Livro: O Feiticeiro de Terramar
Título Original: A Wizard of Earthsea
Autor: Ursula Kroeber Le Guin
Editora: Arqueiro
Páginas: 175
ISBN: 9788580415216
Sinopse: Há quem diga que o feiticeiro mais poderoso de todos os tempos é um homem chamado Gavião. Este livro narra as aventuras de Ged, o menino que se tornará essa lenda. Ainda pequeno, o pastor órfão de mãe descobriu seus poderes e foi para uma escola de magos. Porém, deslumbrado com tudo o que a magia podia lhe proporcionar, Ged foi dominado pelo orgulho e impaciência e, sem querer, libertou um grande mal, um monstro assustador que o levou a uma cruzada mortal pelos mares solitários. Publicado originalmente em 1968, O Feiticeiro de Terramar se tornou um clássico da literatura de fantasia. Ged é um predecessor em magia e rebeldia de Harry Potter. E Ursula K. Le Guin é uma referência para escritores do gênero como Patrick Rothfuss, Joe Abercrombie e Neil Gaiman.

SÉRIE "CICLO DE TERRA MAR"
    1.  O Feiticeiro de Terramar
    2.  As Tumbas de Atuan 
    3.  A Praia mais Longíqua
    4.  Tehanu, o nome da estrela
    5.  O Outro Vento 
  
    Ursula Kroeber Le Guin nasceu em outubro de 1929, tendo hoje 86 anos. É filha do antropólogo Alfred Kroeber e da escritora Theodora Kroeber. Estudou na Radcliffe College e na Universidade de Columbia, casou-se em Paris com o jovem historiador Charles Le Guin. A autora tem uma vasta obra, que inclui poesia, contos e romances, publicada e traduzida no mundo todo. Foi vencedora dos mais renomados prêmios da literatura fantástica: Hugo, Nebula, Locus, Asimov, Lewis Carroll, Shelf, World Fantasy, entre outros. O Feiticeiro de Terramar ganhou o prêmio Horn Book do jornal The Boston Globe.

    O pequeno Duny perdeu a mãe antes mesmo de completar um ano de vida. Ele ficou sob os cuidados do pai, um homem bastante rígido e que não lhe dava carinho. Por isso, Duny cresceu na ilha de Gont, ao Norte de Terramar, como um garoto inquieto, que não tinha limites e com uma curiosidade enorme sobre o mundo e tudo o que ele abriga. Vendo que o garoto tinha habilidades muito especiais com um forte potencial de desenvolvimento, sua tia, uma bruxa famosa na aldeia de Gont, resolve ensinar à Duny tudo o que sabe sobre as artes mágicas e aos poucos o menino as desenvolve, aprendendo que pode exercer poder sobre muitas coisas a partir do momento em que aprende o verdadeiro nome delas.
    Aos 13 anos, Duny faz a passagem para o seu verdadeiro nome, uma tradição do universo de Terramar. Um mago, vindo de outra terra, o nomeia como Ged, de apelido Gavião (devido às suas habilidades para controlar as aves). Apenas os mais íntimos são aqueles dignos de conhecer o verdadeiro nome de cada pessoa. Ged o divide com o mago que o nomeou, Ogion, que o leva para sua casa para que lá possa lhe ensinar as artes mágicas. Porém Ged não se comporta de forma adequada e se empolga em descobrir novas magias acabando por violar as regras da casa de Ogion, entrando em sua biblioteca e tendo acesso ao conhecimento de uma magia perigosa contida em um de seus livros.
    Para que seu comportamento seja mais lapidado, Ogion o envia à escola de magia na ilha de Roke. Lá Ged tem acesso a todo tipo de feitiços, sejam eles puramente reais ou apenas ilusões impressionantes. Com o passar do tempo, Ged demonstra que nasceu para a feitiçaria e mostra todo o seu potencial, além de fazer algumas amizades, como Vetch e Jasper. Porém, seu relacionamento com Jasper é permeado por certa inveja e arrogância por parte de ambos. Isso leva Jasper a desafiar Ged e este, no ímpeto de provar ser um grande feiticeiro — mesmo ainda sendo muito novo — acaba liberando um espírito maligno que se apossa de seu corpo.
    Ged fica a salvo do espírito enquanto está sob o teto de Roke, um lugar totalmente protegido de qualquer maldição. Mas Ged sabe que quando puser os pés para fora da escola, o espírito o perseguirá e poderá apossar-se de seu corpo a qualquer momento. Porém, o maior temor não é o dano que o espírito fara a si, mas a toda Terramar, pois quando um espírito maligno se une ao corpo de um mago tão poderoso, desencadeia um mal terrível sobre todos os cantos do mundo. Para evitar o pior, Ged vai em busca do tal espírito a fim de destruí-lo após anos de preparação em Roke, e sente que finalmente está pronto para enfrentar seu destino.

