Livro: Quem Era Ela
Autor (a): J. P. Delaney
Editora: Intrínseca
Páginas: 336
ISBN: 978-85-510-0139-4
Sinopse: É preciso responder a uma série de perguntas, passar por um criterioso processo de seleção e se comprometer a seguir inúmeras regras para morar no nº 1 da Folgate Street, uma casa linda e minimalista, obra-prima da arquitetura em Londres. Mas há um preço a se pagar para viver no lugar perfeito. Mesmo em condições tão peculiares, a casa atrai inúmeros interessados, entre eles Jane, uma mulher que, depois de uma terrível perda, busca um ponto de recomeço. Jane é incapaz de resistir aos encantos da casa, mas pouco depois de se mudar descobre a morte trágica da inquilina anterior. Há muitos segredos por trás daquelas paredes claras e imaculadas. Com tantas regras a cumprir, tantos fatos estranhos acontecendo ao seu redor e uma sensação constante de estar sendo observada, o que parecia um ambiente tranquilo na verdade se mostra ameaçador. Enquanto tenta descobrir quem era aquela mulher que habitou o mesmo espaço que o seu, Jane vê sua vida se entrelaçar à da outra garota e sente que precisa se apressar para descobrir a verdade ou corre o risco de ter o mesmo destino. Com um suspense de tirar o fôlego e um clima de tensão do início ao fim, JP Delaney constrói um thriller brilhante repleto de reviravoltas até a última página. Uma história de duplicidade, morte e mentiras.

JP Delaney é o pseudônimo de um escritor norte-americano que já publicou, sob outras identidades, diversas obras de ficção. Quem Era Ela é seu primeiro thriller psicológico.

ANTES
   Desde que sofreram uma perturbadora tentativa de assalto — e talvez algo a mais que Emma não queria trazer ao sol —, ela e Simon buscam um novo recomeço, uma nova casa, um novo lugar onde possam ficar em paz e deixar para trás os fantasmas do passado. Quando o corretor apresenta a casa a Emma, a mulher acha o lugar extraordinário, maravilhoso, de tirar o fôlego e.... bem, palavras não fazem justiça a Folgate Street, nº 1, uma construção minimalista, baixa, pequena, controlada por um aplicativo e uma governanta digital e extremamente peculiar, mas que cobra um preço alto do inquilino que deseja morar nela. 
   O correto avisa: há cerca de duzentas exigências no total, quanto a permissões e proibições. Nenhuma luz com exceção das que já estão na casa. Nada de varais. Nada de lixeiras. Nada de pinturas. Nada de animais domésticos. Nada de descansos de copo ou jogos americanos. Nada de almofadas. Nada de bugigangas, nada de outros móveis... enfim, o contrato, tanto quanto a casa, é extremamente preternatural, mas o que preocupa e gera a maior parte dos problemas é a última exigência.



AGORA
   Quando a corretora conta a Jane que o próprio arquiteto da casa tem direito a veto e que, na verdade, precisa aprovar o inquilino, a jovem mulher pondera se vale a pena o esforço para morar em Folgate Street, nº 1. Sim, é claro que vale. Jane está encantada pela casa, que parece ser tudo o que ela precisa para recomeçar e esquecer que seu bebê morreu há apenas alguns dias. Mas é preciso responder a uma série de perguntas e esperar a resposta para saber se foi aprovada. 
   Poucos dias depois de preencher o formulário, Jane é convidada a se encontrar com Edward Monkford, o arquiteto da Folgate Street, nº 1 e acaba sendo aprovada na seletiva. Os primeiros dias na casa são maravilhosos para Jane, até que flores são deixadas em sua porta, com uma frequência irritante. No cartão apenas: Emma, vou te amar para sempre. Durma bem, minha querida. Jane começa a se perguntar quem era Emma e depois de muito investigar descobre que a inquilina anterior teve uma morte trágica e misteriosa em Folgate Street, e mais: ela se parece muito com Jane, tanto fenotipicamente quanto psicologicamente — já que ambas sofreram grandes traumas e buscavam um novo recomeço. 
   Quem era Emma? O que aconteceu com ela? Jane começa a sentir que está sendo observada. Folgate Street, que antes parecia um lar aconchegante, agora lhe soa assustadora. Como Emma, ela sente que algo terrível aconteceu e quando vê sua história se entrelaçar à da outra garota se apressa em descobrir a verdade ou corre o risco de também ser encontrada a beira da escada... morta. 

— As pessoas gostam de falar de recomeços. Mas só se pode recomeçar quando se parte do zero. O resto está maculado com o que já aconteceu. Talvez esta seja sua chance de um recomeço, Jane.

