Livro: A Assombração da Casa da Colina
Título Original: The Haunting of Hill House
Autor (a): Shirley Jackson
Editora: Suma
Páginas: 237
ISBN: 978-85-5621-063-1
Sinopse: Vista por mestres como Stephen King e Neil Gaiman como a rainha do terror, Shirley Jackson entrega um livro perturbador sobre a relação entre a loucura e o sobrenatural. Sozinha no mundo, Eleanor fica encantada ao receber uma carta do dr. Montague convidando-a para passar um tempo na Casa da Colina, um local conhecido por suas manifestações fantasmagóricas. O mesmo convite é feito a Theodora, uma alma artística e “sensitiva”, e a Luke, o herdeiro da mansão. Mas o que começa como uma exploração bem-humorada de um mito inocente se transforma em uma viagem para os piores pesadelos de seus moradores. Com o tempo, fica cada vez mais claro que a vida, e a sanidade, de todos está em risco.




Shirley Jackson nasceu em São Francisco, Califórnia, em 1916, e faleceu em 1965. Uma das principais autoras americanas do século XX, considerada a Rainha do Terror, influenciou escritores como Stephen King, Nail Gaiman, Sarah Waters, Nigel Kneale e Joane Harris. A assombração da Casa da Colina foi seu penúltimo romance, publicado em 1959, quando Jackson já sofria com graves problemas de saúde causados pelo fumo e pelo uso excessivo de medicamentos. Seu trabalho é aclamado pelo público e pela crítica. Além de A assombração da Casa da Colina, a Suma também publicou Sempre Vivemos no Castelo, o último romance da escritora.

    O doutor em Filosofia, John Montague, sempre sentiu que sua vocação estava ligada ao âmbito das análises de manifestações sobrenaturais. Ao tomar conhecimento da Casa da Colina, uma enorme habitação localizada em um lugar remoto, sobre o topo de uma colina, ele logo se enche de fôlego para analisar o mistério que a cerca. Ao vasculhar a história da casa, o dr. Montague percebe que os antigos moradores nunca passaram mais que cinco dias no lugar, mas não sabem relatar exatamente a experiência que passar alguns dias na casa lhes proporcionou. Para realizar a análise, o doutor convida algumas pessoas, que segundo suas pesquisas, já passaram por experiências de cunho sobrenatural antes, e por isso estariam aptas a fazer observações pertinentes. 
    Entre os escolhidos, estavam Eleanor Vance e Theodora, duas mulheres muito diferentes: Eleanor vivia às custas de sua irmã e do marido dela depois da morte da mãe, da qual cuidou durante muitos anos, o que a fez perder a maior parte de sua juventude. Ressentida com os rumos de sua vida, ela se sente revigorada quando recebe o convite do dr. Montague, pois acredita que finalmente poderá fazer parte de algo relevante e talvez consiga ter amigos. Enquanto isso, Theodora (que não usa seu sobrenome, e gosta de ser chamada apenas de Theo), muito curiosa e extrovertida, divide um apartamento com uma amiga e é uma jovem mulher independente. Theo fica empolgada em embarcar nos mistérios da Casa da Colina e aceita o convite sem pensar duas vezes. 
    Eleanor e Theo foram as únicas que realmente compareceram, além de Luke Sanderson, o herdeiro da Casa da Colina, e considerado por sua tia – a verdadeira dona da casa – um ladrão mentiroso. A condição era que um membro da família estivesse presente durante o tempo em que o dr. Montague e suas acompanhantes ficariam na casa, e por isso Luke foi. Aos poucos, eles vão desvendando os mistérios que rodeiam o casarão, conhecem melhor a história de seus primeiros moradores e criam uma relação regada de amor e ódio – pela casa e entre eles.

