Sinopse: Sara tem 28 anos e nunca saiu da Suécia — a não ser através dos (vários) livros que lê. Quando sua amiga Amy, uma senhora com quem troca livros pelo correio há anos, a convida para visitá-la na cidade de Broken Wheel, Iowa, Sara decide se aventurar. Mas ao chegar lá, descobre que Amy faleceu. Sara se vê desacompanhada na casa da amiga, em uma cidade muito pequena, e começa a pensar que talvez esse não seja o tipo de férias que havia planejado. Com o tempo, Sara descobre que não está sozinha. Nessa cidade isolada e antiga, estão todas as pessoas que ela conheceu através das cartas da amiga — o pobre George, a destemida Grace, a certinha Caroline e Tom, o amado sobrinho de Amy. Logo Sara percebe que Broken Wheel precisa desesperadamente de alguma aventura, um pouquinho de autoajuda e talvez uma pitada de romance. Resumindo: a cidade precisa de uma livraria.
A relação de Sara com os moradores de Broken Wheel vai se desenvolvendo aos poucos, cada qual a sua maneira. Mas sua relação com o sobrinho de Amy, Tom, não é das melhores. De início, a moça se dá conta que ele não é um homem muito fácil de se lidar, e também que ele não parece ir muito com a cara dela. Porém, os outros habitantes da cidade não parecem perceber isso, já que sempre tentam juntar os dois a cada oportunidade. Com o passar do tempo, Sara vai se adaptando a nova vida na cidade, abre uma livraria na qual ninguém põe fé, e se torna mais sociável chegando até a adiar algumas leituras para passar o tempo na companhia de seus novos e excêntricos amigos. No final das contas, Sara passa a ver que não apenas a cidade a está transformando, mas ela também está transformando a cidade — e tem um objetivo para si: fazer com que os moradores de Broken Wheel comecem a ler livros.
O que mais me instigou no livro logo de início foi o fato de ele falar sobre livros. Um livro que fala sobre o poder mágico que os livros podem ter nas pessoas é sempre motivo de curiosidade, e claro, expectativas altas, já que é um assunto que exige atenção, afinal, a responsabilidade é grande. Então a identificação com os pensamentos postos no enredo a respeito da maravilha que é ler um livro, folhear suas páginas, a sensação gostosa de entrar em uma livraria e se sentir em outro mundo, o sentimento que se tem por um livro com uma história especial, e, o que não poderia faltar, o cheiro que das páginas impressas. Todos esses elementos, junto à uma história leve, divertida, e ao mesmo tempo emocionante, formam um cenário de perfeição.
A escrita de Bivald é clara, fluida e rica em detalhes. A livraria dos finais felizes tem a magia de nos transportar para o cenário, sendo cada pedacinho de Broken Wheel bem explorado, assim como seus moradores — mas na medida certa, nada fatigante. Para quem já leu Nicholas Sparks e seus romances que se passam em pequenas cidades, pode entender melhor do que estou falando. É exatamente assim que acontece com a descrição de Broken Wheel e seus personagens cheios de hábitos e personalidades próprias. Mas as comparações param por aí, pois se trata de uma obra com grandes toques de originalidade e, visivelmente, feita com muito amor.
A narrativa se passa em terceira pessoa e tem como foco principal a protagonista. Mas também há capítulos em que os pensamentos e cotidianos de outros personagens também ficam em evidência, no entanto, de forma mais superficial do que ocorre com Sara, a quem os capítulos são mais dedicados. No início da maioria dos capítulos, há amostras das cartas que Amy mandou para Sara, desde quando a troca de livros entre as duas começou até a última que Amy lhe enviou antes de falecer. Tudo isso dá um toque muito emocional ao livro e pode ajudar o leitor a unir certas peças.
"Para mim, o terrorismo ainda é a imagem de homens brancos, ativos na sociedade, parados diante do corpo queimado e linchado de um negro, felizes com o resultado do trabalho deles. John diz que penso demais nas injustiças históricas. Talvez esteja certo, mas é que para mim elas não são históricas. Parece que nunca conseguimos aceitar nossa responsabilidade por elas. Primeiro, dizemos que é assim que as coisas são, depois damos de ombros e dizemos que era assim que as coisas eram e agora elas estão diferentes. Não graças a nós, quero responder, mas ninguém parece querer ouvir isso" (pp. 99-100).
"Embalagens de cigarro vinham com avisos, por que livros trágicos não podiam ter? Havia frases nas garrafas de cerveja para avisar que ninguém devia beber e dirigir, mas nenhuma palavra sobre as consequências de ler livros sem lenços à mão" (p.131).
Primeiro parágrafo: "Querida Sara, espero que goste de An Old-Fashioned Girl, de Louisa May Alcott. É uma história encantadora, apesar de um pouquinho mais moralizante que Mulherzinhas".
Melhores quotes: "Era engraçado, pensou, como as pessoas sempre se mantinham no caminho mais seguro, se fechavam e mantinham os olhos no chão, fazendo o melhor que podiam para não olhar para a vista fantástica da vida. Como não viam as alturas a que haviam chegado, as oportunidades que as esperavam, não percebiam que deviam apenas pular e voar, pelo menos por um instante".
"O que havia de tão interessante na realidade? [...] Com os livros, ela podia ser quem quisesse, estar onde quisesse. Podia ser durona, bonita, charmosa, dizer a frase perfeita no momento perfeito e... viver coisas. Coisas reais. Que aconteciam com pessoas reais".
Adorei a resenha!
ResponderExcluirO livro parece ser legal.