Livro: Mundo Novo
Título Original: The Young World
Autor (a): Chris Weitz
Editora: Seguinte
Páginas: 328
ISBN: 9788565765473
Sinopse: Neste mundo novo, só restaram os adolescentes e a sobrevivência da humanidade está em suas mãos. Imagine uma Nova York em que animais selvagens vivem soltos no Central Park, a Grand Central Station virou um enorme mercado e há gangues inimigas por toda a parte. É nesse cenário que vivem Jeff e Donna, dois jovens sobreviventes da propagação de um vírus que dizimou toda a humanidade, menos os adolescentes. Forçados a deixar para trás a segurança de sua tribo para encontrar pistas que possam trazer respostas sobre o que aconteceu, Jeff, Donna e mais três amigos terão de desbravar um mundo totalmente novo. Enquanto isso, Jeff tenta criar coragem para se declarar para Donna, e a garota luta para entender seus próprios sentimentos - afinal, conforme os dias passam, a adolescência vai ficando para trás e a Doença está cada vez mais próxima.

SÉRIE "MUNDO NOVO"
    1.  Mundo Novo.
    2.  Nova Ordem (lançamento em Novembro/2015).
    3.  (sem título e sem data de lançamento).

NOTA DO RESENHISTA: Adianto, desde já, que a resenha deste livro ficou um pouco grande, devido ao fato de que necessitei abordar muitos pontos necessários sobre o livro. No entanto, você poderá ler sem qualquer medo de spoiler, já que o mesmo não se encontra, de nenhuma forma, nesta resenha. Obrigado, desde já, e tenha uma boa leitura.

   Chris Weitz nasceu em 1969 na cidade de Nova York. Formou-se em literatura inglesa pelo Trinity College e trabalha como produtor, roteirista e diretor de cinema. Junto com seu irmão, dirigiu e escreveu o roteiro de Um grande garoto (2012), indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Também dirigiu A bússola de ouro (2007) e Crepúsculo: Lua Nova (2009). Mundo Novo é seu primeiro romance.

   Não há adultos, tampouco crianças. Só o que há são adolescentes. O vírus, que apareceu do nada, afetou apenas quem não tinha um tipo de proteína existente apenas na puberdade. Sua adolescência deu "adeus"? Sua vida também dirá. Não há mais controle, tampouco Estado. Não há lojas, nem dinheiro, nem cidades. Cinema, shopping, iPhone, música, eletricidade, internet, são sonhos do passado e oriundos de Antes. Depois do Ocorrido, só o que restou foram adolescentes, forçados, mesmo com a idade, a agirem como adultos na intensa batalha pela sobrevivência.
   No meio desse aparente mundo novo está Jefferson, que não se sente pronto para ser líder. Sim, eu disse que não há controle! Não totalmente, mas se você quiser sobreviver nesse "mundo novo" é melhor viver em "sociedade", mesmo que numa falsa sociedade. O irmão de Jefferson, Washington, sempre fora melhor nessas coisas, depois do Ocorrido, foi graças a ele que a tribo na Washington Square se organizou em Nova York. Lá eles plantavam alimentos e faziam expedições para pilhar o que havia sobrado, como comida enlatada, a gasolina para os geradores, remédios, um ou outro aparelho eletrônico e roupas de visuais alternativos.
   Até que Wash, irmão de Jefferson, completou 18 anos e logo em seguida começou a manifestar os sintomas da Doença. Antes de morrer, ele aconselha o irmão a fugir com Donna, a amiga deles por quem Jeff estava secretamente apaixonado. Era inegável: os estoques estavam acabando, e as pilhagens traziam cada vez menos resultados. Sem contar a proximidade da idade adulta. Era morrer ou buscar uma cura para a doença. Não demoraria muito para a organização da tribo ruir. O certo era estar bem longe dali. Contudo, Jeff é um líder diferente e não consegue pensar somente em si e abandonar suas responsabilidades.
   Enquanto Jeff ensaia suas primeiras decisões como líder, um dos integrantes da tribo descobre uma suposta pista que pode trazer respostas sobre o Ocorrido e talvez até uma cura para a Doença. Jeff decide, então, organizar uma pequena expedição para investigar esses indícios. A Nova York que eles encontram além dos limites de sua tribo é totalmente oposta ao que pensaram e inteiramente diferente. Há amigos e inimigos por toda parte, diferenciá-los é como achar agulha no palheiro e para conseguir ir adiante com sua missão, Jeff, Donna e seu grupo precisam ser fortes e desbravar esse mundo novo

