Livro: A Invasão de Tearling
Autor(a): Erika Johansen 
Editora: Suma de Letras 
Páginas: 395
ISBN: 978-85-5651-047-1
Sinopse: Kelsea Glynn é a rainha de Tearling. Apesar de ter apenas dezenove anos e nenhuma experiência no trono,ela ficou rapidamente conhecida como uma monarca justa e corajosa. No entanto, o poder é uma faca de dois gumes. Ao interromper o comércio de escravos com o reino vizinho e tentar conseguir justiça para seu povo, ela enfurece a Rainha Vermelha, uma feiticeira poderosa e com um exército imbatível. Agora, à beira de ver o Tearling invadido pelas tropas inimigas, Kelsea precisa recorrer ao passado, aos tempos de antes da Travessia, para encontrar respostas que podem dar ao seu povo uma chance de sobrevivência. Mas seu tempo está acabando... Nesta continuação de A rainha de Tearling, a incrível heroína construída por Erika Kohansen volta para outra aventura cheia de magia e reviravoltas.

TRILOGIA "TEARLING"
    2.  A Invasão de Tearling
    3.   The Fate of the Tearling (O Destino de Tearling em tradução livre)


Erika Johansen, de 35 anos, cresceu e mora na San Francisco Bay Area. Estudou na Swarthmore College, completou seu mestrado na Iowa Writer's Workshop e mais tarde se tornou advogada. Johansen decidiu começar a escrever quando viu Stephen King, seu escritor favorito, ganhar o National Book Award em 2003, até que em uma noite de 2007, ela sonhou com o mundo de Tearling. Alguns dias depois, Erika assistiu a um discurso de Barack Obama que lhe deu inspiração para criar Kelsea, a heroína da série. Os direitos de filmagem foram comprados pela Warner Bros, tendo Emma Watson escalada como a protagonista. A frente do projeto está David Heyman, produtor de filmes como Harry Potter e O Menino do Pijama Listrado.

   Após os acontecimentos do livro A Rainha de Tearling, Kelsea vem se adaptando cada vez melhor ao trono. Quando o povo do reino de Tearling viu seu poder, a jovem de apenas dezenove anos não se tornou apenas admirada, mas também temida. As safiras continuam penduradas em seu pescoço e quanto mais o tempo passa, mais poder ela descobre ter. A questão é: como controlá-lo e usá-lo da melhor forma? Enquanto Tearling sofre a ameaça de uma invasão mort – desde que Kelsea proibiu que o povo de Tearling fosse enviado para Mortmesne como escravos, a Rainha Vermelha planeja vingança —, Kelsea enfrenta uma nova realidade ao descobrir que as safiras podem ir muito mais além do que imaginava.
   Três séculos antes da época em que a história se passa – é nesse tempo que vivia Lily Freeman (que se tornou Lily Mayhew depois de casar-se com Greg Mayhew). Seu mundo era um Estados Unidos completamente distópico. As liberdades foram esquecidas e o país vivia sob um governo autoritário que controlava cada passo de seu povo. Os ricos eram privilegiados e tinham toda a proteção do governo, contanto que se comportassem bem. Os pobres foram deixados de lado, marginalizados, obrigados a viver sob repressão constante – a não ser por aqueles que se rebelaram. E muitos fizeram isso. Esse foi o início da nova jornada rumo à Tearling. Mas o que Kelsea não consegue entender é o por quê de as safiras lhe mostrarem a vida de Lily, no que isso pode ajudar e o que a história dela tem de tão importante.
Durante o tempo em que vive essa dubiedade entre duas vidas diferentes, a Rainha Kelsea ainda tem de lidar com algo inesperado: aquele que chamam de a coisa sombria. No primeiro livro, pudemos ver o relacionamento que a Rainha de Mortmesne mantinha com a criatura que a visitava através do fogo e que, há muito tempo, havia lhe concedido poderes, como a imortalidade. Agora, é Kelsea que ele procura e é através de suas estratégias para conseguir o que quer, que Kelsea desvenda muitos mistérios que cercam sua vida e seu reino.

