Ator, escritor, diretor e produtor de cinema e tv, autor de dois romances e mestre em Literatura pela
Magdalene College, em Cambridge,
Julian Fellowes é o criador da aclamada série de TV Downton Abbey, que também roteirizou e produziu e pela qual recebeu três prêmios
Emmy. No cinema, recebeu o Oscar de melhor roteiro original por Assassinato em
Gosford Park e prêmios do
Writer’s Guild of America, do
The New York Film Critics Circle e da
National Society of Film Critics. Natural do Cairo, no Egito, e criado em Londres,
Jullian Fellowes recebeu em 2011 o título de Barão Fellowes de West Stafford, tornando-se par vitalício do Pariato do Reino Unido e passando em seguida a integrar a Câmara dos Lordes. Atualmente mora com a esposa, Emma, parte do tempo em Dorset e parte em Londres.
Na noite do dia 15 de junho de 1815, as grandes personalidades da alta sociedade britânica se reuniram em Bruxelas para o que se tornou uma das mais trágicas festas da História: o baile da duquesa de Richmond. O evento ocorreu na véspera da Batalha de Waterloo e vários belos rapazes que participavam do baile, logo no dia seguinte, estariam nos campos de batalha ainda com os uniformes de gala. Contudo, para Sophia Trenchard, a jovem e bela filha do principal fornecedor de suprimentos do duque de Wellington, aquela foi uma noite decisiva.
Vinte cinco anos depois, quando os Trenchard, da classe industrial emergente, se mudam para o novo e elegante bairro de Belgravia, as verdadeiras repercussões daquele evento serão sentidas. Uma única revelação será capaz de alterar o destino de todos. Nesse novo mundo, em que a aristocracia passa a conviver com os novos-ricos, há quem prefira que os segredos do passado continuem enterrados.
Belgravia é uma saga fascinante e irresistível, cheia de reviravoltas e referências históricas, que revela os escândalos, segredos e intrigas guardados a portas fechadas nas mansões da alta sociedade londrina de meados do século XIX, bem como também é, como diz o autor, "uma história sobre pessoas que viveram há dois séculos e, ainda assim, muito do que elas desejaram, muito do que se ressentiam e as paixões arrebatadoras em seus corações são bastantes parecidas com os dramas que vivemos agora, em nosso tempo".
Pioneiramente, Belgravia, no Brasil e na grande maioria dos países em que foi lançado, foi publicado semanalmente em e-book, com 11 capítulos de finais surpreendentes, como uma forma de homenagear à tradição dos folhetins britânicos. Quando o primeiro e-book foi lançado, Dançando Para a Batalha, ele foi liberado gratuitamente para apreciação — foi quando e como eu conheci Belgravia. Após ler o primeiro capítulo, pude notar que era, sim, uma leitura que valia a pena, principalmente para mim, que nunca antes havia lido um Romance de Época ou Histórico. A melhor parte disso tudo é que, após lançar todos os 11 e-books, a Editora Intrínseca finalmente anunciou a publicação do livro físico, e eu, claro, resolvi que iria lê-lo.
Antes de ler Belgravia, eu nunca tinha lido nada do autor, nem mesmo assistido a famosa série televisiva Downton Abbey, que Fellowes criou e roteirizou. Contudo, eu já tinha visto muitas pessoas comentarem o quanto a série era boa, sobre como o autor era talentoso e costumava criar grandes reviravoltas em suas tramas. Ainda assim, eu não esperava muito do livro, principalmente por nunca ter lido nada do gênero. Acredito que tudo isso tenha, no fundo, sido muito importante, já que Belgravia me surpreendeu do começo ao fim e, quando as peças do quebra-cabeça começaram a se unirem numa grandiosa reviravolta, percebi que não poderia ter escolhido um livro melhor para ser a minha primeira aventura pelo gênero Romance Histórico.
De uma forma bastante incomum, a narração de extrema maestria acontece em terceira pessoa e proporciona uma leitura empolgante e recheada de fortes emoções. Eu diria que por ser roteirista — um bom roteirista, ressalto —, Fellowes consegue trabalhar a escrita de uma forma bem cinematográfica, no sentido em que flui muito bem, além de nos possibilitar uma perspectiva clara e ampla dos personagens, das cenas, das paisagens e de todo o universo londrino na qual a história está inserida, mesmo com uma linguagem extremamente formal e rebuscada.
— Você deve me achar muito idiota. Por não ter suspeitado de nada.
Mas Maria não ia dar ouvidos a isso.
— Claro que não. Para quem tem coração puro, todas as coisas são puras. Você não tem inclinação para intrigas, por isso não suspeitei disso nos outros.
