Em A Garota do Penhasco somos apresentados a três histórias
diferentes, que, ao mesmo tempo em que se divergem, estão interligadas. A história
principal é sobre Grania Ryan, uma irlandesa que se mudou para os Estados
Unidos há anos, e lá fez carreira como uma escultora. Grania tem um
relacionamento duradouro com Mark, e toda a estabilidade no namoro de
ambos se esvai de uma hora para a outra quando ela sofre um abordo traumático. Desolada,
Grania sai da cidade de uma hora para outra, sem dar explicações ao namorado,
voltando para sua terra natal, o pequeno município de Cork, na Irlanda. Lá, ela
conhece Aurora Lisle, uma garotinha de 8 anos, e, apesar da grande diferença de
idade, as duas acabam se tornando ótimas amigas, já que Aurora lembra tanto
Grania da filha que poderia ter tido.
A mãe de Grania, Kathleen, entretanto, fala diretamente para
a filha ficar longe da menina, e é aí que conhecemos outra história: Mary, a
antepassada dos Ryan, uma moça trabalhadora que, de um modo que só ficamos
sabendo depois de muita história, acabou se envolvendo profundamente com os
Lisle. Kathleen não deseja que a história se repita, mas ver sua filha
aproximando-se de Aurora aumenta cada vez mais seus temores. Enquanto isso, nos
Estados Unidos, acompanhamos a história de Mark, o noivo de Grania. Mark está
confuso e não sabe o que fez de errado para a mulher que ama ter partido tão
repentinamente. Ele a ama e faria qualquer coisa para tê-la de volta, mas acaba
se envolvendo em situações que eventualmente se encaminharão para algo que
nunca imaginaria.
Apesar de o foco estar nessas três histórias, tudo isso é
narrado por Aurora, no futuro. Talvez pareça um pouco confuso vendo de fora,
mas garanto que ao realizar a leitura as coisas vão se encaixando. Isso,
provavelmente, foi o que mais gostei no livro: o modo que tudo se completa,
pouco a pouco, e só temos uma noção da história completa no final. Esse foi o
primeiro livro que li de Lucinda Riley, mas garanto que não será o último.
Os personagens não deixam a desejar, e, apesar de Grania não
ter se tornado minha favorita da trama, a relação dela com Aurora é muito
bonita. Lucinda Riley soube passar de um jeito extremamente cativante a relação
materna que as duas possuem, já que Grania acaba de perder um bebê e Aurora,
por sua vez, não tem mãe e possui um pai amoroso, mas ausente. A menina também
é um encanto: inteligente, compreensiva e carinhosa, é uma criança adorável, e deixar
de sentir-se cativado por ela é quase impossível.
Apesar disso, quando Aurora
narra seus capítulos que se passam no futuro, é fácil sentir dúvidas sobre
quando exatamente é o “futuro”, já que a narrativa é um pouco infantil. É claro
que tudo isso é explicado ao fim da história, com um final surpreendente que
fará lágrimas brotarem dos olhos do leitor.
Como já é dito por Aurora no começo do livro, ele é sobre os
diferentes tipos de amor. Não há outra definição para ele, nem alguma descrição
que abranja todo o conteúdo que o livro possui. É uma leitura reflexiva, para
mostrar para qualquer um que nada é exatamente o que parece, que todos temos
segredos. O livro também trata sobre escolhas mal pensadas, sobre como algo que
aconteceu no passado, anos atrás, afeta tão diretamente o presente e o futuro.
Aconteceram fatos que me deixaram frustrada, emocionada e outros que me
divertiram muito. O equilíbrio presente na narração é impressionante.
A diagramação do livro é bela, com um tamanho de letra agradável
e feito de um bom material. A capa, que mostra uma típica paisagem irlandesa e retrata
imensamente a história toda, é algo a se notar. O trabalho de design da editora
Novo Conceito ficou ótimo, e não consigo imaginar uma capa que combinasse mais
com o livro.
Depois de tudo que expressei, não há dúvidas que o livro
está super indicado. Levando os sentimentos do leitor à flor da pele, a autora
escreveu uma obra cheia de emoções, reviravoltas e fatos marcantes, que
emocionariam até o mais duro dos corações.
Primeiro parágrafo: "A figura frágil achava-se perigosamente próxima da borda do penhasco. A longa e luxuriante cabeleira ruiva revolvia-se atrás de seu corpo esguio, agitada pela forte brisa que soprava do oceano. O vestido de algodão branco chegava-lhe aos tornozelos e deixava expostos os pequenos pés descalços. Mantinha os braços esticados, a palma das mãos voltada para a massa espumante do mar cinzento, abaixo, o rosto pálido voltado para o alto, como se estivesse se oferecendo em sacrifício aos elementos."
Melhor quote: "Também me ocorre que nós, humanos, vivemos como se fossemos imortais, tomando decisões como se fossemos viver para sempre, sem aceitar o inevitável, que cabe a todos nós. É claro, é a única maneira de podermos sobreviver."