Livro: A Revolução dos Bichos
Título original: Animal Farm: a Fairy Story
Autor (a): George Orwell
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 153
ISBN: 9788535909555

Sinopse: A Revolução dos Bichos - Verdadeiro clássico moderno, concebido por um dos mais influentes escritores do século 20, "A Revolução dos Bichos" é uma fábula sobre o poder. Narra a insurreição dos animais de uma granja contra seus donos. Progressivamente, porém, a revolução degenera numa tirania ainda mais opressiva que a dos humanos Escrita em plena Segunda Guerra Mundial e publicada em 1945 depois de ter sido rejeitada por várias editoras, essa pequena narrativa causou desconforto ao satirizar ferozmente a ditadura stalinista numa época em que os soviéticos ainda eram aliados do Ocidente na luta contra o eixo nazifascista. De fato, são claras as referências: o despótico Napoleão seria Stálin, o banido Bola-de-Neve seria Trotsky, e os eventos políticos - expurgos, instituição de um estado policial, deturpação tendenciosa da História - mimetizam os que estavam em curso na União Soviética. Com o acirramento da Guerra Fria, as mesmas razões que causaram constrangimento na época de sua publicação levaram A revolução dos bichos a ser amplamente usada pelo Ocidente nas décadas seguintes como arma ideológica contra o comunismo. O próprio Orwell, adepto do socialismo e inimigo de qualquer forma de manipulação política, sentiu-se incomodado com a utilização de sua fábula como panfleto.

George Orwell era o pseudônimo de Eric Arthur Blair, nascido na Índia, e que se tornou um renomado escritor inglês. Conhecido pelos seus livros cheios de metáforas e complexas lógicas publicou na editora Companhia das Letras, além de “A Revolução dos Bichos”: “1984”, “Na Pior em Paris e Londres”, “Como Morrem os Pobres e outros Ensaios” entre outros. Confira a resenha a seguir.

     Cansados de serem explorados por Jones na Granja Solar, os animais se juntaram e fizeram uma grande rebelião, tomando o lugar, expulsando seu dono, e fazendo suas próprias regras. Liderados pelos porcos, que eram totalmente intelectuais – principalmente o porco Napoleão e o Bola-de-Neve – retomaram os trabalhos dos “homens” e criaram o sistema “Animalismo” onde havia sete mandamentos que proibiam contato com humanos ou com seus costumes.

1. Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo
2. Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo
3. Nenhum animal usará roupas
4. Nenhum animal dormirá em cama
5. Nenhum animal beberá álcool
6. Nenhum animal matará outro animal
7. Todos os animais são iguais

     Os primeiros meses foram prósperos. Os animais tinham mais lazer, podiam comer mais, e gozavam de uma liberdade muito maior sem os humanos por perto. Contudo, algumas dificuldades apareceram e os animais ficaram cada vez mais intrigados com a chegada dos “maus tempos” que se aproximava com o inverno.
     E, apesar de Napoleão e Bola-de-Neve compartilharem de ideias parecidas, logo o conflito entre esses dois líderes se iniciou. Não demorou muito para que Napoleão expulsar Bola-de-Neve através de seus cachorros bravos; e a difamá-lo. Porém, o que deixou os bichos mais perplexos ainda foi o fato dos porcos começaram a ultrapassar os mandamentos. Eles sempre achavam um jeito de modificar a interpretação de cada mandamento que infringiam.

     “Todos pensavam que o Quinto mandamento era “Nenhum animal beberá álcool” mas haviam esquecido duas palavras. Na realidade, o mandamento dizia “Nenhum animal beberá álcool em excesso”.

     As guerras também chegavam à Granja dos Bichos. Os humanos queriam retomar o controle, e Napoleão parecia muito preocupado com a possibilidade de traição. Um dia, sem avisar, ele mandou matar qualquer animal que fosse simpatizante das ideias de Bola-de-Neve. O caos estava implantado. Quando os animais perceberiam que estavam vivendo uma brutal ditadura?


