Livro: O Presente
Titulo Original: The Gift
Autor (a): Cecelia Ahern
Editora: Novo Conceito
Páginas: 320
ISBN: 978-85-8163-314-5

Sinopse: Todos os dias, Lou Suffern luta contra o tempo. Ele tem sempre dois lugares para ir, tem sempre duas coisas a fazer. Quando dorme, sonha com os planos do dia seguinte, e, quando está em casa, com a esposa e os filhos, sua mente está, invariavelmente, em outro lugar. Numa manhã de inverno, Lou encontra Gabe, um morador de rua, sentado no chão, sob o frio e a neve, do lado de fora do imenso edifício onde Suffern trabalha. Os dois começam a conversar, e Lou fica muito intrigado com as informações que recebe de Gabe; informações de alguém que tem observado uniões improváveis entre os colegas de trabalho de Lou, como os encontros da moça de sapatos Loubotin com o rapaz de sapatos pretos… Ansioso por saber de tudo e por manter o controle sobre tudo, Lou entende que seria bom ter Gabe por perto — para ajudá-lo a desmascarar associações que se formam fora de suas vistas — e lhe oferece um emprego. Mas logo o executivo arrepende-se de ajudar Gabe: sua presença o perturba. O ex-mendigo parece estar em dois lugares ao mesmo tempo, e, além disso, Gabe lhe fala umas coisas muito incomuns, como se soubesse do que não deveria saber… Quando começa a entender quem é realmente Gabe, e o que ele faz em sua vida, o executivo percebe que passará pela mais dura das provações. Esta história é sobre uma pessoa que descobre quem é. Sobre uma pessoa cujo interior é revelado a todos que a estimam. E todos são revelados a ela. No momento certo.



    Lou Suffern é um homem de negócios. Ambicioso e preocupado em fazer seu trabalho de forma notável aos olhos de seu chefe, ele está constantemente ocupado, possuindo o costume de fazer várias coisas ao mesmo tempo, nunca completando perfeitamente os vários compromissos que possui. Apesar de possuir uma esposa linda e atenciosa, uma filha de cinco anos e um bebê de poucos meses o aguardando todas as noites em sua mansão em uma região nobre de Dublin, ele não consegue se conectar com a família, vivendo para o trabalho.
     Em uma manhã fria, sem saber exatamente o motivo, Lou – que sempre está apressado e nunca parou para olhar o que está a sua volta – dá um copo de café para um pedinte sentado do lado de fora do prédio no qual trabalha. Gabe, o mendigo, é bem humorado e parece ser extremamente inteligente, e, em um momento súbito de bondade, Lou resolve dar-lhe um emprego. Após adicionar o antigo pedinte a sua vida, entretanto, tudo parece estar cada vez mais confuso, e, quando algo que soa estranhamente como mágica acontece, o empresário fica desconfiado de quem é verdadeiramente o homem que conheceu – será que Lou conseguirá aproveitar o presente que lhe foi dado de forma tão misteriosa?

