Livro: Eu Sou Malala
Título original: I am Malala
Autor (a): Malala Yousafzai com Christina Lamb
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 342
ISBN: 9788535923438
Sinopse: "Quando o Talibã tomou controle do vale do Swat, uma menina levantou a voz. Malala Yousafzai recusou-se a permanecer em silêncio e lutou pelo seu direito à educação. Mas em 9 de outubro de 2012, uma terça-feira, ela quase pagou o preço com a vida. Malala foi atingida na cabeça por um tiro à queima-roupa dentro do ônibus no qual voltava da escola. Poucos acreditaram que ela sobreviveria. Mas a recuperação milagrosa de Malala a levou em uma viagem extraordinária de um vale remoto no norte do Paquistão para as salas das Nações Unidas em Nova York. Aos dezesseis anos, ela se tornou um símbolo global de protesto pacífico e a candidata mais jovem da história a receber o Prêmio Nobel da Paz. Eu sou Malala é a história de uma família exilada pelo terrorismo global, da luta pelo direito à educação feminina e dos obstáculos à valorização da mulher em uma sociedade que valoriza filhos homens. O livro acompanha a infância da garota no Paquistão, os primeiros anos de vida escolar, as asperezas da vida numa região marcada pela desigualdade social, as belezas do deserto e as trevas da vida sob o Talibã. Escrito em parceria com a jornalista britânica Christina Lamb, este livro é uma janela para a singularidade poderosa de uma menina cheia de brio e talento, mas também para um universo religioso e cultural cheio de interdições e particularidades, muitas vezes incompreendido pelo Ocidente. “Sentar numa cadeira, ler meus livros rodeada pelos meus amigos é um direito meu”, ela diz numa das últimas passagens do livro. A história de Malala renova a crença na capacidade de uma pessoa de inspirar e modificar o mundo."

   Malala Yousafzai ficou internacionalmente conhecida quando, em outubro 2012, sofreu um atentado pelo grupo Talibã, ao regressar para sua casa da escola, na província do Vale do Swat, no Paquistão, e ficou à beira da morte. Essa foi a primeira vez que o Talibã atacou uma menina adolescente (Malala, na época, tinha 15 anos), mas não a primeira vez que ele atacou o povo paquistanês.
   O Talibã é um grupo político que atua no Afeganistão e Paquistão, cujo objetivo é recuperar seu território e expulsar os invasores dos Estados Unidos e da OTAN, usando, para tentar desestabilizar o inimigo, táticas de guerrilha e ataques de homem-bomba. A característica principal do grupo é ter uma interpretação muito rígida dos textos islâmicos, incluindo proibição à cultura ocidental e a obrigação ao uso da burca pelas mulheres, além de várias medidas extremas, como a proibição da leitura de certos livros, ao acesso à internet, às artes, à música e à fotografia. Mulheres, em especial, tiveram seus direitos reduzidos a nada pelo poder do Talibã: elas são proibidas de sair na rua sem um homem, e o Talibã decretou que garotas não poderiam mais ir à escola
"A vida não se resume a inspirar oxigênio e expirar gás carbônico. Você pode ficar aí, aceitando tudo o que o Talibã ordena, ou pode resistir a eles."
   Eu Sou Malala retrata a história dessa jovem desde seu início, quando nasceu no Vale do Swat, em uma região tomada pela pobreza, como grande parte de seu país. Conhecemos a cultura do Vale que Malala tanto ama, assim como sua história e seus costumes, que são levados tão seriamente por seus habitantes. Desde o início de sua vida, Malala foi diferente, a começar pelo seu nascimento, que foi festejado por seu pai, ao contrário da grande maioria – a tradição manda rifles serem disparados quando um menino nasce, mas uma menina recém-nascida é escondida e depois criada para servir à família e ao seu marido. 
   Somos apresentados ao sonho do pai de Malala, Ziauddin Yousafzai, que é um personagem tão importante nessa história, de construir uma escola, e de ver a igualdade em seu país. Foi Ziauddin que começou a história contada por Malala: ele se casou por amor, valoriza sua mulher e escuta seus conselhos, em uma cultura na qual a mulher é menosprezada, sempre lutou pelo direito de todos à educação, e, quando o Talibã invadiu seu país, viu a verdadeira mensagem de ódio e intolerância escondida no grupo. Malala foi incentivada pelo pai a expressar sua opinião desde cedo, e foi isso que ela fez: através de palestras, discursos e ações de caridade, a menina sempre se posicionou contra as leis extremistas que proíbem a educação feminina, se tornando um ponto de referência, assim como seu pai, para aqueles que desejavam lutar pelos seus direitos. 


  É quiça comum deparar-se com uma história muito bem contada e impactante na ficção; mas, o que fazer quando a história que tanto lhe toca é verdadeira? Mal consigo colocar em palavras o quanto a leitura de Eu Sou Malala me tocou, e, mais do que isso, me levou a refletir sobre o mundo no qual vivemos. Sobre como a crueldade, a intolerância e o ódio dos homens pode ser verdadeiramente maligno, e pior: sobre como um grupo de pessoas pode afetar a vida de tantos inocentes.

