Livro: Suzy e as Águas-Vivas
Autor (a): Ali Benjamin
Editora: Verus Editora
Páginas: 224
ISBN: 9788576865377
Sinopse: Um dos romances mais autênticos e comoventes dos últimos tempos. Finalista do National Book Award de 2015. Suzy Swanson está quase certa do real motivo da morte de Franny Jackson. Todos dizem que não há como ter certeza, que algumas coisas simplesmente acontecem. Mas Suzy sabe que deve haver uma explicação — uma explicação científica — para que Franny tenha se afogado. Assombrada pela perda de sua ex-melhor amiga — e pelo momento final e terrível entre elas —, Suzy se refugia no mundo silencioso de sua imaginação. Convencida de que a morte de Franny foi causada pela ferroada de uma água-viva, ela cria um plano para provar a verdade, mesmo que isso signifique viajar ao outro lado do mundo... sozinha. Enquanto se prepara, Suzy descobre coisas surpreendentes sobre o universo — e encontra amor e esperança bem mais perto do que ela imaginava. Este romance dolorosamente sensível explora o momento crucial na vida de cada um de nós, quando percebemos pela primeira vez que nem todas as histórias têm final feliz... mas que novas aventuras estão esperando para florescer, às vezes bem à nossa frente.

Ali Benjamin cresceu nos arredores de Nova York, em uma casa velha e caindo aos pedaços que os vizinhos achavam que era mal-assombrada. Quando criança, passava horas incontáveis coletando insetos e sapos; Suzy e as Águas-Vivas nasceu de seu fascínio pelo mundo natural. Ela é coautora de Positive, livro de memórias da adolescente HIV positivo Paige Rawl, e de The Keeper, de Tim Howard, jogador de futebol norte-americano. É membro da New England Science Writers. Mora na zona rural de Massachusetts com o marido, duas filhas e um pastor-australiano chamado Mollie. 

   Durante as três primeiras semanas do sétimo ano, Suzy Swanson aprendeu principalmente uma coisa: uma pessoa pode se tornar invisível simplesmente ficando em silêncio. Quando sua amiga morreu, passaram-se dois dias inteiros antes que ela ao menos soubesse do ocorrido, e desde então ela preferiu se calar. Era de tarde, fim de agosto, fim do longo e solitário verão depois do sexto ano. Sua mãe quem lhe deu a notícia, e quando ela perguntou o porquê e como aquilo poderia fazer sentido, sua mãe respondeu apenas que nem tudo fazia sentido, que às vezes as coisas simplesmente aconteciam. 
   Suzy sempre soube coisas que outras pessoas não sabem. Sabia, por exemplo, que alguns corações batem apenas uns 412 milhões de vezes. Isso pode parecer muito, mas ela sabia que a verdade é que isso mal chega a doze anos. Sabe também que ocorrem 150 milhões de picadas de águas-vivas no planeta a cada ano. Sabe que o corpo de um aluno do ensino fundamental tem em média 20 bilhões de átomos de Shakespeare. Mas ela não consegue entender como a vida de Franny Jackson pôde ser interrompida tão rápido... antes que Suzy pudesse corrigir a pior coisa que fez para sua amiga. 
   Quando Suzy, silenciosa e triste, recolhe à sua imaginação, descobre que o universo não permitirá que ela fuja para dentro de seu luto. Maravilhas inesperadas estão em toda parte... assim como o amor e a esperança de que ela precisa desesperadamente para perdoar a si mesma. Muito mais que um simples romance de estreia, como bem declara o Publishers Weekly, Suzy e as Águas-Vivas é um retrato comovente sobre perda e cura. O romance de Benjamin é um exemplo brilhante dos altos e baixos da pré-adolescência.

"Mais que tudo, não entendo por que falar à toa é considerado mais educado que não-falar. É como quando pessoas aplaudem depois de uma apresentação. Você já viu alguém não aplaudir depois de uma apresentação? As pessoas aplaudem sempre, tenha sido o espetáculo bom ou ruim. Elas aplaudem até depois que a banda da Eugene Field toca seu concerto anual, e isso é muito significativo. Não seria mais fácil e tomaria menos tempo e esforço simplesmente não aplaudir? Porque significaria a mesma coisa, ou seja, absolutamente nada. No fim, não-falar significa a mesma coisa, mais ou menos, que falar à toa. Ou seja, nada. Além disso, eu aposto que essa história de falar à toa já acabou com mais amizades do que o silêncio."

