Livro: A Seleção
Título Original: The Selection
Autor (a): Kiera Cass
Editora: Seguinte (Companhia das Letras)
Páginas: 327
ISBN: 8565765016
Para trinta e cinco garotas, a “Seleção” é a chance de uma vida. Num futuro em que os Estados Unidos deram lugar ao Estado Americano da China e mais recentemente a Illéa, um país jovem com uma sociedade dividida em castas, a competição que reúne moças de dezesseis e vinte anos de todas as partes para decidir quem se casará com o príncipe é a oportunidade de escapar de uma realidade imposta a elas ainda no berço. É a chance de ser alçada de um mundo de possibilidades reduzidas para um mundo de vestidos deslumbrantes e joias valiosas. De morar em um palácio, conquistar o coração do belo príncipe Maxon e um dia ser a rainha. Para America Singer, no entanto, uma artista da casta Cinco, estar entre as Selecionadas é um pesadelo. Significa deixar para trás Aspen, o rapaz que realmente ama e que está uma casta abaixo dela. Significa abandonar sua família e seu lar para entrar em uma disputa ferrenha por uma coroa que ela não quer. E viver em um palácio sob a ameaça constante de ataques rebeldes. Então America conhece pessoalmente o príncipe. Bondoso, educado, engraçado e muito, muito charmoso, Maxon não é nada do que se poderia esperar. Eles formam uma aliança, e, aos poucos, America começa a refletir sobre tudo o que tinha planejado para si mesma — e percebe que a vida com que sempre sonhou talvez não seja nada comparada ao futuro que ela nunca tinha ousado imaginar.
Após a Quarta Guerra Mundial, em um futuro não definido, o
país que conhecemos hoje como Estados Unidos já não existe mais. Ele deu lugar
a Illéa, um país monarca que possui sua sociedade dividida em castas, que vão
desde a “Um” – a realeza – até a “Oito” – que é formada por sem-tetos e
pedintes. As castas são definidas por nascimento, porém, quando a país tem um
herdeiro homem se dá início a um evento chamado de “A Seleção”. A Seleção é a
oportunidade perfeita para uma jovem subir na vida, se tornar rainha, e, de
quebra, ganhar o coração do futuro rei. O evento ocorre dentro do próprio
palácio real e é transmitido como um reality show, onde as 35 garotas
escolhidas conhecem o príncipe, e vão aprendendo como será sua vida se for a
escolhida por ele. Algumas entram na Seleção pelo dinheiro, outras almejam a
fama e o amor do príncipe – mas America Singer não queria nada disso.
America é uma adolescente da casta Cinco – composta por
artistas e cantores – e tem horror a menção da palavra realeza. Ela está mais
do que satisfeita com o futuro que acredita que terá, e não poderia estar mais
apaixonada. Aspen, com quem ela namora escondido há mais de dois anos, é um
amigo querido da família, porém, pertence a casta Seis – dos serventes – e um
relacionamento entre castas diferentes é praticamente impensável e altamente
desaprovado. A condição social dos dois – especialmente de Aspen – beira à
pobreza, e isso fica muito claro desde o início. Após uma série de acontecimentos,
o moço decide terminar o relacionamento e America acaba se inscrevendo para a
Seleção, acreditando que nunca seria uma das escolhidas. Tudo muda
drasticamente, entretanto, quando ela é selecionada como uma das 35 garotas que
irão disputar pelo coração do príncipe, e precisa largar a vida que conhece
para viver por tempo indeterminado no palácio real, cercada por regras, sujeita
a ataques dos rebeldes e, quase tão ruim quanto isso, aos ataques das outras 34
meninas onde todas estão dispostas a ir muito longe para se tornar a próxima
rainha de Illéa.
Já estava de olho no livro há algum tempo, e o motivo é
extremamente justificável: independentemente da idade, quem de nós que não se
deixa encantar facilmente por príncipes, reis e rainhas? A premissa da história
é tão boa que acho difícil não bater aquela vontade de ler, apesar de todo o
clichê aparente da trama.
