Livro: Antologia Poética
Autor: Carlos Drummond de Andrade
Editora: Companhia das Letras 
Páginas: 336
ISBN:  9788535921199
Sinopse: Poucos autores brasileiros foram tão conscientes no exame da própria obra como Carlos Drummond de Andrade. O poeta mineiro era organizado, cioso do seu ofício e sabia exatamente o seu tamanho na trajetória da poesia brasileira do século XX. Prova disso é a Antologia poética, reunida e organizada pelo próprio Drummond em 1962 - quando o poeta completava 60 anos de idade e 30 de intensa atividade literária -, e uma das melhores portas de acesso para quem deseja conhecer a imensa obra do itabirano. E ninguém melhor que o próprio Drummond para reunir desde poemas clássicos de seu percurso até outras peças menos conhecidas. O amor, a morte, a memória, a família e o passado brasileiro comparecem neste alentadíssimo conjunto de poemas, organizados em nove seções. Completa o volume um esclarecedor ensaio do poeta Antonio Cicero.

    Quem me conhece sabe o tremendo apreço que tenho por poesia. Não é o gênero mais popular entre os leitores jovens, tenho plena ciência — ainda que, em minha humilde opinião, muito mais gente as devoraria se tivessem um maior contato com o gênero —, mas sempre me encantei e me perdi no mundo lírico, reflexivo e levemente melancólico criado por esses autores. Sempre gostei, sim, de poesia, mas posso afirmar com veemência que o que me fez amar a poesia tem nome e sobrenome: Carlos Drummond de Andrade.
   Li, durante muito tempo, poemas e contos esparsos do autor. Já era fã de carteirinha — ouso dizer que, entre os nossos poetas, é Drummond que mais me toca —, mas sentia que precisava cada vez mais saber sobre sua obra completa (e, se tratando do autor, é válido saber que ele possui dezenas e mais dezenas de livros em sua "humilde" biografia). Demorei a encontrar um livro de Drummond que me parecesse transmitir sua essência como poeta; mas, depois de realizada essa leitura, não poderia ter me encontrado mais feliz. 
  O que me chamou atenção nessa antologia, a princípio, é o fato de ela ter sido organizada pelo próprio Carlos Drummond, em 1962. Nesse ano, o autor resolveu separar e classificar seus poemas em diferentes temas, por nove sessões, que nos são apresentadas na obra. Sendo elas O indivíduo; A terra natal; A família; Amigos; O choque social; O conhecimento amoroso; A própria poesia; Exercícios lúdicos e Uma visão da existência, conseguimos ter uma pequena palha do que nos aguarda. 
  

   A verdade é que, em um milhão de anos, não conseguiria descrever a qualquer um todos os sentimentos que a poesia de Drummond traz a tona em meu coração. Toda a dor, toda a angústia, a revolta e a desesperança que já senti para com o mundo. Todo o carinho, o afeto, o amor e a esperança que já senti para com as pessoas. Toda a saudade, a melancolia e o apego que viver, cada dia de minha vida, já me trouxe. Esses sentimentos, tão bonitos ou feios, tão simples e tão complexos, consegui encontrar nas páginas desse livro, escrito por homem há tantos anos atrás. E, ao mesmo tempo, poderia ter sido ontem.

    Com sua poesia lírica, quase musical, esse gênio brasileiro me trouxe a tona todo o sentimento do mundo, como ele mesmo já colocou. Chorei, ri e vi situações da vida com outros olhos sob a perspectiva tão realista, tão simplista e ao mesmo tempo tão complexa que nos é presenteada por Drummond. É através de versos simples, mas surpreendentemente impactantes, com situações do cotidiano, que ele irá tocar sua alma, assim como tocou a minha, e faze-lo se apaixonar pela sua poesia despretensiosa, e, por isso, tão real. 

"Pouco importa velha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pensa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertam ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
Preferiam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é um ordem.
A vida apenas, sem mistificação"
 
   Com uma edição simples o suficiente para não tirar o foco do principal, a poesia, mas sofisticada o suficiente para fazer jus a grandeza do autor, a Editora Companhia das Letras não poderia ter acertado mais na elaboração do design. Com as folhas amareladas e um material de ótima qualidade, uma fonte simples e diagramação bela não há como não admirar seu trabalho, e é notável o cuidado da editora ao manter o estilo de Drummond em cada página. Também não encontrei nenhum erro de ortografia sem revisão durante a edição, o que é sempre agradável. 
  Creio que não há como convencer alguém da grandiosidade de um livro, por mais que se tente, até a pessoa possuir um contato próximo com ele. A medida na qual eu posso afirmar, contudo, serei incisiva: leiam, leiam e leiam. Não é uma obra de ficção, mas trata-se de um dos melhores livros com os quais já tive contato em minha vida. 

Primeiro (poema) do livro:"Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida."
Melhor quote (ou, no caso, poema):"Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que estereliza os abraços,
não cantaremos o ódio, porque este não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte.
Depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas."



Um Comentário

  1. Também sou um apaixonado por poesia e realmente é uma pena existir poucos apreciadores dessa leitura. Gosto tanto que acabei por criar um blog de poesias e desde já deixo meu convite para quem quiser apreciar meu Bistrô da Poesia. Sobre essa obra prima de Carlos Drummond, sou simplesmente fascinado, tenho e é uns dos meus xodós que guardo como mais uma "moeda" no meu "baú de tesouros". Quem não teve a oportunidade de ler, deveria!

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