Livro: O Navio dos Mortos 
Autor(a): Rick Riordan 
Editora: Intrínseca 
Páginas: 368
ISBN: 978-85-510-0247-6
Sinopse: O destino dos mundos está de novo nas mãos de Magnus Chase. Será que ele vai conseguir derrotar Loki de uma vez por todas? Nos dois primeiros livros da série, Magnus Chase, o herói boa-pinta que é a cara do astro de rock Kurt Cobain, ex-morador de rua e atual guerreiro imortal de Odin, precisou sair em algumas jornadas árduas e desafiar monstros, gigantes e deuses nórdicos para impedir que os nove mundos fossem destruídos no Ragnarök, o fim do mundo viking. Em O navio dos mortos, Loki está livre da sua prisão e preparandoNaglfar, o navio dos mortos, para invadir Asgard e lutar ao lado de um exército de gigantes e zumbis na batalha final contra os deuses. Desta vez, Magnus, Sam, Alex, Blitzen, Hearthstone e seus amigos do Hotel Valhala vão precisar cruzar os oceanos de Midgard, Jötunheim e Niflheim em uma corrida desesperada para alcançar Naglfar antes de o navio zarpar no solstício de verão, enfrentando no caminho deuses do mar raivosos e hipsters, gigantes irritados e dragões malignos cuspidores de fogo. Para derrotar Loki, o grupo precisa recuperar o hidromel de Kvásir, uma bebida mágica que dá a quem bebe o dom da poesia, e vencer o deus em uma competição de insultos. Mas o maior desafio de Magnus será enfrentar as próprias inseguranças: será que ele vai conseguir derrotar o deus da trapaça em seu próprio jogo?

TRILOGIA "MAGNUS CHASE E OS DEUSES DE ASGARD"
    2.  O Martelo de Thor
    3.  O Navio dos Mortos 

Rick Riordan nasceu em 1964, nos Estados Unidos, em San Antonio, Texas. Hoje mora em Boston com a esposa e os dois filhos. Autor best-seller do The New York Times, premiado pela YALSA e pela American Library Association, por quinze anos ensinou inglês e história em escolas de São Francisco, e é a essa experiência que atribui sua habilidade de escrever para o público jovem. É autor das séries Percy Jackson e os Olimpianos, Os heróis do Olimpo, As crônicas dos Kane e As provações de Apolo.

     Magnus Chase era apenas um morador das ruas em Boston, até que depois de enfrentar um gigante, tudo mudou. Ele foi levado para Valhalha – o lar viking daqueles que morreram heroicamente – pela valquíria mulçumana Sam. Lá, Magnus descobriu todos os segredos que rodeavam sua vida, inclusive que é filho de Frey, o deus nórdico do verão. No primeiro livro, A espada do verão, Magnus embarca numa perigosa jornada para recuperar Jacques, a espada perdida de seu pai (e sua futura companheira de combates) e impedir que o lobo Fenrir escape e dê início ao Ragnarök, o fim do mundo. 
    Já no segundo livro, O martelo de Thor, Magnus e seus amigos partem em mais uma missão para encontrar o martelo do deus dos trovões e novamente tentam evitar o fim do mundo, lutando para impedir que Loki se liberte de sua prisão. Infelizmente, os planos falham e Loki consegue escapar. Agora, no último livro da trilogia, o deus da trapaça está a bordo do Navio dos Mortos, o Naglfar, uma embarcação feita de unhas dos pés de mortos e está a caminho ao Ragnarök
    Desta vez os sacrifícios serão dobrados. Junto com todos os seus fiéis amigos, Magnus se prepara para encarar Loki e desafiá-lo num vitupério, uma competição de insultos. Mas como alguém pode vencer o deus da lábia numa competição assim? Em busca de respostas, Magnus entra no navio de seu pai com sua equipe – formada por nada mais que oito pessoas – e passa por muitos riscos enquanto se pergunta se será capaz de parar Loki.

    Estava aguardando com ansiedade o último livro dessa trilogia. Logo de início me encantei com a história do Magnus, principalmente por abordar a mitologia nórdica, que é tão rica e que hoje faz parte da cultura pop. A contribuição de Riordan para inserir ainda mais conhecimento através de seus livros, destinados a crianças e adolescentes, é muito empolgante. Além do mais, sou uma grande fã do autor e de suas obras, por isso não foi difícil devorar o livro em pouquíssimo tempo.
    A narrativa de Riordan é visivelmente voltada ao público mais jovem. Sua escrita é simples e direta, sem grandes floreios e a presença de várias onomatopeias – uma das marcas registradas do autor. Isso faz com que seus livros sejam atrativos, fluidos, divertidos e assim, envolvem com facilidade. O narrador-personagem é o próprio Magnus e isso ajuda a entender tudo o que se passa na mente do jovem herói. Ele também dialoga com o público, estreitando a relação entre protagonista e o leitor.

"Não dá para sentir ódio para sempre. Não vai afetar nem um pouco a pessoa que você odeia, mas vai te envenenar, com certeza" (p. 120).