   Conheci Mundo Novo em seu lançamento no ano passado, e por ser uma distopia (meu gênero preferido) sempre tive curiosidade em lê-lo. Recentemente, surgiu a oportunidade de ler o primeiro livro, de uma trilogia, e foi uma grata emoção ter lido, e vocês vão entender porque. Quando peguei o livro eu realmente não sabia o que esperar dele, já que além de não conhecer nada do autor (esse é seu primeiro livro), o gênero é algo totalmente "inesperado". Sim, você nunca sabe o que se pode esperar de uma distopia, embora muitos digam ser sempre "o mesmo do mesmo". 
   Inclusive, um ponto a se discutir aqui é o fato de muitas pessoas não considerarem Mundo Novo como distopia, mas sim um sci-fi pós-apocalíptico. Alguns não consideram o livro como distopia pelo fato de, aparentemente, não apresentar um governo, um Estado que governa tudo a "mãos-de-ferro", mas (com base nas mais de 50 distopias que li) eu afirmo que Mundo Novo é sim uma distopia, já que o gênero (que na verdade não é gênero, mas sim uma linha de pensamento) não precisa ter "governo" para se caracterizar como tal. Sem contar, ainda, que a distopia esta mais relacionada com a crítica/pensamento (que tem em peso no livro), do que com "governo", "romance" ou seja lá o que a maioria pensa. 
   Mundo Novo é narrado em primeiro pessoa (um ponto extra positivo ao livro), sendo a narração intercalada entre Donna e Jefferson, o que nos proporciona momentos sérios e de humor, além de termos noção sobre tudo que ocorre, sobre o olhar desse dois incríveis personagens chaves. Donna e Jefferson realmente foram muito bem trabalhados pelo autor e a narração beirou literalmente o extraordinário. Weitz, acredito que pelo fato de ser roteirista de cinema, soube escrever de forma a nos manter presos e ao mesmo tempo soltos na narrativa, usando ora da formalidade (mais natural de Jefferson) e ora da informalidade (mais culminada por Donna). É um misto de emoções!


   O que mais me chamou atenção neste livro foram as críticas (algo típico das distopias). Sério, das dezenas de distopias que li, nenhuma apresentou um número de críticas tão claras, reais e construtivas quanto Mundo Novo. Cheguei, inclusive, a brincar com alguns amigos meus, dizendo: "nesse livro, em cada parágrafo há pelo menos umas dez críticas". O fato é que o número de críticas é muito grande, e isso não é ruim, pelo contrário, é apenas um dos fatos que fizeram eu considerar Mundo Novo uma distopia original e empolgante
   Certo resenhista colocou a seguinte frase em sua resenha sobre Mundo Novo: "ouso dizer que “Mundo Novo” – de Chris Weitz (Diretor de A Bussola de Ouro e Lua Nova) – é apenas mais um querendo seu “lugar ao sol” em meio a tantos. Não digo, em hipótese alguma, que é um livro ruim, mas está longe de se destacar dos demais". Evidentemente, com todo respeito, houve uma "ousadia" em dizer isso, já que, sem dúvidas, apesar de não ser perfeito, Mundo Novo pode sim se destacar dos demais. É apenas uma questão de conhecimento. Inclusive, outro ponto que chama atenção são as evidências, principalmente por meio dos agradecimentos, de como o autor teve que pesquisar para construir seu inteiro mundo novo, com tramas leves e personagens preternaturais e bem construídos
   No livro, há a presença de poucos e bons personagens, tirando alguns que aparecem muito brevemente. Contudo, é dado mais destaque para os dois narradores: Donna e Jefferson. Donna tem seu jeito meio "ligue o foda-se e seja feliz" (novamente ressaltando o respeito, já que apenas estou tratando sobre a verdade da obra) e tem um senso de humor incrível. Me peguei rindo diversas vezes enquanto lia. Em suma, Donna veio para tornar a leitura do livro ainda mais agradável, com sua dualidade de emoções e incertezas da vida. Donna é amiga de Jefferson, ainda que ele queira mais que isso. Um dos pontos trabalhado no livro, inclusive, é a relação entre os dois. 

(...) quando você está com fome, pensa com o estômago. Tipo, seu estômago realmente pensa. Ouvi dizer que o estômago tem tantos receptores de serotonina quanto o cérebro. Então somos como aqueles dinossauros com dois cérebros. Somos como os dinossauros de outras maneiras também. Vamos ser extintos, por exemplo.

