Livro: Último Turno
Título original: End of Watch
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 338
ISBN: 978-85-5651-018-1
Sinopse: Brady Hartsfield, o diabólico Assassino do Mercedes, está há cinco anos em estado vegetativo em uma clínica de traumatismo cerebral. Segundo os médicos, qualquer coisa perto de uma recuperação completa é improvável. Mas sob o olhar fixo e a imobilidade, Brady está acordado, e possui agora poderes capazes de criar o caos sem que sequer precise deixar a cama de hospital. O detetive aposentado Bill Hodges agora trabalha em uma agência de investigação com Holly Gibney, a mulher que desferiu o golpe em Brady. Quando os dois são chamados a uma cena de suicídio que tem ligação com o Massacre do Mercedes, logo se veem envolvidos no que pode ser seu caso mais perigoso até então. Brady está de volta e, desta vez, não planeja se vingar apenas de seus inimigos, mas atingir toda uma cidade. Em Último Turno, Stephen King leva a trilogia a uma conclusão sublime e aterrorizante, combinando a narrativa policial de Mr. Mercedes e Achados e Perdidos com o suspense sobrenatural que é sua marca.       
TRILOGIA "BILL HODGES"
    1.  Mr. Mercedes
    2.  Achados e Perdidos
    3.   Último Turno

    Stephen King é um dos autores mais consagrados da contemporaneidade e autor de mais de cinquenta livros best-sellers publicado no mundo inteiro. Os mais recentes são JoylandRevival, Escuridão Total sem Estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Sob a Redoma (que virou série de TV) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review, ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da organização International Thriller Writers). Mora no Maine com a esposa e também escritora, Tabitha King.

     O desfecho da trilogia Bill Hodges conclui a saga emocionante do Detetive Aposentado, ou Det. Apos. para Brady Hartsfield, o Mr. Mercedes que deu o título ao primeiro livro. Dessa vez, Brady está pronto para retornar e para destruir mais vidas em uma grande empreitada totalmente inesperada. Tudo começa com um crime estranho: assassinato seguido de suicídio, ambos cometidos por uma mãe contra a filha e contra si mesma. A filha foi uma das vítimas do Assassino do Mercedes no primeiro livro, acabando por ficar tetraplégica e seus cuidados foram postos nas costas da mãe. 
    Porém, quando Hodges e sua parceira Holly Gibney — com quem divide a sociedade da agência de investigação Achados e Perdidos — chegam à cena do crime, a própria casa das vítimas, se deparam com detalhes que não se encaixam. Pelas informações que recolhem, descobrem que elas estavam tendo sucesso em refazer a vida, eram felizes e se amavam muito. O fato de as mulheres estarem ligadas à Brady — que Pete, antigo parceiro de Hodges na polícia, chama de Príncipe do Suicídio — deixa Hodges desconfiado, e, por mais que seja paranoia, seus instintos dizem que deve investigar esse caso a fundo.
    Mas como Brady conseguiria fazer qualquer coisa estando preso à uma cama de hospital em um suposto estado vegetativo? Alguém estaria trabalhando para ele? Se sim, a troco de quê? Enquanto remói todas essas questões, Hodges ainda tem que lidar com o peso da idade e todos os males que ela pode trazer. Para descobrir o que há por trás de todo esse mistério, o velho Det. Apos. deve correr contra o tempo para evitar que mais vidas sejam perdidas — inclusive a sua.

"A vingança é uma filha da mãe, e a filha da mãe voltou" (p. 307).

     A expectativa para o desfecho da trilogia foi grande por duas excelentes razões: primeiro, porque os dois primeiros livros me surpreenderam enormemente; e segundo, porque sou muito fã do trabalho de Stephen King (que sempre soube exercê-lo com maestria). Por ser um gênero investigativo, um de meus preferidos, achei interessante que King saísse, com essa trilogia, de sua zona de conforto (o thriller) para se envolver — e nos envolver — com algo diferente. A proposta, de início, me animou e parecia promissora. Entretanto, Último Turno trouxe um desvio do plano de romance policial e adentrou na área do sobrenatural.
     A narrativa é em terceira pessoa e cada capítulo é marcado por um foco narrativo que geralmente é centrado em Hodges ou Brady para manter a antologia de mocinho e vilão. Porém, em comparação com o primeiro livro, em que ambos tiveram os focos principais (e com o segundo, cujo foco centrou-se em personagens de fora da história inicial), Último Turno contém mais diversidade de focos entre os personagens — alguns, inclusive, já abordados em Mr. Mercedes. Além disso, o narrador é onisciente, penetrando nos pensamentos dos personagens e revelando aos poucos para o leitor aquilo que é conveniente nos momentos certos.
    A narração se baseia em muitos elementos sensitivos do cotidiano devido a escrita detalhada e realística de King. É engraçado como ele fala sobre os problemas que a chegada da idade avançada do protagonista traz, por exemplo, fazendo com que o leitor entenda como é sentir tudo o que o personagem sente mesmo não tendo ideia de como é estar em tal situação. King também trabalha com a cronologia que o enredo segue: não-linear, ou seja, vai juntando as histórias aos poucos, como se fossem peças de um quebra-cabeça em que o leitor passa a ser um detetive para poder montá-lo.
    Assim como ocorre no primeiro livro, este também se volta para a tecnologia, tendo em vista que é a especialidade do vilão Brady. Para poder discorrer com liberdade sobre o assunto, King — segundo revela em sua nota final — conta com a ajuda de um especialista em computadores. Dessa forma, ele consegue compôr toda a trama que gira em torno de um aparelho eletrônico capaz de fazer com que as pessoas sejam facilmente influenciadas a cometer suicídio. King soube trabalhar o tema muito bem e ainda ousou envolver procedimentos tecnológicos fictícios para adequar todos esses elementos ao enredo.