    Sempre ouvi falar de Shirley Jackson como um das grandes referências na literatura de terror, além de ser uma influência clara para Stephen King, o mestre do terror psicológico – e apenas lendo A assombração da Casa da Colina, pude observar o porquê de tal influência. Livros de mistério e terror sempre me deixam muito empolgada, e as histórias criadas por King hoje figuram entre minhas favoritas do gênero. Porém, nunca havia lido nada desse estilo escrito por uma mulher, e sentia a necessidade de ter essa carga, afinal, considero também uma forma de representatividade – e não pude ficar mais satisfeita.
    A escrita de Jackson é diferente de tudo que já li. Ela tem uma maneira de envolver o leitor na história que pode soar muito peculiar para quem tem o primeiro contato com a autora através deste livro. Tomando Eleanor sob o foco narrativo principal, Jackson nos põe dentro dos pensamentos da personagem, nos apresentando todos os seus sentimentos, suas impressões acerca da casa e de seus novos amigos, além do medo que sente em determinados momentos. A narrativa em terceira pessoa não interfere nem um pouco nessa imersão.

"– Tudo é pior – ele afirmou, olhando para Eleanor – quando você acha que tem alguma coisa te olhando" (p. 116).


Olá, leitores! Na coluna Li até a página 100 e... de hoje, apresentarei minhas primeiras impressões sobre o livro A assombração da casa da colina, da autoria da rainha do terror, Shirley Jackson.

PRIMEIRA FRASE DA PÁGINA 100: "– De verdade?".

DO QUE SE TRATA O LIVRO: O Dr. John Montague, que sempre teve curiosidade em analisar manifestações sobrenaturais, seleciona algumas pessoas – que segundo sua pesquisas passaram por experiências do tipo – para passar um tempo analisando junto a ele os eventos sobrenaturais da casa da colina, uma casa que, como o próprio nome já diz, fica no topo de uma colina, e é conhecida por ser mal-assombrada. Ninguém nunca passou mais do que alguns dias no lugar, que pertence à família Sanderson. Luke Sanderson, um integrante de caráter duvidoso da família, é enviado para acompanhar a estadia do Dr. Montague, que obteve sucesso em receber o retorno de Eleanor e Theodora, duas mulheres muitos diferentes que resolvem encarar o desafio de estudar a assombração da casa da colina.

O QUE ESTÁ ACHANDO ATÉ AGORA?
A escrita de Shirley Jackson é diferente de tudo que já li. Ela não só envolve o leitor na história, como também nos põe dentro da cabeça do personagem mesmo com a narrativa em terceira pessoa. Apesar de ter sido uma introdução longa (apresentando a história da casa e dos personagens), não se tornou enfadonha, tem bastante ritmo e está me deixando cada vez mais animada para conhecer os mistérios que cercam a casa da colina.

O QUE ESTÁ ACHANDO DO PERSONAGEM PRINCIPAL?
Eleanor é o foco do enredo. Através da escrita bem detalhada de Jackson, é possível entrar em seus pensamentos com facilidade. Não foi difícil se identificar com Eleanor. Ela é o tipo de jovem mulher anti-social, que tenta se encaixar esconder seus dramas de todos para se sentir mais normal e pertencer a um grupo. Sua interação com os demais personagens é um espetáculo à parte, pois formam uma equipe perfeita e que tem tudo para tornar essa história ainda mais empolgante.

MELHOR QUOTE ATÉ AGORA:

"As pessoas, o doutor disse com tristeza, estão sempre ávidas por dar nome às coisas, mesmo que o nome seja sem sentido, contanto que tenha uma sonoridade científica". 

VAI CONTINUAR LENDO?
Claro! Este é meu primeiro contato com uma obra de Jackson e a primeira impressão (até a página 100) foi ótima. Confesso que o comentário de Stephen King na capa foi um dos fatores que mais me deixou esperançosa quanto a essa história.

ÚLTIMA FRASE DA PÁGINA 100: "– Não se os livros tiverem o cheiro da biblioteca".


