Livro: Mr. Mercedes
Autor: Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 393
ISBN: 978-85-5651-002-0
Sinopse: Ainda é madrugada e, em uma falida cidade do Meio-Oeste, centenas de pessoas fazem fila em uma feira de empregos, desesperadas para conseguir trabalho. De repente, um único carro surge, avançando para a multidão. O Mercedes atropela vários inocentes, antes de recuar e fazer outra investida. Oito pessoas são mortas e várias ficam feridas. O assassino escapa. Meses depois, o detetive Bill Hodges ainda é atormentado pelo fracasso na resolução do caso, e passa os dias em frente à TV, contemplando a ideia de se matar. Ao receber uma carta de alguém que se autodenomina o Assassino do Mercedes, Hodges desperta da aposentadoria deprimida, decidido a encontrar o culpado. Mr. Mercedes narra uma guerra entre o bem e o mal, e o mergulho de Stephen King na mente obsessiva e psicótica desse assassino é tão arrepiante quanto inesquecível.

TRILOGIA "BILL HODGES"
    1.  Mr. Mercedes
    2.  Achados e Perdidos (Junho de 2016)
    3.  End of Watch (Fim de Turno, em tradução livre | Junho de 2017).

    O que falar de Stephen King? Simplesmente um dos maiores escritores de terror e suspense da contemporaneidade. Recebeu inúmeros prêmios pela sua contribuição à Literatura mundial, dentre eles o Bram Stoker, British Fantasy e o Best Hardcover Novel Award da organização internacional Thriller Writers. Livros como It – A coisa, O iluminado e Carrie, A estranha fizeram dele mundialmente conhecido, tendo mais de 50 best-sellers publicados. E mais uma vez, apresenta-se aqui mais um trabalho fantástico com Mr. Mercedes.

    Os desempregados que formam uma fila durante a madrugada de 9 de abril de 2009 servem como público e vítimas perfeitamente oportunas para Brady Hartsfield. Com um Mercedes roubado de uma senhora riquíssima num bairro da área nobre, ele avança para cima das pessoas matando algumas e ferindo física e mentalmente várias outras. Meses depois, ainda não conseguiram encontrar o responsável pelo massacre. Bill Hodges, o detetive que ficou responsável pelo caso, aposentou-se sem cumprir a missão de capturar aquele que ficou conhecido como o "Assassino do Mercedes".
     Os seis meses que vieram logo após a aposentadoria de Hodges foram longos e miseráveis. O ex-detetive passava a maior parte do tempo assistindo a programas de TV ruins e com sua velha arma por perto caso a ideia de suicídio resolvesse se concretizar em algum momento. Até que um dia, algo inusitado aparece em sua correspondência: uma carta. Fora enviada pelo próprio Assassino do Mercedes. O tom da carta é provocativo, insano e instigante. Além disso, deixa um convite irrecusável para Hodges: que se comunique com ele através de uma superprotegida rede social.
     A carta reacende o detetive dentro de Bill, que decide que uma aposentadoria não pode pará-lo e ele precisa terminar o que começou, capturando o Assassino do Mercedes. Assim, ele enfrenta o desafio pelas costas da polícia, passando a se comunicar com o criminoso utilizando todas as táticas que adquiriu com a experiência. E ainda conta com a ajuda de alguns excêntricos companheiros, que tornam essa busca e corrida contra o tempo ainda mais interessante.

    O único contato que tive com King se resumiu ao seu livro A Hora do Vampiro, depois ganhando outra versão de título: Salem. O talento de Stephen King saltou aos meus olhos imediatamente e não pude deixar de desejar ler outras obras do autor. Então quando me vem à mão Mr. Mercedes e, desta vez com um thriller investigativo e psicológico, consigo ver mais uma face incrível deste talentoso escritor.
    O gênero de suspense é um dos que mais me agradam pela facilidade que tem em envolver-me do início ao fim. E é exatamente o que ocorre com Mr. Mercedes. O trabalho no psicológico dos personagens também é algo cativante e uma das grandes marcas do autor, o que evita que a leitura seja vazia e superficial. A qualidade da obra é incrível e disso não há como duvidar.
    O narrador em terceira pessoa é onisciente e tem como foco narrativo principal os personagens Brady e Hodges, alternando entre um e outro a cada capítulo. King tem uma escrita detalhada e elegante, aprofundando-se com delicadeza nas águas mais escuras. Ou seja, ele consegue transmitir coisas terríveis com sutileza e frieza – o que só ajuda a leitura a se tornar mais fluida, dinâmica e sombria.


