Livro: O Fantástico Universo do Ser Humano
Autor: Carlos Holthausen
Editora: Autografia
Páginas: 170
ISBN: 978-85-518-0195-6
Sinopse: Neste livro, Carlos Holthausen analisa a vida de modo geral e especialmente a nossa vida aqui na Terra. Abre um formidável espaço entre a energia do corpo e o pensamento, que afirma ser alienado da realidade. Demonstra claramente que a realidade se representa por uma ficção, dominada pelas emoções, as quais contêm mais ódio do que amor. Mais ainda, o autor diz que o ser humano, por precisar de energia constante para viver, usa e abusa das outras vidas e até da vida de seus semelhantes, sugando-lhes a qualquer custo a energia neles disponível.

Carlos Holthausen é ensaísta e psicanalista, escritor arrojado e criativo. Já falou sobre o meio ambiente e da Agenda 21 com muita empolgação. Outros de seus títulos são Agenda 21 – O Caminho da Dignidade Humana, Desenvolvimento Sustentável, A Casa de Rendes-Vous, Platafgorma, Era uma vez no Brasil e Pare de se culpar! A decisão não foi sua. Publicou seus romances tendo sempre como pano de fundo o tema da liberdade, mas, desta vez, ele aprofunda seus conhecimentos sobre os limites da emoção humana com O Fantástico Universo do Ser Humano.

    O ser humano foi o responsável pelos grandes avanços do planeta, nos diferenciando das demais espécies. Desde a formação da civilização até o uso dado às diversas tecnologias, os humanos são movidos pelos seus próprios impulsos e racionalidades. Alguns dizem que o cérebro humano é mais complexo que o próprio universo. Mas talvez nossa mente seja um universo. É desse universo que se trata o livro de Holthausen. Nele, o autor mostra o quanto nossa mente pode se dividir em diversos setores, tal qual seções de uma loja, e como uma influencia a outra. Ele mostra que desde que encaramos o mundo ao sairmos do ventre de nossas mães, nossa mente já começa a funcionar da forma peculiar e única, própria do homo sapiens. Ele leva esse debate até nossa evolução à vida adulta.
    Quando crescemos e passamos a dar significado a cada coisa à nossa volta, um mundo novo se abre para nós, e nossa mente responde à ele. Holthausen, como psicanalista, antes de analisar a psique humana, considera o ambiente. O ser humano é dotado de capacidade de adaptação, sendo possível se adequar nos mais diversos meios em que seja inserido. O tipo de pessoa que ele se torna é resultado de uma série de fatores socioculturais. Dessa forma, cada ser humano tem suas verdades, seus anseios, seus conhecimentos e as formas com que os interpretam. Tudo isso fazemos baseado no outro, aquele que nos serve como referência, em quem procuramos eco para a manutenção do nosso "eu".
   A partir do momento em que começamos a estudar o Universo e a compreendê-lo em toda sua totalidade (planetas, astros, satélites, galáxias, fenômenos espaciais, etc.), nos sentimos pequenos diante de tanta grandiosidade. Mas Holthausen mostra que não é bem assim. Não somos inferiores a nenhuma dessas coisas – fazemos parte dela e nosso pequeno mundo particular é sempre um ótimo objeto de estudo, sobre o qual o mesmo se debruça com todo o fervor.

   Nunca tive uma relação estreita com a psicanálise nem um interesse muito profundo sobre os assuntos que essa área estuda. Quando escolhi receber o livro, confesso que imaginei algo diferenciado, ligado a compreensão do esotérico nas mentes humanas. Ao iniciar a leitura logo pude perceber que não era nada disso, e sim uma compreensão muito mais científica; dessa forma pude ver que o uso de termos como "energia", "simbolismo", e "pulsão" não são apenas utilizados em livros de esoterismo – se estende para a ciência psicanalítica.
   A escrita de Holthausen é bastante acadêmica. É um livro que pede calma enquanto é lido, pois há termos complicados de se compreender para quem não está acostumado com a área de psicanálise – inclusive, pode exigir pesquisas externas a respeito de alguns assuntos abordados – e não é o tipo de escrita que posso dizer que tem "fôlego". É um termo que gosto de utilizar para descrever uma boa fluidez, um bom encaminhamento do assunto (o que sempre facilita a compreensão de quem lê, principalmente quando se trata de um tema complexo). Infelizmente, senti falta disso no livro, pois poderia tornar a leitura muito mais prazerosa, pois, posto em outros parâmetros – que fuja um pouco desse academicismo – é um tema interessantíssimo.

