{Resenha} Serial Killers: Sombrio — Fernando Drummond

Livro: Serial Killers — Sombrio

Autor: Fernando Drummond

Editora: Biblioteca 24 horas

Páginas: 729

ISBN: 9788541610827

Fernando Drummond é formado em Direito pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Sua grande paixão avassaladora sempre foi escrever. Prova disso foi um prêmio recebido aos dezessete anos de idade, no ano de 2001, tendo seu texto editado como livro pelo Ministério da Cultura, pela Fundação Biblioteca Nacional e pelo Jornal Folha Dirigida. Ele ainda administra o próprio blog: http://blogdodrummond.com.br/

   O primeiro volume desta trilogia, Sombrio, faz uma análise profunda da mente e das ações de Serial Killers de forma geral e individual, usando como exemplo fatos marcantes que ocorreram na vida real. Se trata de uma obra que busca tocar em todos os pontos que um assunto dessa dimensão envolve, passeando pelas áreas da psicologia e psiquiatria, jurídicas, sociais e filosóficas.
   Inicialmente, Drummond se debruça sobre a mente humana para depois fazer o paralelo com a mente dos assassinos em série. Além disso, também busca uma compreensão da sociedade com o velho dilema que provoca divergências entre profissionais da área da saúde e da sociologia: o homem nasce mau ou se torna mau? O livro não tem respostas exatas para tais perguntas, nem se atreve a isto. O único objetivo é abordar todas as visões possíveis e ampliá-las ao nível da obra.
   Em contraste com as análises apresentadas, Drummond embasa todas em fatos reais, criando a própria narrativa dos casos. Neste primeiro livro ele trata de casos polêmicos como do Zodíaco, do Vampiro de Düsseldorf, da Condessa de Sangue, do Estrangulador de Viena, e, do tão famoso Jack, o estripador. Como se não bastasse, Drummond ainda complementa com o retrato de serial killers nos produtos audiovisuais, analisando filmes e séries renomados.

"A eterna luta do bem contra o mal pode ser definida como uma briga desesperada do ser humano em encontrar seu lugar no universo que busca compreender". (p. 292.)

   
   De uns tempos para cá, venho me acostumando cada vez mais com o gênero policial, com narrativas que envolvem histórias horripilantes de assassinatos em série que são cometidos a sangue frio – logo em seguida a justiça é feita. Porém, esta é a primeira narrativa que leio que trata do assunto sem envolver ficção. E, com toda a certeza, mesmo o melhor escritor desses gêneros não teria tamanha imaginação e frieza para relatar os assassinatos em série que ocorreram na vida real. Por diversos momentos ao longo da leitura, senti a necessidade de atribuir todos os casos citados à meras ficções, embora não sejam.
   A escrita de Drummond conquista facilmente. Ele sabe narrar fatos como poucos autores sabem fazer, a não ser no âmbito fictício. Sua narrativa tem o que se pode chamar de "fôlego", ou seja, sabe contar uma história aos poucos, envolver e tocar nos sentimentos mais profundos do leitor. Por se tratar de um jurista e incluir sua análise crítica pessoal como fator complementar, sua escrita é bastante formal, especialmente quando narra os assassinatos. Dessa forma, traz a crueza e a sensibilidade dos casos. 

   Serial Killers – Sombrio me pareceu, de início, ter a intenção de seguir o estilo acadêmico, mas aos poucos, a obra foi evoluindo e adquirindo um tom menos formal, onde o escritor deixava claro a sua opinião sobre os assuntos tratados chegando a relatar algumas de suas experiências de vida – assim cria certa proximidade com o leitor. Um bom exemplo de como ele aborda isso com perspicácia é o capítulo 7, onde Drummond se dedica a analisar filmes e séries sobre o tema. São produtos audiovisuais muito conhecidos e, portanto, ver o desmembramento de cada um deles dá um toque de leveza e até maior familiaridade com a proposta do livro, além de provar que, às vezes, a realidade não está tão distante da ficção (ou vice-versa).
   Um elemento notável na obra é o recorte histórico de épocas e lugares, sempre prezando a contextualização dos casos. Para tornar o livro uma fonte de conhecimento tão vasta, o autor mostra o quanto de pesquisa utilizou para compôr o todo da obra. Ao final, o leitor pode ver todas as referências bibliográficas: os produtos audiovisuais que ele assistiu, as fontes da internet, os livros que consultou e as entrevistas que fez (tudo isso resultou em vastos capítulos).

