Sinopse: O destino dos mundos está de novo nas mãos de Magnus Chase. Será que ele vai conseguir derrotar Loki de uma vez por todas? Nos dois primeiros livros da série, Magnus Chase, o herói boa-pinta que é a cara do astro de rock Kurt Cobain, ex-morador de rua e atual guerreiro imortal de Odin, precisou sair em algumas jornadas árduas e desafiar monstros, gigantes e deuses nórdicos para impedir que os nove mundos fossem destruídos no Ragnarök, o fim do mundo viking. Em O navio dos mortos, Loki está livre da sua prisão e preparandoNaglfar, o navio dos mortos, para invadir Asgard e lutar ao lado de um exército de gigantes e zumbis na batalha final contra os deuses. Desta vez, Magnus, Sam, Alex, Blitzen, Hearthstone e seus amigos do Hotel Valhala vão precisar cruzar os oceanos de Midgard, Jötunheim e Niflheim em uma corrida desesperada para alcançar Naglfar antes de o navio zarpar no solstício de verão, enfrentando no caminho deuses do mar raivosos e hipsters, gigantes irritados e dragões malignos cuspidores de fogo. Para derrotar Loki, o grupo precisa recuperar o hidromel de Kvásir, uma bebida mágica que dá a quem bebe o dom da poesia, e vencer o deus em uma competição de insultos. Mas o maior desafio de Magnus será enfrentar as próprias inseguranças: será que ele vai conseguir derrotar o deus da trapaça em seu próprio jogo?
"Não dá para sentir ódio para sempre. Não vai afetar nem um pouco a pessoa que você odeia, mas vai te envenenar, com certeza" (p. 120).
Com Alex Fierro, Riordan trabalhou as questões de gênero, já que em alguns momentos a personagem se identifica como garota, e em outros momentos, como garoto – independente do seu sexo. Com Thomas Jefferson Jr., ele abordou os lástimas do racismo na sociedade. Entrando na história de Mallory Keen e Mestiço Gunderson, o autor aprofundou os detalhes históricos sobre a Irlanda – desde os tempos do chefe viking, Ivar, o Sem-Ossos, até o Domingo Sangrento, a atuação do Exército Republicano Irlandês e os movimentos de resistência que atuaram naquele dia. Hearthstone foi capaz de mostrar as dificuldades de um surdo-mudo com toda a delicadeza do mundo. Por fim, com Magnus, Blitz e Hearth, pudemos ver os males de boa parte da população que vive nas ruas. E tudo isso de forma simples e leve. Definitivamente não foi tarefa fácil, mas estou convencida de que Riordan tem mesmo um dom.
Abordando tantos temas cruciais através de seus personagens, não foi surpresa que neste livro final eles fossem parte central da história. Cada um deles foi trabalhado de forma especial. Alex está mais aberta(o) com Magnus e as complicações que enfrentou com a família são reveladas. T.J também conta sua história, como morreu na Guerra Civil Americana e o que o motiva a ser tão patriota (um dos melhores personagens, na minha opinião). Mallory e Mestiço ainda estão resolvendo seus problemas amorosos, mas o que fica claro é que ambos se redescobrem como heróis durante toda a viagem. No final das contas, eles são a chave para que Magnus entenda o poder que tem contra Loki.
"Às vezes nós mentíamos para enganar as pessoas. Às vezes, mentíamos por querer que a mentira se tornasse verdade" (p. 190).
O encontro tão aguardado entre Percy e Magnus foi mais breve do que eu gostaria, mas temos que considerar que já tivemos o bastante de Percy Jackson em outros livros (em toda série, mesmo que não seja sobre ele, o cabeça-de-água sempre dá o ar da graça). O interessante é notar o quanto todas as histórias se interligam – são vários deuses, várias realidades, interagindo num só universo. Em determinado momento, a trama da trilogia As provações de Apolo chega a se revelar um pouco durante um dos diálogos entre Annabeth e Magnus. Ainda alimento esperanças de ver esses dois primos, os Chase semideuses, juntos enfrentando novos desafios.
Apesar de ter um ótimo desenrolar, com uma trama cheia de aventuras, mistérios e pitadas de diversão (bem à la Rick Riordan), o desfecho não foi o que eu esperava – até porque esperei por esse confronto desde o primeiro livro. A última batalha foi rasa em comparação com todos os obstáculos complexos que eles enfrentaram pelo caminho. Também gostaria que fosse mais impactante, levando em consideração o histórico de finais épicos que Riordan costuma proporcionar em suas séries. Não que toda batalha final tenha que ter, obrigatoriamente, muito sangue e destruição, mas acredito que deveria ter a profundidade que uma trilogia assim merece. No entanto, o livro tem a capacidade de conquistar por suas batalhas secundárias, que dão um show à parte.
A arte de capa, que combina com as dos dois primeiros livros, é muito bonita e ilustrativa (como todas as capas dos livros de Rick Riordan costumam ser), dando o ar infanto-juvenil que a história pede. Ela retrata Magnus com seu novo visual – embora eu ainda não entenda porque o puseram com uma camiseta laranja, já que a cor remete ao Acampamento Meio-Sangue, enquanto a cor das camisetas do Hotel Valhala são verdes –, além de Loki e o Naglfar. A diagramação, tradução e revisão são satisfatórias. E, como sempre, contamos com o glossário nas últimas páginas, o que sempre salva o entendimento do leitor e o poupa de encher o Google de pesquisas sobre os termos nórdicos.
O navio dos mortos foi um ótimo livro para fechar essa trilogia tão querida. Provavelmente, não veremos outro grande sucesso como Percy Jackson e os Olimpianos ou Os Heróis do Olimpo tão cedo, mas com certeza Magnus Chase e os deuses de Asgard foi uma boa oportunidade para fazer com que os fãs de Riordan matassem a saudade de suas histórias fantásticas, que são sempre revigorantes e educativas. Além de entreter, é uma maravilhosa recomendação para quem quer conhecer o universo nórdico (e como ele realmente é por trás da cultura pop). Com seu jeito divertido e leve, Riordan nos leva a conhecer as coisas mais incríveis, a amar seus personagens – assim como a odiá-los – e a expandir nossos conhecimentos sobre mitologia. Mesmo sendo direcionado à crianças e adolescentes, é recomendado para todos aqueles que desejam se aventurar numa boa trama viking.
Primeiro parágrafo: "— Tente de novo — disse Percy. — Desta vez, morrendo menos".
Melhor quote: "Palavras podem ser mais letais que lâminas".