Livro: Feios
Título Original: Unglies
Autor: Scott Westerfeld
Editora: Galera Record
Páginas: 416
ISBN: 9788501083708
Sinopse: Tally está prestes a completar 16 anos, e mal pode esperar. Não para dar uma grande festa, mas sim para se tornar perfeita. No mundo de Tally, fazer 16 anos significa passar por uma operação que o transformará de "feia" em um ser incrivelmente belo e perfeito, e lhe dará passe livre para uma vida de glamour, festas e diversão, onde seu único trabalho é aproveitar muito. Mas Shay, uma das amigas de Tally, não está tão ansiosa assim: prefere se arriscar fora dos limites da cidade. Quanto Shay desaparece, Tally vai conhecer um lado totalmente diferente desse mundo perfeito - e, acredite, não é nada bonito.
SÉRIE "FEIOS"
1. Feios
2. Perfeitos
3. Especiais
4. Extras
Nascido no Texas, Scott Westerfeld é autor de aclamado romances para adultos e jovens, entre eles Tão Ontem, Os Primeiros Dias, e das séries Leviatã (steampunk) e Feios (distopia), best-sellers do New York Times. É também designer e atualmente vive em Sydney, na Austrália, e Nova York.
Em Feios, conhecemos Tally Youngblood, que é uma feia. Não, isso não significa que ela seja alguma aberração da natureza. Não. Ela simplesmente ainda não completou 16 anos. Em Vila Feia, os adolescentes ficam presos em alojamentos até os 16 anos, quando recebem um grande presente do governo: uma operação plástica como nunca vista antes na história da humanidade. Suas feições são corrigidas à perfeição; a pele é trocada por outra, sem imperfeições ou — nem pense nisso — espinhas; seus ossos são substituídos por uma liga artificial , mais leve e resistente; os olhos se tornam grandes; e os lábios, cheios e volumosos. Em suma, aos 16 anos todos ficam perfeitos.
Tally mal poderia esperar por seu aniversário de 16 anos. Depois da operação, vai finalmente deixar Vila Feia e se mudar para Nova Perfeição, onde os perfeitos vivem, bebem, pulam de paraquedas, voam a bordo de suas pranchas magnéticas e se divertem — o tempo todo. Mas, enquanto espera que as poucas semanas até completrar 16 anos passem, Tally precisa se distrair — e isso não acaba gerando bons resultados.
Uma noite, ela conhece Shay, uma feia que não está nem um pouco ansiosa para completar 16 anos. Pelo contrário: Shay pretende fugir dos limites da cidade e se juntar à Fumaça, um grupo fora da lei que sobrevive retirando o sustento da natureza. Para Tally, isso é uma maluquice. Quem iria querer ficar feio para sempre ou se arriscaria a voltar para a natureza e queimar árvores para se aquecer, em vez de viver com conforto em Nova Perfeição e se divertir à beça? Mas, quando sua amiga desaparece, os Especiais — autoridade máxima desse novo mundo — propõem um acordo a Tally: se unir a eles contra os enfumaçados ou ficar feia para sempre. A escolha de Tally vai mudar o mundo ao seu redor, mas principalmente ela mesma.
Eu sempre quis ler Feios! Desde que saiu a primeira edição, mas eu tinha prometido a mim mesmo que só pegaria nesse livro depois que a Galera Record mudasse a capa — pois, como um fiel admirador da ficção distópica, eu não aceito capas que não justificam o gênero da obra. Foi então que, milagrosamente, a editora anunciou em 2014 que as capas iriam mudar; chegou, inclusive, a mostrar a arte de todas elas, anunciando que o lançamento aconteceria em 2015, numa edição comemorativa — o que, claro, não aconteceu, o que me fez esperar até 2016 para finalmente morrer de amor por mais um sucesso da ficção distópica.
