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Quando uma amiga de Chimamanda resolve questioná-la sobre como criar sua filha como feminista, a autora do best-seller Sejamos Todas Feministas decide responder na forma de um manifesto, um texto de natureza dissertativa e persuasiva, com declaração pública de seus princípios e intenções que objetiva alertar um problema e fazer a denúncia com classe de um problema que vem ocorrendo há muitos e muitos anos: a igualdade de classes e os direitos das mulheres.
O manifesto é dividido em 15 (quinze) sugestões:
1. Primeira Sugestão: Seja uma pessoa completa.
2. Segunda Sugestão: Façam juntos.
3. Terceira Sugestão: Ensine a ela que "papéis de gênero" são totalmente absurdos.
4. Quarta Sugestão: Cuidado com o perigo daquilo que chamo de Feminismo Leve.
5. Quinta Sugestão: Ensine a Chizalum a ler.
6. Sexta Sugestão: Ensine a Chizalum a questionar a linguagem.
7. Sétima Sugestão: Nunca fale do casamento como uma realização.
8. Oitava Sugestão: Ensine Chizalum a não se preocupar em agradar.
9. Nona Sugestão: Dê a Chizalum um senso de identidade.
10. Décima Sugestão: Esteja atenta às atividades e à aparência dela.
11. Décima Primeira Sugestão: Ensine-a a questionar o uso seletivo da biologia como "razão" para normas sociais em nossa cultura.
12. Décima Segunda Sugestão: Converse com ela sobre sexo, e desde cedo.
13. Décima Terceira Sugestão: Romances irão acontecer, então dê apoio.
14. Décima Quarta Sugestão: Ao lhe ensinar sobre opressão, tenha o cuidado de não converter os oprimidos em santos.
15. Décima Quinta Sugestão: Ensine-lhe sobre a diferença.
Para Educar Crianças Feministas não foi apenas uma resposta prática e sincera da autora ao pedido de uma amiga, mas — como a mesma ressaltou na INTRODUÇÃO — uma espécie de mapa de suas próprias reflexões enquanto feminista. Chimamanda hoje é mãe de uma menininha encantadora e percebe como é fácil dar conselhos para os outros criarem seus filhos, sem enfrentar na pele essa realidade tremendamente complexa. E é com essa experiência que ela constrói esse livro que não contempla simplesmente alguns conselhos sobre como educar crianças feministas, mas traz em suas entrelinhas sugestões de como se tornar uma pessoa melhor.
Citando a Gabi em sua resenha de
Mulheres, cabe ressaltar que
apesar do livro de Chimamanda Ngozi tratar sobre mulheres, não é um livro exclusivamente voltado a elas. Na realidade, suas obras têm como alvo todo o ser humano, incentivando uma desconstrução do modelo predominante na sociedade atual e buscando abrir a mente de todas as diversidades existentes.
Não cabe aqui pensamentos como "ah, não sou feminista, não preciso ler", "sou homem, e este é um livro para mulheres". Não, não e não! Para compreender essa obra é imprescindível que pré-conceitos, julgamentos e ideias provenientes do senso comum sejam deixadas de lado, assim como é necessária uma reflexão acerca desses julgamentos que, por estarem tão inseridos em nossa sociedade, acabamos reproduzindo sem maiores análises.
"Os estereótipos de gênero são tão profundamente incutidos em nós que é comum os seguirmos mesmo quando vão contra nossos verdadeiros desejos, nossas necessidades, nossa felicidade. É muito difícil desaprendê-los, por isso é importante cuidar para que Chizalum rejeite esses estereótipos desde o começo. Em vez de deixá-la internalizar essas ideias, ensine-lhe autonomia. Diga-lhe que é importante fazer por si mesma e se virar sozinha. Ensine-a a consertar as coisas quando quebram. A gente supõe rápido demais que as meninas não conseguem fazer várias coisas. Deixe-a tentar. Ela pode não conseguir, mas deixe-a tentar."
Ao longo de 15 (quinze) sugestões, Chimamanda nos leva por uma viagem, e quando completamos nossa jornada não somos os mesmos de quando a iniciamos. Isso é o que torna o manifesto tão interessante. Apesar de nunca apoiar o machismo, ainda havia em mim muito do "acabamos reproduzindo sem maiores análises". Mas, a bem da verdade, tudo isso foi sendo desconstruído em cada virar de páginas.