   Conheci Quem Era Ela quando a Intrínseca promoveu uma ação sobre o livro para os blogs parceiros. Recebemos um e-mail para lá de misterioso com uma série de perguntas igualmente enigmáticas. Dias depois de responder o formulário, o carteiro me entregou uma caixa branca, endereçada a Folgate Street, nº 1. De um lado da caixa, Emma mostrava que estava assustada, que sabia que algo havia acontecido na casa; do outro lado, Jane se mostrava ainda mais aterrorizada, ainda que seu desejo de descobrir a verdade falasse mais alto. Quando sorri e guardei a caixa, nem sequer passou por minha cabeça que estava de posse de um dos melhores e mais inteligentes thrillers psicológicos já escritos. Ah, e vamos ser francos, um fã de Gillian Flynn como eu nem ficou feliz com esse livro, hein? 
   Suspenses psicológicos são sempre cheios de muita reviravolta e, claro, conseguem levar o leitor ao ponto mais extremo que a literatura pode nos fazer ir rumo... a loucura? Como eu já tinha visto algumas resenhas muito positivas do livro, criei expectativas imensas e, a bem da verdade, lá no fundo eu já sentia que Quem Era Ela não foi criado para decepcionar. E foi exatamente o que aconteceu, visto que adorei tudo o que foi trabalhado — principalmente as inovações trazidas pelo autor ao gênero — e a leitura acabou se tornando uma das melhores do ano.
   Quem Era Ela nos leva a oscilar o tempo todo entre presente e passado, entre o antes e o agora, entre Jane e Emma. Com uma narração em primeira pessoa, o teor psicológico é trabalhado com uma maestria que muito nos faz lembrar de Gillian Flynn e Josh Malerman, mestres no gênero. Os capítulos são favoráveis a uma leitura fluida, já que são curtos e alternados, e Delaney escreve muito bem — de uma forma que chega a assustar — e manipula o sentimento do leitor com a mesma facilidade que tem para escrever.
   Como eu sempre digo, é típico do suspense nos deixar com aquele inquieta ansiedade, e no caso dos psicológico isso fica pior, bem pior. Conhecemos a mente e a visão de mundo dos protagonistas e podem crer: Jane e Emma são duas protagonistas que despertam muito o interesse do leitor. Delaney não escreveu um suspense qualquer, mas uma história que soa horripilante em muitos momentos. O endeusamento dado a casa foi uma das coisas que eu mais gostei no livro. Folgate Street, nº 1, é peculiar até mesmo para o leitor — já que tudo nela é muito diferente daquilo que estamos acostumados e são essas peculiaridades que nos levam a criar centenas de teorias sobre o que realmente acontece e aconteceu naquela casa.
   O suspense é construído com inteligência e eu garanto: você vai deduzir, mas é impossível acertar — a não ser, claro, que você seja muito bom em interpretar suspenses psicológicos. O autor só nos permite criar um teoria extremamente válida ao final do livro, quando as revelações se tornam chocantes e... perturbadoras?

Certa vez, Carol me disse que a maioria das pessoas concentra toda a energia na tentativa de mudar as outras, sendo que só dá para mudar a si mesmo, e até isso é incrivelmente difícil. Agora entendo o que ela quis dizer. Acho que estou pronta para ser uma pessoa diferente. Não alguém que deixa toda essa merda acontecer.
 
   No tocante aos personagens, temos uma composição minimalista — tudo nesse livro é mínimo, entendem? — e para ser sincero eu prefiro assim. Uma história com poucos personagens torna as coisas mais fluidas e você compreende melhor todas as relações e os envolvimentos das partes apresentadas. Contudo, os poucos personagens que temos são trabalhados de forma especial e conforme a necessidade, mas lembrem-se de ficarem atentos aos detalhes. Em Quem Era Ela tudo faz sentido, mesmo que você não veja. Não falarei muito sobre os personagens porque não encontrei uma forma de apresentá-los sem acabar influenciando na leitura. É um thriller psicológico, você tem que ler e tirar suas próprias conclusões acerca da mente de cada um, certo? 
   Quantos as críticas... bem, acho que é redundante criticar algo de forma negativa em Quem Era Ela. É um excelente livro. Talvez não seja o melhor do gênero, mas — sem dúvidas — está entre os melhores. Algumas pessoas criticaram a originalidade do autor e uma pequena fração delas está, de fato, parcialmente certa. Algumas características das relações que as protagonistas vivem na trama nos fazem lembrar Cinquenta Tons de Cinza, o que eu acho compreensível. Estaremos em contato com relacionamentos regados a controle e dominação (nada exagerado), mas que são importantes na construção do teor psicológico. 
   Quanto ao fato de lembrar Garota Exemplar e A Garota no Trem... por favor, não sejamos ridículos, estas obras pertencem ao mesmo gênero — teria algo de errado é se elas não compartilhassem das mesmas características. A única coisa que merece mesmo o meu comentário é a falta de incisos ou qualquer marca para sinalizar os diálogos quando Emma narra. Isso perturba muito no começo, já que os diálogos estão misturados aos monólogos, mas deu para entender que isso era apenas uma forma de diferenciar a narração de Emma da de Jane, que se confundem muito, apesar de os capítulos ganharem o nome das protagonistas — sinalizando quem é a próxima a narrar os fatos.
   A edição segue um padrão minimalista — tal como a Folgate Street, nº 01 — e o design, mesmo que simples, ficou muito belo e agradável. A capa, que não ficou lá essas coisas, transmite bem as características do gênero e a essência escura e esmaecida da trama. A diagramação segue os padrões de qualidade que sempre vemos na Intrínseca e não encontrei erros de revisão — meu tempo foi usado apenas para descobrir os mistérios de Quem Era Ela, rs.
   Quem Era Ela, que ganhará em breve uma adaptação cinematográfica, é um suspense psicológico escrito com precisão, inteligência e elegância, que confunde a mente do leitor da primeira à última página, sem dever para nenhum outro. É um livro que flui incrivelmente bem e a leitura pode ser finalizada em um único dia. Quem for fã de Gillian Flynn, de livros rápidos e bons e que adora um ótimo suspense, vai encontrar em Quem Era Ela muito mais que um refúgio. É um livro incrível e, claro, eu recomendo a todos os leitores. Tomem cuidado quando estiverem em Folgate Street, nº 1.


Primeiro Parágrafo: “É um apartamento pequeno e encantador, o corretor diz em um tom que até poderia se passar por entusiasmo genuíno”. 
Melhor Quote: “Porque foi isso que eu percebi morando em Folgate Street, nº 1. Você pode tornar o ambiente em que vive tão refinado e vazio quanto quiser. Mas isso não importa se você ainda estiver bagunçado por dentro. E, na verdade, todos nós estamos buscando isso, não é mesmo? Alguém que cuida da bagunça que há dentro de nossa cabeça.”.


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