Sinopse: Mestre também das histórias curtas, o que Stephen King oferece neste livro é uma coleção generosa de contos – muitos deles inéditos no Brasil. E, antes de cada história, o autor faz pequenos comentários autobiográficos, revelando quando, onde, por que e como veio a escrever (ou reescrever) cada uma delas. Temas eletrizantes interligam os contos – moralidade, vida após a morte, culpa, os erros que consertaríamos se pudéssemos voltar no tempo... Alguns são protagonizados por personagens no fim da vida, relembrando seus crimes e pecados. Outros falam de pessoas descobrindo superpoderes – como o colunista, em "Obituários", que consegue matar pessoas ao escrever sobre morte delas; ou o velho juiz em "A duna", que ainda criança descobre uma pequena ilha onde nomes surgem misteriosamente na areia – nome de pessoas que logo morrem em acidentes bizarros. Incríveis, sinistros e completamente envolventes, essas histórias formam uma das melhores obras do mestre do terror, um presente para seus Leitores Fiéis.
A própria experiência de pós-morte entra na narrativa, fazendo com que o leitor viaje na imaginação. Mas também há enredos mais realistas, como quando King se apodera de um caso real e misterioso e o transforma (parte dele) em ficção, deixando que sua perspectiva sobre o assunto corra solta. Há ainda experiências do autor incluídas, como quando ele iniciou sua carreira e fazia textos esportivos para o noticiário. Algumas são inéditas, como "Garotinho malvado", que foi baseado na musica Bad Boy, dos Beatles. Outras já são reconhecidas pelo público e são cheias de referências, como "Ur", já citado, que tem várias menções implícitas a série Torre Negra. E também há aqueles que foram reescritos, porque King achou que poderia melhorá-los ou simplesmente porque perdeu a versão original. O Bazar dos Sonhos Ruins, portanto, é uma coletânea muito diversa, onde King não se abstém de abordar os mais variados assuntos. Mas afinal, por que "bazar dos sonhos ruins"? O próprio King explica:
"Quando minhas histórias estão reunidas, sempre me sinto como um vendedor ambulante, um que só vendo à meia-noite. Exibo minha mercadoria e convido o leitor (você) a escolher o que quiser. Mas sempre acrescento uma advertência: cuidado, meu caro, porque alguns desses objetos são perigosos. São aqueles que têm sonhos ruins escondidos dentro, os que não saem da sua mente enquanto o sono não chega, e você se pergunta por que a porta do armário está aberta se você sabe perfeitamente bem que a fechou".
Já acostumada com a escrita fria e ao mesmo tempo profunda de King, não estranhei mergulhar nos muitos universos (isso também pode ser uma referência à história de "Ur") que o autor cria em O Bazar dos Sonhos Ruins, mas foi minha primeira experiência com um livro de contos dele. Porém, muitas de suas marcas continuam bastante presentes, o que já classifica o livro como uma obra do Mestre do terror psicológico.
Boa parte das narrativas acontecem em terceira pessoa, mas há muitas variações. Indisposta, por exemplo, é um dos contos mais inovadores em minha visão, pois é narrado em primeira pessoa – neste caso, sabe-se o que ocorre ao longo de toda a história pela perspectiva do personagem principal, ou seja, vemos só o que ele quer que a gente veja – e ainda assim King optou pela previsibilidade, porque para ele não fez diferença criar uma história que desde o início o leitor conheça seu fim. O que importa é que o leitor aprecie o que está lendo, ele não precisa ser um detetive que busca em cada palavra pistas do que vai acontecer no desfecho da trama. Também faz parte dessa coletânea com alguns poemas que King se arriscou a escrever antigamente. Nunca havia me deparado com essa faceta, e apesar de não gostar muito de poesia nem entender do assunto, seus poemas me surpreenderam e agradaram bastante. Além do mais, a disposição dos contos é ótima, fazendo com que o livro não perca o ritmo.
"O mundo não é triste, a não ser que você seja são." (p. 170.)
Os personagens de cada conto também levam em si as características de criação de Stephen King – são realísticos e ao mesmo tempo caricatos (nem sempre com um equilíbrio perfeito entre esses dois polos). Aquele que mais me surpreendeu foi o tímido Jim Trusdale, do conto "Uma morte", pois era bastante superficial e nunca imaginei King trabalhando num personagem dessa forma, principalmente quando ele é o cerne da trama. Mas foi apenas um experimento, e, apesar de ter sido inusitado, não pude deixar de achar muito interessante.
A capa é realmente bonita, trazendo toda a sobriedade que a obra carrega e passando de forma objetiva o significado de "sonhos ruins". A arte é esteticamente singela e isso faz um grande contraste com as letras em vermelho, brutas e rústicas. Depois de várias especulações, a capa escolhida foi o rosto humano que representa exatamente o que King fala em sua introdução: ele busca os sonhos ruins que estão escondidos dentro de cada ser humano para trazê-los à tona.
Apesar de toda essa promessa sombria, o que O Bazar dos Sonhos Ruins leva aos Leitores Fieis é mais grandiosidade e talento compactados em uma única obra; é um verdadeiro presente. É incrível se deparar com tantas facetas de um escritor tão versátil quanto King. Há aqueles contos que agradam mais a quem aprecia um bom drama, outros feitos para quem curte um mistério intenso, já alguns só servem para ler como uma forma de passar o tempo. Há de tudo neste bazar, para todos os gostos e estilos de literatura. Porém, mais do que o relato de história fictícias (ou quase fictícias), O Bazar dos Sonhos Ruins é sobre seu próprio autor e sua forma maravilhosa de lidar com o dom de escrever.
Primeiro parágrafo: "Fiz umas coisinhas pra você, Leitor Fiel; estão todas expostas ao luar. Mas, antes de poder olhar para os pequenos tesouros feitos à mão que tenho aqui à venda, que tal conversarmos um pouco sobre eles? Não vai demorar. Venha, sente-se ao meu lado. Chegue mais perto. Eu não mordo".
Melhor quote: "A vida é cheia de grandes perguntas, não é? Fatalidade ou destino? Céu ou inferno? Amor ou paixão? Razão ou impulso? Beatles ou Stones?".
Ganhei esse livro num sorteio e ainda não fui chamado por ele (o livro) para ser lido. Tenho uma unica experiencia com King e embora tenha adorado Carrie, a estranha, achei uma escrita dificil, ele mudava de assunto ou tempo, assim do nada, oque pra mim que tenho defici de atenção é uma tormenta ahahahahah, por isso estou esperando um amadurecimento maior para me agarrar aos demais livros dele. Mas devo admitir que lendo tua resenha e vendo que esse livro são pequenos contos, me animou bastante, não sabia que se tratava disso. Valeu a dica.
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