    O Presente é, sim, uma história natalina, mas trata-se de um pouco mais do que isso: é sobre descobertas, esperanças e segundas chances. Com uma pegada mais dramática e profunda do que seu usual, Ahern consegue levar o leitor a refletir acerca de assuntos da vida cotidiana, sobre o valor que damos às pessoas que nos cercam, e sobre nosso o tempo.
     Já no princípio do livro, deparamo-nos com a escrita extremamente detalhada, quiça poética, que é quase característica de Cecelia Ahern. Tudo é descrito em terceira pessoa nos mínimos detalhes, o que, evidentemente, ajuda o leitor a capturar as cenas que são narradas – toda essa minuciosidade, entretanto, em alguns momentos chega a ser um tanto maçante. Apesar de gostar de narrativas detalhadas, em certas partes do livro tive vontade de apenas pular o parágrafo, já que a autora se estende demais em assuntos razoavelmente fora do contexto da história.
     Apesar do supracitado, esse foi um livro que me surpreendeu; não de uma vez, mas aos poucos. Eu explico: não gosto do modo como Cecelia Ahern conta suas histórias – acho que ela procrastina demais o desenrolar dos problemas, e acaba deixando toda a ação para o final. Depois de ter passado da primeira centena de páginas, a leitura estava arrastada, e eu estava crente de que O Presente seria um livro que eu detestaria. Lembro-me, contudo, de ter sentido o mesmo quando comecei a leitura de O Livro do Amanhã, e, ao considerar que o final do outro livro foi estupendo, persisti na leitura – e fico feliz que o tenha feito.
     Talvez o que não contribuiu para minha simpatia inicial foi o personagem principal: Lou é um canalha. Ele é arrogante, mesquinho e a única preocupação de sua vida é ganhar mais dinheiro. Sem dar valor para a família amorosa que tem, (e traindo a esposa várias vezes sem a menor culpa!) ele não é, inicialmente, um personagem carismático. Ao longo do livro e muito gradualmente, contudo, Lou vai percebendo as atitudes erradas que toma, e – mesmo que não completamente – vai redimindo-se, tanto consigo quanto com as pessoas que ama.
    Particularmente, não sou alguém que acredita que algumas boas ações podem expiar todos os atos ruins de uma pessoa (quem se lembra de Severus Snape?). As atitudes do personagem, entretanto, foram tão reais e condizentes com a mensagem do livro, que, mesmo que sem querer, acabei afeiçoando-me a ele. Gabe, o misterioso mendigo, é também um personagem excelentemente desenvolvido, engraçado e carismático, que, descobrimos depois, é essencial para a história de várias maneiras.
    O interessante em relação à obra é a lição que é passada nas entrelinhas. De uma maneira tão sutil e reservada, mas muito marcante, aprendemos a pensar sobre nossas atitudes e tirar um aprendizado do enredo. Mesmo que a trama seja irreal e até mesmo um pouco clichê, você é levado a refletir sobre as escolhas que toma, a maneira como administra seu tempo e a atenção que dá àqueles que te amam.
     Não posso dizer que, depois de ler o final tão tocante e captar a mensagem em sua totalidade, eu não tenha gostado do livro. Pelo contrário, de fato: apesar de minhas primeiras impressões, lembrarei-me do livro com um sorriso, pois o amor e as lições que vieram junto com ele ficarão guardadas em minha memória.
    Com um toque sagaz, é um livro milimetricamente planejado, em que fatos que você leu no começo só farão sentido no final da história. A autora conseguiu segurar o grande ápice para as páginas finais, deixando sempre certo suspense, e foram exatamente as últimas trinta páginas que me conquistaram. Além disso, depois que a história termina, é passada ao leitor a habilidade de tirar suas próprias conclusões, deixando alguns fatos em aberto, de modo que a reflexão possa ser possível.
     A diagramação realizada pela Editora Novo Conceito é encantadora. Conseguindo transmitir o clima natalino com os pequenos enfeites a cada começo de um capítulo, além de adicionar um charme a mais com os flocos de neve e brilhos na parte inferior das páginas, o design é extremamente belo. A capa não fica atrás, e gostei dela tanto quanto gostei da capa original irlandesa. Sem erros de revisão, com páginas amareladas e uma fonte ideal para leitura, o resultado final é encantador.
    Mesmo que possua o tema de “lição de Natal”, o livro consegue ir além disso, trazendo uma carga de drama, amor e magia. Apesar de possuir seus pontos altos e baixos, acabei me afeiçoando à obra, que, por demonstrar um enredo inteligente e tocante, me conquistou no final. Aos que pretender realizar a leitura, recomendo que persistam no livro, pois o ápice no fim acaba compensando toda a falta de ação do começo.
Primeiro parágrafo:
"Se você caminhasse pelas calçadas de um condomínio suburbano no início da manhã de Natal, não conseguiria deixar de observar as fachadas decoradas com enfeites brilhantes e coloridos, iguais às caixas dos presentes que estão embaixo da árvore de Natal em todas as casas. Cada casa guarda seus segredos (...)"
Melhor quote:
“Os caminhos ficam muito mais claros quando as pessoas param de dar atenção ao que os outros estão fazendo e concentram-se em si mesmas.”
                       


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