"— Muito bom. — Após uma breve hesitação, o homem continua: — Então me conte como encontrou o primeiro cadáver.
— Também falei sobre isso tudo para o Dr. Szands.
— Sim. Mas eu queria ouvir de você. Às vezes, ao ouvir pessoalmente, é possível desenterrar novas informações".
Olá, galera, tudo bem com vocês? Hoje damos continuidade a Semana Especial sobre Piano Vermelho, o mais recente livro de Josh Malerman. Quem perdeu o post do primeiro dia pode conferir tudinho clicando aqui. No segundo dia do especial, vamos conversar um pouco sobre as diferenças e semelhanças entre Piano Vermelho e o sucesso de estreia do autor, Caixa de Pássaros.
NARRAÇÃO:
No que se refere a narração, ambos os livros são contados em terceira pessoa, onde mais uma vez, Josh, como poucos, provou que a narração dessa forma deixa a história tão emocionante e tocante quanto a feita em primeira pessoa. O autor sabe exatamente como combinar o comum e o inusitado numa escala de acontecimentos que remetem a uma literatura de horror e que se desdobra nas mais improváveis direções sem jamais deixar de proporcionar aquilo pelo qual o leitor mais espera: o medo e o choque.
AGUÇANDO OS SENTIDOS:
Um dos aspectos mais interessantes desses dois livros de Josh é como eles trabalham com os sentidos do corpo humano. Ler Caixa de Pássaros, onde abrir os olhos é sinônimo de morrer, é como andar no escuro e o suspense psicológico é tão bem construído que nos sentimos "cegos" em muitos momentos, seja pelos mistérios ocultos ou pelos sentidos que a obra "aguça". Não muito diferente, Piano Vermelho trabalha com a audição, onde um som misterioso carrega em suas ondas um enorme poder de destruição.
TERROR PSICOLÓGICO:
Apesar das diferenças — não tão gritantes assim —, quando colocado em paralelo com o romance de estreia do autor, Piano Vermelho também acaba sendo um livro forte. Alguns detalhes macabros e peculiares chegaram a me deixar com medo e questionador. "O que são esses cascos na areia?" Qual a origem desse misterioso som?" "O que é a criatura com cascos?" "Por que o delírio quando se ouve o som?". Foi quase impossível não pensar sobre algumas cenas durante boa parte das horas que sucederam o término da leitura. Algo parecido e, talvez, melhor, acontece em Caixa de Pássaros, onde Josh soube representar o desespero, o devaneio e a loucura perfeitamente através de suas palavras; soube me arrepiar, fazer-me ficar tenso e nervoso.
REFLEXÕES:
Diferente de Caixa de Pássaros, Piano Vermelho carrega em sua essência reflexões um tanto quanto enigmáticas — já que o leitor não consegue compreender claramente o que o autor desejava criar. Um exemplo muito claro são as cenas finais do romance, em especial o trecho que diz: "Os chapéus elaborados parecem majestosos para nós, mas, no fim das contas, aquelas pessoas estavam apenas matando umas às outras. Todas as guerras são travadas pelo mesmo motivo. Por causa disso, são todas a mesma guerra".
DESFECHO:
Mas a pergunta que não quer calar em 2017 é: por que o Piano Vermelho desafinou? Resposta de número 1: porque os leitores foram com muita sede a um pote que não prometia um oceano de água. Resposta de número 2: porque o final conseguiu ser ainda mais louco que o de Caixa de Pássaros, exigindo do leitor diversas releituras e o desenvolvimento de teorias. Não obstante, cabe a mim fazer mais duas perguntas para vocês, leitores: é justo "acabar" com um livro só porque o final dele não nos agradou? Não deveríamos utilizar nossa inteligência humana para pesquisar, estudar a obra, ler suas entrelinhas e buscar entender o que motivou um autor a manter determinada essência em sua obra? Depois de ler Caixa de Pássaros, é ridículo esperar sanidade da parte de Josh Malerman.
No todo, Piano Vermelho e Caixa de Pássaros têm mais semelhanças que diferenças e ambos são ótimos livros. Vocês concordam? Comentem!
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