O que mais chama atenção em Belgravia é que o livro não é, em essência, um romance de época, mas um romance histórico. Eu acredito que aliar ficção e realidade é uma das mais incríveis facetas da Literatura. Julian Fellowes, em seu gesto literário, reforçou ainda mais o que acredito ao tornar Belgravia uma leitura muito interessante e crível, através da preocupação em inserir datas, dados históricos e personalidades reais da época. Para se ter uma ideia, até mesmo o local onde boa parte da história acontece realmente existe. Belgravia é um dos maiores e mais importantes bairros londrinos, principalmente por situar-se próximo a residência real, o Palácio de Buckingham. Além disso, temos na composição da obra personagens extremamente semelhantes as pessoas que vivem agora, em nosso tempo. O autor, pouco a pouco, acaba construindo uma ideia de que não são apenas personagens de um romance histórico, mas personagens com dramas, ideais e paixões humanas.
A trama de Belgravia é muito focada nas duas famílias presentes no livro, os Brockenhurst e os Trenchard, que estão envolvidos num segredo que perdura há décadas. Não existem personagens secundários, já que todos os membros das duas famílias acabam, do meio para o fim, se tornando protagonistas de construção nítida, bem impactante e com um drama interessante e ligado aos segredos que unem as famílias. Anne Trenchard e Lady Brockenhurst são as duas matriarcas que garantem todo o excelente dinamismo da obra e mostram que não é por estarem no século XIX que são "santas", que não agem por impulso e nem fazem qualquer coisa para garantir que seus segredos continuem enterrados ou que sejam expostos ao sol.
Com uma escrita tão bem elaborada, com um enfoque no que está ao redor dos personagens, sem fugas ao enredo, sem pontas soltas e com cenários bem descritos, é quase impossível achar algo do tipo "não gostei" em Belgravia. Minha única ressalva estava no começo lento e um pouco dramático, mas percebi — e isso serve como dica aos iniciantes no gênero —, que todo esse começo arrastado, cheio de detalhes e ligações que não faziam sentido cumpriam um propósito maior, que eu não havia percebido. É preciso paciência para se acostumar com as vestimentas, com os costumes, com os muitos personagens e com a época em que tudo acontece, principalmente no início da trama, já que ela é da forma que é para que estejamos preparados para o grande e inesperado plot twist, a mudança radical na direção esperada ou prevista na narrativa.
Ele suspirou diante da própria estupidez.
— Besteira — disse Maria. — Todo mundo sabe que é melhor ser crédulo do que desconfiado.
A edição da Intrínseca ficou tão perfeita quanto a trama em si. A capa — aveludada! — é inteiramente coerente com a história do livro, principalmente por retratar a sempre bela e movimentada Belgrave Square. A diagramação ficou muito bonita e cada capítulo se inicia em uma nova página, de coloração acinzentada, com um design interior bem caprichado. Não encontrei erros de revisão e, no todo, acredito que a edição merece todo tipo de parabenização.
Por fim, gostaria de ressaltar que Belgravia é uma leitura válida e muito bem recomendada a todos, principalmente aos amantes do gênero e de Downton Abbey. Julian Fellowes abusa de uma escrita muito refinada e polida, que não chega a ser complicada, nem cansativa, mas que envolve o leitor de uma forma única e extremamente prazerosa. Eu adorei ler algo diferente e conhecer um gênero do qual eu não estou acostumado. Com intrigas, ganância, traições, amor, ódio e segredos, Belgravia mostra que pessoas de dois séculos atrás, mesmo na ficção, não eram melhores do que nós. É um prato cheio para quem já é fã de Fellowes!
Primeiro Parágrafo: "O passado, como já foi dito tantas vezes, é um país estrangeiro no qual as coisas eram feitas de forma diferente. Isso pode ser verdade — de fato, evidentemente é verdade quando se trata de moral ou de costumes, do papel das mulheres, do governo aristocrático e de um milhão de outros elementos de nossa vida diária."
Melhor Quote: "Isso era muito sentimental para Caroline Brockenhurst .
— Mas o que podemos fazer? Nenhuma caridade parece provocar qualquer diferença? — Elas precisam de mais do que nossa caridade — disse Maria. — Precisam que as coisas sejam diferentes."
eu adorei a trama, eu ja gosto de romance de época e o autor ainda apostou em um enredo cheio de segredos, intrigas, me conquistou mesmo
ResponderExcluirhttp://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/
Está aí um livro que quero ler, ainda mais depois dessa resenha!
ResponderExcluirGosto muito romances de época e estou interessadíssima nesse livro. Já li algumas resenhas sobre o livro e vi os comentários de quem já leu. Vale a pena mesmo. Vou comprar, ler e me deliciar com o romance. Gostei demais da sua resenha.
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