Livro: Mulheres
Autora: Carol Rossetti
Editora: Sextante
ISBN: 9788543102276 
Páginas:160
Sinopse: "Em 2014, a ilustradora Carol Rossetti começou a desenhar mulheres diversas para testar seus lápis de cor. Nunca poderia imaginar que suas criações despretensiosas ganhariam o mundo e iriam viralizar na internet a ponto de se tornarem matéria na CNN. Com um traço característico e frases inspiradoras, Carol quebrou tabus e espalhou uma mensagem que ecoou em mulheres do mundo todo: somos fortes, merecedoras de respeito e especiais do jeito que somos, independentemente de opiniões e julgamentos alheios. Agora, essa mensagem ganha o formato de livro e inclui textos sobre os temas centrais abordados em suas ilustrações, como corpo, estilo, identidade, relacionamentos e superação. "



    É sempre difícil discorrer a respeito de um assunto, tema, ou, no caso, um livro, com o qual temos um ligação especial. Devo iniciar a seguinte resenha afirmando que o tema abordado por Carol Rossetti carrega um significado tão pesado para mim — mulher, jovem e feminista —, e condiz com ideias que, em minha vida pessoal, sempre busquei saber mais sobre, espalhar e incentivar. Mas, abordemos tal assunto por partes...
   Em 2014, imagens inspiradoras de incentivo feminino viralizaram na rede social mais popular da internet, o Facebook. Eram obras da ilustradora Carol Rossetti, que, a partir de sua própria experiência de vida, de relatos de amigas, conhecidas e desconhecidas, iniciou um projeto despretensioso, mas que despertaria a voz de milhares de mulheres. Através de seus desenhos, Carol reforçou e colocou em evidência o fato de que cada mulher — independentemente de sua origem, cor, credo, gênero, orientação sexual e afins — é merecedora de um respeito intrínseco, que lhe é devido e, muitas vezes, ignorado. 
   Contrariando padrões sociais, raciais, sexuais e religiosos, Rossetti conseguiu expor as dezenas de inseguranças femininas — fomentadas tanto pela sociedade patriarcal, quanto pela opressora indústria da "beleza" — e transmitir a mensagem, em alto e bom tom, de que nós, mulheres, somos, cada uma, seres especiais e únicos, e que padrões preconceituosos, historicamente pré-estabelecidos e recheados de preconceitos, não devem (e nem irão!) ser aceitos pela sociedade moderna. Abordando assuntos como corpo, estilo, identidade, relacionamentos e superação, a ilustradora é expressiva em sua arte, que se mostra um instrumento fortalecedor e emocionante. 
   
   É válido esclarecer, primeiramente, que, apesar do livro de Carol Rossetti tratar sobre mulheres, não é um livro exclusivamente voltado a elas. Na realidade, suas obras têm como alvo todo o ser humano, incentivando uma desconstrução do modelo predominante na sociedade atual e buscando abrir a mente de todos às diversidades existentes — assim como cada possui possui o dever de respeitá-las. Para compreender essa obra é imprescindível que pré-conceitos, julgamentos e ideias provenientes do senso comum sejam deixadas de lado, assim como é necessária uma reflexão acerca desses julgamentos que, por estarem tão inseridos em nossa sociedade, acabamos reproduzindo sem maiores análises. 
    O livro é dividido em seis partes: Corpo, Moda, Identidade, Escolhas, Amores e Valentes. Cada página retrata uma personagem diferente, criada através das ilustrações de Carol, e uma situação vivenciada por ela — sendo, assim, uma reprodução de frases e situações pelas quais mulheres passam todos os dias. Tais situações, ainda que possam parecer banais a alguns e irreais a outros, retratam, com perfeição, as angústias de cada mulher: e ainda conseguem, de quebra, transmitir uma mensagem de incentivo a elas. É possível notar mensagens sobre racismo, intolerância religiosa e sexual, preconceito, homofobia, transfobia, gordofobia e anorexia, entre diversos outros. 

"São tantas mulheres diferentes no mundo que eu poderia continuar para sempre. Cada uma tem sua própria história, e acredito que todas elas merecem ser ouvidas e representadas."

    É impossível, sendo alguém que já passou por diversos (e sim, aqui falamos em um número incontável) dos relatos abordados, não se emocionar com o conteúdo do livro. Enquanto realizava a leitura, lembrava de diversas situações pelas quais já passei, e passo todos os dias, assim como relatos de amigas, conhecidas e irmãs. A autora foi feliz em mostrar a seu público como é necessária a  nossa libertação dessas amarras impostas pela sociedade e pelo próprio ser social.