A Seleção é narrado em primeira pessoa por America, que se
mostra uma narradora tremenda. Sobre a moça, é possível sentir claramente as
dúvidas, alegrias e tristezas da personagem, que tem uma personalidade única. Apesar
disso, ainda é difícil para eu decidir se gostei ou não da America, e irei
tentar explicar isso: ela é corajosa, humilde e bastante inteligente,
demonstrando uma bondade natural que conquista o leitor na hora. Consegui
acompanhar as atitudes dela depois de algumas páginas, e até mesmo concordar
com a maioria delas. Porém, em algumas partes do livro, fica difícil acreditar
em como uma pessoa tão inteligente possa ser tão obtusa. Isso acontece acerca do
fim do livro, quando a personagem tem uma crise de consciência e não sabe mais
de nada: nem o que está fazendo no palácio, nem se gosta do Aspen ou do Maxon,
muito menos se tem certeza de que pode ser uma princesa.
O livro tem um triângulo amoroso bem claro, e isso me
incomodou um pouco, apesar de já ter iniciado a leitura sabendo disso (e nunca
ter sido muito fã de triângulos). Maxon, o príncipe, é (ao contrário de tudo o
que America imaginava) um perfeito cavalheiro, atencioso e simpático. O
relacionamento dele com a ela evolui de forma sensata e verdadeira, o que foi
bastante agradável de ler. Porém, no que o relacionamento da moça com Maxon
acerta, o com Aspen peca. A autora simplesmente não conseguiu passar a emoção
que deveria, e, mesmo que mencionado várias vezes que eles são apaixonados há
dois anos, há tão pouca descrição do romance que tudo acaba se tornando
apelativo demais. A personalidade do moço também me desgostou muito: ela é
mandão, um tanto machista e possui certa arrogância, e mesmo que consegui
entender suas atitudes na trama, não consegui concordar com elas.
Kiera Cass usou com maestria alguns clichês que já sabemos
de cor, conseguindo, apesar de tudo, prender o leitor na história de um jeito
inimaginável. Eu li os dois primeiros livros da série em menos de 24 horas,
apenas porque há algo na trama que você não consegue deixar de pensar. Não é um
livro para se refletir, e, em minha opinião, é mais um romance do que uma
distopia – é claro, a política e o governo são citados, mais ainda muito vagos
nesse primeiro volume – mas serviu perfeitamente para o propósito que eu tinha
para ele: distrair-me.
Além do meu problema com a relação de America e Aspen, tenho
apenas um ponto negativo para citar sobre o livro, que é o jeito abrupto com
que ele termina. É claro que por ser uma trilogia é esperado que muito pouco da
história seja revelado de cara, mas gostaria que mais coisas tivessem sido
esclarecidas – ou acontecido! –, e o livro não ficasse tanto tempo nas indecisões
e devaneios da America.
Com personagem simples, uma boa trama e bastante romance,
Cass conseguiu criar um exemplo perfeito de “livro chiclete” – o tipo de livro
que não tem a melhor narração nem os melhores personagens, mas é apenas
impossível de largar. É um livro com sentimentos abundantes, descobertas e
paixão, e recomendo a todos que desejam se perder – nem que for por algumas
horas – a esse mundo no estilo de contos de fadas.
Primeiro parágrafo do livro:
"Minha mãe entrou em êxtase quando pegamos a carta no correio. Ela já tinha decidido que todos os nossos problemas estavam solucionados, tinham desaparecido para sempre. O grande empecilho em seu plano brilhante era eu. Eu não me considerava uma filha muito desobediente, mas também não era uma santa.Não queria ser da realeza. Não queria ser Um. Não queria nem tentar."
Melhor quote:
"Eu não vou lutar. Meu plano é aproveitar a comida até me expulsarem."