Livro: O Mosaico e Outras Histórias
Autor (a): Nikolai Streisky
Editora: Chiado Editora
Páginas: 218
ISBN: 978-989-51-7147-7
Sinopse: O resultado foi um mosaico de pistas - pequenas singularidades, datas coincidentes, dias estranhos, histórias curiosas, como as narradas acima e muitas outras. A princípio, pensei em apenas colocar as informações sobrepostas na hyperwall e olhar um segmento por vez. Numa das primeiras noites após ser escalado para o caso, sonhei com uma raiz, que infinitamente crescia dentro da terra e subia aos céus.

Nikolai Streisky é graduado em Comunicação Social: Jornalismo e pós-graduado em fotografia pela Universidade Estadual de Londrina. Mestre e Doutorando em Tecnologias da Inteligência e Design Digital, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Atualmente é professor de ensino superior.

   Os contos, apesar de não serem tão populares quanto os romances, têm um efeito muito grande sobre os leitores — principalmente pela construção que exige velocidade, brevidade e objetivos bastante claros. Em O MOSAICO E OUTRAS HISTÓRIAS, temos vários contos que demonstram justamente isso, e nos levam a rememorar os mais célebres escritores dos gêneros trabalhados por Streisky. Com histórias de ficção científica, investigação e horror cósmico, somos levados por meio de contos muito bem escritos, com uma linguagem que lembra os clássicos e que nos conduz por gêneros que são apresentados pelo autor com profundidade — tem até uma pitada de crítica distópica, hein?
   Em O MOSAICO, por exemplo, nos deparamos com uma conto policial, onde acompanhamos o detetive Augusto Albuquerque, que investiga um serial-killer conhecido como Assassino do Inverno. Como bem declara o autor, Arthur Conan Doyle e Edgar Allan Poe foram uma das principais inspirações, e percebemos isso claramente ao notar o quanto os contos policiais presentes no livro nos fazem lembrar das aventuras de Sherlock Holmes e da sagacidade do detetive Dupin.
   Os contos possuem uma ligação e uma possível continuação dos eventos narrados, ainda que funcionem perfeitamente bem isolados, e esse é um dos pontos mais interessantes de  O MOSAICO E OUTRAS HISTÓRIAS — o fato dos contos estarem, de certa forma, interligados torna a leitura mais ávida e prazerosa. 
   Depois de O MOSAICO, temos O LÓGICO, uma espécie de epilogo do primeiro conto, que se passa 10 anos depois e traz outro detetive (Charles Beirce) que trabalha independente e investiga as verdadeiras nuances do que aconteceu no conto anterior. Neste conto, para mim um dos melhores do livro, o autor explorou uma atmosfera que misturou incomumente o gênero policial e o horror cósmico, uma união perfeita entre Poe e Lovecraft, que junto a Robert Chambers, Ambrose Beirce e Jorge Luis Borges forma o batalhão de peso que serviu de inspiração literária para a composição dos contos.

“A questão aqui, como sempre, é a qualidade da observação. Nossa mente é tão bombardeada para ver o linear que, mesmo quando buscamos o caos, não conseguimos compreendê-lo como um sistema que depende do funcionamento conjunto de suas partes isoladas. O sistema só era um sistema enquanto funcionava”.

   Conheci O MOSAICO E OUTRAS HISTÓRIAS quando o autor entrou em contato com o blog apresentando sua obra. A bem da verdade, eu não esperava que fosse gostar tanto. Está certo que tenho muita afeição pelo gênero e pelas inspirações, principalmente Poe, mas ainda assim é difícil criar boas expectativas num universo literário onde esse tipo de Literatura — policial ou distópica, por exemplo — já está saturada. Mas fui muito bem surpreendido pela capacidade preternatural que o autor teve em compor obras que, apesar de originais, muitos me fizeram lembrar de suas principais inspirações. 
   A narração de Streisky é firme, cheia de surpresas e extremamente formal, numa escrita que — como já deixei claro — lembra muito o modo como Poe, Conan Doyle e Lovecraft escreviam suas célebres histórias — inclusive, alguns contos chegam até mesmo a trazer citações referenciadas desse autores. A essência da grande maioria dos contos está no Cosmicismo ou Terror Cósmico e faz alusões a algumas das mais célebres histórias do gênero, como O Rei Amarelo. Para quem é leigo no assunto — como eu era, confesso —, a filosofia do Terror Cósmico declara que não há presença divina reconhecível, tal como um deus, e também exprime a ideia de que os seres humanos são particularmente insignificantes no esquema maior de existência intergaláctica, e que talvez não passem de uma pequena espécie projetando suas próprias idolatrias mentais ao vasto cosmos, estando à possibilidade de ser varrida da existência a qualquer momento. Enfim, não é um gênero que se compreende simplesmente por sua filosofia, é preciso ter um contato com ele — só assim é possível compreendê-lo por inteiro. 
   Cheguei a ler algumas resenhas onde os autores criticavam duramente a forma com que o Nikolai escreve. Bem, eu não vejo problema no estilo dele, muito pelo contrário. Se o estilo do autor é escrever com formalidade, rigor e retomando a maneira com que célebres escritores de séculos passados criavam suas histórias, só precisamos compreender duas coisas: (1) que o respeito pelo autor deve prevalecer antes de tudo e que (2) esse tipo de composição agradou antes e ainda agrada hoje. O pior erro que um leitor pode cometer é achar que todo livro é feito para ele. Às vezes não gostamos de um livro simplesmente pelo fato de ele não ter sido escrito para nós. 