Quando a editora anunciou que publicaria o livro em Junho, eu quase parei no hospital — ainda que eu devesse parar na igreja, para agradecer a Deus por, justo quando o lançamento do tão esperado livro acontece, eu estar administrando um blog que, milagrosamente, é parceiro da editora. Obviamente, eu fiz a solicitação do livro, mesmo não conhecendo o autor ou qualquer uma de suas obras. Mas, quando achei que não pudesse mais encontrar obras distópicas de viés tão bom e, ao mesmo tempo, inovador, encontrei isso em meio a trama de conflitos e imperfeições de Feios — uma distopia que não fica devendo para nenhuma outra.
Narrado em terceira pessoa, Feios é mais um caso em que o tipo narrativo acabou não somente sendo viável, como caiu tão bem quanto se fosse em primeira pessoa, por exemplo — que, como já sabem, é o tipo que eu acho mais exequível para uma obra onde o protagonista precisa ser melhor entendido. O fato de ter sido escrito em terceira pessoa acrescentou muito ao livro, pois trouxe um dinamismo incrível, aliado a uma boa construção de fatos e um excelente desenvolvimento das ideias propostas pelo autor — que, melhor que qualquer um, parecia conhecer a personagem como um todo e conseguiu transmitir muito bem isso aos leitores. A narrativa, como declara o Booklist, é "de tirar o fôlego" e acontece de forma despretensiosa, detalhada e dinâmica, onde o autor leva-nos a conhecer um mundo diferente e de extrema perfeição, onde ser normal é feio — e o mais assustador disso é que esse mundo, aparentemente improvável, muito se parecesse com o nosso.
— Essa é a diferença entre nós e eles — disse Maddy. — Depois que eu e Az descobrimos o significado real da operação, percebemos que éramos parte de algo terrível. Pessoas tinham suas mentes modificadas sem saberem. Como médicos, fizemos um antigo juramento, pelo qual nos comprometíamos a nunca fazer algo desse tipo.
O que acho mais legal nas distopias é o fato delas sempre trabalharem com alguma crítica, com alguma linha de pensamento que sempre nos faz parar e pensar sobre nossas atuais atitudes — o jeito como elas vêm, como um forte tapa na cara, que parece abrir nossos olhos e expandir nossa mente, de modo que fica parecendo que estamos vendo aquilo que sempre nos negamos a enxergar. Enfim, é por essas e outras características que tal "gênero" é o meu preferido.
Em Feios, o próprio título já deixa um tanto claro o objetivo do autor: trabalhar com a questão do "belo" e o "feio". Desde lá na Filosofia, aprendemos a questão do "belo" e do "feio" como situações muitas vezes de cunho objetivo e/ou subjetivo, onde, muitas vezes, ambas as questões podem não estar mais no objeto, mas nas condições de recepção do sujeito — o que, em seu eletrizante gesto literário, o autor tenta derrubar, mostrando-nos como toda essa "questão do gosto" acabou partindo de nós mesmos, em busca de disfarçarmos nosso real estado de imperfeição e, como resultado, isso acabou catalogando-nos e nos dividindo por questões estéticas. Ademais, outros pontos também acabam sobressaindo ao mar de críticas, como o fato da história ser tão simples e ainda assim ser tão empolgante e envolvente, feito com personagens muito bem elaborados e idealizados na narrativa.
— Nós ajudamos o pessoal da Fumaça, e eles nos ajudam — explicou Tonk. — Se quiser saber minha opinião, acho que eles são loucos, com essa história de viverem na natureza e continuarem feios. Mas entendem mais da vida selvagem do que a maioria dos perfeitos da cidade. É incrível.
Tally é, sem dúvidas, mais uma heroína distópica — o que mais gostei nela é o quanto ela soa humanamente verdadeira e como isso acaba aproximando-a mais do leitor. Diria que toda a trama é bem centralizada nela e em seus problemas, que tornam tudo mais interessante e colorido, por assim dizer. Assim como Tally, Shay surge na trama como "a pessoa que vem para mostrar a verdade", e ela não acaba somente mostrando a verdade para sua amiga, como para todos que têm contato com o livro. Temos também alguns poucos personagens secundários, que não são trabalhados de forma inteiramente pontual — e eu sei o porquê disso.
