Livro: Boa Noite
Autor (a): Pam Gonçalves
Editora: Galera Record
Páginas: 240
ISBN: 9788501106698
Sinopse: Alina quer deixar seu passado para trás. Boa aluna, boa filha, boa menina. Não que tudo isso seja ruim, mas também não faz dela a mais popular da escola. Agora, na universidade, ela quer finalmente ser legal, pertencer, começar de novo. O curso de Engenharia da Computação - em uma turma repleta de garotos que não acreditam que mulheres podem entender de números -, a vida em uma república e novos amigos parecem oferecer tudo que Alina quer. Ela só não contava que os desafios estariam muito além da sua vida social. Quando Alina decide deixar de vez o rótulo de nerd esquisitona para trás, tudo se complica. Além de festas, bebida e azaração, uma página de fofocas é criada na internet, e mensagens sobre abusos e drogas começam a pipocar. Alina não tinha como prever que seria tragada para o meio de tudo aquilo nem que teria a chance de fazer alguma diferença. De uma hora para outra, parece que o que ela mais quer é voltar para casa.

Pam Gonçalves nasceu em 1990, mora em Santa Catarina, é escorpiana e formada em Publicidade e Propaganda. Ficou conhecida no meio literário quando criou o blog Garota It, em 2009. Porém, desde 2014, se dedica exclusivamente ao seu canal no YouTube, trazendo novidades do mundo editorial, resenhas de livros, indicações e dicas de como escrever.

   Em Boa Noite, conhecemos Alina, que tem uma vida normal demais. Ela acha que a maioria das pessoas que chega na universidade espera que a vida tome um rumo totalmente diferente, e, claro, como qualquer pessoa, ela espera o mesmo. Tudo o que ela mais quer é começar de novo, e é nisso que estava pensando enquanto encarava o prédio de tijolinhos da República das Loucuras, sua possível nova casa. Viver em uma república, fazer novos amigos, enfrentar o preconceito em sala de aula — o curso de Engenharia da Computação é dominado por garotos, e muitos não acreditam que mulheres podem entender de números —, ficar longe de casa... Parece a oportunidade perfeita para se reinventar.
   Aceita na República das Loucuras, Alina logo se adapta à vida no pueril prédio de tijolinhos, e faz amigos: Manu e Talita são tão diferentes quanto adoráveis; Gustavo e Bernardo, o namorado de Talita e morador ocasional, também fazem o possível para que ela se sinta em casa — depois do trote, claro. As coisas começam a complicar quanto Alina decide arriscar, deixando de lado o rótulo de nerd, boa menina, boa filha e boa aluna para trás. Festas, bebidas, azaração não fazem parte do cotidiano da menina. Até agora. Essa é a nova Alina e ela pretende fazer diferente.
   Alina sabe que muita gente fala que a faculdade é a oportunidade ideal para escolher quem você quer ser. E tudo começa a fazer sentido quando ela vê a verdade nessa afirmação. É quando ela começa a perceber que alguma coisa mudou. Uma página de fofocas é criada na internet, e mensagens sobre abusos e drogas começam a pipocar. Alina não tinha como prever que seria tragada para o meio de tudo aquilo nem que teria a chance de fazer alguma diferença. De uma hora para outra, ela terá que provar do que é capaz e quem realmente é. Tomar cuidado e ao mesmo tempo tentar salvar meninas que estão em perigo. Antes do último suspiro da inocência, a realidade vai se mostrar mais amarga que os sonhos e Alina vai descobrir que, às vezes, sua casa é onde está seu coração.

"Este livro é para todas as meninas, garotas e mulheres. Não deixem que digam que não são capazes, vocês podem ser o que e quem quiserem."

