Livro: A Sereia
Autor (a): Kiera Cass
Editora: Seguinte
Páginas: 320
ISBN: 9780130427014
Sinopse: Anos atrás, Kahlen foi salva de um naufrágio pela própria Água. Para pagar sua dívida, a garota se tornou uma sereia e, durante cem anos, precisa usar sua voz para atrair as pessoas para se afogarem no mar. Kahlen está decidida a cumprir sua sentença à risca, até que ela conhece Akinli. Lindo, carinhoso e gentil, o garoto é tudo o que Kahlen sempre sonhou. Apesar de não poderem conversar — pois a voz da sereia é fatal —, logo surge uma conexão intensa entre os dois. É contra as regras se apaixonar por um humano, e se a Água descobrir, Kahlen será obrigada a abandonar Akinli para sempre. Mas pela primeira vez em muitos anos de obediência, ela está determinada a seguir seu coração.
Kiera Cass nasceu em 1981, na Carolina do Sul, Estados Unidos. Formou-se em História na Universidade de Radford, na Virginia, e atualmente mora em Christiansburg. É autora da série A Seleção, que já vendeu mais de 1 milhão de exemplares no Brasil. A Sereia foi seu primeiro livro, lançado independentemente a seis anos atrás, e agora revisto, reescrito e relançado.
Se tornar uma sereia significa ganhar uma segunda chance de viver, uma outra oportunidade de existir — e quem sabe ser feliz novamente. Sem essa segunda chance, Kahlen certamente teria morrido afogada, e jamais teria se unido a uma irmandade de garotas aparentemente comuns, mas que não envelhecem, não se machucam e têm uma beleza radiante. Por outro lado, o custo é alto: de tempos, em tempos, as jovens precisam usar seu canto mortal para causar naufrágios que a alimentam a Água. Só depois de 100 anos de servidão e de obediência contínua as sereias recebem uma nova vida humana.
Kahlen talvez seja a sereia mais dedicada que já serviu a Água. Vítima de um naufrágio em 1933, a jovem pouco se lembra de sua vida antes de se tornar sereia. Tudo que sabe é que quando estava prestes a se afogar, gritando por ajuda, a Água lhe deu uma segunda chance. A jovem já cumpriu 80 anos de sua servidão, e enxerga a Água como uma mãe, e as outras sereias como suas mais fiéis irmãs — que a consideram um exemplo a ser seguido, sempre. Kahlen, além de garantir que suas irmãs "andem na linha" e não coloque em risco a identidade das sereias, sente uma culpa enorme por todas as vidas que teve de tirar.
Para suportar todo esse fardo, Kahlen busca refúgio nos livros, em revistas e em especial no campus de uma universidade. Lá, ela pode observar os estudantes, frequentar a biblioteca e fingir que é humana, enquanto anseia pelo dia em que poderá rir, conversar e viver livremente no mundo. Também é na universidade que Kahlen acaba por conhecer Akinli, que ao contrário da maioria das pessoas, o garoto parece conhecer Kahlen de verdade, saber suas opiniões e até encontrar maneiras para os dois se comunicarem, sem que ela necessite usar sua fatal voz.
Não é incomum que as sereias tenham relacionamentos breves com humanos, mas sentimentos mais profundos são desencorajados pela Água. Kahlen acaba ficando dividida entre o impulso de passar mais tempo com Akinli ou obedecer às regras e ir para longe, pelo bem de todos. Agora Kahlen terá de decidir se vale a pena cumprir sua sentença até o fim e finalmente alcançar a liberdade, ou se é melhor sacrificar seu futuro para viver um grande e proibido amor.