Nenhum personagem, nem mesmo a protagonista, é trabalhado de formal ampla, o que não significa que eles não pareçam real, muito pelo contrário, isso acaba tornando a trama ainda mais intrigante, pois o autor deixa várias brechas e oportunidades para os próximos livros, que prometem ser tão bons quanto o primeiro. Outro ponto legal é como as duas personagens acabam fazendo um contraste opulente entre as duas visões presente na obra, a de quem vê a perfeição como algo necessário para ser feliz e a de quem tem isso desconstruído, que não se deixa alienar de nenhuma forma. Ademais, temos uma composição simples de personagens, o que, numa linguagem mais popular, deixa as coisas mais "redondinhas" e isso, em meio aos capítulos curtos, torna a leitura muito leve e agradável.
Em momento algum, me senti incomodado com algo. Não foi o melhor livro que já li, mas certamente não foi o pior. Se notar, ao final da resenha, darei as cinco estrelas ao livro — porque ele realmente merece. Algumas pessoas não "curtiram" o livro, por outro lado, muitas amaram. Já outras, diziam que a obra era cópia de outras ficções distópicas. Bem, eu afirmo que não é, principalmente porque o livro foi escrito em 2005, antes mesmo do crescimento vertiginoso do gênero, que se deu a partir de 2008. E é por isso que a leitura de Feios vale a pena — pelo viés de inovação e pela forma como as coisas são explicadas e descritas.
A edição está altamente impecável — a começar pela capa, que, agora sim, está a altura do gênero. O mais engraçado disso é que os livros juntos, montam uma única e belíssima imagem (conforme mostra a figura abaixo), daí a importância de comprar todos com a capa nova. A diagramação em si, também ficou muito boa, com um design interno muito caprichado. Não encontrei nenhum erro de revisão e a tradução parece que seguiu muito bem o estilo do autor. Todas as parabenizações a Galera Record, ficou divina a edição brasileira de Feios, melhor que a original.
Ademais, deixo claro que foi uma leitura bastante agradável — e o gênero ajudou muito, claro. Quem decidir ler — e espero que todos faça, sim, isso —, perceberá que o início é um pouco arrastado, mas apontem uma distopia em que isso seja diferente! Sim, eu sei, é difícil. Contudo, tenham certeza de que é uma leitura poderosa e que, pouco a pouco, vai se tornado fluida e instigante, principalmente pelo caráter crítico, chegando, inclusive, a apelar para as questões ambientais e os recursos naturais — o que, para mim, que sou acadêmico de Meio Ambiente, não poderia ser melhor discutido. É um livro que tem pouca enrolação e vai ter, sim, pra quem estava querendo saber, um romance — que não ganha contornos muito reais nesse livro, mas que acredito que ganhará nos próximos. A Twentieth Century Fox já adquiriu os direitos e em breve Feios poderá virar também uma série cinematográfica — mais um motivo pra ler. Bem, pessoal, era isso. Leia, é um prato cheio para os fãs de distopias e para os amantes de boas histórias. Super recomendado!
Primeiro Parágrafo: "O céu de início de verão tinha cor de vômito de gato. Obviamente, Tally pensava, quando a dieta do seu gato se resume por um bom tempo a ração sabor salmão. Movendo-se rapidamente, as nuvens até lembravam peixes, desfeitas em escamas pelos ventos das altitudes elevadas."
Melhor Quote: "— Queria saber por que não nos contam isso nas aulas. Geralmente eles adoram histórias que fazem os Enferrujados parecerem patéticos.
— Talvez não quisessem que vocês percebessem que toda civilização tem sua fraqueza — disse David, em tom baixo. — Sempre dependemos de alguma coisa. E, se alguém toma isso de nós, tudo que resta são histórias contadas na sala de aula."
Gostei muito de ler tua resenha. Deu vontade de ler Feios. Vou botar em minha lista, com certeza. O autor tem uma série de livros bem bacanas também. Obrigada pela dica.
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