   Desde que entrei — completamente — no maravilhoso mundo da leitura, eu conheço a Pam por seu blog/canal Garota It. Tenho certeza de que muitos de nós já escolheram diversas das "próximas leituras" depois de assistir a seus vídeos ou após ler suas resenhas. Pam sempre mostrou ser uma pessoa incrível e talentosa em seus vídeos, mas o que ninguém poderia esperar é que esse talento não era somente para fomentar críticas reais e construtivas acerca de obras literárias, mas produzi-las com extrema maestria e responsabilidade. Pouco depois do início do ano, a Galera Record anunciou para o dia dos namorados o lançamento da antologia O Amor nos Tempos de Likes, dos booktubers Pam Gonçalves, Bel Rodrigues, Hugo Francioni e Pedro Pereira (Pedrugo). A obra trás releituras contemporâneas de clássicos como Dom Casmurro e Orgulho e Preconceito, que foi reinventado por Pam, ou seja, Boa Noite não é o primeiro trabalho da autora.
   Ainda não tive a oportunidade de ler O Amor nos Tempos de Likes, apesar de ter o livro, mas adianto que li inúmeras críticas positivas quanto a antologia, em especial ao conto da Pam, o que me fez ver que não fui o único a notar seu talento. Quando, então, a Galera anunciou Boa Noite, livro solo da catarinense, eu não pensei duas vezes em colocá-lo em minha TBR (to be read), principalmente pela temática social e pelo gênero jovem-adulto no qual ele pode facilmente ser inserido. 
   Uma das coisas que mais me surpreendeu no livro foi a narrativa, já que esta é uma das partes mais difíceis na hora da construção de um livro — os norte-americanos e os ingleses só são bons nisso porque, muitos deles, cursam Escrita Criativa desde cedo. A autora conseguiu, em primeira pessoa, trazer uma narrativa extremamente simples, dinâmica e gostosa de se ler. Foi uma experiência bem prazerosa ler Boa Noite, e acho que já perceberam isso desde que iniciei a resenha. Não foi simplesmente uma narração qualquer, mas algo que tinha intenções em cada palavra e objetivos em cada vírgula.

  
As festas universitárias são incríveis para conhecer muita gente diferente e se divertir, não deveria ser lugar de assédio, abuso e violência. Se um não quer, dois não têm que fazer. Isso serve para qualquer pessoa. Ninguém tem que ser coagido a nada. Pergunte-se antes de fazer qualquer coisa para outra pessoa: Eu faria isso com alguém de que eu gosto muito? 

   No Brasil, a cada 12 segundos uma mulher é violentada, de acordo com uma pesquisa da Secretaria de Políticas para Mulheres do Governo Federal, a cada 10 minutos, uma mulher é estuprada, de acordo com o Mapa da Violência, e a cada 90 minutos uma mulher é assassinada, de acordo com o IPEA. O que tudo isso tem em comum é apenas uma coisa: todas essas violências estão relacionadas à questão de gênero. Ser mulher nunca foi fácil, e a clareza desse fato em Boa Noite é o que torna a obra tão incrível, apesar de pouco original. Em seu livro, Pam trata, em destaque, sobre o feminismo, sobre as dificuldades enfrentadas pelas mulheres em cursos superiores predominantementes masculinos, sobre o assédio que muitas delas sofrem e, de maneira real e emocionante, nos faz enxergar que a situação é extremamente séria, e precisa ser pensada e repensada diariamente. 
   Sobretudo, não é somente uma obra que trata sobre o feminismo, mas também de outros temas sociais, o que dá contornos extremamente plurais ao livro. Os personagens poucos, reais, carismáticos e com quem você se afeiçoa de primeira, são os responsáveis por serem bases para o desenvolvimento desse pluralismo de temas sociais. A protagonista, Alina, é acadêmica em um curso onde mais de 90% dos alunos são do sexo masculino e, desde o primeiro dia de aula, ela sofre em virtude dessa situação. O interessante é que, gradualmente, Alina vai aprendendo sobre a vida adulta, sobre os desafios da faculdade e, como a realidade é o pilar de sustentação do livro, nós também vamos aprendendo junto com ela. 
   Na República das Loucuras, Alina conhece Gustavo, Bernardo, Talita e Manu, e nós, por meio deles, vamos vivenciando situações de preconceito racial, sexual e machismo. A amizade da protagonista com esses quatro personagens secundários também é inspiradora e nos mostra com emoção que toda criatura precisa da ajuda dos outros. Por fim, vale ressaltar que os personagens são poucos e que essa construção contribui demais para nos afeiçoarmos com cada um deles e compreendermos suas situações. 

