Subtítulo: Por que mataremos e seremos mortos no Século 21
Sinopse: Este livro impressionante e devastador nos informa que neste século XXI os homens não vão mais entrar em guerra, matar e morrer só por causa da economia, da religião e dos conflitos racionais, mas também em conseqüência das mudanças climáticas que podem tornar imensas áreas no planeta inúteis para a sobrevivência. Os espaços vitais disponíveis encolherão e provocarão conflitos armados permanentes. As guerras civis, os poderosos fluxos de refugiados e as injustiças atuais se aprofundarão. Ondas de refugiados climáticos e fugitivos do terrorismo vagarão às cegas pelo planeta. Harald Welzer nos aponta um cenário apocalíptico e adverte: o que estamos fazendo para conter o terror que se avizinha?
O sistema de refugiados que chega em grande massa em países do Ocidente neste século em consequência das guerras travadas no Oriente, também são outro ponto analisado por Welzer com toda a delicadeza. Os países ocidentais têm hesitado cada vez mais em receber refugiados devido a expansão do terrorismo (neste impasse, se tem uma época pré-11 de setembro e pós-11 de setembro) no mundo inteiro, que tem como alvo principal os países modernizados, que buscam ter o racionalismo como foco de grandes e "ameaçadoras" mudanças culturais. A preocupação não se trata apenas daqueles que vem de fora, mas também dos que fazem parte da própria nação e anseiam por destruí-la devido à influência externa que recebem através do avanço das mídias sociais. Portanto, Welzer constata que o mundo de hoje preza a segurança de forma tão demasiada que deixa de lado direitos civis e humanitários, ou seja, a ética e os valores morais são esquecidos em prol de um bem maior.
Livros de não-ficção podem ser bastante atrativos dependendo do tema tratado. Sem dúvida falar a respeito de conflitos sociais oriundos de mudanças climáticas parece algo bastante fora do tempo — a sociedade costuma ter em mente que as catástrofes ambientais estão distantes de ocorrerem, mas não percebem que isto já está acontecendo a cada dia que passa. Há aqueles que acreditam que existe uma saída para todo problema. A perspectiva otimista está distante de fazer parte da visão de Welzer. Quando soube do livro A Guerra da Água e me interessei em lê-lo, logo pensei em água literalmente (aquela velha história de que a água do nosso planeta está acabando). Porém, ele vai muito mais além e mostra que a preocupação com o ambiente em que vivemos deve ser mais atenta se não quisermos enfrentar graves situações.
O autor faz uso de algumas citações ao longo da obra e retrata o ponto de vista de diversos autores de diferentes áreas. Uma das características mais presentes no livro é a de interdisciplinaridade: mesmo focando em sua especialidade, que é a Psicologia Social, Welzer mergulha em outros fatores relevantes para suas argumentações. Fazendo constante uso de gráficos, tabelas, pesquisas antigas e atuais, e uma vasta bibliografia, Welzer enriquece a obra de forma a torná-la concreta, fugindo assim do rótulo que muitos tentam empregar: o de futurista.
"Enquanto a astronomia não nos oferecer planetas próximos o bastante que possam ser colonizados, chegamos à constatação desapontadora de que a Terra é apenas uma ilha. Não teremos mais para onde nos expandir, depois que as reservas tenham sido esgotadas e os campos de cultivo ocupados pela urbanização" (p. 14).
"A inserção do problema climático dentro e um arcabouço cultural e o recuo de uma lógica de alternativas frequentemente fatais e mortíferas significa uma oportunidade para um desenvolvimento qualitativo, especialmente quando a situação se demonstra tão crítica como um simples lançar de olhos sobre a situação presente já está indicando. Uma fixação em escolher uma via entre uma aparente encruzilhada que leva a becos sem saída nos fecha as possibilidades de pensar de forma diferente e de modificar nossas atitudes a fim de procurar soluções que ainda se acham à nossa disposição, mas estão se distanciando e cada vez se afastam para mais longe" (p. 279).
Primeiro parágrafo: ""Um leve tinir atrás de mim fez com que virasse a cabeça. Seis negros caminhavam em fila, percorrendo penosamente a senda estreita. Eles avançavam eretos e devagar, balançando pequenos cestos cheios de terra nas cabeças, e o ruído acompanhava cada um de seus passos. (...) Eu podia contar-lhes as costelas, as articulações de seus membros lembravam os nós de uma corda; cada um deles trazia uma goliha, um anel de ferro soldado ao redor do pescoço, todos interligados por uma corrente frouxa, cujos elos excedentes pendiam entre eles: era seu avanço compassado que fazia com que os elos tilintassem em um ritmo regular". Esta cena, descrita por Joseph Conrad em seu romance intitulado "O coração das Trevas", descrevia a época de maior florescência do colonialismo europeu, distando dos dias de hoje pouco mais de cem anos".
Melhores quotes: "Não se pode modificar a velocidade ou o destino de um trem somente por nos virarmos na direção oposta à que está correndo. Conforme declarou Albert Einstein, nenhum problema pode ser resolvido pelo emprego dos mesmos parâmetros que conduziram a seu aparecimento. O que temos de fazer é mudar completamente o trajeto e, para isso, a primeira coisa a fazer é parar o trem".
"Fundamentalmente, os problemas ecológicos não são problemas provocados pela natureza, que trata todas as espécies da mesma forma, mas somente problemas sociais, provocados pela cultura humana desenfreada, que acabou por ameaçar sua própria existência".
Boa resenha. A autora está de parabéns.
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