   Jefferson, por outro lado, já é mais sério, formal e um líder atípico (no bom sentido). Ele é a parte pensadora, mais crítica, distópica, do livro, enquanto Donna é a mais "leve". Além de ser forçado, mesmo com a idade, a ser um "adulto", Jeff também tem que encarar o fato de ser um líder, mas não apenas um governante, ou seja lá o que for. Ele tem que lembrar que mais que pensar nele mesmo, ele tem que pensar nas pessoas que estão ao seu redor, e é devido a isso que todas as aventuras (ou quem sabe desventuras) acontecem, já que ele resolve não ficar parado, simplesmente esperando a morte chegar. No geral, os personagens são todos apaixonantes e particularmente não criei aversão por nenhum. Inclusive, só para se ter uma noção de como nos apegamos aos personagens, cheguei a me emocionar com algumas mortes (isso não é spoiler, relaxa), mesmo que o personagem que morreu tenha aparecido por poucas vezes.
   Agora vem a parte chata, porém necessária. No tocante as criticas, o livro apresentou algumas "peculiaridades". Como dito anteriormente, o autor é um roteirista e esse é seu primeiro livro. O que aconteceu, que considerei um ponto negativo, foi o fato de por vezes me parecer estar lendo um roteiro e não um livro, entende? Acredito que em algumas partes o autor não conseguiu se desprender totalmente de seu essencial trabalho, que é roteirista. Inclusive, algumas descrições e diálogos são inteiramente iguais as de um roteiro. Isso não comprometeu inteiramente a obra, mas parcialmente causou desconforto, por sair fora do que foi proposto: um livro e não um roteiro, ou quem sabe uma mistura dos dois. Vai entender!
   Outro ponto a se discutir é a catalogação do livro. O livro está catalogado como infanto-juvenil, ou seja, para crianças e jovens, mas ele realmente é um tanto quanto pesado para uma criança, por exemplo. Temos que ter em mente que por mais que ele trate de adolescente, não é inteiramente, nem em partes, algo infantil, já que esses "adolescentes", devido ao problema de esfera social, foram forçados a viverem como adultos e, portanto, agirem como adultos. Não seria algo que eu recomendaria para uma criança, porém vai da consciência de cada um. Contudo, ressalto novamente que não é um livro ruim, ele apenas tem pecados como todo livro tem (mesmo o melhor do mundo).
   Quanto a edição, só parabenizações. De verdade, a Seguinte mais uma vez, como tipicamente acontece, fez uma edição muito bonita e diferente da original dos Estados Unidos. A capa retrata muito bem os adolescentes que aparecem no livro, retratando suas características e formas em contraste com o fundo laranja bem chamativo. Adorei a capa (a do segundo livro, Nova Ordem, imagem ao lado, é ainda mais maravilhosa). A diagramação e o design interno, apesar de simples, foi feito com muito esmero, com ótimas fontes e um adequado espaçamento. A revisão também ficou muito boa, já que não encontrei nenhum erro. É como disse: só parabenizações quanto a edição brasileira de Mundo Novo.
   Por fim, ressalto aqui a importância da leitura desse livro. Certamente não será a melhor distopia que irá ler, mas com certeza estará entre as mais bem estruturadas e elaboradas, onde a premissa foi intercalada entre o sucesso e o fracasso. Contudo, Mundo Novo trata de tramas reais, críticas reais (sobre o feminismo, o homossexualismo, a sobrevivência da sociedade, o drama jovem, religião, entre outros) e merece fazer parte da sua estante. O livro tem um final espetacular e estou contando os minutos para ter em mãos o segundo livro (que sai mês que vem). Não acredite em resenhas que dizem que Mundo Novo é monótono e "clichê", isso são apenas opiniões, e a minha é que ele vai além disso e ultrapassa, sem dúvidas, o preternatural. Um excelente passatempo para os fãs de sci-fi, romances pós-apocalípticos, o drama da sobrevivência e a distopia em geral. Eu mais que recomendo. Te imploro pra ler!

Primeiro parágrafo do livro: “Mais um lindo dia de primavera após o colapso da civilização. Estou fazendo minha ronda, seguindo o trajeto que serpenteia o Washington Square Park como um símbolo do infinito deformado. Passo pelas mesas onde os velhinhos costumavam jogar xadrez, agora a oficina a céu aberto de Crânio.”
Melhores quotes: “... tudo em que consegui pensar foi que não havia nenhum sentido em amar uma pessoa quando você sabe que vai perdê-la logo mais.”
"Quem combate a monstruosidade deve cuidar para que não se torne um mostro."
"Só é o fim do mundo se você não acreditar que existe um futuro". 




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