Livro: O Destino de Tearling
Título original: The Fate of the Tearling
Autor (a): Erika Johansen
Editora: Suma
Páginas: 358
ISBN: 978-85-5651-058-7
Sinopse: Desde que assumiu o trono de Tearling, Kelsea Glynn passou de princesa inexperiente a rainha destemida. Sua busca por justiça fez com que todo o reino mudasse com ela, mas quando os inimigos que fez ao longo do caminho ameaçam destruir seu povo, ela toma uma decisão inimaginável: se rende à Rainha Vermelha em troca de salvar Tearling. Sem as safiras, sem seus homens de confiança e trancafiada em Mortmesne, Kelsea precisa de novo recorrer ao passado, às experiências de mulheres que viveram antes dela, buscando em suas histórias a saída para uma situação impossível. O jogo está para terminar, e o futuro de Tearling será revelado de uma vez por todas. Com O destino de Tearling, Erika Johansen traça o clímax inesquecível dessa aventura cheia de magia e emoção.


TRILOGIA "TEARLING"
    3.  O Destino de Tearling

Felipe Erika Johansen, de 35 anos, cresceu e mora na San Francisco Bay Area. Estudou na Swarthmore College, completou seu mestrado na Iowa Writer's Workshop e mais tarde se tornou advogada. Johansen decidiu começar a escrever quando viu Stephen King, seu escritor favorito, ganhar o National Book Award em 2003, até que em uma noite de 2007, ela sonhou com o mundo de Tearling. Alguns dias depois, Erika assistiu a um discurso de Barack Obama que lhe deu inspiração para criar Kelsea, a heroína da série. Os direitos de filmagem foram comprados pela Warner Bros, tendo Emma Watson escalada como a protagonista. A frente do projeto está David Heyman, produtor de filmes como Harry Potter e O Menino do Pijama Listrado.

    Este terceiro e último livro dá continuidade aos eventos de A invasão de Tearling, onde Kelsea é presa como refém pela Rainha Vermelha e lhe dá as safiras tear em troca da promessa de que a Rainha não ataque Tearling por ao menos três anos. Porém, os planos de ambas são frustrados: as safiras não funcionam nas mãos da Rainha e os soldados mort estão se rebelando contra ela – desde que fez a promessa a Kelsea, a Rainha ordenou a retirada de todos os soldados, sem que tivessem direito a  saques e pilhagem, o que os chateou –, passando a trabalhar sob o comando de outro superior. Os soldados mort, então, se voltam contra Tearling. Fetch, disfarçado de Levieux, atiça a revolta entre os civis e tenta derrubar a falsa estabilidade de Mortmesne baseada na tirania da Rainha Vermelha. O reino tear se vê indefeso: sem Kelsea para defendê-los e com o exército desfalcado, Clava, o regente e capitão da Guarda Real, decide que precisa tomar medidas urgentes, sendo obrigado a escolher entre o reino e Kelsea.
    Além disso, o fato de Kelsea ter libertado Rowland Finn (o demônio que falava com a Rainha Vermelha através do fogo) contribuiu para que o caos se espalhasse em todos os reinos. Row precisava da coroa desaparecida, que se encontrava sob posse do Pe. Tyler desde os acontecimentos no segundo livro. Com uma grande recompensa para que o encontrassem (tanto do reino de Tearling quanto da igreja), o padre continuava sumido. Culpando-se pela libertação de Row, Kelsea se une à Rainha Vermelha, que, relutante, admite que precisa de sua ajuda. Mesmo sem as safiras, Kelsea consegue ter vislumbres do passado, mas desta vez ela não está mais no corpo de Lily, e sim no de Katie, uma garota que nasceu na Nova Londres pós-travessia.
    Katie era a melhor amiga do jovem Row, de apenas catorze anos. Ambos pertenciam à nova geração que nasceu logo depois da travessia, assim como o filho de Lily e William Tear, Jonathan Tear – conhecido pelas histórias como o segundo depois de William Tear e assassinado misteriosamente. Kelsea já tinha conhecimento que Row e Fetch foram os responsáveis pelo assassinato de Jonathan, mas através de Katie vê como tudo se desenrolou. Conhecendo o jovem Row e suas ambições, seu lado gentil com Katie, seus primeiros passos com o uso de magia das trevas, etc., Kelsea se pergunta se não apenas pode ver o passado, mas também modificá-lo, e principalmente: quais consequências alterar o passado traria para o presente?