    Apesar de ter sido escrito há algum tempo (mesmo sendo publicado anos depois), o livro traz detalhes bastante atuais. Envolve-se no mundo da tecnologia, já que esta é uma das principais armas de Brady para alcançar seus objetivos insanos. Tal envolvimento é realizado com sagacidade, e o autor deixa claro em sua nota final que, para alcançar esse nível (que inclusive, pode transmitir vários conhecimentos sobre a área para quem é um pouco mais leigo) precisou de muita orientação e atualização, pois não é uma área que domina muito bem. O mais interessante é que, apesar disso, escreveu sobre o tema com a maior propriedade.
     King com toda a certeza é capaz de apostar na ousadia. Escrever sobre um serial killer não é fácil. Entrar na mente dele é ainda mais complexo. Por essa razão, sua leitura acaba se tornando tão complexa quanto a mente de Brady Hartsfield. O narrador penetra na mente do assassino e isso, por vezes, pode ser assustador. É uma mente escura, que funciona de forma contraditória em relação a todo o bom senso e sanidade. Ao mesmo tempo é aberta, cheia de vida, onde sente-se que as engrenagens estão em um incrível funcionamento. E é assim que o antagonista Brady é trabalhado, de forma que possamos ter acesso a suas mazelas, a suas experiências e ao que pensa quando tem de lidar todos os dias com a mãe alcóoolatra com quem mantém um estranho relacionamento.
     Da mesma forma que a mente de Brady é retratada, também ocorre com a de Hodge. Todas as inseguranças que ele costuma esconder são expostas ao leitor, que percebe que por trás de toda a fachada de profissional sério e respeitado, há alguém com ideias conturbadas pelo passado e cheio de arrependimentos sobre a própria vida. Hodges acaba se tornando o "mocinho imperfeito", que apesar da perspicácia, comete muitos erros. Os dois personagens têm como foco vital desvendar um ao outro, e o leitor, como observador de todo esse jogo, não pode deixar de se sentir ora frustrado, ora triunfante durante todo o desenrolar. A obra realmente provoca sensações instáveis! Mas não apenas os personagens principais são bem trabalhados. Cada um deles possui sua peculiaridade que, de uma forma ou de outra, acaba conquistando o leitor.

"Há poços tão fundos na Islândia que você pode jogar uma pedra lá dentro e nunca ouvir o barulho dela batendo na água. Ele acha que algumas almas humanas são assim" (p. 47).

    O livro foi dividido em partes, cada uma delas com capítulos curtos. Essa técnica deu um bom ritmo e uma boa orientação a leitura. Outra estratégia utilizada na escrita inteligente e ardilosa de King é aquela de "não entregar logo o jogo". Todo thriller precisa de um pouco disso, e em Mr. Mercedes há uma dose suficiente deste suspense para que todas as unhas sejam roídas em consequência da ansiedade para que se chegue logo a parte em que todos os fatores irão se unir e serão explicados, criando assim uma história crescente, que é construída aos poucos, podendo retornar ao passado ou prever o futuro. Também foi de uma importância secundária ter como pano de fundo um Estados Unidos abalado pela crise de 2008, onde as pessoas se encontravam em situação de desespero e cheias de dificuldades, o que tornou o enredo mais dramático e realista.
    Sobre a capa: como não amar?! Além de bastante bela e atrativa, também é significativa, com os símbolos necessários, que são explicados ao longo do enredo. O único adendo crítico é que, pela grande carga de americanismo contida na obra, acredito que algumas notas de tradução fossem detalhes importantes a serem inseridos.
    Ao todo, só posso deixar minha apreciação e recomendação. Mr. Mercedes é um ótimo thriller investigativo que adentra na alma humana como poucas obras fazem. Nesta, em particular, têm-se a honra de poder acompanhar a escrita única de Stephen King e toda a sua genialidade sutil que se fez presente em mais uma ficção cuja continuação já me deixou muito ansiosa!

Primeiro parágrafo do livro: "Augie Odenkirk tinha um Datsun 1997 que ainda funcionava bem, apesar da quilometragem alta, mas gasolina custava caro, principalmente para um homem desempregado, e o City Center ficava do outro lado da cidade. Por isso, decidiu pegar o último ônibus da noite. Ele saltou às 23h20 com a mochila nas costas e o saco de dormir enrolado debaixo do braço. Achou que lá pelas três da manhã ficaria feliz por ter levado o saco de dormir com enchimento de pluma de ganso. A noite estava nebulosa e fria".
Melhor quote: "Todo preceito moral é uma ilusão. Até as estrelas são miragem. A verdade é a escuridão, e a única coisa que importa é fazer uma declaração antes de entrar nela. Rasgar a pele do mundo e deixar uma cicatriz. É disto que se trata a história, afinal: cicatrizes".




2 Comentários

  1. não conhecia esse livro, pela resenha a leitura deve ser otima, ja quero ler tbm kkk

    tem um sorteio rolando la no blog e gostaria de convidar vc e seus leitores para paticiparem, bjus

    http://dicasdachil.blogspot.com.br/2016/04/sorteio-1-ano-de-blog-dicas-da-chil.html

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  2. Sou simplesmente apaixonado por Stephen King, (livros e filmes), tenho a maior parte.

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