Livro: A Filha Perdida 
Autor (a): Elena Ferrante 
Editora: Intrínseca
Páginas: 174
ISBN: 987-85-5100032-8
Sinopse: Aliviada depois de as filhas já crescidas se mudarem para o Canadá com o pai, decide tirar férias no litoral sul da Itália. Logo nos primeiros dias na praia, ela volta toda a sua atenção para uma ruidosa família de napolitanos, em especial para Nina, a jovem mãe de uma menininha chamada Elena que sempre está acompanhada de sua boneca. Cercada pelos parentes autoritários e imersa nos cuidados com a filha, Nina parece perfeitamente à vontade no papel de mãe e faz Leda se lembrar de si mesma quando jovem e cheia de expectativas. A aproximação das duas, no entanto, desencadeia em Leda uma enxurrada de lembranças da própria vida - e de segredos que ela nunca conseguiu revelar a ninguém.

Elena Ferrante é o pseudônimo de uma romancista italiana cuja verdadeira identidade é desconhecida do público. É autora de diversos livros, entre eles o infantil Uma Noite na Praia, também publicado pela Intrínseca, e A Amiga Genial e História do Novo Sobrenome, os dois primeiros volumes da série napolitana, que a consagrou definitivamente como uma das mais importantes escritoras da atualidade.

   Leda é uma professora universitária de meia-idade com duas filhas criadas, e suas confidências são ainda mais inquietantes levando-se em conta o cenário idílico e ensolarado em que seus segredos se descortinam. Na cidade litorânea no sul da Itália, onde ela decide passar as férias, o que deveria ser um merecido período de descanso se torna um intenso fluxo de memórias sobre as escolhas difíceis e pouco convencionais que Leda fez como mãe, e as consequências disso para ela e sua família. A história de uma mulher enfim libertada dos papéis que lhe foram atribuídos, que sai em busca de redescobrir a si mesma, logo se mostra uma difícil experiencia de conforto como o passado.
   A Filha Perdida é um livro sobre uma mãe devastada em todos os sentidos. Elena Ferrante mostra a lado real de ser mãe, principalmente as dificuldades e a pressão que todas passam quando começam a abdicar de suas coisas por causa dos filhos. Leda é totalmente verdadeira quando conta seus segredos para o leitor, ela não tem medo de mostrar a verdade como ela é. Não esperem um enredo romantizado, pois teremos muitas coisas bem tensas que serão reveladas, para dilacerar o coração do leitor sem dó nem piedade.
   Na viagem, Leda conhece uma família e acaba fazendo algo que ao nosso ver é errado, mas no decorrer do livro conseguimos observar o porquê das atitudes de nossa protagonista. Leda vai não só revelar suas magoas e angustias, mas vai descobrir alguns segredos que rondam a vida dessa família que ela acabou de conhecer. E é por causa dessa família que Leda vai mostrar esse seu lado ''não mãe" e nos contar os detalhes da infância de suas filhas. Nossa protagonista não se encaixa no papel de mãe e esposa, e no desenrolar da história iremos nos adaptar com as escolhas e jeitos de Leda ver as coisas . 

"As vezes precisamos fugir para não morrer."

