Livro: Dom Casmurro

Autor (a): Machado de Assis
Editora: Martin Claret
Páginas: 223
ISBN: 9788572322645

Sinopse: O narrador Bentinho, apelidado Dom Casmurro por viver recluso e solitário, conta fatos de sua infância na casa da mãe viúva, dona Glória, e também passagens de sua vida adulta ao lado de Capitu, que suspeita ser adúltera. Se a figura fascinante de Capitu, que prende a atenção do leitor, transforma a questão do adultério no ponto central do romance, não podemos nos esquecer de que a obra oferece também um rico painel da sociedade brasileira da época, revelando-nos as relações de classe e os meios de ascensão social, a influência da Igreja na vida cotidiana, além de observações desencantadas do narrador sobre a condição humana.

    
    
    Bentinho assusta-se quando descobre que iria para o seminário, já que sua mãe fizera uma promessa de entregar a Deus um padre, caso seu filho nascesse saudável.  Temendo que perdesse a grande amizade com Capitu, prometeu-lhe inúmeras coisas, mas acima de tudo prometeu-lhe a lealdade.
    O relacionamento com Capitu mudara desde então. Uma paixão inocente nascera e era recíproca. Mais do que nunca a ida de Bentinho para o seminário era inviável, porém, inevitável.
    Bentinho parte para o seminário, onde conhece Escobar, um admirável amigo. Contudo, constrói um plano para fugir da promessa da mãe e acaba se tornando um bacharel em Direito. Já crescido, casa-se com Capitu, e Escobar, com a amiga de sua esposa.  Mas o que o casal mais ansiava era um filho, que não conseguiam ter.
    Demorou, mas o filho enfim veio. O relacionamento entre Bentinho e Escobar se tornou mais forte nessa época, e tempos depois Escobar veio a falecer.
    Nosso protagonista se vê melancólico com a partida de seu melhor e mais intimo amigo, e idéias insanas começam a dançar em sua mente. Bentinho começa ver que seu próprio filho era a cópia física de Escobar. Será que... Será que Capitu o traira? Será que Escobar, seu admirável amigo, tivera a audácia de traí-lo?

    Primeiramente, quero deixar claro que, além de uma apresentação da experiência de leitura, a obra Dom Casmurro também será analisada e criticada.
    Sendo uma obra ilustre do Realismo brasileiro, Dom Casmurro é uma leitura muito requisitada no Ensino Médio escolar. E este foi o motivo que embarquei na leitura desse clássico que traz tanta polêmica e dúvidas.
    Infelizmente, minha edição é a resumida – ou edição de releitura, como chamam alguns – e isso faz com que a história apresentada seja limitada e passe, muitas vezes, uma ideia distinta da edição completa.
    A narração parte do personagem Bentinho, e muitas vezes se mostrou extremamente superficial, sem detalhes de cenário, e monótona. Acredito que seja por esse artifício mal desenvolvido que a leitura não conseguiu me envolver com tanta precisão nas primeiras cem páginas. Contudo, Machado de Assis utilizou muito bem o “conversar com o leitor”, onde Bentinho argumentava a cerca de suas convicções com o receptor, e isso criou uma aproximação do leitor com o personagem, e até mesmo, um sentimento de empatia.
    Penso que o enredo não-linear tenha atrapalhado muito na compreensão da história, na progressão de acontecimentos, e no reconhecimento deles no tempo. Inúmeras vezes me vi perdida nas narrações de memórias, algumas delas, desnecessárias tanto para história quanto para a construção do personagem.
    Independente dos erros que essa obra carrega, o bom conteúdo é claro, assim como a sabedoria sem limites do autor, que citou inúmeras obras, pensadores, autores literários e passagens da bíblia e de contos mitológicos. Entretanto, isso contou como uma distração nas primeiras páginas. Uma distração sem objetivos, apesar de interessantes e reflexivas.
    Os personagens são o que mais há de construtivo nessa obra. A história é evidentemente simples, e são os personagens que a torna especial e importante. Não gostei de Capitu logo de cara, e tratei de prestar muita atenção nas descrições de Bentinho a cerca de sua amada. Já Bentinho, tinha algo nele inocente e sonhador que me fez nutrir sentimentos bons. Enquanto Escobar me pareceu uma “cobra” desde o inicio. Parecia que este personagem invejava tudo que Bentinho tinha. Mas talvez – apenas, talvez – nenhuma de minhas impressões pré-construidas definem esses peculiares e misteriosos personagens.  As demais personagens foram bem importantes e presentes na história. Nem é preciso dizer que cada um tinha suas características bem desenvolvidas, não é?
    Algo que tenha chamado muito minha atenção é o trato com os escravos, retratado em vários momentos. Chamavam o escravo de “preto”, e por esse motivo, demorei alguns instantes para entender a quem solicitavam. Realmente, isso diz muito sobre a época.
    Talvez seja porque eu tenha lido a Releitura, porém, achei que muitas cenas necessárias – as quais tenho ciência da existência – faltaram. O que mais senti falta é da relação entre a personagem Capitu e o Escobar. Como analisar se houve traição sendo que nenhuma das várias cenas incriminadoras foram apresentadas? O próprio final ficou vago, sem explicar muito o que se sucedeu quando Bentinho teve certeza que foi traído e disse isso à Capitu. Há muito poucas provas e evidencias para solucionar o “crime”.
   Enfim, vamos a pergunta que não quer calar: Capitu traiu Bentinho ou foi o oposto? Sempre achei estranho o relacionamento de Bentinho com Escobar. Temos que levar em conta o seminário, onde ficavam à sós e tinham somente a companhia um do outro. Bentinho parecia amar muito Escobar, portanto, não devemos jamais descartar a hipótese de que eles tiveram sim, um relacionamento.
    Mas o fato de Bentinho ser um possível estéril e o filho de Capitu ser a cópia de Escobar já decidi muito dessa história. O pior é que tenho medo de criar minha conclusão baseada na obra resumida. Acho que essa versão mostrou mais evidencias da traição de Capitu. E mesmo assim, acredito que a traição veio dos dois lados.
   Nesse livro, o ciúme foi a faísca para tudo, e em minha opinião sincera, penso que Bentinho, independente de traição, não deveria ter deixado sua vida afundar. Nesse caso, perdoar seria o melhor caminho, levando em conta que Escobar já estava morto e levando em conta o amor que nosso protagonista nutria por Capitu e por “seu” filho.  
  A raiva crescente de uma mísera desconfiança fez o personagem tão inocente e sonhador se tornar amargurado e solitário. O ciúme e a precipitação fez mais mal à ele do que a qualquer dos outros envolvidos. 
  Gostei muito da leitura, apesar de lenta. O final pareceu valer todo o livro, e os personagens foram marcantes. Indico a todos esse clássico nacional. Vale muito a pena criar sua própria conclusão! 

Primeiro Parágrafo: “ Uma noite dessas, vindo da cidade para o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu conheço de vista e de chapéu [...]”
Melhor Quote:  “Acharam-me lindo, e diziam-mo; algumas queriam mirar de mais perto minha beleza, e a vaidade é um principio de corrupção.”


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