Sinopse: A
última pessoa que Zac esperava encontrar no quarto de hospital ao lado do seu
era uma garota como Mia – bonita, irritante, mal-humorada e com um gosto
musical duvidoso. No mundo real, ele nunca poderia ser amigo de alguém como
ela. Mas no hospital as regras são diferentes. Uma batida na parede do seu
quarto se transforma em uma amizade surpreendente. Será que Mia precisa de Zac?
Será que Zac precisa de Mia? Será que eles precisam tanto um do outro? Contada
sob a perspectiva de ambos, Zac & Mia é a tocante história de dois
adolescentes comuns que se encontram em circunstâncias inesperadas.
Crescida
na Austrália Ocidental (em sua capital, Perth), A.J. Betts é contabilista, mas também leciona e escreve. Já tem dois títulos publicados além de Zac
& Mia, mas este é o primeiro publicado no Brasil pela editora Novo Conceito.
A vida de Zac
Meier — um típico cidadão do interior pacato da Austrália — muda drasticamente quando ele é
obrigado a deixar tudo de lado para focar na doença que nele foi diagnosticada.
O que ele não esperava, é que no quarto ao lado do qual não poderia sair por
conta de seu tratamento, alguém surgiria
para lhe tirar do tédio e para lhe mostrar outro modo de encarar a luta contra
as consequências do câncer. Esse
alguém é Mia, que, assim como Zac, tem dezessete anos; mas, diferente dele,
encara tudo como uma cruel batalha,
na qual apenas ela pode se sobressair — mesmo quando não tem mais forças.
Se tudo para
Zac mudou, para Mia, virou de cabeça
para baixo. A garota da cidade que sempre foi popular, desejada e invejada,
agora se vê enfrentando algo que não
pode controlar e que a deixa cada vez mais fraca. Então ela tem que dar
adeus às festas, às diversões com os amigos e à vida fácil e sem sofrimento. E
é quando está passando por isso, se considerando a pessoa mais azarada do
mundo, que conhece o garoto do Quarto 1,
bem ao lado do seu, com quem passa a se comunicar de formas estranhas. Mia se
surpreende ao perceber que, mesmo Zac tendo um tipo de câncer pior que o seu,
ainda consegue ver tudo de forma simples,
e até mesmo divertida.
De repente, um
se torna o ponto de apoio do outro.
Mesmo Mia sendo alguém difícil de lidar, cheia de certezas absolutas e mau humor, Zac, sendo exatamente seu perfeito oposto, consegue entrar no
mundo da garota que nunca deixa ninguém chegar perto demais. Mesmo passando por
momentos difíceis, eles conseguem se entender e, acima de tudo, compreender a doença que possuem,
passando por diversos níveis: desde a aceitação dela, até a parte em que
percebem do que precisam abrir mão, se quiserem continuar curtindo a coisa
maravilhosa que pode ser a vida.
A.J. Betts é
uma escritora completamente
nova para
mim. Porém,
sick-lits já
não me são novidade. O gênero, que anda
conquistando cada vez mais o público, tem como características o drama, a
melancolia depressiva, com personagens que sofrem algum distúrbio, doença,
etc., enfatizando bastante seu significado: “
literatura-doentia”. Porém, com a abertura para jovens leitores, os
sick-lits se tornaram
mais joviais,
adquirindo características alternativas, que dão
mais dinâmica à leitura. E com
Zac
& Mia não foi diferente.
Narrado em primeira pessoa, o livro se divide em três partes: uma narrada
apenas por Zac; outra em que Zac e Mia alternam
a narração; e por último, Mia é a narradora-personagem. Apesar de ser uma narrativa lenta, é bastante simples, e tão leve que as páginas passaram sem que me desse conta. Além
disso, acaba adotando uma linguagem
cibernética informal, em momentos que a tecnologia e redes sociais se fazem
presentes. Os diálogos são muito bem formulados, pela química que todos os personagens têm entre si. Mas os melhores
momentos da escrita de A.J. Betts ocorrem nas reflexões fora dos diálogos – é
onde as coisas realmente acontecem.
“De todos eu sou o menos corajoso. Nunca me alistei para essa guerra. A leucemia me convocou, essa filha da puta” (pág. 51).
Algo que achei
novo e ao mesmo tempo instigante, foi o fato de que a autora
não revelou totalmente o jogo – o que é meio esperado quando um livro é narrado
em primeira pessoa. Aos poucos, é que vamos conhecendo os personagens
principais, e a ideia inicial que se tem sobre cada um deles não é mantida. Nada é constante, e isso é bom, pois o
enredo não tem altos e baixos muito drásticos, então toda pequena epifania
causada nos leitores é bem-vinda.