   Sempre vi muitas pessoas comentando sobre a escrita de Elena Ferrante. Li muitos elogios e fiquei super curiosa pra ler esse seu novo livro, e depois que fui pesquisar sobre quem era a autora e vi que na verdade ela usa um pseudônimo fiquei ainda mais curiosa em descobrir qual o segredo da mesma. Fui com muitas expectativas e não me decepcionei, amei cada linha desse livro e me surpreendi muito com a ousadia da autora em criar uma personagem tão incomum e diferente. A forma com que o texto é construído pode causar estranhamento no leitor, mas é algo passageiro, pois a história é super envolvente. Depois desse primeiro contato com a escrita da autora só tenho vontade ler mais e mais obras escritas por ela.
   Como dito anteriormente, a escrita, no início, pode causar um certo estranhamento. A história é narrada em primeira pessoa sob o ponto de vista de Leda. Ela é totalmente independente, sai de férias em busca de se redescobrir, mas acaba tendo que enfrentar várias lembranças do passado, e por causa dessas várias feridas mau cicatrizadas são abertas e muitas vezes deixarão o leitor intrigado e de boca aberta com algumas revelações. Elena Ferrante tem uma linguagem bem formal e minuciosa, então o ritmo da leitura não é tão rápido — encontrei várias palavras que tive  que procurar o significado.
   Mas o principal motivo para todo esse meu amor por A Filha Perdida foi a construção de Leda — já que acho muito bom ler algo capaz de nos tirar do comodismo e nos encaminhar a algo mais ousado e diferente. Todas as vezes em que Leda viajava em sua memória no meio de uma narração no presente eu já esperava surpresas, e é isso que Ferrante traz nesse livro: muitas surpresas e segredos. Leda muitas vezes se mostrava fria, mas a verdade era que a protagonista deixava mostrar que sentia falta de suas filhas, que na maioria das vezes ligavam apenas por obrigação. 
   Leda é uma professora jovem e bonita, uma personagem que passa por muitos problemas e arrependimentos. Muitas vezes eu fiquei decepcionada com ela, mas depois fui vendo que o passado muitas vezes deixa as pessoas diferentes e amargas. Leda inicia o livro causando muito estranhamento e no fim consegue fisgar o leitor — no entanto, não é aquela personagem que todos nós morremos de amores por causa de suas escolhas. 

"Os filhos são assim, às vezes amam com afago, outras vezes tentam mudá-la totalmente, reinventando você, como se achassem que cresceu mal e que é dever deles ensinar a como estar no mundo, a música que você deve ouvir, os livros que deve ler, os filmes que deve assistir, as palavras que deve ou não usar porque são velhas, ninguém as usa mais."

   Essa história é totalmente intrigante. Não sou mãe e de forma alguma posso julgar as ações e escolhas de nossa personagem. Muitas coisas descrita nessa história são chocantes, narradas de uma forma crua e bem pessoal. Achei o tema super interessante e mesmo que as vezes muitos não dão atenção, todos nós sabemos que a vida de uma mãe não é nada fácil — já que nem sempre a maternidade são só flores. Gostei bastante da escrita da autora e reforço aqui que Ferrante precisa ser cada vez mais conhecida por todos os tipos de leitores. No entanto, senti falta da participação dos personagens secundários, já que, por mais que a história tenha várias descrições do passado, senti que precisava de um envolvimento um pouco maior e mais profundo com outros personagens.
   Uma edição simples com uma diagramação impecável e uma capa super bonita. A Editora Intrínseca mais uma vez arrasou com seu lançamento. O cuidado que tiveram com a capa é digno de muitos elogios, essa imagem dá uma visão geral para o leitor sobre o local que nossa personagem está. Não notei nenhum erro ortográfico.
   A Filha Perdida é uma história brutalmente sincera sobre maternidade. Eu fiquei encantada com Elena Ferrante — uma das maiores romancistas do nosso tempo deixou essa leitora aqui super envolvida e louca para conhecer mais sobre suas obras. A Filha Perdida foi uma leitura excepcional, cheia de surpresas e narrada de uma forma muito sincera. Se você está procurando algo que te tire do comodismo deixo aqui esse livro como dica indispensável.


Primeiro Parágrafo:  "Eu estava dirigindo havia menos de uma hora quando comecei a passar mal.  A queimação na lateral do corpo reapareceu, mas de início decidi não dar importância àquele sinal...". 
Melhor Quote: "As coisas mais difíceis de falar são as que nós mesmos não conseguimos entender."


Um Comentário

  1. Namoro esse livro a horas e ainda quero ler. Conflitos familiares sempre me interessam ainda mais entre mãe e filha que a meu ver é o mais pesado de todos. Acho isso, por ter um período bem conturbado com minha mãe. Também não posso julgar, pois não sou mãe e vendo de fora tudo fica mais facil, mas de uma coisa tenho certeza, erramos e erramos muito tanto como filhas como mães. Acho que esse livro é tocante ao leitor ou por se identificar ou pelo tamanho e intensidade que esse relacionamento tem. Depois que amigas proximas foram mães me decepcionei com o que viraram, esqueceram que antes de tudo saõ mulheres e esposas e assumiram 1000% o papel de mãe e o resto? Gostei de saber da "sinceridade brutal" que tu comentou, quero ter a oportunidade de ler e ver qual a visao da autora sobre isso. Agora sobre a autora, curioso saber que ninguém conhece sua real identidade...

    ResponderExcluir

.