O Dia da Mulher foi no dia 8 de Março, mas a resenha de hoje irá abordar sobre elas — as mulheres —, que lutaram e continuam lutando por seus direitos. Em suma, passando do clássico ao moderno, de O Papel de Parede Amarelo a Vamos Juntas?, traremos uma reflexão de que da mesma forma que o Dia do Meio Ambiente, Consciência Negra ou outro, não é uma vez ao ano, o Dia da Mulher não é 8 de Março, mas, sim, todos os dias. Acompanhe a resenha abaixo, e fique atento que na semana que vem tem a Parte 2 dessa resenha especial, com o livro Vamos Juntas?, da Babi Souza.
O PAPEL DE PAREDE AMARELO, CHARLOTTE PERKINS GILMAN
Livro: O Papel de Parede Amarelo
Título original: The Yellow Wallpaper
Autor (a): Charlotte Perkins Gilman
Editora: José Olympio
Páginas: 112
ISBN: 9788503012720
Sinopse: Um clássico da literatura feminista. Uma mulher fragilizada emocionalmente é internada, pelo próprio marido, em uma espécie de retiro terapêutico em um quarto revestido por um obscuro e assustador papel de parede amarelo. Por anos, desde a sua publicação, o livro foi considerado um assustador conto de terror, com diversas adaptações para o cinema, a última em 2012. No entanto, devido a trajetória da autora e a novas releitura, é hoje considerado um relato pungente sobre o processo de enlouquecimento de uma mulher devido à maneira infantilizada e machista com que era tratada pela família e pela sociedade.
Charlotte Perkins Gilman nasceu
em Connecticut, Estados Unidos, no dia 3 de julho de 1860 e morreu, aos 75
anos, em 17 de agosto de 1935 na Califórnia. Ela foi diagnosticada com câncer
de mama e decidiu se suicidar com clorofórmio para evitar o sofrimento da
doença. Gilman iniciou no mundo do trabalho vendendo barras de sabonete de
porta em porta. Mais tarde se tornou uma proeminente reformista social,
reivindicando a igualdade de classes e os direitos das mulheres. Além de contos
e romances, Gilman também escreveu ensaios e deu palestras, principalmente sobre
as causas sociais pelas quais lutava.
O Papel de Parede Amarelo é um
conto inteiramente incrível, negligenciado por quase cinquenta anos, que conta
a história de um casal que muda-se para um casarão antigo, e isolado do mundo
social em que eles anteriormente viviam.
John, médico, acredita que a tranquilidade e a isolação do lugar possam ajudar sua mulher a se curar de uma doença inespecífica e desconhecida — que a
deixa triste e angustiada. O doutor não permite que sua mulher saia da casa,
que ela escreva ou que faça qualquer outra coisa que ele julgue capaz de
deixá-la mais doente.
Contudo, a mulher mantem em
segredo um diário, por meio do qual ficamos inteirados sobre toda a trama que
envolve o conto. Nos primeiros relatos, a mulher nos conta como foi parar no
casarão e como se tornou obcecada pelo papel de parede amarelo presente em seu
quarto — de onde ela raramente sai. Presa ali dentro, controlada pelo marido e,
aparentemente, definhando com seu visível colapso mental — que é
incompreensível até mesmo para ela —, a mulher não encontra nada para fazer,
exceto observar o papel de parede amarelo — que parece ser compostos de padrões
que ora lhe instigam a curiosidade, e ora lhe causam um desconforto.
A partir daí, somos levados por
meio de uma história narrada com suprema precisão psicológica e dramática, onde
a mulher tenta a todo custo desvendar os padrões do papel amarelo, onde,
segundo ela, há mulheres presas. Mulheres estas que ela precisa libertar —
fazê-las sair do papel. E, gente, que
conto! Uma das minhas dicas iniciais é: os fãs de Edgar Allan Poe vão adorar
essa história, é algo muito próximo do que o autor americano escrevia, tanto
pela ambientação de terror/horror, pela estrutura fortemente psicológica,
quanto pelo caráter autobiográfico — visto que muitos dos contos de Poe também
(assim como esse de Perkins) expressavam seu estado de espirito ou uma situação
pela qual passara. Perkins tinha depressão, e ao consultar um médico, ele
sugeriu apenas que ela descansasse em casa. Já deu pra entender de onde veio a
inspiração, certo?
