Livro: Zen socialismo – Os melhores posts do blog "Socialista Morena"
Autor(a): Cynara Menezes
Editora: Geração Editorial
Páginas: 238
ISNB: 978-85-8130-336-9
Sinopse: Uma blogueira que resiste aos preconceitos e ataques da internet e põe o dedo em muitas feridas. Brasileira por sua visão corajosa e de futuro, ZEN SOCIALISMO (Os melhores posts do blog Socialista Morena), de Cynara Menezes, reúne o que de melhor essa jornalista que prega a necessidade de uma nova esquerda no país escreveu em sua peregrinação ao mesmo tempo lúcida, denunciadora e bem-humorada pelos problemas, paranoias, fobias, absurdos ideológicos, retrocessos e baixezas da direita brasileira (e de seus adeptos mal informados) pela internet. 

    Cynara Menezes, nascida na pequena Ipiaú – região cacaueira da Bahia –, formou-se em jornalismo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) aos vinte anos de idade, e desde então, perambulou pelas principais redações de jornais e revistas do país, como CartaCapital, Veja, Folha de S. Paulo, etc., até conquistar a independência profissional graças ao seu blog "Socialista Morena", uma experiência inovadora, financiada pelos leitores e acompanhada por mais de 50 mil seguidores no Facebook. Agora, seus melhores posts se converteram num livro disposto a mostrar um resumo da visão desta talentosa escritora.
       Nos tempos em que vivemos uma crise política no Brasil, o blog Socialista Morena, escrito por Cynara Menezes, consegue tocar no âmbito de uma ideologia cujos principais preceitos estão claramente sendo avacalhados pela nossa política, com distorções em todos os lados e com pretensões em cumprir seu principal papel: servir ao povo. Esta ideologia é a do socialismo. Desde as primeiras teorias de Marx até as atuais revoluções, o socialismo se modernizou e acrescentou em si novas lutas, cada vez mais vistas perante a sociedade – quer ela concorde, quer não.
     O socialismo, na sua forma mais limpa e prudente, é adotado por Cynara como algo maior que qualquer partido ou regime – é uma forma de ver o mundo, de viver, de se relacionar. Com textos curtos de diferentes temas – que passam sobre coisas pessoais da vida da autora a assuntos que rodam as bancadas políticas: como legalização do aborto, da maconha e do casamento gay – recheados de humor e leveza, bem ao estilo dos blogs atuais direcionados ao público jovem, ela consegue passar a sua imagem de uma "nova ideologia" – um socialismo zen, aberto, livre, sem amarras de ditadores (como vemos em muitos exemplos ao longo da história) ou de qualquer tipo de censura.
       Sem se desprender da sinceridade, todos os temas são tratados com simplicidade, mostrando como é fácil se enturmar no jeito de pensar da autora e compreender como ela também acabou entrando nesse mundo e adquirindo uma nova visão sobre todas as coisas. Nunca se esquecendo de suas origens, a baiana passa para os leitores todas as suas influências, e mostra que, no mundo atual, a imparcialidade jornalística não é produtiva, por mais que pareça conveniente. Ela deixa claro que ainda acredita na igualdade da nossa nação, mas sem tirar os pés do chão.

"Enquanto houver miséria e desigualdades no mundo, sempre haverá um socialista para criticar o sistema e sonhar com outro mundo possível, onde todos tenham o que comer, o que vestir e oportunidades verdadeiramente iguais" (pág. 44).

        Não conhecia amplamente o trabalho de Cynara Menezes. Mas me interessei instantaneamente quando vi que falava sobre socialismo. Confesso que sempre tive "um pé" nessa ideologia, e sou suspeita para falar que seria um regime ideal para nosso mundo atualmente "globalizado-vulgo-alienado". Embora para mim, ainda sejam ideias repletas de utopias, não é todo dia que temos acesso a algo tão puro e cru que fala sobre socialismo e comunismo. Nossa vivência é tão direitista que esquecemos que há outra porta bem ao lado – e nada nos lembra.
       O gênero de Jornalismo Político também acendeu minha curiosidade, pelo desejo que tenho que tenho de seguir esse rumo como carreira. Visões de diferentes jornalistas são lidas, vistas e ouvidas todos os dias. Mas, com o tempo, fica aquela sensação tal qual descreve a música, da minha banda preferida, aliás: "Eu presto atenção ao que eles dizem, mas eles não dizem nada" (Engenheiros do Hawaii, Toda forma de poder). Ter acesso a algo inovador é instigante. E por isso mesmo, é uma chama que, automaticamente, deveria se acender também no coração de todo brasileiro.

    Em cada texto, um pouquinho da percepção da autora nos é apresentada. Às vezes, em formas de poemas que a inspiraram para que se tornasse socialista, outras, foram copiadas de textos já existentes de personalidades conhecidas (como Alice B. Toklas, Jean-Paul Sartre, Papa Francisco, Paul Lafargue, entre outros), além de entrevistas feitas por ela mesma ou por outros jornalistas e escritores conhecidos (ilustres como Georges Simenon e H.G. Wells). Tanta diversidade de linguagens – lembrando que foi tudo retirado de um blog de opinião informal – que é contida num só capítulo, dá à leitura um dinamismo reconfortante.
  