"Força é o que sobra quando todas as outras opções foram exauridas" (p. 316).

    Estava ansiosa pelo desfecho dessa trilogia, não pensei duas vezes antes de começar a ler assim que o livro chegou. O primeiro não me deixou muito animada, apesar de a proposta ter sido interessante. Com o segundo, consegui me prender totalmente a trama, pois não somente vi o desenrolar dos fatos no mundo de Kelsea, como também o mundo em que vivemos totalmente devastado por corrupções, desigualdade e tirania, percebendo que o livro era muito mais que uma mera ficção. O terceiro trouxe um pouco da fórmula dos outros e muito mais. Sendo a trilogia Tearling a estreia de Johansen no meio literário, posso afirmar que abriu com chave de ouro esse extenso caminho.
    A escrita de Johansen é bastante descritiva e se prende a detalhes. Apesar de isso ser um problema para algumas pessoas, todos esses detalhes e descrições são essenciais para fazer da história o que ela é e permitir que nos envolva. Com os dois primeiros livros, demorou mais do que eu esperava para que a narrativa se tornasse frenética. Porém, em O destino de Tearling, a ação é notável desde as primeiras páginas e o ritmo absorve automaticamente, tornando o ato de largar o livro uma missão quase impossível. O narrador em terceira pessoa foca em vários personagens e faz com que entremos em suas histórias, emergindo no fantástico mundo criado por Johansen. 
   Kelsea, a protagonista, está mais forte do que nunca. Foi maravilhoso ver sua evolução. Enquanto no primeiro ela ainda era uma menina dando seus primeiros passos ao assumir o trono de um reino que mal conhecia, no segundo ela buscava não apenas justiça, mas sangue, dando vida a "dama de espadas" – uma espécie de outro "eu". Por fim, no terceiro, ela consegue encontrar o ponto de equilíbrio entre suas personalidades conflitantes e descobrir mais sobre si mesma – o poder que possui, as safiras, seu passado, sua família, etc. Mesmo não concordando com todas as suas atitudes, é impossível não admirar essa personagem forte e determinada, com uma beleza fora dos padrões – exatamente o oposto do protótipo já formulado de "mocinha" que temos na literatura e em outros produtos.
    Evelyn Raleigh, a Rainha Vermelha, também teve seu espaço na história. Depois de conhecermos melhor seu passado no segundo livro, suas atitudes se tornam mais claras. Mortmesne está desmoronando aos poucos e a Rainha vê como única alternativa se unir a Kelsea. Foi interessante observar a interação entre as duas personagens, pois uma é o oposto da outra, mas têm pontos em comum e havia até certa empatia regando a inusitada aliança. Fetch, que era visto por muitos como um mocinho disfarçado de vilão, tem suas fraquezas reveladas e seu senso de moral – praticamente nulo – começa a despontar. Quando Katie entra em cena, através das visões de Kelsea, nos deparamos com outra personagem forte e que, apesar de se sentir confusa a respeito das intenções de Row, seu grande amigo de infância, sabia diferenciar o certo do errado.
   A partir desses vislumbres do passado, começamos a conhecer Row e a realidade em que ele vivia: o Tearling em seus primeiros sinais de civilização, muito antes de levar esse nome – apenas Nova Londres –, ainda vivendo aquilo que William Tear havia idealizado desde o princípio. Também vemos como todo esse sonho ruiu. Outros personagens entram em cena, como Javel, o antigo guarda do portão que está em missão em Mortmesne em nome de Kelsea; Aisa, que em determinado momento da trama decide superar os traumas do passado e trilhar o próprio caminho; Brenna, a bruxa que busca vingança em nome de Allan Thorne; Ewen, o carcereiro da Fortaleza que sonha em se tornar um Guarda Real, entre outros. Todos são muito bem trabalhados, cada qual com suas características e motivações.