"Eles dizem que só querem nosso bem, mas fica difícil quando não querem nem mesmo pensar no que nós queremos."

   Depois de ler Boa Noite, eu falei um pouco sobre ele em minha página do Instagram (@ummeninoleitor) e percebi que grande parte dos leitores adoraram a obra de Pam. Contudo, nada nunca é perfeito. Navegando pela internet, me deparei com um pré-conceito que não tem nenhum sentido. O leitor alegava que, mesmo após ler várias resenhas positivas do livro e saber que a Pam entende de livros, jamais o leria por se tratar de uma obra de youtuber. Mas onde está escrito, dito e comprovado que só por ser youtuber a pessoa não tem a capacidade de escrever um bom livro? Isso é sério, pessoal! Vamos tomar cuidado com o que andamos falando ou com as críticas ridículas e sem base que fomentamos contra pessoas que nem mesmo conhecemos. Lembrem-se sempre de que o trabalho de qualquer um, independente do que seja ou se te agrada, merece respeito.
   Dada a lição, vamos falar sobre a edição do livro. Nos padrões simples e belos de sempre, a Galera Record lançou Boa Noite com uma capa extremamente linda, escolhida pelos fãs e admiradores da Pam, que apresenta a fachada da República das Loucuras, onde boa parte da história se desenvolve. Já a diagramação foge um pouquinho da maioria das edições da editora, com muitos espaços em branco no início de cada capítulo e fontes muito pequenas (ainda que não tenham me incomodado tanto). No todo, é uma edição aprazível e sem erros de revisão. Muito amor, apenas! 
   Por fim, gostaria de mais uma vez ressaltar que adorei esse livro. Jamais imaginei que eu fosse gostar tanto, tampouco que eu fosse praticamente devorar em dois dias. Foi um dos melhores livros que li este ano e resolvi dar cinco estrelas porque, para um romance de estréia, Boa Noite ficou muito bem feito e melhor que muitos livros que vem da terrinha do chá e da terrinha do Tio Sam. Sem contar que a história é bem brasileira, com inspirações lá de fora, e com um enredo que traz temas sociais que merecem, sim, muito destaque. Pam Gonçalves é a nova Charlotte Perkins Gilman, e, como ela, faz um convite. Ela convida as mulheres a saírem de suas casas, a deixarem de serem isoladas do mundo e abandonarem o medo. Eu recomendo!


Primeiro Parágrafo:"Acho que a maioria das pessoas que chega na universidade espera que a vida tome um rumo totalmente diferente." 
Melhor Quote: "Nem sempre o que parece divertido é o mais inteligente."



4 Comentários

  1. Oi, Pedro!
    Eu não conheço a autora, mas eu vi tantas críticas maravilhosas sobre esse livro que ele também está na minha TBR, espero pode encontrar os mesmos elementos que você citou.
    Abraço! Leitora Encantada

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  2. Amei o post e estou ansiosa para ler!!!

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  3. Interessei-me pelo livro!! Quero saber o que ocorre com a Alina, como ela se sai na república, a parte do romance, e como acontece estes abusos, preconceitos, como lidar e talvez até evitá-los!! Ainda não li nada desta autora, gosto dos autores nacionais!! A capa está muito linda!!

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  4. Primeiro, saber que o livro é nacional ganhou minha atenção, segundo que o título foi além do que eu imaginava para essa historia, criatividade pura, achei que fosse estilo terror ahahahahahah. Conflitos na adolescência sempre rendem uma boa historia e abordando assuntos pertinentes aí é sucesso na certa se a autora acertar na narrativa. O que pelo jeito foi o que aconteceu, conforme teus comentários. Dica anotada. Descriminações a parte, é engraçado isso ser levantado, certos vídeo de youtubers tem milhares de visualizações, ou seja o conteúdo agrada, mas qdo chega em forma de livro, ai não presta?? Quanta ironia, pra não dizer outra coisa...

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