Livro: Dois Garotos se Beijando
Título original: Two Boys Kissing
Autor (a): David Levithan
Editora: Galera Record
Páginas: 224
   ISBN-13:  9788501102096
Sinopse: Baseado em fatos reais e em parte narrado por uma geração que morreu em decorrência da Aids, o livro segue os passos de Harry e Craig, dois jovens de 17 anos que estão prestes a participar de um desafio: 32 horas se beijando para figurar no Livro dos Recordes. Enquanto tentam cumprir sua meta — e quebrar alguns tabus —, os dois chamam a atenção de outros jovens que também precisam lidar com questões universais como amor, identidade e a sensação de pertencer.

Curiosidades: 1 – O enredo desse livro foi inspirado na história real de Daley e Bobby que se beijaram por 32 horas, 30 minutos e 47 segundos para quebrar o record! 2 – O autor tem vários livros publicados no Brasil, como “Invisível”, “Will e Will”, “Nick e Norah” “Garoto encontra Garoto” e “Todo Dia”, todos pela Editora Galera.

Dois garotos se Beijando” é a mais nova aposta da Editora Galera, que já publicou no Brasil outros títulos do escritor David Levithan. O autor é editor de livros infantis nos Estados Unidos e escreveu inúmeros livros polêmicos, que levantaram protestos de grupos tradicionais e radicais. Contudo, suas obras continuam agradando e conquistando o público leitor, geralmente, compostos por pessoas mais intelectuais, abertas a novas ideias, e mais flexíveis! Confira a resenha a seguir:
      Os antepassados observam as gerações do presente, e as grandes lutas decisivas que se desdobram. Contemplam e torcem, inclusive, por Harry e Craig, que decidem se reaproximar para entrar no livro de records com o beijo mais longo do mundo, e, também, gay. Não é por causa do desafio do tempo que eles entraram nesse projeto, e sim, pela causa “homossexual”, pela luta dessa minoria, por uma ação que poderia mobilizar o mundo. 
      Contudo, não seria um evento qualquer. Eles precisavam se arriscar, ir além, chamar a atenção para si. Promoveram, então, esse episódio no gramado da escola, acompanhado por inúmeras câmeras que transmitiriam o acontecimento ao vivo para o mundo inteiro – assistido por policiais, que garantiriam a segurança dos civis envolvidos na circunstância. 
      Logo, a indignação das pessoas mais absurdas e intolerantes da sociedade começaram a atingi-los, através de depoimentos nos jornais, na internet, e, pior: ataques presenciais. Xingamentos e ovos foram atirados contra Harry e Craig durante o desafio e eles se tornaram alvo de muitas críticas irracionais. Craig, no entanto, preocupava-se também com a reação de sua família, que ainda não sabia de sua orientação sexual. O que aconteceria depois desse evento? Daria tudo certo? Eles seriam perseguidos, espancados, isolados? Os pais de Craig ainda o aceitariam como filho? 
“Nossos beijos eram sísmicos. Quando vistos pela pessoa errado, podiam nos destruir. Quando compartilhados com a pessoa certa, tinham o poder da confirmação, a força do destino.”
“Nossa expectativa de desafio não é nenhum pouco como a experiência de desafio em si. Se pudéssemos sentir as coisas que tememos antes da hora, ficaríamos traumatizados.”

      Enquanto isso, Avery e Ryan procuravam se conhecer ainda mais depois de uma festa que participaram. Entretanto, Avery tinha medo de contar a Ryan que era transexual, porque, mesmo Ryan sendo gay, talvez não a aceitasse. O silêncio e o medo pairava sobre esse casal. Será que tudo seria mais uma vez estragado por preconceito e intolerância? Será que o sentimento não prevaleceria?
       Já Neil e Peter são um casal oficial. Mas Neil tem problemas sérios com sua família distante, machista e tradicional. Apesar de saberem sobre Neil e sobre seu relacionamento com Peter, tentam ignorar, nunca tocam no assunto e o evitam completamente. Neil precisa vencer essa dificuldade logo ou terá que deixar sua família para trás em breve.
      Cooper, no entanto, nunca deixou claro ou contou a sua família sua orientação sexual. Quando seus pais descobrem, foi por um terrível descuido. Cooper tinham a mania de conversar com homens pela internet, e, um dia, deixou o site de relacionamentos ligado. Seus pais viram e entraram em crise, fazendo Cooper fugir. Porém, a gasolina do carro estava acabando e ele teria que decidir se voltaria ou não para casa, para ira do pai preconceituoso e agressivo. 

 "Há garotos tão embevecidos de amor que não conseguem fazer o coração bater mais devagar o bastante para descansarem, e outros tão feridos pelo amor que não conseguem parar de cutucar a dor. Há garotos que se agarram a segredos à noite da mesma forma que se agarram a negação de dia.”
"Não há nada mais doloroso do que ver alguém desistir de você. Principalmente se for sua mãe.”