Eu sempre fui a favor do feminismo. Mas gosto de ressaltar que nunca fui fã do "feminismo" que obriga as mulheres a rejeitarem a feminilidade. Umas das coisas mais importantes que eu aprendi com a leitura de Para Educar Crianças Feministas é que feminismo e feminilidade não são mutuamente excludentes. É misógino sugerir o contrário. No entanto, há mulheres que aprenderam a se envergonhar e a se desculpar por interesses vistos como tradicionalmente femininos. Há mulheres que ainda precisam ler coisas como Para Educar Crianças Feministas — da mesma forma como há homens que precisam ler muito mais do que isso. Conhecimento não é apenas poder, mas salvação.
A escrita de Ngozi... nossa, eu nem sei explicar! A bem da verdade, eu não sei descrever nada do que senti lendo esse manifesto. Foi surreal, na mais básica das palavras. A autora compõe com uma maestria incrível, se apegando a um tipo de formalidade sem floreios, sem excesso de detalhes, com vida e que dialoga diretamente com a humanidade e com a sensibilidade existente dentro de cada um de nós. A intenção — e isso pode ser observado da primeira palavra ao último ponto final — é tocar o leitor, sensibilizá-lo, e a linguagem conversa muito bem com isso. Um ponto extremamente forte no livro, que sem dúvidas acrescentou muito, foi a forma como Ngozi conduziu seu manifesto. Como eu digo, uma coisa é você ter uma boa ideia para um livro, outra extremamente diferente é você saber desenvolver e dar assas a isso, e, a bem da verdade, o que a autora criou foi uma poesia vestida de manifesto!
Achei muito bacana da parte da Editora Companhia das Letras ter lançado essa edição física do manifesto. Não somente por isso, claro, mas por todo o esmero que tiveram com a edição — que tem uma capa linda e um formato de bolso. A diagramação conta com fontes agradáveis, papel pólen soft (amarelinho) e é livre de erros gramaticais. É a materialização da perfeição, o sonho de qualquer leitor! Parabéns, Companhia das Letras!
Em minha opinião, esse é o tipo de livro que todos, independente de gênero, cor ou raça, deveriam ler — até porque é uma leitura rápida e um livro feito para refletir. Chimamanda faz um convite em seu manifesto. Tal como Charlotte Perkins Gilman, ela convida as mulheres a saírem de suas casas, a deixarem de serem isoladas do mundo. Sobretudo, a rasgarem o papel de parede que as prendem. Sair dele continua não sendo fácil, mas é o convite da autora em seu generoso gesto literário. Acredito que não seja necessário dizer que eu recomendo, mas vamos lá: tem imploro para dar uma chance! Devemos, pelo menos uma vez na vida, lidar com um manifesto como esse, para refletir não somente sobre nossas atitudes e a dos outros, mas sobre os direitos, sobre as mulheres, sobre a vida, o mundo e tudo o que nos cerca e nos impede de evoluir.
Primeiro Parágrafo: "Há alguns anos, quando uma amiga de infância — que cresce e se tornou uma mulher bondosa, forte e inteligente — me perguntou o que devia fazer para criar sua filha coo feminista, minha primeira reação foi pensar que eu não sabia ".
Melhores Quotes: "Temos um mundo cheio de mulheres que não conseguem respirar livremente porque estão condicionadas demais a assumir formas que agradem aos outros.".
"Ensine a ela que “papéis de gênero” são totalmente absurdos. Nunca lhe diga para fazer ou deixar de fazer alguma coisa “porque você é menina”.
“Porque você é menina” nunca é razão para nada. Jamais.".
"Ensine-lhe sobre a diferença. Torne a diferença algo comum. Torne a diferença normal. […] Ao lhe ensinar sobre a diferença, você a prepara para sobreviver num mundo diversificado. Ela precisa saber e entender que as pessoas percorrem caminhos diferentes no mundo e que esses caminhos, desde que não prejudiquem as outras pessoas, são válidos e ela deve respeitá-los".
Eu ganhei esse livro num sorteio e pelo seu tamanho não imaginei que pudesse conter dicas tao valiosas ali. Nunca tinha lido nada da Chimamanda e simplesmente amei ela, sua escrita e visão das coisas me encantaram, se eu já me achava uma feminista, agora mais ainda. Li tua resenha, que foi basicamente o resumo do livro dela, e relembrei frases e dicas que eu já havia esquecido. Valeu muito esse livro.
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