"– Uma população descontente vai desgastar até o estado mais seguro. Mas mesmo se a segurança fosse algo possível de se alcançar pela força, Lear, pergunte a si mesmo: quanto a segurança é importante? Por ela é válido minar regularmente todos os princípios sobre os quais uma nação livre foi fundada? Que tipo de nação você vai ter, então?" (p. 298).

  Como falei antes, a trilogia Tearling não se resume a uma distopia com cenário medieval ao fundo. Johansen claramente utiliza uma série de referências que tangem a nossa realidade. A todo momento as personagens de Kelsea e Katie se questionam sobre os seus princípios – até onde devem ir para fazer o que é correto? Vale mesmo a pena se igualar a seus inimigos para defender aquilo que acredita? Uma série de questões morais permeiam todo o enredo, e mostram que nem mesmo as melhores personagens estão livres de cometer erros. Johansen criou um mundo fictício que serviu como a metáfora perfeita do nosso mundo: ideias feitas para funcionar, mas que sempre acabam em catástrofe quando envolvem ambições e egoísmos próprios do ser humano. Ela trabalha o conceito de ideologia envolvido na formação do Tearling para mostrar que as boas intenções podem ser transformadas em algo ruim quando postas em prática. No segundo livro, vemos William Tear idealizando "o mundo melhor" – como dizia o lema de seu movimento –, mas neste desfecho vemos como esse mundo ruiu e se transformou no caos governado por Kelsea.
   A história aponta, em suas entrelinhas, o perigo de ideologias mal interpretadas e aplicadas, o quão fácil é para nós esquecermos do passado (e como diria Nitzsche, por isso estamos fadados a viver um ciclo eterno, onde faremos todas as coisas se repetirem. É o que diz Cazuza também em O tempo não para: "eu vejo o futuro repetir o passado, eu vejo um museu de grandes novidades"). Também mostra o quão arriscado é concentrar o poder nas mãos de um só líder e como isso pode ser o fio tênue para chegar ao autoritarismo – pois, por mais que William Tear não desejasse essa alcunha, bastou que todos os vissem como ditador para que ele se tornasse um e, consequentemente, resvalando o sentimento para Jonathan.
  O desfecho foi satisfatório para mim. Os mistérios formados no início da trilogia se abriram gradualmente ao longo do livro, tornando a história um grande quebra-cabeça, mas ainda deixou muitas pontas soltas (que como a própria autora disse, ficarão mesmo sem respostas, e pediu perdão por isso). Ela também comenta, em seus agradecimentos, o seu grande objetivo ao escrever uma trilogia como essa, e, por incrível que pareça, ele corresponde exatamente ao que senti desde o primeiro livro:

"[...] estou determinada a fazer esse reino ecoar a vida, onde respostas às nossas perguntas não são entregues em um pacote lindo com uma fita, mas precisam ser conquistadas, por experiências e frustrações, às vezes até lágrimas (e, acreditem, nem todas essas lágrimas são de Kelsea). Às vezes, as respostas não vêm".

