Livro: Até o fim da queda
Autor (a): Ivan Mizanzuk
Editora: Draco
Páginas: 243
ISBN: 9788582431177
Sinopse: 1993. Em pouco tempo sete jovens se suicidam, e rumores sobre um ritual ganham as páginas dos jornais. A polícia descarta a opção e dá o caso como encerrado. Anos se passam e Daniel Farias, um popular escritor de terror, decide reconstituir o caso em sua nova obra. Durante a pesquisa, descobre a história sobre uma ordem secreta operando em nome de um demônio, o Dragão Vermelho, cujas origens remontariam a um exorcismo ocorrido no século XVI, na Espanha. Sucesso imediato entre os fãs, o livro alcança a lista de Best-sellers e também as páginas policiais, ao se espalhar a notícia de que leitores estariam se matando após a sua leitura. Isso faz as vendas explodirem, e o mistério aumenta.
"Até o fim da queda" é o livro de estreia de Ivan Mizanzuk, e mesmo sendo seu pontapé inicial na literatura, já está sendo visto pelos críticos literários como uma promessa de thriller nacional. Formado em design gráfico, foi responsável por projetar o gráfico do próprio livro. Ainda foi elogiado por reascender uma temática que fez recordar autores renomados — como André Breton e Valêncio Xavier.
A história se desenrola através de uma entrevista, intercalada por misteriosas gravações, cartas, artigos de jornal, gravuras, sonhos sombrios, entre outras coisas que mostram que toda a conspiração do enredo está surtindo efeito nos personagens. A entrevista é feita com Daniel Farias, o escritor de um livro que está causando as maiores revoltas e afobações entre o público. E é nela que o personagem revela como se deu a construção de seu livro, ao mesmo tempo em que dá todos os motivos para que sua palavra seja duvidosa.
Daniel conta que quando começou a investigar o suicídio coletivo de sete jovens que ocorreu em 1993, suas pesquisas o levaram até Euclides, que, para todos os efeitos, participava da Irmandade do Dragão, uma espécie de seita satânica que envolvia um ritual de suicídio com a finalidade de invocar o Dragão Vermelho. Ele declarou durante as gravações em fita, que fora isso a causa das mortes de 93. Apesar de tudo em que se envolveu quando começou a ter contato com Euclides — como pesadelos, que significavam sua iniciação na tal Irmandade —, Daniel se posicionou cético na maior parte da entrevista, afirmando que não acreditava em um demônio como o Dragão Vermelho, e que os suicídios haviam sido em vão, realizados a partir de uma falsa crença.
As cartas que são mostradas paralelamente à entrevista, são de autoria de Frei Marcos, um espanhol que investigava casos de possessão no século XVI. E por tudo que era retratado, fora naquela época — e através dele — que surgiu o Dragão Vermelho, quando o Frei acabou se envolvendo com Isabel, uma garota suspeita de ser vítima de possessão ou de praticar bruxaria. Por causa dela, Frei Marcos acabou perdendo sua fidelidade para com a Igreja e com as crenças que seguia até então, para servir ao Dragão.
As experiências que tive com thrillers foram de autores internacionais, como Stephen King e Jo Nesbo, assim como os Policiais. Porém, o estilo de Mizanzuk não foi só inovador dentro do gênero, mas a forma como o enredo se desenrolou foi diferente de todos os outros: a intercalação de diferentes fatos, que se complementavam no final, envolvendo todo tipo de informação para completar a história. O suspense estava quase que totalmente entregue desde o início, nas primeiras respostas de Daniel na entrevista. Mesmo assim não deixou de ser um bom thriller — e o primeiro nacional do gênero que li.
A narrativa, assim como os fatos, é intercalada. Há o estilo de entrevista, que está presente em 90% do livro, e as manchetes de jornal, no estilo de um típico artigo de informação, que relatam os suicídios que ocorreram envolvendo o livro de Daniel Farias. Em determinado momento, há a simulação de um fórum virtual, em que leitores falam suas opiniões a respeito da obra polêmica, com a linguagem do "internetês". Além de uma postagem crítica e informal de um blogueiro, que toma uma parte significativa do livro. Já as cartas estão na voz de Frei Marcos, e logo em seguida há trechos da obra de um escritor que escrevera um livro destinado a analisar tais cartas.