"A idade adulta é paciência. A excelência é nove vezes paciência" (p. 26).
 
   As histórias de fantasia são sempre incríveis de ler. Conhecer outras realidades, outros mundos, outras pessoas, enfim, realizar uma grande viagem apenas enquanto lê, é algo muito bom. A promessa que o livro traz é inspiradora, pois é uma obra que antecede a diversas outras do mesmo gênero, como as da série Harry Potter e os livros de Neil Gaiman. As referências, claro, são as melhores coisas para se ter uma ideia do que esperar de um livro. Não foi nem um pouco decepcionante notar que as promessas estavam certas.
    Ter acesso ao talento de Le Guin também foi um tesouro inestimável. A alta fantasia inspirada nos livros de Tolkien e Carroll me fez esperar "mais do mesmo", mas o que a autora fez foi se apropriar daquilo que faltava nas respectivas obras que a influenciaram a escrever a série do Ciclo de Terramar. Os elementos que ela sentia que faltava na alta fantasia foram acrescentados em seus livros e cada um dos personagens representam isso. A sensação de estar transformando a literatura é algo que a autora aborda em um posfácio escrito na última edição lançada pela Editora Arqueiro no Brasil.
    A escrita de Le Guin é detalhada e ao mesmo tempo muito facilmente compreensível. O livro é praticamente isento de diálogos — a grande maioria é simplesmente contextualizada em meio à narrativa em terceira pessoa que tem como foco o protagonista Ged. Por ter um público infanto-juvenil, Le Guin tornou a narrativa relativamente simples para a época. Através de Ged, a autora monta a tão comum jornada do herói — fórmula utilizada em praticamente todos os livros do gênero (e até de outros gêneros) — também chamada de "monomito". Todos os estágios dessa jornada são abordados com Ged de forma polida e muito bem organizada. Os ciclos são perceptíveis e servem como orientação para o leitor.

"— Até a bobagem é perigosa [...] Nas mãos de um bobo" (p. 49).
 