"Estamos definitivamente constituídos pelo outro, prisioneiros da sua existência, simplesmente por que sem o seu olhar, sem a sua função de espelho, emocionalmente, não existimos" (p. 42).

    Uma das coisas que me chamou a atenção foi o caráter levemente freudiano. Não sei muito sobre os estudos de Freud, o Pai da Psicanálise, mas de acordo com o que já li sobre o assunto, algumas coisas me chamaram a atenção: a forma como o autor trata a formação dos pensamentos emocionais e racionais desde a infância e a forma evolutiva com que eles se desenvolvem. Também a clara influência sobre a mente consciente e inconsciente – provavelmente a teoria mais conhecida de Freud – é usada do início ao fim, pois é nesse conceito básico que a psicanálise se apoia.
    Porém, mesmo com todo o uso de teorias clássicas, o autor não faz uso de nenhuma referência. O livro é ausente de notas de rodapé ou mesmo um apêndice – algo que considero quase essencial para este tipo de literatura. É neste fator que ele se distancia de outros gêneros acadêmicos, e, apesar de isso facilitar a leitura para alguns, para mim são elementos que fazem falta e podem empobrecer um livroEm alguns capítulos, ele cita alguns psicanalistas famosos, mas não busca deixar claro a influência de seus estudos para o todo da obra. Para um leitor que não se preocupa em pesquisar fontes e dados de tudo o que está lendo, o livro soa quase como se fosse uma reunião de teorias que partiram do próprio Holthausen.
    A organização do livro também não foi cem por cento satisfatória. A disposição dos capítulos beirou a incoerência, pois alguns assuntos tiveram repetição excessiva. A obra teria o potencial de ser mais coesa se fosse organizada de forma a dispôr os capítulos em uma ordem que facilitasse o tema para um leitor leigo, sendo mais explicativa com os termos para que não soasse cansativo. A capa tem a formalidade necessária exigida pelo conteúdo apresentado, mas as fontes das letras nela exigiriam o destaque maior, já que as formas angulosas, bem como suas cores, acabam chamando mais atenção que o próprio título. Sua revisão foi satisfatória, sem erros, o que sempre ajuda na leitura e dá mais credibilidade à obra.
   Ainda sendo um livro ainda muito passível de críticas, como expressei nesta resenha, O Fantástico Universo do Ser Humano consegue mostrar, mesmo para quem não entende muito de psicanálise, o quanto nossa mente é capaz de fazer coisas incríveis. Ele mostra que os seres humanos são fantásticos, apesar dos erros que cometemos diariamente. Por isso o li e desejei que ele não possuísse os elementos (ou falta deles) que, em minha visão, foram equívocos, pois o assunto tratado é envolvente e merece mais destaque no meio literário de não-ficção. 

Primeiro parágrafo: "Quando eu tinha em torno dos seis anos de idade, escutei uma previsão catastrófica de que a cidade de Rio de Janeiro, a nossa maior metrópole à beira do mar, iria desaparecer totalmente do mapa, atingida que seria por um fenômeno natural de proporções gigantescas. Um terremoto, um maremoto, um tsunami ou coisa que o valha. Não sobraria nada da cidade e de sua gente, diziam. Eu não morava nem perto do Rio de Janeiro, mas a notícia me deixou encasquetado, pois não podia aceitar que uma cidade inteira fosse desaparecer assim, de uma hora para outra. Os prédios, as casas, as ruas, escolas, igrejas, postes, carros e as pessoas. O que ficaria no lugar dela? Curioso, perguntei isso à minha tia, que era considerada a intelectual da família". 
Melhor quote: "Não pode haver superioridade de uma pessoa sobre outra, mantida a constituição humana de um pelo outro. Dependentes das emoções e do saber do outro, podemos adquirir novas informações, novos saberes, além daqueles que originalmente nos foram repassados, mal tal agregação poderá nos dar, apenas, uma ideia abstrata mais aproximada da realidade, no qual continuaremos sendo o que somos todos, igualmente nada, por isso sem condições de superioridade a coisa alguma".



Um Comentário

  1. Uma resenha realista de um livro realista. Bianca Melo captou a essência da mensagem do autor. Também apontou defeitos que de fato existem na obra. Assim, espelhou de forma magnífica o que sua mente viveu com a leitura d'O Fantástico Universo do Ser Humano. Parabéns.

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