   A biografia é narrada por Malala, em primeira pessoa, e foi escrita com a ajuda da jornalista Christina Lamb. Ainda sim, a escrita é simples e sucinta, de fácil compreensão, ao mesmo tempo em que narra fatos e explica muito da cultura e história da região na qual a menina nasceu e foi criada. Malala possui uma opinião muito clara e objetiva sobre os fatos, e, durante todo o livro, não hesita em demonstrá-la, assim como fala claramente sobre como luta e ainda pretende lutar pelo seu sonho: o sonho de que a educação seja um direito exercido de cada criança do mundo. 
   A própria Malala, na realidade, é a legítima “alma velha”, alguém que desde cedo, aos 11 anos, já tinha consciência do absurdo dos fatos que a cercavam. É claro que muito disso é crédito de seu pai, sempre tão benevolente e justo, que sempre ajudou a menina a abrir os olhos, mas ela também tem mérito próprio: Malala consegue dar um verdadeiro tapa em nossa cara. Com uma coragem sem tamanho, humildade admirável, inteligência e dedicação, essa menina é um exemplo de sabedoria e bondade, alguém verdadeiramente evoluído. 

"Comecei a entender que a caneta e as palavras podem ser muito mais poderosas do que metralhadoras, tanques ou helicópteros. Estávamos aprendendo a lutar. E a perceber como somos poderosos quando nos manifestamos."

   Vendo a descrição do dia a dia do seu povo e seus costumes, não posso deixar de comentar três pontos que realmente me chamaram atenção sobre as pessoas, em geral. O primeiro é como pouco nós, ocidentais, sabemos sobre a cultura islâmica em geral. Acredito que sempre será difícil para alguém como eu, que não nasceu em um ambiente oriental, compreender os valores e as crenças que guiam esse povo, tão convicto, que vive com um código de conduta muito mais complexo do que posso conseguir começar a imaginar. 
   O que aprendi lendo Eu Sou Malala, foi, na realidade, como as pessoas são diferentes, distintas. O mundo no qual Malala Yousafzai nasceu e foi criada é um mundo, para mim, de histórias, mas o ponto não é esse, e sim o seguinte: existem milhões de Malalas pelo mundo. Talvez não pessoas que se impõem como essa jovem fez, mas, pior: pessoas que sofrem, que estão presas pela ignorância e intolerância de outras. Malala foi alguém especial, alguém que conseguiu escapar e faz sua parte para ajudar aos que pode até os dias de hoje – mas minha segunda reflexão foi sobre aqueles que ainda jazem ali, acorrentados ao medo e que são afetados todos os dias. 
   Foi impossível não ficar tocada pelas histórias contadas por Malala, e, mais do que isso, também foi impossível não me sentir revoltada. Sempre fui uma forte defensora do feminismo, e tenho ciência de que, em nosso mundo ocidental, as ainda mulheres são – tragicamente – desvalorizadas perante o homem. Imaginem minha frustração e tristeza, então, ao ler o relato de como a mulher oriental sofre de maneiras muito mais imperscrutáveis do que nós. A crença de inferioridade feminina está tão profunda e pesarosamente cravada na cabeça desses grupos que é algo trágico, e uma grande dose de realidade para aqueles que acham que a igualdade foi alcançada. 



   A Editora Companhia das Letras publicou o livro em uma edição bonita, mas que ainda manteve certa simplicidade. O interessante sobre o design em geral é que há, no início e no meio do livro, fotos e mapas para ilustrar e sinalizar os lugares citados por Malala, assim como algumas pessoas. Tudo isso torna a história da menina, que é bastante densa, mais clara, auxiliando na compreensão do leitor. A diagramação é sucinta, de boa leitura, e não me deparei com nenhum erro de tradução ou revisão durante as 342 páginas do livro. 
   Por fim, ainda é difícil para mim expressar o quanto esse livro me levou a refletir sobre como devemos lutar sobre nossos direitos e nossos sonhos. Sobre como devemos nos impor diante do que sabemos estar errado, levantar-se e ir a luta. Malala Yousafzai é um verdadeiro exemplo a ser seguido, alguém com uma alma muito além de toda a maldade a ignorância que a cercaram – e ainda cercam a todos nós – durante toda sua vida. 

Primeiro parágrafo do livro: 
"Venho de um país criado à meia-noite. Quando quase morri, era meio-dia."
Melhor quote: 
"Mas percebi que, mesmo que você vença três ou quatro vezes, isso não significa que a próxima vitória será sua, a não ser com muito esforço. E às vezes é melhor você contar sua própria história."

            


4 Comentários

  1. estudei um pouco sobre Malala na faculdade, sua luta pela igualdade e educação e é admirável e notável uma jovem com tantas ganas por lutar por si e pelos outros
    http://felicidadeemlivros.blogspot.com.br/

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  2. Hey, tudo bem??
    Eu já tinha ouvido falar desse livro, mas nunca imaginei que fosse assim tão bom, ao menos foi o que sua resenha me fez pensar rsrs. Fiquei super curioso e quero muito ler esse livro, com certeza ele entrará na minha lista de 2015.
    Amei sua resenha e todo o seu blog, impossível não seguir ^^
    Abraços!!
    http://enjoythelittllethingss.blogspot.com.br/

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  3. História linda..
    É um mundo ainda pouco entendido.
    Gostei, muito legal!
    Blog ArroJada
    Divulgação de Blogs

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