"Os indivíduos querem acreditar que vivem em um mundo seguro, estável e organizado, onde coisas ruins acontecem somente com pessoas 'ruins' e fatos bons ocorrem somente com indivíduos 'bons'. Para não se sentirem vulneráveis, as pessoas culpam as vítimas das desgraças que sofrem e vivem sob a suposição de que cada um recebe o que merece" (p. 111).

    Todos os personagens tratados na obra – me refiro aos da vida real – receberam todo o respeito na narrativa de Drummond, desde a vítima até os assassinos. A obra é dedicada às vítimas que sofreram pelas ações de Serial killers e todas as vítimas dos casos citados no livro tiveram suas histórias retratadas com muita dedicação, ou seja, elas não foram reduzidas apenas a números. Da mesma forma os assassinos em série: cada um teve sua vida relatada, onde o autor e outros especialistas puderam montar teorias buscando explicações para seus atos, a origem de tudo aquilo — sem, como já foi dito, encontrar respostas exatas — e se eles, como serial killers, estavam em posição de alegar doenças mentais.
    Por diversos momentos a narrativa ameaçou sair do foco, ou seja, assassinos em série, já que tratou de diversos outros assuntos. Mas sempre recuperava o fio da meada, então não posso dizer que a obra tornou-se carente de conteúdo. Outro ponto a ser criticado e que me incomodou um pouco foi a ausência de notas de rodapé, algo que um livro deste gênero normalmente teria. Por outro lado, pude entender que se houvesse esse recurso, seria uma leitura muito mais pesada, o que não seria apropriado tendo em vista que é um livro que busca a simplicidade perante um assunto tão complexo, visando uma boa compreensão.
    O livro careceu de revisões mais aprofundadas. Ao longo da obra se pode observar um bom número de erros de digitação, como a falta de espaço entre algumas palavras e excesso de vírgulas – o que deixou o texto pouco coeso. Apesar de simples, a capa carrega o impacto necessário em relação à obra. Publicado pela Biblioteca 24 horas, todos os compradores do livro recebem um código de acesso que permite a navegação pelo site podendo ler esta e várias outras publicações disponíveis.
    Com certeza Serial Killers – Sombrio é um livro feito para quem tem estômago forte, não só pelo uso de imagens sem pudores, mas também pela frieza que ele contém ao narrar situações de causar pesadelos em qualquer pessoa com o mínimo de sensibilidade. É uma obra completa – nem dá para acreditar que mais dois livros virão – que serve não apenas para entreter e transmitir conhecimentos, mas é uma ótima fonte de consulta. Mesmo contendo uma escrita formal e cheia de referências, se pode afirmar que é direcionada a qualquer tipo de leitor, desde o especialista ao mais leigo.

Primeiro parágrafo: Excelente, espetacular, um clássico! Foi esta minha espantosa reação diante da leitura deste Volume I. Por que espantosa? Porque, normalmente, sou contido em relação a elogios e bastante exigente com livros que falam sobre o comportamento humano.
Melhores quotes: "Independente da maneira com que possamos estar e ser, no momento, vivemos hoje os melhores dias de nossas vidas".
"O conceito de 'bom' e 'mal' está intrisecamente ligado ao nosso mais profundo ser. O nosso sofrimento se encontra na maioria das crises existenciais, inerentes a todos nós. Entretanto, encontrar explicações para justificar esse sentimento, sempre seduziu a humanidade. Cada explicação que encontremos, pode libertar-nos do peso da responsabilidade perante o mesmo".