Livro: As Aventuras de Pi
Autor (a): Yann Martel
Editora: Nova Fronteira
Páginas: 372
ISBN: 9788520933107

Sinopse: Um dos romances mais importantes do século, As aventuras de Pi é uma narrativa singular de Yann Martel que se tornou um grande best-seller. O livro narra a trajetória do jovem Pi Patel, um garoto cuja vida é revirada quando seu pai, dono de um zoológico na Índia, decide embarcar em um navio rumo ao Canadá. Durante a viagem, um trágico naufrágio deixa o menino à deriva em um bote, na companhia insólita de um tigre-de-bengala, um orangotango, uma zebra e uma hiena. A luta de Pi pela sobrevivência ao lado de animais perigosos e sobre um imenso oceano é de uma força poucas vezes vista na literatura mundial.


Com um filme que rendeu o maior número de Oscars em 2013, As Aventuras de Pi se tornou um livro cobiçado por muitos. Mas o que há de especial nessa história aparentemente simples de um naufrágio? O que há de interessante em um indiano com um nome peculiar e um tigre-bengala faminto? Confira análise crítica (cuidado! Contém spoilers) a seguir e saiba o que torna essa história tão marcante.

    Piscine Molitor Patel sempre foi um garoto inteiramente peculiar. Sua visão de mundo era diferenciada em relação aos outros meninos de sua idade. Já criança, pretendia fazer parte de várias crenças religiosas, tirando proveito de cada uma delas e ignorando completamente suas rivalidades. Ele também interpretava os animais de forma diferente, principalmente por ter um contato completo com eles no zoológico que seu pai mantinha na Índia.
    Em um dado momento de sua infância, seu pai arriscara mostrar um tigre para os filhos. Como forma de ensinamento, jogou uma cabra para dentro da jaula e obrigou-os a ver o felino atacando sua presa. A partir desse momento Piscine – ou, melhor, Pi – compreendeu a natureza selvagem dos animais e tratou sempre de se manter vigilante.
    Quando os negócios do pai ficaram ameaçados, Pi recebeu a notícia de que se mudariam para o Canadá, junto com vários animais do zoológico que foram requisitados para tal região do mundo. Embarcados em um cargueiro Japonês, na companhia de outros tripulantes e marujos, nosso protagonista notou que a embarcação, repentinamente, estava afundando, e por sorte, consegue um bote para se salvar. O bote, contudo, não era comum: dentro dele, além do próprio Pi, estavam abrigados um tigre, uma hiena, e uma zebra machucada. Ninguém mais sobreviveu ao acidente, a não ser esse animais selvagens.
    Depois de um tempo, um orangotango à deriva também adentra o bote e então essa pequena embarcação se transforma em um habitat no qual várias espécies se enfrentam para a sobrevivência.
    Pi assiste em sua frente os animais mais fracos morrerem, e, então, percebe que está sozinho com um dos maiores predadores do mundo. No final dessa luta entre animais, quem sobrara fora somente o tigre-bengala apelidado de Richard Parker, e esse menino indiano, magro, vegetariano, fraco e sensível. Quem venceria essa batalha?



    As Aventuras de Pi é mais que um simples história de um naufrágio. A essência desse livro não está em seu enredo, nem em sua narração, mas em seus personagens – sejam eles humanos ou não – e na sua simbologia.
    O livro é constituído por 369 páginas e dividido em três partes. Na primeira parte, Yann Martel, o autor, é mais focado na personalidade de Pi, enquanto, na segunda parte, o naufrágio é narrado. E então, na terceira parte, nos é apresentada a situação de Pi depois de ter sobrevivido ao acidente e ter sido salvo.
    Trata-se de um livro profundo, quiça filosófico, que abrange detalhes que fazem uma diferença enorme para assimilação da mensagem que o livro pretende passar ao leitor. A narração é em primeira pessoa, em forma de relato e foi muito bem utilizada para expressar sentimentos que são bem fortes e freqüentes nessa obra. Já os personagens, que na introdução da obra são inúmeros, vão tornando se, no decorrer do livro, poucos. Convivemos mais com o protagonista e o tigre-bengala, no final das contas.

“ Dos pares de opostos, o pior é o tédio e o terror. Às vezes, a nossa vida parece um pêndulo oscilando entre eles.[...]"
   
