Livro: Juntando os Pedaços
Título Original: Holding Up The Universe
Autor (a): Jennifer Niven
Editora: Seguinte
Páginas: 392
ISBN: 9788555340246
Sinopse: Jack tem prosopagnosia, uma doença que o impede de reconhecer o rosto das pessoas. Quando ele olha para alguém, vê os olhos, o nariz, a boca… mas não consegue juntar todas as peças do quebra-cabeça para gravar na memória. Então ele usa marcas identificadoras, como o cabelo, a cor da pele, o jeito de andar e de se vestir, para tentar distinguir seus amigos e familiares. Mas ninguém sabe disso — até o dia em que ele encontra a Libby. Libby é nova na escola. Ela passou os últimos anos em casa, juntando os pedaços do seu coração depois da morte de sua mãe. A garota finalmente se sente pronta para voltar à vida normal, mas logo nos primeiros dias de aula é alvo de uma brincadeira cruel por causa de seu peso e vai parar na diretoria. Junto com Jack. Aos poucos essa dupla improvável se aproxima e, juntos, eles aprendem a enxergar um ao outro como ninguém antes tinha feito.

Jennifer Niven é autora de quatro romances para adultos - American Blonde, Becoming Clementine,Velva Jean Learns to Fly e Velva Jean Learns to Drive -, três livros de não ficção - The Ice Master, Ada Blackjack e The Aqua Net Diaries -, um livro de memórias sobre suas experiências no ensino médio e Por Lugares Incríveis, best-seller do New York Time. Apesar de ter sido criada em Indiana, hoje vive com o noivo e três gatos em Los Angeles, seu lugar preferido para andanças.

   Todo mundo acha que conhece Libby Strout, a garota apelidada pela mídia de Adolescente Mais Gorda dos Estados Unidos. Mas ninguém se deu o trabalho de enxergar além de seu peso e conhecer quem ela realmente é. Desde a morte de sua mãe, Libby passou um bom tempo dentro de casa, lidando com o luto do pai e com seu próprio sofrimento. Mas agora ela está pronta para encarar o ensino médio, aprender a dirigir, fazer novos amigos, talvez até se apaixonar. Num ambiente cheio de rótulos e panelinhas, ela já sabe qual papel quer interpretar: o da garota que pode e vai fazer qualquer coisa.
   Da mesma forma, todos acham que conhecem Jack Masselin. O garoto tem estilo e atitude, circula entre todos os grupos, é popular entre os colegas. Mas Jack guarda um segredo: ele não consegue reconhecer o rosto das pessoas. Até os irmãos e os pais são estranhos para ele. Seu próprio rosto no espelho é irreconhecível. Para tentar, no mínimo reconhecer as pessoas, Jack precisa decorar o jeito de andar de cada um, os gestos, a voz ou qualquer outra marca identificadora. Seu principal passatempo é desmontar e construir coisas no porão de casa, mas ele não consegue entender o funcionamento do próprio cérebro. 
   Então, para se defender, Jack é simpático com todo mundo, sorri e acena para qualquer um... sem nunca desenvolver uma relação profunda com ninguém. Um dia, o garoto se sente pressionado pelos amigos a fazer uma pegadinha horrível com Libby, e os dois são mandados para a sala da diretora. A sentença? Dias de detenção e terapia em grupo, para ambos. Entretanto, quanto mais tempo passam juntos, menos Jack e Libby se sentem sozinhos. E o que começa como uma punição logo se torna uma amizade e talvez algo mais... Mas Jack e Libby só estarão prontos para um relacionamento quando tiverem curado suas próprias cicatrizes, da mesma forma que só me encontrei pronto a fazer essa resenha três meses após a leitura. Juntando os Pedaços, em suma, é um livro simples, mas é extremamente sensível e poderoso. Qualquer um, após ler, terá dificuldade em juntar seus próprios pedaços  — ou não!

"Às vezes as pessoas simplesmente fazem merda. Às vezes porque estão com medo. Às vezes elas escolhem fazer merda com os outros antes que possam fazer merda com elas. É uma forma de autodefesa de merda."