   As semelhanças com a fantasia contemporânea são inconfundíveis: desde Harry Potter, passando pelas Aventuras do Caça-Feitiço até chegar em As Crônicas de Gelo e Fogo. Porém, não foi o gênero fantasioso que mais me chamou a atenção. Le Guin escreveu mais que uma simples história fantástica com O Feiticeiro de Terramar. Diversos elementos sociais de visões ideológicas foram postos furtivamente — até a própria autora chegou a admitir em suas considerações — em personagens, cenários, etc. Por exemplo, o fato de a mulher ser retratada nas fantasias da época — especialmente as europeias — apenas como o objeto de posse e como ser passivo aos homens, fez com que a autora repensasse sua forma de escrever e passasse a pôr as mulheres em atitudes mais grandiosas e importantes para o caminhar do enredo.
    Personagens negros também era algo visto com maus olhos — eles eram sempre os vilões da história, os pouco confiáveis. Mas Le Guin pôs um negro como posição de melhor amigo de Ged — Vetch — e a irmã dele, que exerce influência em alguns momentos da história. Mas nem mesmo os outros personagens têm o tom de pele branco — visto como predominante nos contos. Ged e praticamente todos os personagens têm a pele marrom-acobreada, enquanto os de pele branca são os relegados, esquecidos, os povos nômades que não exercem mais grandes poderes sobre Terramar.
    O teor anarquista também é trabalhado por Le Guin por esta ser a ideologia em que ela acredita. Terramar não tem leis, normas, nem superiores. Os magos ocupam papel de importância por seus poderes, mas os põem em serviço da sociedade, assim como uns se põem a serviço dos outros em cada aldeia de acordo com suas habilidades. Ela cria em Terramar uma utopia perfeita e uma ordem política inabalável. O último fator de originalidade que se fez bastante presente foi a quebra da visão dualista de "Bem" e "Mal", mocinhos versus vilões. Com o protagonista Ged  — que evolui ao longo da história, aprendendo com seus erros, perdendo sua arrogância e impaciência — ela mostra que muitas vezes o mal vêm de dentro de nós, e nós temos que nos responsabilizar por ele buscando reparar seu erro. O desfecho em si ensina uma bela lição e mostra que o livro é mais que uma simples fantasia.
    O cenário lembra a Idade Média, assim como todas as crenças e hábitos do período — o fato de as pessoas acreditarem que a Terra é plana e o uso do trovadorismo, por exemplo. O que o livro retrata é uma biografia da vida de Ged, o Gavião, já que parece ter sido escrito muito tempo depois de sua existência em Terramar. As características biográficas são tão fortes que, se não fosse pelos elementos fantásticos, poderia acreditar estar lendo uma biografia de verdade.
    A edição da Arqueiro trouxe uma capa maravilhosa e tão sublime quanto à história. Porém, há o empecilho que é fatalmente cruel para fãs de fantasia que sempre buscam nos mapas a localização dos personagens que fazem parte da trama — especialmente com O feiticeiro de Terramar em que o protagonista percorre muitos lugares. Trata-se do mapa na parte interna do livro. Ele se divide em duas páginas, portanto a prega da lombada acabou cortando parte dele e apenas com o uso do mapa maior enviado pela editora eu pude acompanhar a trajetória de Ged.
    O Feiticeiro de Terramar foi um livro que surpreendeu em muitos sentidos, não apenas como alta fantasia, mas também como a união de um conjunto de ideias que vivem em perfeita harmonia no belo mundo que é Terramar. Segundo a própria autora, o bom de escrever uma fantasia infanto-juvenil é poder dar asas à imaginação e imaginar um mundo melhor. É exatamente isso que ela retrata e por isso estou ansiosa para ler as continuações. Apesar de ser direcionado a um público jovem e ter menos de 200 páginas, seu conteúdo é rico e a leitura acaba não sendo tão fluida. Entretanto, todo fã de fantasia deve ter O feiticeiro de Terramar como leitura obrigatória, seja ele de que idade for, pois para se aventurar em outras realidades não há exigência de documentação.

Primeiro parágrafo: "A ilha de Gont, uma montanha solitária cujo cume está 1,5 quilômetro acima do tempestuoso mar Nordeste, é uma região famosa por seus feiticeiros. Dos povoados nos vales altos e dos portos com suas baías escuras e estreitas, mais de um gontês partiu para servir como feiticeiro ou mago aos Senhores do Arquipélago em suas cidades ou em busca de aventura, para praticar a magia de ilha em ilha, por toda a Terramar. Destes, alguns dizem que o maior feiticeiro, e, sem dúvida, o maior viajante foi o homem chamado Gavião, que em sua época se tornou ao mesmo tempo Senhor dos Dragões e Arquimago. Sua vida é narrada nas Gestas de Ged e em muitas canções, mas esta é uma história de quando ele ainda não era famoso, antes de as canções serem compostas".
Melhor quote: "Aquele que abre mão do próprio poder, algumas vezes, se enche de um poder maior ainda".




Um Comentário

  1. Amei suas postagens, as dicas de leitura parabéns! te convido a dar uma olhada no meu blog:www.cantinhodeconhecimentoeaprendizagem.blogspot.com.br

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