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SBN: 9788572322645
Sinopse: O narrador Bentinho, apelidado Dom Casmurro por viver recluso e solitário, conta fatos de sua infância na casa da mãe viúva, dona Glória, e também passagens de sua vida adulta ao lado de Capitu, que suspeita ser adúltera. Se a figura fascinante de Capitu, que prende a atenção do leitor, transforma a questão do adultério no ponto central do romance, não podemos nos esquecer de que a obra oferece também um rico painel da sociedade brasileira da época, revelando-nos as relações de classe e os meios de ascensão social, a influência da Igreja na vida cotidiana, além de observações desencantadas do narrador sobre a condição humana.
Bentinho assusta-se quando descobre que iria para o
seminário, já que sua mãe fizera uma promessa de entregar a Deus um padre, caso
seu filho nascesse saudável. Temendo que
perdesse a grande amizade com Capitu, prometeu-lhe inúmeras coisas, mas acima
de tudo prometeu-lhe a lealdade.
O relacionamento com Capitu mudara desde então. Uma paixão
inocente nascera e era recíproca. Mais do que nunca a ida de Bentinho para o
seminário era inviável, porém, inevitável.
Bentinho parte para o seminário, onde conhece Escobar, um
admirável amigo. Contudo, constrói um plano para fugir da promessa da mãe e
acaba se tornando um bacharel em Direito. Já crescido, casa-se com Capitu, e Escobar, com a amiga de sua
esposa. Mas o que o casal mais ansiava
era um filho, que não conseguiam ter.
Demorou, mas o filho enfim veio. O relacionamento entre
Bentinho e Escobar se tornou mais forte nessa época, e tempos depois Escobar
veio a falecer.
Nosso protagonista se vê melancólico com a partida de seu
melhor e mais intimo amigo, e idéias insanas começam a dançar em sua mente.
Bentinho começa ver que seu próprio filho era a cópia física de Escobar. Será
que... Será que Capitu o traira? Será que Escobar, seu admirável amigo, tivera
a audácia de traí-lo?
Primeiramente, quero deixar claro que, além de uma
apresentação da experiência de leitura, a obra Dom Casmurro também será
analisada e criticada.
Sendo uma obra ilustre do Realismo brasileiro, Dom Casmurro
é uma leitura muito requisitada no Ensino Médio escolar. E este foi o motivo
que embarquei na leitura desse clássico que traz tanta polêmica e dúvidas.
Infelizmente, minha edição é a resumida – ou edição de
releitura, como chamam alguns – e isso faz com que a história apresentada seja
limitada e passe, muitas vezes, uma ideia distinta da edição completa.
A narração parte do personagem Bentinho, e muitas vezes se
mostrou extremamente superficial, sem detalhes de cenário, e monótona. Acredito
que seja por esse artifício mal desenvolvido que a leitura não conseguiu me
envolver com tanta precisão nas primeiras cem páginas. Contudo, Machado de
Assis utilizou muito bem o “conversar com o leitor”, onde Bentinho argumentava
a cerca de suas convicções com o receptor, e isso criou uma aproximação do
leitor com o personagem, e até mesmo, um sentimento de empatia.
Penso que o enredo não-linear tenha atrapalhado muito na compreensão
da história, na progressão de acontecimentos, e no reconhecimento deles no
tempo. Inúmeras vezes me vi perdida nas narrações de memórias, algumas delas,
desnecessárias tanto para história quanto para a construção do personagem.
Independente dos erros que essa obra carrega, o bom conteúdo
é claro, assim como a sabedoria sem limites do autor, que citou inúmeras obras,
pensadores, autores literários e passagens da bíblia e de contos mitológicos.
Entretanto, isso contou como uma distração nas primeiras páginas. Uma distração
sem objetivos, apesar de interessantes e reflexivas.
Os personagens são o que mais há de construtivo nessa obra.
A história é evidentemente simples, e são os personagens que a torna especial e
importante. Não gostei de Capitu logo de cara, e tratei de prestar muita
atenção nas descrições de Bentinho a cerca de sua amada. Já Bentinho, tinha
algo nele inocente e sonhador que me fez nutrir sentimentos bons. Enquanto
Escobar me pareceu uma “cobra” desde o inicio. Parecia que este personagem
invejava tudo que Bentinho tinha. Mas talvez – apenas, talvez – nenhuma de
minhas impressões pré-construidas definem esses peculiares e misteriosos
personagens. As demais personagens foram
bem importantes e presentes na história. Nem é preciso dizer que cada um tinha
suas características bem desenvolvidas, não é?
Algo que tenha chamado muito minha atenção é o trato com os
escravos, retratado em vários momentos. Chamavam o escravo de “preto”, e por
esse motivo, demorei alguns instantes para entender a quem solicitavam. Realmente,
isso diz muito sobre a época.
Talvez seja porque eu tenha lido a Releitura, porém, achei
que muitas cenas necessárias – as quais tenho ciência da existência – faltaram.
O que mais senti falta é da relação entre a personagem Capitu e o Escobar. Como
analisar se houve traição sendo que nenhuma das várias cenas incriminadoras
foram apresentadas? O próprio final ficou vago, sem explicar muito o que se
sucedeu quando Bentinho teve certeza que foi traído e disse isso à Capitu. Há
muito poucas provas e evidencias para solucionar o “crime”.
Enfim, vamos a pergunta que não quer calar: Capitu traiu
Bentinho ou foi o oposto? Sempre achei estranho o relacionamento de Bentinho
com Escobar. Temos que levar em conta o seminário, onde ficavam à sós e tinham
somente a companhia um do outro. Bentinho parecia amar muito Escobar, portanto,
não devemos jamais descartar a hipótese de que eles tiveram sim, um
relacionamento.
Mas o fato de Bentinho ser um possível estéril e o filho de
Capitu ser a cópia de Escobar já decidi muito dessa história. O pior é que
tenho medo de criar minha conclusão baseada na obra resumida. Acho que essa
versão mostrou mais evidencias da traição de Capitu. E mesmo assim, acredito
que a traição veio dos dois lados.
Nesse livro, o ciúme foi a faísca para tudo, e em minha
opinião sincera, penso que Bentinho, independente de traição, não deveria ter
deixado sua vida afundar. Nesse caso, perdoar seria o melhor caminho, levando
em conta que Escobar já estava morto e levando em conta o amor que nosso protagonista nutria por
Capitu e por “seu” filho.
A raiva crescente de uma mísera desconfiança fez o
personagem tão inocente e sonhador se tornar amargurado e solitário. O ciúme e
a precipitação fez mais mal à ele do que a qualquer dos outros envolvidos.
Gostei muito da leitura, apesar de lenta. O final pareceu valer todo o livro, e os personagens foram marcantes. Indico a todos esse clássico nacional. Vale muito a pena criar sua própria conclusão!
Primeiro Parágrafo: “ Uma noite dessas, vindo da cidade para
o Engenho Novo, encontrei no trem da Central um rapaz aqui do bairro, que eu
conheço de vista e de chapéu [...]”
Melhor Quote:
“Acharam-me lindo, e diziam-mo; algumas queriam mirar de mais perto
minha beleza, e a vaidade é um principio de corrupção.”