Livro: Revival
Título Original: Revival
Autor (a): Stephen King
Editora: Suma de Letras
Páginas: 376
ISBN: 9788581053103
Sinopse: Em uma cidadezinha na Nova Inglaterra, mais de meio século atrás, uma sombra recai sobre um menino que brinca com seus soldadinhos de plástico no quintal. Jamie Morton olha para o alto e vê a figura impressionante do novo pastor. O reverendo Charles Jacobs, junto com a bela esposa e o filho, chegam para reacender a fé local. Homens e meninos, mulheres e garotas, todos ficam encantados pela família perfeita e os sermões contagiantes. Jamie e o reverendo passam a compartilhar um elo ainda mais forte, baseado em uma obsessão secreta. Até que uma desgraça atinge Jacobs e o faz ser banido da cidade. Décadas depois, Jamie carrega seus próprios demônios. Integrante de uma banda que vive na estrada, ele leva uma vida nômade no mais puro estilo sexo, drogas e rock and roll, fugindo da própria tragédia familiar. Agora, com trinta e poucos anos, viciado em heroína, perdido, desesperado, Jamie reencontra o antigo pastor. O elo que os unia se transforma em um pacto que assustaria até o diabo, com sérias consequências para os dois, e Jamie percebe que “reviver” pode adquirir vários significados.
NOTA: Caro leitor, antes mesmo de iniciar a leitura, certamente você perceberá que essa resenha é bem extensa, certo? Quero deixar claro que não foi intencional, mas pura necessidade. Revival é um livro muito interessante e que apresenta essências além da compreensão humana, portanto seria mesmo necessário que eu explicasse as coisas direito, e ainda assim, com todo esse texto, apenas lhe falei o básico. A resenha também está livre de spoilers. Boa leitura!
Stephen King é o autor de mais de cinquenta livros best-sellers no mundo inteiro. Os mais recentes incluem Revival, Mr. Mercedes, Escuridão total sem estrelas (vencedor dos prêmios Bram Stoker e British Fantasy), Doutor Sono, Joyland, Sob a Redoma (que virou uma série de sucesso na TV) e Novembro de 63 (que entrou no TOP 10 dos melhores livros de 2011 na lista do New York Times Book Review e ganhou o Los Angeles Times Book Prize na categoria Terror/Thriller e o Best Hardcover Novel Award da organização Internacional Thriller Writers). Ele mora em Bangor, no Maine, com a esposa, a escritora Tabitha King.
Parafraseando
Machado de Assis, em
Revival,
Jamie Morton em seu fim evidente "
pretende atar as duas pontas da vida, e restaurar na velhice a adolescência" e tudo aquilo que o levou a incrível
invasão do sobrenatural em sua vida. Jamie inicia sua narrativa relatando-nos sobre sua vida aos seis anos e o seu primeiro encontro com quem ele chama de "seu Quinto Personagem":
Charles Jacobs, o novo reverendo que chegou a cidade, junto com sua esposa e o filho, para substituir o antigo reverendo e continuar o trajeto de fé na cidade.
Charles Jacobs poderia até ser chamado de um "reverendo normal", contudo, além da experiência religiosa, o pastor é fissurado nos segredos da eletricidade e em suas aplicações teóricas e práticas (o porquê disso nos é revelado de uma forma assustadora, ao final do livro) e desde que viu Jamie pela primeira vez, ambos perceberam que o destino poderia querer muito mais do que uma relação religiosa entre os dois.
O reverendo Jacobs fica na cidade durante três anos, até um acontecimento terrível que acaba por transtornar sua vida, o que o faz, posteriormente, perder a fé em Deus e na existência de um sentido humano (daí a presença de forte relação com o cosmicismo de H.P. Lovecraft). Em um episódio conhecido como O Sermão Terrível, Jacobs tenta convencer a todos os cristão da pequena igreja de Harlow sobre a não existência da fé, de Deus, de um céu, ou inferno, e sobre a completa insignificância humana. Após esse episódio, Jacobs é banido da cidade e de seu ofício religioso.
Após contar essa etapa de sua vida (desde o aparecimento de Jacobs, ao momento em que ele vai embora da cidade de Harlow), Jamie Morton continua contando-nos sua trajetória de vida, sobre os demônios que carrega, sobre sua vida com as drogas, sua experiência no mundo musical (como integrante de várias bandas de rock) e sobre seu reencontro, décadas depois, com Charles Jacobs. Jamie, em seu relato, diz que se soubesse o que lhe aguardaria, desejaria que a sombra de Jacobs nunca recaísse sobre sua vida, visto que ela nunca mais saiu de onde recaiu e lhe levou a um final inteiramente assustador, motivado pela estúpida curiosidade e fanatismo humano, e que lhe mostrou da pior forma que não está morto o que pode em eterno jazer e que em estranhos éons, mesmo a morte pode morrer.