"Sinto o peso do mundo sobre meus ombros, penso sobre a capacidade humana de estragar ideias extraordinárias, a possibilidade de um mundo novo, por causa da inveja, do desejo de poder, da vaidade".
        O que foi mais comovente em termos de tratar a respeito de um assunto que pode ser delicado para quem tem um pensamento forte e conservador direitista já formado, foi que o livro, mesmo em sua parcialidade bem clara e com seu lado bem definido, ainda conseguiu propagar a questão essencial do socialismo: dar voz. Mesmo aqueles que discordam totalmente da visão da autora, tiveram sua liberdade de expressão em seu blog, e ela passou isso para a obra publicada. É o exemplo de uma entrevista com uma jornalista cubana, que viveu poucas e boas sob o regime de seu país, que por sua vez, reprime justamente essa liberdade.
      Chama a atenção o fato de que não há modelos nos quais se basear. Nada de um verdadeiro socialismo foi visto no mundo. Tudo isso torna o modelo ainda mais utópico do que já parece. Mas não há utopia na forma em que a autora vê esse ideal – mesmo ainda crendo numa democracia nata instalada em meio ao regime que sonha –, ela é centrada, encara as coisas com o maior realismo possível e admite que nosso país ainda está distante de acabar com suas diretrizes que instauram a desigualdade e a intolerância.
       Há algo que comumente observo em nosso meio político: a crítica ao governo sempre exacerbada, mas possibilidades de inovação em conjunto com reais soluções sempre escassas. Foi o que infelizmente notei no livro. Não é possível instaurar um socialismo? Como ter um solução para os problemas com o capitalismo? Será que devemos seguir o exemplo da Rússia e destruir tudo para só depois tentar construir algo novo? – Inúmeras questões que apontam certa precariedade na obra.
       Ficou claro que o intuito era dar voz a alguém que estivesse do lado oposto ao qual a correnteza nos leva. Mas com todo o concretismo tratado ao longo do livro, faltou preencher lacunas que dessem aos leitores encantados com essa visão revolucionária, uma esperança, um ponto por onde começar a lutar por estas ideias e pela forma como elas podem ser aplicadas. Resta-nos apenas pôr em prática tudo o que sonhamos nos livros, em textos de blogs, em redações, em pequenas atitudes? Acredito que o caminho terá que ser descoberto individualmente.

"O povo não participa do 7 de setembro porque não se sente parte dele. É como no célebre quadro de Pedro Américo: militares ao centro e o povo passivo ao redor […] Amar o Brasil não é isso, é outra coisa. D Pedro I não me representa. Os tanques nas ruas não me representam. O 7 de setembro não me representa". 

        Todo o trabalho visual do livro está de parabéns. Desde a capa à diagramação, ficou tudo perfeitamente impecável, bem como a revisão de texto. A capa, com a conjunção de vermelho e amarelo, remetendo à bandeira comunista; e a diagramação feita com base no fato de que os textos da obra foram retirados de uma rede social, o que rendeu símbolos como as hashtags ao longo das páginas e o efeito com as letras quadradas com destaques produziam.
       Zen Socialismo possui tudo o que é necessário para ser considerado um livro de base para o socialismo/comunismo na contemporaneidade. No comentário feito por Jean Wyllys  a respeito do livro, que é citado no verso, ele deixa sua visão de que foi especialmente feito para o público mais jovem. Compartilho da mesma opinião. Como jovem, me foi um livro bastante atrativo e ao mesmo tempo, informativo. É totalmente recomendado para quem busca ter uma real visão sobre essa ideologia tão distorcida no mundo atual, para quem quer ter um novo ideal pelo qual lutar ou até mesmo para quem já é simpatizante de tais ideias. Ele pode ter a capacidade de aprofundar o leitor em seus próprios pensamentos e princípios. E para isso, ter uma mente aberta e plenamente satisfeita de passar por mutações, é essencial.

Primeiro parágrafo: "Meu muro pessoal ruiu em 1989, quando Leonel Brizola foi derrotado na eleição para presidente da República, e, logo em seguida, Lula também perdeu. Não foi fácil digerir aquela derrota da classe trabalhadora, e justamente na primeira eleição direta para presidente após a volta da democracia no Brasil. Perder logo para um capitalista empedernido como Fernando Collor, com seu jet ski, suas canetas e gravatas de marca e sua turma de Chicago Boys liderada por uma Chicago Girl deixou marcas profundas".
 Melhores quotes: "Ser socialista, para mim, não significa necessariamente estar ligado a um partido político que se diz socialista. Nem mesmo alcançar o poder, mas atuar como uma consciência coletiva, ainda que fora dele, um contrapeso na busca por mais equilíbrio no mundo".
"Perder ou ganhar está mais no olhar do outro do que no nosso próprio. Para mim é um vencedor aquele que chora, vacila, teme, cai e corajosamente admite e novamente ri, avança, supera e levanta. A vida é mais verdadeira neles".

                                                               


Um Comentário

  1. Miga, isso não é socialismo, isso é social-democracia travestido de socialismo pra vender. Socialismo é a ideia de socialização dos meios de produção e o poder do Estado na mão dos trabalhadores. Já o comunismo é uma sociedade sem Estado, igualmente dirigida pelos trabalhadores. Lê Alexandra Kollontai, procura no marxists.org, lê o próprio Marx... assim você vai ficar muito mais ambientada com o que é comunismo/socialismo. Acredite, não é isso que Cynara quer passar, Cynara defende um estado de bem-estar social, Keynes estaria orgulhoso.

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