    O protagonista Hodges sofre uma decaída em comparação aos dois livros anteriores. Agora ele está velho, doente e cansado, seu foco passa a ser não apenas as investigações, como também sua própria saúde e aqueles que estão ao seu redor (Hodges se pergunta o tempo todo como seus amigos irão ficar se algo ruim lhe acontecer). Porém, sua evolução como detetive é muito boa se compararmos com o primeiro livro em que o personagem é acometido por um início de depressão e quase cometeu suicídio. O fato de o Último Turno tratar justamente desse assunto deixa as coisas em perspectiva, já que Hodges sabe muito bem com o que está lidando, e, apesar de sua vulnerabilidade diante de sua saúde, ele se mostra mais forte que nunca
    Sobre os demais personagens, a evolução também foi perceptível. Holly é um bom exemplo. A mulher tímida do primeiro livro que era totalmente dependente da mãe e que não gostava de ter contato com ninguém, já não existe mais, pois finalmente parece ter encontrado o seu lugar. Jeromy, que por sua vez ocupou um bom espaço no primeiro livro, neste já não tem tanto foco. Os holofotes recaíram mais sobre sua irmã, Barbara, que mostra que a garotinha apresentada em Mr Mercedes cresceu e agora é uma adolescente bela e confusa sobre a vida. Outro personagem que não pode deixar de ser citado é o violento e macabro Assassino do Mercedes. Brady também evoluiu assim como os outros. Desta vez ele descobre habilidades inimagináveis e a forma como ele planeja trabalhá-las mostra que ele ainda é capaz de fazer o que ele faz de melhor. 
    A maior crítica que posso fazer a respeito de Último Turno é o quanto King se desviou completamente do foco inicial que era o gênero investigativo e partiu para o sobrenatural. Enxerguei isso por duas óticas: a primeira é positiva, porque King soube encaixar brilhantemente o sobrenatural em uma história que não tinha esse caráter. A segunda é negativa, pois o autor mudou de foco de forma brusca, tirando um pouco do que havia de concreto no enredo e entrando em sua tão conhecida zona de conforto - o que foi decepcionante já que muitos esperavam ver mais da versatilidade de King.
    A diagramação e revisão se mostraram impecáveis tanto em Último Turno quanto nos outros livros da trilogia. A capa, que se manteve na versão original, é o que se difere mais dos outros - não foi apenas a história que saiu do "rumo", afinal -, sendo mais colorida e, como as outras, representativa para o conteúdo. 
    Em suma, pode-se dividir o público-alvo desta trilogia em dois. Um é aquele que é fã do trabalho de King e admira a forma como conduz suas histórias. King claramente se aventurou em novas águas e deu o seu melhor, finalizando com sua clássica marca: o suspense. O outro público-alvo é aquele que gosta do gênero investigativo. Os dois primeiros livros não decepcionam em quesito de ritmo e originalidade, porém o último deixa a desejar e tem um desfecho aquém de um romance policial e aquém de Stephen King.

Primeiro parágrafo: "Sempre é mais escuro antes do amanhecer".
Melhor quote: "O pensamento que ocorre a ele é complicado demais, carregado demais com uma mistura de raiva e dor para que seja articulado. É sobre a forma como algumas pessoas jogam fora o que outros venderiam a alma para ter: um corpo saudável e sem dor. E por quê? Porque estão cegos demais, traumatizados demais ou voltados demais para si mesmos para ver além da curva escura da Terra até o próximo nascer do sol. É só continuar respirando".




 


2 Comentários

  1. to só esperando esse livro chegar, to ansiosa pra ler ele *0*

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  2. Eu amei essa trilogia (apesar de Achados e Perdidos ser mais fraco), gostei de como ele transformou um triller policial em um triller policial sobrenatural rs porque as investigações tiveram que continuar assim como nos outras, no entanto a credulidade dos personagens foi colocado a prova. Bill Hodges e os outros personagens se encaixam de maneira perfeita nas propostas de cada um. Tomara que King faça mais trabalhos como este. Bela resenha!

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