   Se a Gabi disse, ao resenhar Por Lugares Incríveis, que havia pensado que o mesmo se tratava apenas de um livro interessante, mas um tanto comum, para logo após terminar a leitura concluir que ele é sobre tão mais do que isso, nem consigo imaginar a reação dela ao ler Juntando os Pedaços. Jennifer Niven mostrou para que veio. Ela não quer simplesmente escrever. Não deseja apenas vender suas obras. Não quer apenas tratar de temas profundos, com uma história de romance e superação. É muito mais do que isso. Ela quer tocar, de modo que as palavras faltem e os sentimentos transbordem. 
   Mergulhei de cabeça em Juntando os Pedaços da mesma forma como fiz em Por Lugares Incríveis — nem sei qual dos dois eu gosto mais, para ser sincero. Antes de ler, eu dei uma olhada em algumas resenhas no Skoob, apenas para confirmar minhas suspeitas: a grande maioria dos leitores amaram o livro, se sentiram transformados e satisfeitos, tal como aconteceu quando leram a história de Violet e Finch. A literatura jovem adulto sempre me agradou bastante, não por questões de faixa etária, mas pelo conteúdo profundo que geralmente traz. Você inicia a leitura sem pretensão alguma e quando se dá conta já está lendo há várias e várias horas, sorrindo, chorando e sem conseguir parar de pensar na obra. É mais ou menos isso que acontece quando se lê Juntando os Pedaços, e é impossível, ao terminar a leitura, você ser o mesmo de quando iniciou.
   Da mesma forma que acontece em Por Lugares Incríveis, a narração é em primeira pessoa e é alternada, sendo que Jack narra um capítulo, e outro Libby. Esse tipo de estrutura nos permite ter uma visão mais ampla das escolhas, sentimentos, decisões e pensamentos dos personagens, contribuindo ainda mais para o excelente dinamismo do livro. Nos momentos mais emotivos e profundos, parece que os personagens estão conversando diretamente com o leitor. A escrita de Niven é, literalmente, deliciosa. São 400 páginas, mas é verdadeiramente possível realizar a leitura em um único dia, já que a autora dá espaço para os diálogos, centraliza a trama e dá um ritmo mais frenético, que envolve o leitor de uma forma totalmente indescritível, mas facilmente sentida.
   Niven foi genial ao desenvolver Por Lugares Incríveis e, de forma atípica, foi igualmente incrível em Juntando os Pedaços, que apesar de não possuir uma escrita melodiosa, quase poética, não fica devendo nada para o young adult anterior da autora, que ganhará muito em breve uma adaptação para as telonas. Na Carta ao Leitor, que introduz a obra, Niven deixa claro que a mensagem que tem escrito para os leitores de Por Lugares Incríveis é que alguém gosta deles, que eles são necessários e, principalmente, amados. É exatamente neste momento que somos capazes de compreender o quão importante são seus dois livros —  principalmente Juntando os Pedaços, que é sobre ser visto, algo que vem de uma história pessoal da autora, do medo, da dor que ela mesmo sentiu ou que pessoas próximas a ela sentiram. 

"Desligo e digo para meu tatata-sei-lá-quanto-avô:
— Não julgue um homem sem antes se colocar no lugar dele."

   Juntando os Pedaços também vem da perda do pai que a autora sofreu apenas alguns meses depois da perda do namorado — quando ela se fechou completamente e não conseguiu sair de casa porque o mundo era muito assustador — e de quando teve de encarar novamente este mundo e ter que entender seu lugar nele. Para compor da melhor forma possível, Niven criou personagens que parecem tão reais quanto nossos melhores amigos — talvez até mais. Muitos afirmaram odiar o final porque foi naquele estilo John Green de "vou acabar do nada", mas eu sei que no fundo é total e puramente saudade dos dois protagonistas. Todos ficam querendo mais e mais deles, claro. Apesar de não ter me incomodado com o final — já que a autora não deixou pontas soltas, e, sim, coisas que nós mesmos somos capazes de deduzir —, confesso que ficaria extremamente feliz com um epílogo. 
   Jay Asher, autor de Os 13 Porquês, disse que nunca se apaixonou tão rápido pelos personagens de um livro como por Libby e Jack e finalizou dizendo que Juntando os Pedaços é um belo lembrete do poder da compreensão. A bem da verdade, faço minhas as suas palavras. A trama do livro é extremamente centralizada nos dois protagonistas e personagens secundários aparecem, claro, mas raras são as vezes em que isso acontece. Ambos os protagonistas são muito bem construídos, mas cada um chama atenção por motivos diferentes. 
   Libby, com sua personalidade marcante e inspiradora, está ali para mostrar que gordas também podem ser protagonistas, bonitas e que a vida nos livros nem sempre tem de ser perfeita. Jack está em Juntando os Pedaços por um motivo ainda maior, trazendo um personagem negro a um universo onde olhos azuis, cabelo loiros e pele branca é que são recorrentes e quase característicos do gênero, e, assim como Libby, nos mostrando que não adianta se afogar em livros tentando fugir da realidade. Ela sempre estará por aí, pronta pra te dar um tapa na cara.