Sem dúvida alguma, O Papel de
Parede Amarelo é um clássico da literatura feminista! A forma intrínseca e
indireta pela qual a autora abordou a questão feminista foi incrível, tanto no
sentido do marido, John, representar a ciência, o Estado, o mundo racional
contraposto — parafraseando Marcia Tiburi — à histeria presente na
protagonista, quanto pelo fato da casa corresponder à estreiteza do mundo das
mulheres, que eram (e são) oprimidas antes que conquistas jurídicas, politicas
e sociais viessem, mesmo que pouco a pouco, a mudar essa situação. O mais
engraçado é que um livro escrito em 1892, após todo esse tempo, consegue
trabalhar esse tema de maneira tão viva e eficiente. Até porque as mulheres
conseguiram muitas coisas, mas muito mais ainda tem de ser feito. E esse livro
é um belo exemplo do que deve ser feito, da forma como as mulheres devem se
libertar, se entregar a algo e lutarem com ímpeto por aquilo que desejam.
Achei muito bacana da parte da
Editora José Olympio ter lançado essa edição física do conto. Não somente por
isso, claro, mas por todo o esmero que tiveram com a edição — que tem uma capa
linda, um formato de bolso e ainda conta com Prefácio e Posfácio, que auxiliam
inteiramente na compreensão e aprofundamento do conteúdo trabalhado pelo conto.
Em minha opinião, este é o tipo
de livro que todos, independente de gênero, cor ou raça, deveriam ler — até
porque é uma leitura rápida, um livro feito para refletir. Perkins faz um
convite em seu conto. Ela convida as mulheres a saírem de suas casas, a deixarem
de serem isoladas do mundo. Sobretudo, a rasgarem o papel de parede que as
prendem. Sair dele continua não sendo fácil, como a prefaciadora Marcia Tiburi
diz, mas é o convite da autora em seu generoso gesto literário. Acredito que
não seja necessário dizer que eu recomendo, mas vamos lá: tem imploro pra dar
uma chance!
"Este papel olha para mim como se soubesse da terrível influência que exerce!"
Até queria ler a sua resenha, mas parei quando li "isolação". Será que você não quis dizer "isolamento"?
ResponderExcluirhttp://www.priberam.pt/dlpo/isola%C3%A7%C3%A3o
ExcluirNossa! Que pena que não terminou de ler a resenha, ela é extremamente educativa e importante. Não houve erro gramatical, visto que por mais que a palavra "isolação" seja usada muito no sentido "fita isolante", no âmbito da Eletricidade, a palavra ainda significa "ação de isolar, isolamento". Entendeu? Se eu tivesse dito "isolamento", o sentido não mudaria em absolutamente nada. ;) Mas obrigado pela chamada.
ResponderExcluirTenha uma boa noite.
Pedro Oliveira
EQUIPE PL
Boa tarde, como vai?
ResponderExcluirLi (e ouvi o audibook) The Yellow Wallpaper mês passado. Vi muita gente falando desta obra e li um arquivo que eu tinha no Kobo em Inglês. Eu soube que esta tradução está cheia de informação, né? O arquivo que li tinha uma curta biografia e o conto.
Primeiro: Gostei muito da obra. com certeza. Mas teve muitos momentos que dava uma certa angústia continuar a leitura, em perceber o estado da personagem.
E o que me deixou mais perplexo é a mudança/"piora" gradativa que ocorre durante o livro com o estado de saúde dela.
E o final? Achei muito pesado.
Contudo, acho uma leitura muito relevante pra todo mundo.
Parabéns pelo seu post! Está bem explicado, bem detalhado -além de trazer uma biografia da autora.
http://incriativos.blogspot.com.br/