Sinopse: Angus Deaton afirma que vivemos melhor hoje do que em qualquer outro período da história. As pessoas são mais saudáveis, mais ricas e a expectativa de vida continua a aumentar. Paradoxalmente, o fato de tantos indivíduos terem conseguido escapar da pobreza também gerou desigualdades; e a disparidade entre países desenvolvidos e em desenvolvimento se estreitou, mas não desapareceu. Em A grande saída, um dos maiores especialistas em estudos sobre pobreza recua 250 anos para traçar a impressionante história de como diversas regiões do mundo vivenciaram um progresso significativo e, assim, abriram abismos que levaram ao cenário extremamente desigual de hoje. O estudo aprofunda-se nos padrões históricos e atuais por trás das nações ricas e com boas condições de saúde, e aborda o que é preciso fazer para ajudar os países que ficaram para trás.
"Este último é meu preferido: se vamos rotular pessoas como pobres e tratá-las diferentemente por causa disso, concedendo-lhes, por exemplo, subsídios para comprar comida, então a opinião do povo em geral – cujos impostos estão sendo utilizados para viabilizar isso – deveria ser levada em conta na hora de definir o valor da linha [de pobreza]" (p. 170)
A capa é muito elegante e tem um design interessante com a pintura à óleo datada de 1451 de Rogier van der Weyden, The last Judgement (O último julgamento), exposto no Museu l'Hôtel-Dieu, em Beaune, França. O melhor de tudo é a relação direta que a pintura tem com o assunto do livro: o quadro foi feito para ocasiões especiais e, na maior parte do tempo, ficou numa capela ao lado de um hospital. Naquela época, as pessoas iam aos hospitais com a morte batendo na porta, quando não havia mais o que pudesse ser feito. Dessa forma, elas tinham o vislumbre da pintura como se representasse seu último julgamento. Deaton nos aponta, durante todo o livro, que o ser humano tentou diversas diversas portas e janelas – muitas saídas –, porém elas não surtiram efeito. Agora o que nos resta é tentar mais uma vez, e essa talvez seja nossa versão do último julgamento.
"Pesquisas do Banco Mundial revelam que em muitos países, o absentismo é um problema sério e atinge tanto serviços de saúde quanto de educação. Em alguns casos, os servidores têm baixos salários. É como se houvesse um contrato implícito entre os trabalhadores e seus empregadores: o governo finge que paga e eles fingem que aparecem para trabalhar" (p. 117).
Ao final, o livro contém as devidas referências bibliográficas e um índice remissivo (dois elementos muito necessários em uma obra como essa). A revisão e tradução para o português foi feita de maneira impecável. Porém, a revisão da versão original pecou em alguns aspectos – o que pode configurar como característica própria do autor, já que muitos não são favoráveis a alterações bruscas em suas obras durante a revisão da editora, especialmente quando se trata de livros de não-ficção –, pois como já mencionei, ela contém muitas repetições e adiciona assuntos técnicos que talvez não interessem diretamente leitores mais leigos.
A grande saída, como o título busca apontar, refere-se ao início do Iluminismo, quando cientistas de diversas áreas começaram a pensar em fórmulas de fazer a sociedade progredir e obter cada vez mais conhecimento. É uma obra que não se dedica apenas a apresentar os fatos, como muitas fazem, mas também apontar soluções, uma possível "grande saída" – grande o suficiente para que todos escapem, não apenas alguns – e talvez a única. Foi mais uma leitura prazerosa e importante em que me identifiquei com muitos pensamentos do autor (apesar de discordar em alguns aspectos), além de sua sensibilidade ao detalhar cada etapa de suas pesquisas ter me tocado bastante. É um livro que fala de problemas, mas também dá esperanças – sem nunca deixar de apontar que a grande saída, na verdade, está nas mãos de cada um de nós.
Primeiro parágrafo: "O filme fugindo do inferno conta a história de prisioneiros que escapam de um campo de concentração durante a Segunda Guerra Mundial. Este livro conta a história de como a humanidade escapou da pobreza e da morte precoce e de como as pessoas conseguiram melhorar suas vidas e abriram caminho para que outras as seguissem".
Melhores quotes: "Um mundo melhor gera um mundo de diferenças; novas fugas geram desigualdades".
"Alguns poucos estão se dando muito bem; muitos estão em dificuldade. No mundo todo, vemos os mesmos padrões de progresso — alguns encontram a saída enquanto outros ficam para trás, afundados em extrema pobreza, privação, doença e morte".
Parabéns Bianca! Sua visão crítica sobre o livro foi incrível. Estou fazendo um trabalho sobre esse livro e suas palavras me ajudaram muito. Você trouxe curiosidades sobre o livro, além de expor sua opinião com muita clareza e inteligência!!!!
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