— Você não vai se atrasar... Eu só queria... Tem certeza de que vai entrar com essa bolsa, maninho?
(...)
— Se eu quiser usar bolsa, vou usar. Não vou deixar de fazer isso porque os outros podem não gostar.

   A edição do livro, lançado pela Editora Seguinte, é extremamente linda e traz uma atmosfera de boas vibrações, exatamente o que encontramos no livro. Adorei a capa — mantida a original dos EUA — e acredito que, de uma maneira bem abstrata, ela consegue representar bem as nuances da obra. A diagramação e o design interno seguem os padrões encontrados em Por Lugares Incríveis: simples, porem bonitos. A Seguinte, como sempre, não deixou a desejar em nenhum ponto.
   Uma coisa que venho aprendendo com leituras como a de Juntando os Pedaços é como é importante estarmos conscientes do modo como tratamos os outros. De certa forma parafraseando o que disse Jay Asher (Os 13 Porquês) em uma entrevista, mesmo que alguém pareça ignorar um comentário casual ou não se deixar afetar por uma brincadeirinha — de muito mal gosto, inclusive —, é impossível saber tudo o que se passa na vida daquela pessoa e o quanto podemos ampliar sua dor. Acreditem, cada um de nós tem impacto na vida dos outros e jamais devemos nos esquecer disso. Usem as palavras para curarem magoas e feridas, para contar a vida, mas jamais para destruir sentimentos.
   Em Juntando os Pedaços, livro que vai tratar de inúmeros temas recorrentes e esbanjar conteúdo, Jennifer Niven narra uma história de amor e ao mesmo tempo comovente e divertida, sobre encontrar alguém que te enxerga como você realmente é — e sobre como conseguir enxergá-la de volta. Junte um pedaço de amizade com outro de autoaceitação, mais outro de amor e ainda um de esperança e você terá a história de Libby e Jack. Todos precisam ler, urgentemente. Eu recomendo!

Primeiro Parágrafo: "Não sou uma merda, mas estou prestes a fazer merda. Você vai me odiar, outras pessoas vão me odiar, mas vou fazer isso mesmo assim, para proteger você e a mim mesmo." 
Melhores Quote: "A vida é muito curta para julgar. Não é a sua função dizer aos outros o que sentem ou quem são. Por que não dedicar todo esse tempo a si mesma? Não sei quem você é, mas posso garantir que tem algumas questões que poderia trabalhar. (...) Quanto aos outros, lembrem-se: alguém gosta de você. Grande, pequeno, alto, baixo, bonito, comum, simpático, tímido. Não deixei ninguém dizer o contrário, nem você mesmo. Principalmente você mesmo."
"Bailey não precisa responder, porque não existe resposta. Só que apenas as pessoas pequenas — pequenas por dentro — não aguentam o fato de alguém ser grande."
"(...) talvez não seja muito inteligente queimar pontes quando se está numa ilha."
"Nunca sabemos quanto tempo ainda temos. O amanhã não está garantido. Talvez eu morra agora mesmo, bem aqui."
"— As pessoas podem ser ótimas, mas também podem ser péssimas."
"Mas a vida fora de casa é assim: a gente nunca sabe o que pode acontecer."
"Muitas pessoas neste mundo acham que o pouco que fazem é o máximo possível".




Um Comentário

  1. Adorei a resenha. <3
    Pelo visto Jennifer Niven sempre surpreende.
    Ansiosa para ler o livro.

    Bjos.

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