   O segundo livro é ainda melhor que o primeiro. Claramente a escrita de Johansen evoluiu muito, é incrível como ela adentra ainda mais no universo de Tearling e além dele. O desenvolvimento do livro foi uma boa surpresa e não tenho dúvidas de que Erika Johansen foi uma das melhores escritoras que descobri este ano. Espero ver muito mais de seu talento em outras obras, não só com o terceiro livro da trilogia (já estou aguardando o lançamento com muita ansiedade), mas também com outros. Em A invasão de Tearling, o que temos é uma versão mais aprofundada de A Rainha de Tearling, onde os mistérios se intensificam e a visão de outros personagem tornam-se foco ao lado da protagonista.
   A narrativa deste livro também superou em muito a do primeiro, que se arrastou nos primeiros capítulos e só conseguiu me prender de vez quando já havia lido mais da metade. Em A Invasão de Tearling, a história ganha o leitor logo no primeiro capítulo, quando somos apresentados a um novo e instigante personagem. Além disso, a narrativa estava em ritmo de subida o tempo inteiro, como uma montanha-russa. Muitos momentos de tensão marcam a narrativa, e mesmo as cenas mais tranquilas passam sensação de fluidez, pois mal dá para esperar a próxima surpresa que a história trará.
   Porém, isso não significa que Johansen perdeu sua marca. Assim como falei na resenha de A Rainha de Tearling, a autora descreve todos os detalhes e abre mão de muitos diálogos, focando em outros pontos da história – descrições de personagens, cenários, ações, etc. Johansen tem um cuidado muito específico com seus personagens. Ela nos envolve em suas histórias, fazendo com que descubramos seus medos e desejos. Isso faz com que sua narrativa seja onisciente e sempre em terceira pessoa. Desta vez, ela precisou lidar com a manutenção de capítulos diferentes para cada um dos personagens: e a lista aumentou consideravelmente neste segundo livro – algo que achei fantástico.


"Até mesmo pequenos gestos de gentileza têm potencial de conquistar recompensas enormes. Só um homem míope acreditaria em algo diferente" (p. 149).

   Mais uma vez, a escritora usa seus conhecimentos políticos para abordar em momentos apropriados dentro do universo fantástico. Este é um detalhe que dá veracidade à história. A rainha é a favor de uma política socialista, onde busca a justa cobrança de impostos divididos entre ricos e pobres. Os nobres perderam vários privilégios durante seu pouco tempo de governo e por isso Kelsea é odiada por eles – porém é amada pelo resto do povo na mesma medida. Além disso, Kelsea levanta o debate entre propriedades públicas e privadas, assim como sobre as questões morais que envolvem lidar com a nobreza tear e o julgamento devido de criminosos. Ela também enfrenta problemas com o autoritarismo da Igreja, por ser ateia e contra as atitudes do Santo Padre, que sempre dá preferência aos mais abastados e marginaliza a plebe – comportamentos totalmente contraditórios ao que uma Igreja deveria ter.
   Um dos detalhes mais interessantes foram os capítulos onde Kelsea viajava até a vida de Lily e passava a enxergar o mundo com os olhos daquela mulher desconhecida. O mundo de Lily era o lado moderno, praticamente o mundo que conhecemos hoje, mas com grandes características distópicas e futurísticas. Esse é o mundo da "pré-Travessia", ou seja, antes de o inglês William Tear entrar em cena, iniciar uma rebelião nos Estados Unidos e atravessar o mar até chegar em Tearling (ou melhor, fundá-la). Esse novo ângulo na história foi essencial para conhecer um pouco melhor o que levou Tearling a ser criada e a entrar em um universo mais familiar para os leitores, estabelecendo a ligação com o mundo de ares medievais, como Tearling, e o nosso – modernizado, cheio de poderio tecnológico e quase completamente destruído.