     Percebi que o livro era incrivelmente profundo logo em seu início, quando, de uma forma quase monótona – porém, ainda sim importante e cheia de conteúdo – a infância e adolescência de Pi foram contadas. Apreciei a narração pelo fato dela apresentar críticas relevantes ao leitor. Logo de cara, temos uma chuva de informações, argumentos e reflexões filosóficas. Isso me manteve na leitura, curiosa com a mensagem geral que As Aventuras de Pi gostaria de transmitir.
    Na segunda parte do livro, embarcamos enfim na história do acidente. Fiquei aflita com os detalhes brutais apresentados pelo protagonista, pela natureza selvagem que pouco conhecemos. O autor simplesmente não poupou o receptor da verdade e da ferocidade do mundo. Emocionei-me junto com Pi, quando ele não tinha mais esperanças ou quando ficava inteiramente sem rumo. Foi nesses momentos que as frases mais bonitas e interessantes do livro se fizeram. 
        O autor utilizou muito de artifícios para tornar a leitura leve, fluida e conquistadora. O recurso que mais admirei foi o jogo de tempo. Yann Martel foi esperto ao fazer o tempo totalmente relativo, explicando cada fato de maneira singular. Em um capítulo, era descrito como Pi conseguia seus alimentos; em outro capitulo, como ele lidava com o tigre, e, no seguinte, como o clima piorava – ou ajudava – em seu naufrágio. Foi dessa forma geral que o livro se tornou pequeno e interessante: afinal, Piscine ficou mais de duzentos dias em alto mar, portanto, não seria cabível Martel narrasse dia após dia.
   Creio ser extremamente admirável o fato de os animais serem tão concretos e cheios de personalidade. Eles foram produzidos de um modo muito inovador, como se fossem mais próximos dos humanos do que realmente são, e ao mesmo tempo, instintivos e perigosos. O próprio Pi foi um personagem muito especial e marcante, pela sua sensibilidade e suas convicções.

“O alto atrai o baixo e o baixo atrai o alto. [...] Quanto mais baixo cairmos, mais alto nossa mente vai querer voar.”
     
     Contudo, as muitas das cenas desse livro soam ser extremamente fictícias (e acredito ser essa a intenção!). É como se você soubesse que a probabilidade do que foi apresentado acontecer fosse tão pequena que notasse, portanto, que se tratava de um simbolismo. Tudo o que você “enxerga” não é o que parece. Havia todo um contexto por trás, outras interpretações. Tudo era uma metáfora.
    Então, isso significa Pi não ficou à deriva com um tigre? Talvez. Que ele jamais encontrou uma ilha mortal? Talvez. Não há como saber qual interpretação é a verdadeira nesta história. Cabe você decidir.
    O livro tem uma estética incrivelmente bela e uma diagramação perfeita. Parabenizo a Editora Nova Fronteira pelo sucesso da publicação. A fonte da letra é satisfatória, assim como as páginas amareladas. A capa é simplesmente magnífica, tirando o fato do "selo" estragar sua majestosidade.
    É um livro que traz ensinamentos bonitos, critica nossas atitudes comparando-as – de forma indireta – à dos animais; que tem profundidade e faz diferença em nossa vida. É uma leitura única e especial. Indico à todos que tem facilidade de compreender a filosofia, que aprecia filmes complexos e gosta de refletir. Se, entretanto, histórias profundas demais e cheias de simbolismos não é seu estilo favorito, acredito que a leitura não seja para você — é claro, porém, que sempre podemos nos surpreender.

Primeiro Parágrafo: 
“O sofrimento me deixou triste e melancólico.”
Melhor quote:
 “Preciso dizer uma coisa sobre o medo. Ele é o único adversário efetivo da vida. Só o medo pode derrotá-la. É um adversário traiçoeiro, esperto...”

 

 


6 Comentários

  1. Fico feliz de não ter lido sua resenha antes de ler o livro, estragaria toda a graça da coisa. Sei que quando a gente se empolga com um livro fica difícil não falar tudo sobre ele, mas a gente tem que se segurar um pouco né? Enquanto lia, eu não imaginava que a história do Pi pudesse não ser real. Talvez uma ou outra coisa eu desconfiasse, mas ainda existia a hipótese dele estar delirando. Se tivesse lido sua resenha antes de ler nem pensaria no tigre, já ia saber que era só uma metáfora. Desculpa a grosseira, só não acho justo com um leitor enche-lo de spoilers quando ele devia estar lendo uma resenha.

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  2. Oi flor!
    Mil desculpas, eu realmente esqueci de colocar esse texto como "Análise Crítica", o que já explicaria muita coisa de sua característica minuciosa, explicativa e direta, certo? rsrs
    Erro meu não ter avisado que contém spoilers. Agora já arrumei! Obrigada pelo apontamento :D

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  3. Eu ja assiti o filme, AS AVENTURAS DE PI, e achei espetacular, ate hj ainda não entendi a realidade do filme, se foi realmente real ou se foi um sonho
    achei maravilhosa a imagem da Ilha com os peixes vaondo e ler este livro vai significar muito, pois quem sabe tiro as duvidas que o filme me deixou

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  4. Um ótimo livro na minha opinião! O que me deixou decepcionado foi o final, nutri esperanças de que seria melhor. Mas eu esperava o que, algo irreal como um tigre realmente demonstrar afeto ao protagonista? haha Mas enfim, um ótima resenha. Bem detalhada, enfim, perfeita!

    http://decidindose.blogspot.com/

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  5. Essa é a história perfeita sobre acreditar ou não em deus(es), religiosidade, sentido da vida e natureza humana x dogmas religiosos. Agrada a ateus, cristãos, mulçumanos, hinduístas e porque não dizer crentes de todas as religiões (exceto os fundamentalistas de cada pensamento filosófico ou religioso). Eu, niilista, neatzscheano, agnóstico ateísta, agradei-me mais ainda. Admirei o aspecto poético da crença e mesmo com toda essa emoção, o agnosticismo foi considerado! História eterna!
    Gerardo

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