    Mais uma vez, Riordan usa sua criatividade e senso de humor para compor os títulos dos capítulos. O livro Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos, lançado em 2016, é um ótimo pré-requisito para ler o último livro (ou mesmo toda a trilogia). Lê-lo antes me fez ter a visão abrangente perante o universo de Magnus, já que contém explicações mais aprofundadas sobre a mitologia nórdica. Porém, o detalhe mais importante de toda a série é o foco que Riordan dá a temas que estão presentes na sociedade. Logo no início ele mostra isso com Sam, a personagem mulçumana. Ela tem seus costumes religiosos e nunca é desrespeitada em seu círculo de amigos pagãos – embora ele sempre ponha em voga o fato de que ela sofre preconceito quando anda pela rua e que apenas o uso do termo Allahu Akbar (Deus é grande) é polêmico porque se associa ao terrorismo.
   Com Alex Fierro, Riordan trabalhou as questões de gênero, já que em alguns momentos a personagem se identifica como garota, e em outros momentos, como garoto – independente do seu sexo. Com Thomas Jefferson Jr., ele abordou os lástimas do racismo na sociedade. Entrando na história de Mallory Keen e Mestiço Gunderson, o autor aprofundou os detalhes históricos sobre a Irlanda – desde os tempos do chefe viking, Ivar, o Sem-Ossos, até o Domingo Sangrento, a atuação do Exército Republicano Irlandês e os movimentos de resistência que atuaram naquele dia. Hearthstone foi capaz de mostrar as dificuldades de um surdo-mudo com toda a delicadeza do mundo. Por fim, com Magnus, Blitz e Hearth, pudemos ver os males de boa parte da população que vive nas ruas. E tudo isso de forma simples e leve. Definitivamente não foi tarefa fácil, mas estou convencida de que Riordan tem mesmo um dom.
    Abordando tantos temas cruciais através de seus personagens, não foi surpresa que neste livro final eles fossem parte central da história. Cada um deles foi trabalhado de forma especial. Alex está mais aberta(o) com Magnus e as complicações que enfrentou com a família são reveladas. T.J também conta sua história, como morreu na Guerra Civil Americana e o que o motiva a ser tão patriota (um dos melhores personagens, na minha opinião). Mallory e Mestiço ainda estão resolvendo seus problemas amorosos, mas o que fica claro é que ambos se redescobrem como heróis durante toda a viagem. No final das contas, eles são a chave para que Magnus entenda o poder que tem contra Loki.

"Às vezes nós mentíamos para enganar as pessoas. Às vezes, mentíamos por querer que a mentira se tornasse verdade" (p. 190).

    O encontro tão aguardado entre Percy e Magnus foi mais breve do que eu gostaria, mas temos que considerar que já tivemos o bastante de Percy Jackson em outros livros (em toda série, mesmo que não seja sobre ele, o cabeça-de-água sempre dá o ar da graça). O interessante é notar o quanto todas as histórias se interligam – são vários deuses, várias realidades, interagindo num só universo. Em determinado momento, a trama da trilogia As provações de Apolo chega a se revelar um pouco durante um dos diálogos entre Annabeth e Magnus. Ainda alimento esperanças de ver esses dois primos, os Chase semideuses, juntos enfrentando novos desafios.
    Apesar de ter um ótimo desenrolar, com uma trama cheia de aventuras, mistérios e pitadas de diversão (bem à la Rick Riordan), o desfecho não foi o que eu esperava – até porque esperei por esse confronto desde o primeiro livro. A última batalha foi rasa em comparação com todos os obstáculos complexos que eles enfrentaram pelo caminho. Também gostaria que fosse mais impactante, levando em consideração o histórico de finais épicos que Riordan costuma proporcionar em suas séries. Não que toda batalha final tenha que ter, obrigatoriamente, muito sangue e destruição, mas acredito que deveria ter a profundidade que uma trilogia assim merece. No entanto, o livro tem a capacidade de conquistar por suas batalhas secundárias, que dão um show à parte.
   A arte de capa, que combina com as dos dois primeiros livros, é muito bonita e ilustrativa (como todas as capas dos livros de Rick Riordan costumam ser), dando o ar infanto-juvenil que a história pede. Ela retrata Magnus com seu novo visual – embora eu ainda não entenda porque o puseram com uma camiseta laranja, já que a cor remete ao Acampamento Meio-Sangue, enquanto a cor das camisetas do Hotel Valhala são verdes –, além de Loki e o Naglfar. A diagramação, tradução e revisão são satisfatórias. E, como sempre, contamos com o glossário nas últimas páginas, o que sempre salva o entendimento do leitor e o poupa de encher o Google de pesquisas sobre os termos nórdicos.
   O navio dos mortos foi um ótimo livro para fechar essa trilogia tão querida. Provavelmente, não veremos outro grande sucesso como Percy Jackson e os Olimpianos ou Os Heróis do Olimpo tão cedo, mas com certeza Magnus Chase e os deuses de Asgard foi uma boa oportunidade para fazer com que os fãs de Riordan matassem a saudade de suas histórias fantásticas, que são sempre revigorantes e educativas. Além de entreter, é uma maravilhosa recomendação para quem quer conhecer o universo nórdico (e como ele realmente é por trás da cultura pop). Com seu jeito divertido e leve, Riordan nos leva a conhecer as coisas mais incríveis, a amar seus personagens – assim como a odiá-los – e a expandir nossos conhecimentos sobre mitologia. Mesmo sendo direcionado à crianças e adolescentes, é recomendado para todos aqueles que desejam se aventurar numa boa trama viking.

Primeiro parágrafo: "— Tente de novo — disse Percy. — Desta vez, morrendo menos".
Melhor quote: "Palavras podem ser mais letais que lâminas".


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