Acredito que boa parte dos leitores brasileiros conhecem Kiera Cass, certo? Ela é a autora da série distópica A Seleção, que já vendeu milhares de exemplares em nossa terrinha, e que deu muito o que falar. Como eu já havia lido a série A Seleção, e já tinha a certeza de que a autora é mega competente em seu ofício, minhas expectativas para A Sereia, que foi o primeiro livro que a autora escreveu, eram bem grandes — levando em conta que gostei muito de A Seleção. E bem, as expectativas mantiveram-se saciadas do começo ao fim.
O gênero não é um de meus preferidos, mas sem dúvidas chama muito a atenção. Diria que A Sereia é um misto de releitura contemporânea da mitologia (em especial a das sereias), com um toque suave de contos de fadas, onde a autora provou a capacidade que a humanidade tem de inovar — mesmo com os pés nas origens. O modo como ela estruturou toda a história da narrativa foi bem diferente do que estamos acostumados. Sem contar as referências mitológicas que foram, em suma, modificadas e contemporizadas.
A narração é bem o estilo que encontramos em A Seleção, o que justifica ainda mais os padrões de estilo da Kiera. Ela deixa de lado o excesso de diálogos e coloca no lugar uma estrutura narrativa em primeira pessoa, abordando a protagonista no máximo de sua totalidade, de suas ações e pensamentos — dando contornos suficiente para uma narrativa fluida. Apesar de saber que os diálogos aceleram a narrativa, não deixo de deixar claro o quanto gosto de uma narração que aborda o máximo de quem conta tudo — já que isso aumenta a relação leitor-personagem. E Kiera sabe fazer isso muito bem. Através de Kahlen, nós sabemos tudo, da forma mais simples e detalhada possível, mantendo sempre um certo toque de formalidade — que caiu super bem na trama, visto a seriedade dos acontecimentos.
Vi a esperança nos olhos dela. Ela não queria que eu fosse. Talvez tivesse visto mortes demais num dia só. Fiz que sim com a cabeça. Eu ia ficar. Ela me puxou para si e cochichou no meu ouvido: — Bem vinda à irmandade das sereias. Fui tragada pela água e alguma coisa fria penetrou minhas veias. E embora isso me assustasse, não chegou a doer.
Dentre todas as coisas que chamam atenção no livro, o que mais sobressai é o trato do sentimentalismo humano e o conteúdo mítico da obra. No livro, devido a situação em que estão inseridas as sereias, em especial Kahlen, temos um enfoque bem forte nos sentimentos, pensamentos e ações dos personagens, e isso muito nos faz pensar. A relação que elas tem com a Água — que na trama é algo como uma "deusa" — é bem interessante, visto que ela é como uma mãe para todos, que ama em todo momento, mas que briga, é severa, e pune nos momentos necessários.
É claro o quanto de pesquisa a Kiera deve ter feito para compor a obra, e talvez boa parte de tudo ela aprendeu em sua graduação em História. Contudo, apesar do conteúdo mitológico das sereias, a autora deu novos contornos aos mitos — o que demonstra tendência a originalidade de ideias e a intenção de aumentar a curiosidade de quem ler. Um exemplo está no fato das sereias do livro terem pernas, e não caudas. No todo, somos surpreendidos pela naturalidade do que é incomum e pelo cenário, universo da obra, que pelos olhos de Kahlen — que é forte e determinada, em momentos — parecem envolver totalmente o leitor.
Os personagens são o melhor ponto da história! Isso é indiscutível. São todos construídos com uma sutileza e leveza de detalhes que faz com que nos apeguemos a eles do inicio ao fim. Miaka, Elizabeth, Aisling e Padma, as irmãs-sereias de Kahlen, são todas amáveis e a relação que elas tem, umas com as outras, dá a trama momentos de levezas, descontração e, em outras situações, momentos mais profundos. Elas contam umas com as outras, como se encontrassem na irmandade o que faltava em si mesmas. Akinli (eita Kiera que gosta de nome doido) também é um ótimo personagem, e assim como acontece com Maxon (de A Seleção), nos apegamos a ele desde o início. Um verdadeiro príncipe contemporâneo.