"A ideia para este livro está na minha cabeça desde que eu era criança. Frankenstein, de Mary Shelley, foi uma grande inspiração para mim. Eu queria criar uma história o mais humana possível, porque a melhor maneira de assustar o leitor é fazê-lo gostar dos personagens." - Stephen King em entrevista para a revista Rolling Stone.
"Ler Revival é ver um grande contador de histórias se divertindo ao máximo. Todos os elementos favoritos de King estão presentes: uma cidade pequena no Maine, o sobrenatural, o mal, o vício e o poder de se transformar uma vida." - The New York Times.
"O final deste livro foi considerado o mais assustador que Stephen King já escreveu - o que é impressionante, já que se trata do autor de Carrie, a estranha." - The Guardian.
Não é de hoje que sabemos que
Stephen King é um dos melhores autores do mundo, considerado o
Mestre do Terror, contudo,
Revival veio surpreendendo muita gente, principalmente por mostrar uma atmosfera que ao mesmo tempo em que ainda é típica de King, em momentos surge como algo totalmente inovador. Vale ressaltar que o livro é uma
inspiração em Frankenstein, de Mary Shelley e tem
essência no Cosmicismo ou Terror Cósmico, onde a filosofia declara que não há presença divina reconhecível, tal como um deus, e também exprime a ideia de que
os seres humanos são particularmente insignificantes no esquema maior de existência intergaláctica, e que talvez não passem de uma pequena espécie projetando suas próprias idolatrias mentais ao vasto cosmos, estando eternamente susceptível à possibilidade de ser varrida da existência a qualquer momento (
saiba mais sobre o assunto aqui).
Então, dito isso, quero deixar algo inteiramente claro:
todos que quiserem ler esse livro (que é muito bom!), e que não conhecerem as obras e o estilo de King, devem antes dar uma pesquisa sobre Frankenstein, sobre o Terror Cósmico e sobre H.P. Lovecraft, que desenvolveu esse tipo de literatura e que é uma grande inspiração não somente para King, mas para vários outros mestres do terror.
Quando recebi Revival, pensei que eu não iria gostar da história, principalmente por achar a sinopse não chamativa. Acontece que não é a sinopse que não é chamativa, mas
a dificuldade de explicar esse livro que é muito grande. King se surpreendeu muito, principalmente por
misturar realismo contemporâneo com terror cósmico, numa narrativa que, sim, lembra muito
H.P. Lovecraft.
Então, não é uma fantasia, nem um terror propriamente dito, mas uma ficção com um pé no Cosmisismo e outro na realidade.
A narração de King continua a mesma: firme e cheia de surpresas. Esse livro ainda tem uma particularidade intrínseca no que se refere ao narrador, que é o Jamie Morton. Ele narra o livro já na velhice, então vai contando pouco a pouco o que viu e viveu, como se deu tudo, de uma forma bem singular, principalmente no tocante ao tempo da narrativa. Jamie narra de uma forma a não seguir um tempo certo, uma ordem correta e é isso que nos prende ao livro. Ao mesmo tempo que ele está contando uma coisa do passado, ele já está tocando no futuro, retornando ao passado novamente e deixando-nos cada vez mais cientes e presos na narrativa. Esse tipo de construção realmente chama atenção e caiu muito bem na narrativa.
– Muita gente viveu nessa época, mas não vai demorar a chegar o dia em que todas essas pessoas não vão mais existir... e, quando isso acontecer, ninguém vai se dar muita conta do milagre que é a eletricidade. E que mistério ela é. Nós temos uma ideia de como ela funciona, mas saber como uma coisa funciona é muito diferente de saber o que ela é.
Dentre todas as coisas que chamam atenção em Revival, a que mais sobressaí é a inspiração de King em H.P. Lovecraft e o Cosmisismo, e a questão do reavivamento (um dos motivos do nome do livro) por meio da estimulação elétrica cerebral, como em Frankenstein. Além disso, como na maioria das obras de King, há um discurso pessimista, de caráter crítico, principalmente sobre a religião e a fé. É um livro muito estranho, por assim dizer, algo que supostamente não estamos acostumados a ter contato, mas que é interessante por mostrar pontos que sugerem uma desconstrução do que acreditamos, por meio da ficção, e tratar da inexistência e o que nos espera do outro lado da vida (que pode ser algo totalmente diferente do que esperamos).
Claro que qualquer obra que aborde a religião, o senso comum, o ser humano em sua totalidade ficcional, pode receber muitas críticas, contudo, não devemos nos esquecer do respeito e nem de que se trata apenas de uma ficção, nada mais. Revival, além da questão do cosmisismo e da eletricidade, trata também dos pensamentos humanos, de nossas amizade, de nossa fé, de nosso sentido e entre outras coisas que certamente você perceberá ao ler. De modo geral, tenho que concordar que esse livro não é indicado para quem desconhece o gênero, o autor, ou seja um iniciante no geral. Contudo, se você primeiro der uma pesquisada no assunto, ler algumas resenhas, e já for fã, por exemplo, de King, certamente vai gostar muito do livro.