O que mais me chamou atenção foram os sonhos. Eles ficaram com as partes em negativo (uma delas mostrada ao lado) — com o fundo preto e as letras em branco e itálico. São narrados em formato lírico e intensamente sombrios. A grande quantidade de gravuras também ajudou a leitura a fluir de forma dinâmica, apesar do grande teor de informações que uma única página poderia conter.
A dualidade acerca dos personagens em destaque, principalmente em Daniel Farias, foi bastante explorada. As respostas dadas por ele durante a entrevista poderiam ser interpretadas de formas diferentes. O personagem Euclides deixa vago desde o início quem verdadeiramente é, suas origens, o que acontece com ele dentro da Irmandade, sua família. E o terceiro personagem que tem sua dualidade exposta é Frei Marcos, que no início de suas cartas, mostra-se apenas como um exorcista fazendo seu trabalho, e logo em seguida, muda totalmente sua forma de pensar, fugindo com Isabel, ficando assim conhecido como "O Fugido".
A impressão que tive foi de uma apelação exacerbada com relação ao mistério dos suicídios, pois, apesar de ser um assunto gravíssimo, a introdução do fórum virtual e da postagem do blogueiro sobre a obra, se tornou exagerada. Claro que foi positivo para mostrar exatamente a reação do público sobre o livro de Farias, e também como estavam vendo toda a problemática das mortes. A linguagem foi trabalhada com um certo exagero ao tentar descrever o jeito de se expressar nas redes sociais — com muitas pontuações e abreviações, além do sensacionalismo acalorado dos comentários.
Apesar de ser classificado como um thriller, não esperem uma tensão constante, com um mistério iminente em prontidão para ser revelado. O que há é uma mistura de terror — e nesse caso não há apelação para o gênero, mesmo com uma boa carga de citação de demônios e rituais satânicos — e uma falsa dissertativa informativa. O trabalho foi bem explicado ao final, ao posfácio, quando Mizanzuk realmente "entrega o jogo" — expressão utilizada por ele — citando as referências bibliográficas de todo o material "de fora" que ele pôs na obra.
Como foi citado no início da resenha, Ivan Mizanzuk planejou o design do livro em conjunto com a Editora Draco. Houve alguns erros de revisão: palavras em que faltavam letras ou unidas por erros de espaço, etc. Foram falhas razoáveis, que não atrapalharam no entendimento. Ao todo, a obra está de parabéns pela originalidade. No colofão, foi registrado o uso de seis tipografias completamente distintas e cada uma utilizada em diferentes momentos do livro — uma foi reservada para as perguntas da entrevista, outra para as respostas, outra para as cartas, e assim por diante. Esse jogo com as fontes, serviu para tornar a leitura ainda mais dinamizada.
Fábio Fernandes teve sua crítica a respeito do livro na capa, e ele destaca algo a se pensar: "Ivan Mizanzuk não é para iniciantes. Ou melhor, talvez seja bom que iniciantes o leiam — tanto leitores quando escritores". Definitivamente, concordo com ele. Seu thriller não pode ser classificado como "nível máximo", por isso, para quem nunca teve experiências com o gênero, é bom que leiam a obra, pois ela tem um mistério leve que conduz o leitor através dos fatos e dos tempos com muita facilidade, até que o quebra-cabeça seja montado e o grande mistério, revelado.
Primeiro Parágrafo:
"Abril, 1993. Suicídio coletivo choca o país. Polícia suspeita de ritual satânico em evento que resultou na morte de sete jovens".
Melhor Quote:
"Não há história de terror mais terrível que a vida".
Eu não conhecia esse livro. Gostei da sua resenha. Parabéns!
ResponderExcluirMeu blog literário:
hypeliterario.blogspot.com
Que legal... gostei muito
ResponderExcluirparece realmente interessante, achei uma promoção boa aqui e vou comprar!
ResponderExcluirorbigada