   Os personagens parecem ter sido feitos para abalar os mais diversos corações. Com certeza não se apegar a um deles é quase impossível, justamente pela alta variedade de personagens que tivemos neste segundo livro. Lily provavelmente é a mais envolvente. Sua história não é fácil, pois são muitas camadas de dor e mistérios que vão sendo desvendados aos poucos através de Kelsea. A interação entre as duas é um dos pontos fortes do livro e encarar a história de Lily me trouxe um turbilhão de sentimentos, da raiva a tristeza – ela é aquele tipo de personagem que tem essa capacidade, como se vivesse numa área cinzenta, nem preta, nem branca.
   Kelsea evoluiu bastante do primeiro livro para cá, especialmente com relação aos seus poderes, mas considerando o desfecho de A Rainha de Tearling, eu esperava mais amadurecimento da parte dela. Em muitos momentos era delicioso ver que a ousadia ainda permanecia integral em sua personalidade, o seu gênio forte e sua habilidade de sempre dizer o que pensa. Mas suas inseguranças a respeito do próprio corpo estão também continuam presentes para lembrar que a protagonista ainda é uma jovem cheia de temores e com muitas decisões difíceis para tomar.

"Deve haver idealismo para motivar o movimento, uma crença poderosa em uma vida melhor além do horizonte. Deve haver grande coragem diante de probabilidades terríveis" (p. 121).

   Porém, minha maior crítica vai para as mudanças na aparência da personagem – que ficou mais "bonita" –, já que um dos motivos para que eu gostasse dela foi a ausência do padrão de beleza que se vê em quase todas as protagonistas da literatura jovem-adulta. Outros personagens que também ganharam destaque – felizmente – foram o padre Tyler, que foi uma das surpresas positivas da história, e a Rainha Vermelha, um dos grandes mistérios do primeiro livro e finalmente têm seus mais profundos e tristes segredos sendo revelados. Ver fragilidade na antagonista é uma ótima estratégia para alavancar o enredo, já que assim chega-se nas motivações que a levaram se tornar a grande vilã da trama. Senti falta de foco em personagens como Pen, o guarda-costas da rainha, e Clava, o capitão da guarda real. Mas, pelo desfecho, acredito que teremos mais vislumbre dos dois no último livro.
   A capa do segundo livro ficou tão bonita quanto a do primeiro (principalmente levando em consideração que gosto mais de vermelho que de azul). Este foi mais um belo trabalho de arte e diagramação  realizado pela Suma de Letras. Agora estou ansiosa para ver a arte de capa do último livro. A única crítica que tenho a fazer é sobre a revisão, pois há uma grande quantidade de aliterações (ou seja, frases rimadas, onde as palavras tem a mesma terminação), o que é considerado um erro quando a intenção no original não era essa e claro, quando fica muito evidente que foi uma falha.
   A invasão de Tearling é uma continuação mais que digna de uma história tão original quanto a trilogia Tearling propõe ser. Apesar das evoluções, a escrita de Johansen manteve sua marca. Apesar das referências utilizadas, o enredo continua sendo único. Mesmo se tratando de uma fantasia, esta série tange muitos assuntos que fazem parte da nossa realidade. Neste segundo livro, essa característica ficou ainda mais clara. Foi ótimo poder ver a autora desmembrando uma distopia no mundo atual, mostrando que revoluções sempre irão existir (sem importar se estão certas ou erradas em suas causas), e que a sociedade tende a repetir seus erros do passado.


Primeiro parágrafo: "A segunda Invasão Mort tinha tudo para ser um verdadeiro massacre. De um lado estava o superior exército mort, de posse das melhores armas disponíveis no Novo Mundo e comandado por um homem que não hesitava por nada. Do outro estava o exército tear, com uma fração do tamanho e portando armas forjadas com ferro barato que quebrariam com o impacto de bom aço. As chances não eram ruins, e sim catastróficas. A ruína de Tearling era iminente". 
Melhores quotes: "Se nós pudéssemos ser pessoas melhores", ela dizia", se pudéssemos nos importar uns com os outros tanto quanto nos importamos com nós mesmos, pense, Lily! Pense em como o mundo seria maravilhoso!".
"Os erros do passado não são menos significativos, só são mais difíceis de consertar. E, quanto mais você os ignora a favor dos assuntos do presente, maior é esse dano, até que os problemas do passado acabam criando os problemas do futuro".


Um Comentário

  1. Oiee boa tarde, acabei de criar um blog e gostaria da sua ajuda.
    Amei demais seu blog. *_*
    Blog sobre livros... SEGUE LÁ! Me dá uma forcinha.
    https://caixinhadesonhosdelivros.blogspot.com.br/
    bjoos

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