      David Levithan se tornou um dos meus escritores favoritos. Talvez porque ele soube me prender nessa história, talvez porque ele me obrigou a refletir sobre minha vida, ou talvez porque ele atribuiu tantas frases bonitas – mesmo seu livro sendo pequeno – que tive que reescrevê-las em três páginas do word. Só sei afirmar com convicção que “Dois Garotos se Beijando” foi um livro extremamente marcante e especial para mim. 
      A narração de David Levithan nessa obra é admirável em todos os sentidos. Há inúmeras metáforas inspiradores e frases poéticas, todas ditas por uma narrador um tanto quanto diferente: os antepassados, uma geração que morreu em decorrência da Aids. Esse narrador inovador representa toda a humanidade, compara os acontecimentos, filosofa sobre a vida, apresenta sua sabedoria pautada na experiência de anos e mais anos, e torce pelo presente e futuro da humanidade. Levithan foi um gênio só por ter desenvolvido seu livro a partir dessa ideia ousada. 

“Sabemos que alguns de vocês ainda sentem medo. Sabemos que alguns de vocês ainda estão em silêncio. Só porque está melhor agora não quer dizer que é sempre bom.”
“O silencio é igual a morte, nós dizíamos. E por baixo disso havia a suposição, o medo de que a morte fosse igual ao silêncio.”

      A linguagem é satisfatoriamente simples, e, em alguns casos, até coloquial, porém, a narração é cheia de efeitos, enfeitada por pontuações propositalmente aplicadas, como instrumento para a reflexão. É incrível ver que frases mínimas são capazes de fazê-lo refletir por horas a finco.
      Os personagens são outro ponto fortíssimo em “Dois Garotos se Beijando”. Peculiares e complexos em personalidade, cada um deles parece ter algo diferente a contar, a acrescentar. Entretanto, eram, ao mesmo tempo, histórias tão parecidas! Todos sofriam pelo preconceito, independente pelo o que lutava, pelo o que passava. Viver a vida deles, pelos olhos deles é uma experiência sem igual.  Só a partir da empatia que conseguimos realmente sentir a dificuldade que essa minoria acaba suportando.
      Foi muito fácil me sensibilizar com o personagem Cooper, que se afogava na sua própria dor e não se permitia lutar e mudar. Assim como entender a iniciativa e a força de vontade de Harry e Craig! Eram sacrificadores da paz, tudo pela causa, porque, por mais que muitos não acreditassem nisso, eles ainda estavam certos e não deveriam se reprimir. Todas essas histórias distantes e distintas se interligaram em algum momento, ilustrando, mais uma vez, o talento do autor. 
      Mais que isso, “Dois Garotos se Beijando” apresenta críticas ferrenhas à sociedade, à família e às instituições. Critica o preconceito, que nada mais é que uma venda que impede de olhar além; critica os argumentos infundados e incabíveis dos intolerantes. 

“E sua mãe acompanharia seu pai nisso.  Eles tinham suas crenças. E suas crenças eram mais fortes do que qualquer crença que tinham nele.”
“A ignorância não traz felicidade. Felicidade é saber o significado total do que se recebeu.”

      Apesar de trazer um tema pesado e complexo, Levithan tomou a devida precaução de fazer o livro ser leve e fluído. É impossível não lê-lo em poucos dias, em poucas horas! As lições e reflexões trazidas são de emocionar e, literalmente, arrepiar. 
      A Editora Galera está de parabéns pela edição! A capa é inovadora e muito bonita, assim como a diagramação interna. A fonte da letra e o papel amarelado que foi utilizado contribuíram muito para a leitura, assim como a tradução e a revisão bem feitas. 
      Indico muito essa leitura a todos os tipos de leitores. David Levithan obriga o leitor a se colocar no lugar desses personagens ao nos demonstrar suas angústias, sofrimentos e lutas, e, ainda, nos ensina que não há somente uma receita única e rígida para se estar certo e ser feliz! Lhe desafio a não se comover e se emocionar com essa história!

Primeiro Parágrafo: “Vocês não tem como sabe como é para nós agora; sempre estarão um passo atrás. Agradeçam por isso.”
Melhor Quote:
 “Foi uma ironia delicada:  quando paramos de querer nos matar, começamos a morrer.”














2 Comentários

  1. Confesso que são pouco os livros que tem me agradado da Galera Record ultimamente, mas gostei do lançamento sobre dois garotos se beijando por conta do preconceito que aborda e tudo mais. Eu gosto de histórias assim porque nos fazem refletir, mas eu ainda não tive muito interesse de ler esse livro como outros que foram lançados ai, pois estou querendo ler alguns de lançamentos passados que até agora não consegui comprar, mas mesmo assim gostei bastante do desenvolvimento da sua resenha. Simplesmente ficou maravilhosa e seu ponto de vista ficou bastante objetiva. Meus parabéns. Continue assim viu?

    http://lovereadmybooks.blogspot.com.br/2015/04/resenha-se-joga.html

    ResponderExcluir
  2. Eu amei sua resenha, me fez realmente voltar atrás e relembrar os fatos que eu tinha lido. Adorei!
    A propósito, tenho uma história no Wattpad com essa temática também... acho a abordagem desse tema super pertinente! ^.^

    ResponderExcluir

.