   Interessante, em adição a isso, que, quando me refiro a identificação que senti lendo Mulheres, não quero dizer apenas a identificação com os alvos das críticas: também é fácil reconhecer alguns dos deslizes e julgamentos que nós mesmas e mesmos acabamos cometendo, in ou voluntariamente, e aprender com os conceitos aqui elencados. O livro leva o leitor a refletir acerca das famosas frases machistas e preconceituosas, tão repetidamente ditas no nosso dia a dia, e quebrar tais preconceitos e tabus do cotidiano, o que, por si só, já é um trabalho incrível. 
   Como a própria autora coloca em um dos trechos nos quais comenta:

"Existem mulheres negras, brancas, morenas, latinas, asiáticas, indianas, indígenas. Existem engenheiras, donas de casa, prostitutas, senadoras, artistas, executivas, atrizes. Há mulheres cegas, surdas, mudas. Mulheres bipolares, deprimidas, ansiosas. Existem heterossexuais, lésbicas, bissexuais, arromânticas, pansexuais, assexuais. Mulheres cristãs, ateias, budistas, islâmicas. Há mulheres que não são ativistas, que nunca ouviram falar em feminismo, que nunca discutiram racismo. Mulheres que lutam de formas diferentes, a partir de ideias que não conhecemos. Existem mulheres que têm vergonha de compartilhar suas escolhas por medo de serem julgadas. E mulheres que discordam de tudo isso que eu disse até aqui. Cada uma tem sua própria história, e acredito que todas elas merecem ser ouvidas e representadas. Minha abordagem será abrangente, convidando todos os que dividem comigo essa ideia de liberdade a celebrar a diversidade do ser humano."
 
   Por fim, posso afirmar, com certeza, de que essa foi uma das melhores leituras que realizei neste ano. Não se trata se uma história completamente ficcional, mas de uma crítica que, em suas curtas cento e sessenta páginas, consegue trazer a tona temas de extrema importância, que, infelizmente, não são abordados com a frequência que deveriam.

Primeiro parágrafo do livro:
"O projeto Mulheres foi uma das coisas mais incríveis que já aconteceram comigo. Quando dei início a uma produção pessoal de ilustrações para me obrigar a fazer um desenho por dia, não imaginei o que estava por vir. Centenas de pessoas se identificaram com as mulheres que eu criava, e minha página do Facebook se tornou um ambiente no qual mulheres de todo o mundo trocam ideias."

Melhor quote:

"Eu busco diálogo, discussões, que uns aprendam com os mundos e as experiências de outros. Nós não vamos mudar o mundo se mantivermos o diálogo restrito a um grupo relativamente pequeno de ativistas."

Por fim, deixo aqui algumas das páginas do livro divulgadas na fanpage:


4 Comentários

  1. Oie
    nossa, eu to muuuito desejando esse livro, adorei o tema e as ilustrações e sempre vejo vários elogios como o seu ahha com certeza as mulheres precisam e vamos conquistar muito mais e passar por cima dos preconceitos,

    Beijos
    http://realityofbooks.blogspot.com.br/

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  2. Oi, tudo bem? Vim convidar você para conhecer o projeto #MulheresdaLiteratura, onde temos um desafio em que o objetivo é divulgar cada vez mais livros escritos e protagonizados por mulheres! Vem problematizar conosco você também! <3

    https://www.facebook.com/events/1564014080586237/

    Att.,
    Eduarda Henker
    www.queriaestarlendo.com.br

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  3. Olá!

    Indiquei seu blog para o Prêmio Dardos Blogger, confere lá!
    http://booksimpressions.blogspot.com.br/2016/03/indicacao-premio-dardos-bloggers.html

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  4. Oii, eu quero muito ler esse livro, mas infelizmente ainda não tive oportunidade :/ E devo dizer que amei a resenha você fez de um ponto diferente. E eu amo abordar esses assuntos. já que se é dito que vivemos em uma sociedade miscigenada por que ainda há tamanho preconceito não é? Eu demorei anos pra me aceitar e aceitar meu cabelo e eu até falo muito disso lá no blog porque é importante de mais. Pra mim a palavra do ano é: aceitação.

    ❥Blog:Gordices Literárias

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