   Esse livro é O LIVRO! Quando bati o olho nele e li a sinopse pela primeira vez eu senti que precisava ler. E então eu li, e o achei incrível. Todos no planeta deveriam dar uma chance — os ensinamentos são múltiplos. Quando eu li a sinopse, deduzi por ela que o livro seria “poderoso”, mas não criei expectativas elevadas, já que ela pode ou não dizer muito sobre um livro. Contudo, tão boa quanto a sinopse é a história de Suzy e as Águas-Vivas — e minhas expectativas mantiveram-se satisfatórias até a última página. Nunca li nada da autora — já que este é seu primeiro livro —, mas, sem dúvidas, caso ela escreva outros, certamente lerei. Não sou muito afeiçoado por literatura infanto-juvenil, mas Suzy e as Águas-Vivas cumpre um propósito muito vivo e importante, e traz uma lição que todas as crianças deveriam ter contato, a de que, às vezes, quando nos sentimos mais solitários, o mundo decide se abrir de formas incríveis. 
   Narrado em primeira pessoa, com extrema emoção e precisão psicológica, Suzy e as Águas-Vivas tem uma trama bem focada e inteligente. A narração além de ter um fluxo contínuo e aprazível, é despretensiosa, solta e de fácil compreensão. A autora tem uma escrita muito descontraída, porém detalhista e formal — os fãs de John Green, como eu, certamente vão adorar! O livro tem uma estrutura muito peculiar, que torna tudo ainda mais agradável: é dividido em partes, que representam os métodos e as técnicas de pesquisa científica (objetivos, referencial, variáveis, procedimento, resultados e conclusão), que são subdivididos em curtos capítulos que mostram os andamentos da pequisa de Suzy e trás, alternadamente, flashbacks de como era sua amizade com Franny. 
   Outra coisa que também chama atenção no livro, e que provavelmente despertará o interesse em todos que o lerem é a determinação da personagem e o produto final de toda essa firmeza. Com o livro, construímos uma dimensão sobre quem sofre com a perda na adolescência, com a falta de amizades e a solidão, e ficamos com interesse em saber mais e buscar também entender o lado da pessoa que sofre em razão disso tudo. Percebemos, através da história, o quanto a autora pesquisou para discorrer sobre inúmeros sentimentos e fatos do cotidiano, e de modo geral fez com que o livro fosse, além de puro entretenimento, um manual sobre perda e cura, onde, como bem ressalta o New York Times, "muitas crianças podem não só se beneficiar (...), mas também ser profundamente tocadas".

"Às vezes a gente quer com tanta força que as coisas mudem que não suporta nem sequer estar na mesma sala com as coisas do jeito que realmente são."

   Os personagens da história são poucos e muito bem trabalhados. Suzy, extremamente marcante e introspectiva — alô, Clarice Lispector! — , é o tipo de personagem pela qual você se apega totalmente e, sem dúvidas, levará tempo para sair de nossa cabeça — isso se algum dia sair. Para ser sincero, gostaria de ter uma filha exatamente como Suzy: inteligente, viva, aberta para novas aventuras em busca de conhecimento, amiga e determinada. Isso tudo sem deixar de ser uma pré-adolescente. Ela é uma personagem muito comovente, o que muitos confundiram e nomearam de outras formas, como "chata" e "insuportável". Bem, insuportável é não se colocar no lugar da personagem e buscar compreender o livro como uma soma das partes. Suzy está sozinha, sem sua única amiga, que morreu sem que ela pudesse corrigir a discussão que tiveram. E toda essa situação mexe de forma profunda com quem está lendo.
   Outros personagens como a Sra. Turton, professora de ciências de Suzy, fundamental em pontos principais do livro; os pais da garota, que mesmo separados não deixam de amparar a filha e Justin, parceiro de laboratório de Suzy, que mesmo sabendo que a garota não quer sua amizade insiste até que as coisas começam a "andar", também nos são apresentados. Resumindo: os personagens são poucos, como já disse antes, e isso favorece sua boa construção. Percebe-se que houve um desenvolvimento na história, de modo que as coisas não aconteceram do nada, nem rápido demais, formando personagens reais e muito cativantes, inseridos numa história que não fica devendo para nenhuma outra.
   A edição ficou linda — o esmero com que a Verus Editora "fabrica" seus livros, é sempre notável. A capa, que mostra Suzy envolta no que parece ser água, ficou exuberante e passa claramente a mensagem do livro: belo e real. A diagramação e o design interno, com fontes espaçosas e agradáveis, seguem um modelo simples, mas não deixam, obviamente, de serem agradáveis. Não encontrei erros de revisão e acredito que a tradução foi muito bem feita, pois é perceptível as intenções da autora.
   Suzy e as Águas-Vivas é uma história que merece ser lida por todos  — e quem sabe relida  —, por ter um aspecto simples, real e emocionante. Ainda que não tenha uma narrativa altamente viciante, percebemos que a autora não queria um livro que fosse maravilhoso, mas que Suzy e as Águas-Vivas fosse simplesmente marcante e importante, por tratar algo tão especial como o luto. O livro possuí inúmeras qualidades e, sim, é possível ir além do entretenimento, alcançando algo mais importante: o conhecimento. O livro ganhará em breve uma adaptação cinematográfica pela Pacific Standard, produtora da atriz Reese Witherspoon. Leitura muito bem recomendada!


Primeiro Parágrafo:"Uma água-viva, se você olhar para ela por tempo suficiente, parece um coração batendo."
Melhor Quote:"(...) Podemos ser muito frágeis. Mas também somos os únicos que podem decidir mudar."



 


Um Comentário

  1. Oi Pedro, tudo bem?
    Quando eu olhei para capa do livro, apesar de ter achado bonita, não me interessei pelo livro. Mas ao ler sua resenha, que por sinal está muito bem escrita, percebi que o desenrolar da trama pode trazer muitas coisas que podem ser trazidas para vida real. Quero saber como ela lidou com o sofrimento de ter perdido a amiga; a um ano mais ou menos, perdi um amigo muito próximo em um acidente de carro, e gostaria de saber como ela lidou com isso.
    Beijos
    Quanto Mais Livros Melhor

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