Os
conhecimentos revelados no livro também foi uma característica interessante. Ao final, nos agradecimentos, é que
pude ver o quanto a ajuda que a
autora teve para escrevê-lo foi essencial. A doença dos personagens, bem como
seus tratamentos, e todos os procedimentos necessários ligados ao câncer, foram
utilizados com maestria. E não só
isso, mas pelo fato de Zac viver numa fazenda onde se há plantação de azeitonas
e criação de animais, A.J. Betts surpreendeu ao citar todos os minimalismos de um lugar como aquele, e revelou
justamente todo o auxílio que recebeu quanto a isso, além de ter se preocupado
com notas de rodapé explicativas.
Todos esses detalhes fazem com que o leitor mergulhe de cabeça no universo que o livro apresenta.
Cada um dos
personagens são extremamente
realistas,
a começar por Zac e sua família. Ele é o tipo de pessoa que, mesmo tendo
passado por muita coisa desde seu diagnóstico e com suas restrições,
não vive em função da doença; prossegue
junto com aqueles que ama, sem maiores preocupações, aceitando que a leucemia
faz parte de sua vida agora, e leva em si o lema “o que tiver de ser, será”.
Com Mia e sua mãe, ocorre o oposto: o
drama
da descoberta de algo tão inesperado abala ainda mais a relação entre elas.
Todo o furor que fazem a respeito do câncer vem à tona quando a garota recebe a
notícia, o que é comum. Mas com o passar do tempo,
as coisas vão evoluindo e tomando o rumo esperado.
Os personagens secundários conseguiram me
conquistar mais facilmente que os próprios protagonistas, pois se trata
daquelas pessoas que estão ao redor dos pacientes com câncer. E a forma como
eles conseguem lidar com a situação, sabendo sempre do risco iminente de perder uma pessoa querida, é inspiradora – e
claro, nunca é fácil, por isso eles passam por altos e baixos, nem sempre enfrentando tudo com tanta firmeza
quanto gostaria. Além desses, há personagens como Cam, que também sofre com a
doença, e seu modo de encará-la também se difere dos de Mia e de Zac. Médicos e
enfermeiras se juntam aos outros, e no livro é mostrado a real solidificação desses profissionais
frente à esse trabalho difícil.
A única coisa
recomendada para quem pretende ler o livro é: não crie expectativas. Dificilmente elas serão mantidas. Isso não é
de todo ruim, mas ter que aguardar um
clímax que não chega, pode acabar com a empolgação de alguém durante a
leitura. Apesar de cada capítulo apresentar uma coisa nova que acrescenta muito
à história, não há um verdadeiro clímax, um momento bombástico e revelador ou
algo do tipo. O livro é, sim, bastante envolvente, mas nada arrebatador.
Como sempre, a
editora Novo Conceito traz um
trabalho de diagramação belíssimo — que em si já traduz a beleza e a sublimidade do livro — além de uma perfeita tradução e
revisão. Dentro de uma gama de lançamentos com títulos de mesmo formato que
“Zac & Mia”, o trabalho visual
inovou e se tornou atrativo de
um jeito simples. Quanto a isso, tenho apenas congratulações a fazer.
Impecável.
Com um enredo light,
é um ótimo livro para relaxar, porém, com reflexões
profundas em sua simplicidade. Zac
& Mia não é apenas mais um do mesmo. Ver as pessoas, o mundo e o câncer
através desses incríveis personagens, não é só uma forma de entretenimento onde
se pode torcer pela felicidade de ambos, mas um jeito novo de enxergar a si próprio e as pessoas que sofrem com
a doença. Certamente, depois de ter tido essa leitura como experiência, não penso mais da mesma forma que antes.
E acredito que o conteúdo dessa obra pode modificar muitas outras convicções.
Primeiro parágrafo:
“Um novato chega ao quarto ao lado. Desse lado da parede escuto o
arrastar de pés, inseguros sobre onde ficar. Escuto Nina dando as instruções de
chegada com aquele jeito animado de aeromoça, como se este “voo” fosse seguir
tranquilo, sem a necessidade de puxar a alavanca da saída de emergência. Apenas
relaxe a aproveite o benefício. Nina tem aquele tipo de voz que faz a gente
acreditar.
Melhores quotes:
“Espanta-me como a confusão do universo sabe exatamente o que está
fazendo, como tudo foi acertado 13 bilhões de anos atrás e a as galáxias estão
seguindo as regras desde então. Elas estão todas lá em cima, seguindo o ritmo e
fazendo todo o sentido, enquanto nós humanos estragamos tudo no pequeno tempo
que tivemos”.
“Percebo agora o que é coragem. Coragem é ficar parada, apesar de
querer correr. Coragem é se plantar no lugar e encarar coisas que assustam,
quer seja sua perna, ou seus amigos, ou o cara que pode partir seu coração de
novo. É abrir os olhos e encarar o medo até ele recuar”.
Faz algum tempo que tenho visto falar nesse livro, mas nunca parei pra ler nenhuma resenha.
ResponderExcluirMe interessou bastante a proposta do livro, pois é o tipo de gênero que gosto e sempre consigo me identificar.
Gostei também da sua resenha e como você deixa em evidência as palavras pra chamar a atenção - cumpriu o propósito, haha.
Parabéns pela resenha e blog!
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