosto de looooongas descrições, isso me faz desanimar e perder um pouco o ritmo de leitura. De qualquer forma, é um livro que pretendo ler para tirar minhas conclusões

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