  A capa deste último livro continua combinando bem com a dos dois primeiros (azul e vermelho, respectivamente). Adotar cores vivas deu um toque especial à trilogia, obtendo magia por toda parte quase literalmente. As ilustrações que ajudaram a ornamentá-la a fizeram ainda mais bonita que as originais, publicadas pela editora americana HaperCollins. A Suma mais uma vez está de parabéns, pois mudou sua marca, mas felizmente a qualidade permanece. Não encontrei erros de tradução ou revisão e a diagramação polida vista nos dois primeiros continua presente. O mapa no início (presente também nas versões originais) foi de grande ajuda, mas continuo sentindo falta de ver um mapa completo, que abranja toda uma página (ou que sangre para duas, como normalmente ocorre).
   No final das contas, tudo o que queremos é um mundo melhor, assim como William Tear, Lily Freeman, Kelsea Glynn, Clava, Pen, Aisa, Pe. Tyler e até mesmo Evelyn Raleigh. Um mundo onde nossas vidas têm valor e são cercadas de respeito e solidariedade mútuos. O que a trilogia Tearling ensina é que, mais do que lutar, precisamos acreditar naquilo que estamos lutando. Johansen recheou sua história de magia e ficções inacreditáveis como visões e viagens no tempo, de um clima medieval estranho a nós, leitores contemporâneos. Mas também pôs muita verdade: sistemas políticos baseados em corrupção e ambições, ricos ficando cada vez mais ricos, pobres ficando cada vez mais pobres, fundamentalismo religioso que privilegia grupos específicos, entre outras coisas pelas quais estamos cercados. Por isso, apesar de se tratar de uma história fictícia, provavelmente foi uma das melhores trilogias que já tive o prazer de conhecer. Finalizo esta resenha (e este ciclo de Tearling) indicando os três livros não apenas como passatempo, mas como leituras realmente necessárias.

Primeiro parágrafo: "Muito antes de a Rainha Vermelha de Mortmesne chegar ao poder, o Glace-Vert já era uma causa perdida. Não passava de uma área de taiga esquecida na sombra das montanhas de Fairwitch: as planícies endurecidas possuíam apenas uma leve sugestão de grama, e os poucos vilarejos eram meros aglomerados de cabanas e brejos. Poucos arriscavam se aventurar ao norte de Cite Marche se não houvesse outra opção, pois a vida naquelas planícies era dura. A cada verão os aldeões de Glace-Vert sofriam com o calor sufocante; a cada inverno, congelavam e passavam fome".
Melhores quotes: "O erro da utopia é presumir que tudo vai ser perfeito. A perfeição pode ser a definição, mas nós somos humanos, e mesmo para a utopia levamos nossas dores, erros, invejas e desgostos. Não podemos renunciar aos nossos defeitos, mesmo com a promessa do paraíso no horizonte, e, por isso, planejar uma nova sociedade sem levar em conta a natureza humana é destinar essa sociedade ao fracasso".




Olá, leitores! Na coluna Li até a página 100 e... de hoje, apresentarei minhas primeiras impressões sobre o último livro da Trilogia Tearling, O Destino de Tearling, escrito por Erika Johansen.


PRIMEIRA FRASE DA PÁGINA 100: "Seis longos anos ele a deixou ali, para que ela pudesse se tornar a mulher à sua frente".

DO QUE SE TRATA O LIVRO: Seguindo os eventos de A Invasão de Tearling, este último livro da trilogia se dispõe a mostrar o que aconteceu com Kelsea Glynn, a protagonista e rainha de Tearling. Sua busca por justiça fez com que ela fosse capturada pela Rainha Vermelha, a soberana do reino de Demesne, e mantida como refém sob a condição de o exército de Demesne deixar todo o povo tear em paz. Porém, algo ruim está à solta e apenas Kelsea – com seus poderes de vislumbrar o passado, na época da Travessia – pode pará-lo.

O QUE ESTÁ ACHANDO ATÉ AGORA?
Essa história me conquistou desde o primeiro livro e até então tem me conquistado cada vez mais. Cheguei à página 100 e posso afirmar que o livro está muito mais envolvente que qualquer um dos dois primeiros quando eu havia chegado à mesma página. A história já iniciou com um ritmo maravilhoso e com novos personagens (que eu sempre quis ver como focos narrativos) entrando em cena.

O QUE ESTÁ ACHANDO DO PERSONAGEM PRINCIPAL?
Kelsea Glynn se encontra mais amadurecida depois dos maus bocados que passou desde que foi presa como refém em Demesne. Sua personagem sofreu grande evolução desde o primeiro livro, A Rainha de Tearling, e isso pode ser percebido logo nas primeiras páginas.

MELHOR QUOTE ATÉ AGORA:

"Essas pessoas sentem tanto orgulho de seu ódio! O ódio é fácil e, ainda por cima, preguiçoso. É o amor que exige esforço, o amor que cobra um preço de cada um de nós. O amor tem um custo; esse é o valor dele".