“A palavra escrita me conforta nos momentos de tristeza e ignorância. Escrever me faz perceber o quanto as palavras são poderosas, e o quão pequeno é o escritor perto dessa imensidão de letras”. 

   É um livro — na mais básica definição — estranho, algo que não estamos acostumados a ter contato, mas que é interessante por mostrar pontos que sugerem uma desconstrução do que acreditamos e por trazer algumas críticas que merecem a nossa reflexão. Por ser um livro de contos, não há exatamente um personagem principal, mas uma série de personagens que, de certa forma, estão interligados. Ainda assim, os protagonistas que aparecem são muito bem desenvolvidos e situados na narrativa — algo extremamente difícil de se fazer quando lidamos com a escrita de um conto. 
   No tocante as críticas, verdadeiramente, eu não encontrei nenhum problema que mereça ser destacado. Claro que não é um livro perfeito, mas também não fica devendo tanto para nenhum outro do gênero. Alguns leitores reclamaram que a narrativa é muito lenta, mas isso vai depender da experiência que cada um tem com os gêneros dos contos — se você já estiver ambientado com a atmosfera presente no livro, sem dúvidas, a leitura vai fluir de uma maneira mais agradável. 
   A edição da Chiado Editora ficou muito bonita (pra não dizer sensacional, maravilhosa e mais). De verdade, é aquele tipo de livro que você compra só pela capa. Além de textos muito bem escritos, O MOSAICO E OUTRAS HISTÓRIAS conta ainda com ilustrações belíssimas de Pietro Luigi, que evocam com maestria a atmosfera presente no livro. A diagramação também está impecável e o design interno, apesar de simples, ficou muito bonito. Encontrei alguns erros de revisão, mas nada que atrapalhe a leitura de maneira radical, certo?

 
   Vale ressaltar que, como anexo, há também uma série de contos, não relacionados com os anteriores, escritos durante a juventude do autor. As histórias anexas chamam bastante atenção, principalmente por mostrar outros lados do Nikolai, com destaque para A TAREFA DO ESCRITOR, uma crônica que fala do ofício de escrever, e DÚVIDA, um texto reflexivo que fala sobre tempo, coração e caminho. 
   Por fim, tenho que concordar que esse não é um livro que deve ser indicado para quem desconhece as inspirações do autor e os gêneros trabalhados. Contudo, se você primeiro dedicar-se a ler algumas das histórias de Poe, Conan Doyle e os demais, der alguma pesquisada nos gêneros e ler algumas resenhas, certamente vai gostar muito do livro. O MOSAICO E OUTRAS HISTÓRIAS tem um público alvo e ele ficará satisfeito com que o livro tem a oferecer.

 

Primeiro Parágrafo do Livro: “Está sendo um período particularmente difícil.” 
Melhor Quote: “Você é mais inteligente do que deveria, e o mundo não tolera os inteligentes.”


Um Comentário

  1. Oi! Não sou muito chegada a contos, mas como adoro histórias de mistério, suspense e tal, acho que poderia gostar da obra. Legal que os contos funcionem bem separadamente, mas que tenham certa relação um com o outro. No entanto, como não conheço as obras dos autores citados, talvez eu ficasse bem perdida com as referências, portanto esse é um livro para se ler depois de conhecer Edgar Allan Poe, Lovecraft e afins.

    Abraço!

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