     É muito importante lembrar que “A Revolução dos Bichos” é um livro inteiramente metafórico e simbolista. A mensagem do livro não se restringe a esses personagens animais; mas sim à fatos históricos da humanidade que aconteceram durante a Segunda Guerra Mundial beirando a Guerra Fria. George Orwell, um verdadeiro gênio, utilizou de uma grande “sátira” para criticar a atitude de vários líderes da época.
     E a sagacidade do autor não para por aí: Orwell se ateve a detalhes. Estes minuciosos detalhes acrescentaram muito no meu entendimento da história mundial.
    Como muitos estudantes, acabei conhecendo a Guerra Fria de modo raso e rápido no colégio, portanto, eu sabia a história geral e, apesar de saber, eu não compreendia como tudo aconteceu. Já nesse livro, todos os fatos – mesmo camuflados por uma engenhosa fábula – são minunciosamente apresentados, de modo que ficou muito fácil assimilar o contexto histórico.
     Contudo, saber história e ter conhecimentos de mundo é essencial para não se perder nessa leitura. Como saber que o porco é um famoso líder, se você dormiu nas aulas de história? Como saber quem Sr Jones representava, se você não estudou para aquela prova chata sobre a Inglaterra na Segunda Guerra Mundial? Como saber qual sistema está por trás do metafórico termo “Animalismo”? “E quem é Stálin e Trotski mesmo?” É extremamente importante saber a diferença de Socialismo Utópico, Científico e Real, por exemplo. Sem saber esses pequenos conceitos – e muitos outros que eu não citei – não há como ter uma conclusão correta de “A Revolução dos Bichos”.
     E mesmo sendo uma obra cheia de propensão – ainda mais para época que foi lançada –, o pensador fez um enredo demasiadamente simples, sem muitos desafios. A narrativa de George Orwell é envoltória, e nada monótona, sendo simples do modo que é. Acreditei que eu cansaria de ler um livro tão lógico e codificado, mas o autor soube suavizar ao máximo sua mensagem. Na realidade, desde o inicio da leitura, nasceu uma curiosidade tamanha em mim que foi quase impossível largar esse livro.

     
      Ouso dizer que Orwell não criticou o comunismo – até porque ele era um ativista deste ramo – mas a crítica foi realmente direcionada aos líderes comunistas que o mundo teve, que além de seguir à risca o que o sistema pregava, modificavam as leis, princípios e ideais para prestígio e satisfação própria. Diziam que todos eram iguais, mas queriam ser mais e serem tratados diferentes.
     A Revolução dos Bichos foi escrito em terceira pessoa no estilo de um “conto”. Por mais que a história tenha mais ênfase que os próprios personagens, estes também tiveram um desenvolvimento grande e conquistaram o leitor facilmente. O livro retrata um trágico episódio na vida das pessoas – nesse contexto: dos animais. Quando as brutalidades aconteciam nessa lenda onde animais falavam, trabalhavam e escreviam, o leitor conseguiu ser tocado, até porque esta história tem uma mão na realidade.
     A capa é muito bonita e colorida, além de trazer um pouco do pop arte – o que pode conquistar muito os leitores. A diagramação do livro é magnifica! Temos desenhos e fundos em várias páginas, enquanto a fonte da letra contribuiu muito para que a leitura se fizesse rápida. A Editora Companhia das Letras está de parabéns pela tradução e revisão do livro.
     Indico essa leitura para todos que apreciam a genialidade de metáforas. Quem está acostumado com leituras mais complexas e conhece muito da história geral, vai, sem dúvida alguma, amar muito o conteúdo desse livro, já que se fará uma leitura não tão dificultada. Agora, não indico para quem não tem uma carga de conhecimento tão grande, porque poderá se tornar uma leitura desgastante e sem aproveitamento total. Pretendo reler “A Revolução dos Bichos” daqui alguns anos, tenho certeza que meu amadurecimento trará uma visão mais abrangente ainda da mensagem de George Orwell.

Primeiro Parágrafo:
“O Sr. Jones, dono da Grana Solar, fechou o galinheiro para a noite, mas estava bêbado demais para lembrar-se de fechar também as vigias.[...]”
Melhor Quote:
“Os animais rumaram ao campo de feno para o inicio da colheita, e quando voltaram, anoitinha, perceberam o que o leite havia desaparecido.”

      
         


2 Comentários

  1. Esse livro é muito bom e me permitiu, inclusive, adaptar alguns casos para os dias de hoje. Por exemplo, eu vi o cavalo Sansão no meu pai, um homem que trabalhou a vida inteira, de sol à sol, dando o seu melhor por uma empresa para, depois ser descartado de uma forma tão cruel quanto a do cavalo. Confesso que sou péssima com metáforas e simbolismos, logo, quando li, tive um pouco de dificuldade de até me situar no período. De todos os plots maravilhosos, porém, o que eu mais gostei foi o final: "(…) Doze vozes gritavam, cheias de ódio, e eram todos iguais. Não havia dúvida, agora, quanto ao que sucedera à fisionomia dos porcos. As criaturas de fora olhavam de um porco para um homem, de um homem para um porco e de um porco para um homem outra vez; mas já se tornara impossível distinguir, quem era homem, quem era porco."
    Gostei muito da sua resenha =)
    Beeijo
    http://www.estoriasecafe.com/

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  2. Ainda não tive a oportunidade de ler esse livro e achei muito interessante ler seu ponto de vista. Me deixou bastante curiosa sobre ele. Eu já vi alguns posters sobre o livro mas não tive a curiosidade de ler nenhum, então vejo que andei perdendo um tempo enorme e já poderia ter esse livro em mãos. Os sete mandamentos dos bichos é bem interessante. O fato do autor passar para os leitores fatos da história da humanidade através de uma história envolvendo bichos foi brilhante. Amei a resenha.

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