VAI CONTINUAR LENDO?
Sim, mal posso esperar para chegar ao final (mesmo sabendo que haverá aquela tristeza típica de quem se arrepende de ter lido rápido demais). Ainda há muitos mistérios a serem revelados e talvez algumas teorias que venho imaginando desde o primeiro livro possam finalmente se revelar reais (ou não!).

ÚLTIMA FRASE DA PÁGINA 100: "O homem adoraria bater nele até ele virar mingau".


Livro: O Dueto Sombrio
Título Original: Our Dark Duet
Autor (a): Victoria Schwab
Editora: Seguinte
Páginas: 443
ISBN: 978-85-5534-066-6
Sinopse: Kate Harker não tem medo do escuro. Ela é uma caçadora de monstros — e muito boa nisso. August Flynn é um monstro que tinha medo de nunca se tornar humano, mas agora sabe que não pode escapar do seu destino. Como um sunai, ele tem uma missão — e vai cumprir seu papel, não importam as consequências. Quase seis meses depois de Kate e August se conhecerem, a guerra entre monstros e humanos continua — e os monstros estão ganhando. Em Veracidade, August transformou-se no líder que nunca quis ser; em Prosperidade, Kate se tornou uma assassina de monstros implacável. Quando uma nova criatura surge — uma que força suas vítimas a cometer atos violentos —, Kate precisa voltar para sua antiga casa, e lá encontra um cenário pior do que esperava. Agora, ela vai ter de encarar um monstro que acreditava estar morto, um garoto que costumava conhecer muito bem, e o demônio que vive dentro de si mesma.

DUOLOGIA "MONSTROS DA VIOLÊNCIA"
    1.  A Melodia Feroz
    2.  O Dueto Sombrio
  2.1  The Dark Vault (A abóbada escura, em tradução literal)

Victoria Schwab é autora de romances jovens adultos e de fantasia, como A guardiã de histórias e a série Um Tom Mais Escuro de Magia. Quando não está escrevendo ou sonhando com monstros em algum café, Victoria gosta de viajar, fazer biscoitos e assistir a séries da BBC. O dueto sombrio é o segundo livro da duologia Monstros da Violência, publicada no Brasil pela editora Seguinte, selo da Cia das Letras.

    A história contada em O dueto sombrio se passa seis meses após os eventos de A melodia feroz. Vemos Katherine Harker vivendo como uma caçadora mercenária em Prosperidade, um dos dez territórios nos quais os Estados Unidos se dividiu após anos de guerra. Prosperidade parece uma cidade normal, bem diferente da distopia que existe em Veracidade, mas Kate e seus amigos – os Guardiões – sabem que os monstros também começaram a surgir por lá. Por isso, Kate toma como objetivo exterminá-los, o máximo que conseguir. Porém, mortes estranhas começam a ocorrer e, ao se debruçar sobre elas, Kate descobre o Devorador de Caos, um novo monstro que provoca a violência e se alimenta dela. Entrando na mente das pessoas, o monstro desata o nó da sanidade e faz com que ataquem umas as outras ou a si mesmas.    
    Ao entrar na mente de Kate, viu Veracidade e o potencial de causar violência que os habitantes da cidade teriam, sendo de muita serventia para ele. Mas o monstro deixou um rastro, e Kate o seguiu, vendo-se obrigada a retornar à Cidade V e encarar os fantasmas que deixou para trás. Enquanto ela encarava monstros em Prosperidade, August encarava monstros em Veracidade. Após a morte de seu irmão Leo, o sunai assumiu o comando do Complexo X, a resistência formada ao Sul da cidade, e se tornou o herdeiro de Henry, que vê sua saúde se debilitar cada vez mais. August precisou amadurecer e abafar seus sentimentos para fazer o que tinha de ser feito. Os humanos que ainda habitavam o lado Norte passaram a se refugiar ao Sul, vendo como última alternativa se aliar à resistência, pois Sloan – o antigo braço direito do pai de Kate, Callum Harker, agora morto – está no comando da cidade espalhando violência para todos os lados. Mas Sloan não está sozinho. Agora ele tem Alice ao seu lado, a malchai criada a partir do homicídio que Kate cometeu – e ela tem um objetivo: matar sua criadora.
   Quando Kate e August finalmente se encontram, ela não pode deixar de notar o quanto aquele garoto doce e gentil que conheceu parece não existir mais. Em seu lugar há um líder que não pensa duas vezes antes de "punir os pecadores". Mas o que ela não sabe é que sua chegada despertará o antigo August, que se sente cada vez mais confuso sobre os princípios morais que nutriu durante toda a vida. Depois de ter matado Leo, sua voz não sai da cabeça do sunai, que passa a viver um tormento de culpa e conflito com seu "eu" interior – que se divide entre monstro e humano.


Olá, leitores! Na coluna Li até a página 100 e... de hoje, apresentarei minhas primeiras impressões sobre o segundo livro da duologia Monstros da Violência, O dueto sombrio (confira aqui a resenha do primeiro: A melodia feroz), escrita por Victoria Schwab.


PRIMEIRA FRASE DA PÁGINA 100: "Ele se move no nada".

DO QUE SE TRATA O LIVRO: A história se passa seis meses após o final do primeiro, A melodia feroz, quando Katherine Harker está instalada em Prosperidade caçando os monstros que começaram a surgir por lá enquanto August Flynn está no comando do Complexo X, cumprindo a missão de matar os chamados "pecadores" sempre que necessário. Porém, quando um novo monstro surge em Prosperidade e entra na mente de Kate, vê que Veracidade pode ser um bom destino para suas artimanhas, o que a atrai de volta para a cidade na qual deixou seus fantasmas, inclusive August. 

O QUE ESTÁ ACHANDO ATÉ AGORA?
Terei que repetir exatamente o que falei na coluna Li até a página 100 e... que fiz sobre o primeiro livro no ano passado: a leitura está lenta, não pegou o ritmo que eu gostaria e se eu não estivesse tão ansiosa para saber o que acontecerá quando Kate e August se encontrarem, talvez não estivesse lendo rápido como estou. Está sendo uma introdução muito longa, onde Schwab se prende a detalhes de como os protagonistas passaram os seis meses que marcam o intervalo entre os dois livros.

O QUE ESTÁ ACHANDO DO PERSONAGEM PRINCIPAL?
Kate e August me conquistaram em A melodia feroz e até agora não estão me decepcionando. Ambos estão diferentes. Kate mudou bastante, está mais aberta, menos revoltada, pode-se observar que por baixo de sua pose durona está a garota que enfrentou todos os perigos e revelou suas fraquezas para August. Quando ao sunai, ele também demonstra evolução, mas em outro sentido: ao contrário de Kate, ele endureceu, e após ter sido posto no comando e sujado tanto as mãos, busca não se importar para não se ferir ainda mais. Até a página 100, eles permanecem separados – Kate em Prosperidade e August em Veracidade –, mas estou ansiosa para ver a antiga química (que deu tão certo no primeiro livro) entre eles quando se encontrarem.

MELHOR QUOTE ATÉ AGORA:

"— Os nomes têm poder –, mas um movimento não deveria ser criado a partir, em volta de ou para uma pessoa só. O que acontece se ela for embora? O movimento ainda existe? Um legado não deve ser uma limitação". 

VAI CONTINUAR LENDO?
Sim, apesar de estar sendo um início lento, a trama é instigante, toda a distopia que Victoria Schwab criou em torno dos Estados Unidos marcado pela violência, me encantou em A melodia feroz e continua me encantando até agora. De toda forma, a experiência de um início lento também foi vivida no primeiro livro da duologia, então estou esperando um crescimento na ação do enredo e um final emocionante.

ÚLTIMA FRASE DA PÁGINA 100: "Definidos apenas pelo vermelho de seus olhos".


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