Livro: Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos
Título Original: Hotel Valhala: Guide to The Norse Worlds
Autor(a): Rick Riordan
Editora: Intrínseca
Páginas: 160
ISBN: 978-85-510-0230-8
Sinopse: Este guia essencial dos deuses e deusas nórdicos, dos seres míticos e das criaturas fantásticas dos nove mundos foi preparado especialmente para você, estimado hóspede. Com dados importantes, entrevistas exclusivas e muitas reflexões, o guia vai ajudá-lo a começar o treinamento para o Ragnarök com o pé direito, evitando qualquer constrangimento desnecessário na pós-vida viking. Você nunca mais vai cometer o erro de achar que Ratatosk é um esquilo fofo nem confundir um anão com um elfo! Esperamos que Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos ofereça todo o conhecimento de que você precisa para sobreviver durante sua hospedagem eterna em nosso honorável hotel.

Rick Riordan nasceu em 1964 nos Estados Unidos, Texas, e hoje vive em Boston, com a esposa e os dois filhos. Autor best-seller do The New York Times, premido pela YALSA e pela American Library Association, por quinze anos ensinou inglês e história em escolas de São Francisco, e é essa experiência que ele atribui sua habilidade de escrever para o público jovem. Escritor das séries Percy Jackson e os Olimpianos, sobre a mitologia grega, As Crônicas dos Kane, sobre a mitologia egípcia, Heróis do Olimpo, inspirada nos mitos greco-romanos e Magnus Chase e os Deuses de Asgard, que trata da mitologia nórdica.

    O Hotel Valhala é o lugar para onde os einherjar (heróis que morreram com bravura na Terra, chamada de Midgard) vão depois que morrem – ou ao menos uma parte deles, pois a outra fica em Álfaheim, o mundo dos elfos ou Helheim, uma espécie de inferno nórdico. Valhala está localizada em Asgard e é comandado por Odin, o Pai dos deuses. Lá, os heróis vivem sua pós-vida em meio a muitos treinamentos de guerra – onde eles podem morrer e renascer constantemente, aprendendo com seus erros. Todo esse treino busca prepará-los para o Ragnarök, o juízo final ou fim do mundo na versão nórdica, que será marcado pela libertação do Lobo Fenrir, filho de Loki, o deus da trapaça. 
    Magnus Chase, o protagonista dessa série, chega ao Hotel completamente perdido (como é mostrado no primeiro livro, A espada do verão). São muitas coisas para absorver – tirando o fato de que está morto! Por isso, o gerente do lugar, Helgi, preparou um guia destinado a todos os einherjar que chegam a Valhala de forma a responder suas principais dúvidas e explicar como tudo funciona. Ele é escrito por diversos autores, que contribuem de alguma forma – produtiva ou não – para o entendimento do universo nórdico: seus nove mundos e as principais criaturas que nele habitam.
    Com prefácio e posfácio escritos por Helgi, boa parte do livro conta com a escrita de Hunding, o porteiro do Hotel. É ele que apresenta os deuses e deusas, os seres míticos e as criaturas fantásticas – ele tange os mais conhecidos e suas características mais notáveis, dividindo em categorias. Além desse conteúdo explicativo, também conta com entrevistas feitas por um dos lordes que ocupa a Grande Mesa dos Lordes em Valhala, Snorri Sturluson, textos de outros residentes do Hotel – inclusive alguns dos amigos de Magnus – e até mesmo de criaturas fantásticas. 

    Por já ter lido os dois primeiros livros da série Magnus Chase e os deuses de Asgard (entre outras obras de Rick Riordan), fiquei animada para poder ler mais um guia. São neles que Rick se dispõe a explicar o mundo no qual ele se inspirou para compôr a história e adicionar seus elementos criativos. Essa inspiração do autor é o que faz, em minha opinião, suas obras serem tão encantadoras – não se trata apenas de buscar elementos mitológicos, mas também de criar uma história totalmente nova, com detalhes contemporâneos e personagens incríveis.
    A escrita de Rick é leve e simples. Destinado ao público infanto-juvenil, o livro busca explicar de forma clara e dinâmica como o mundo nórdico pode ser interessante – e o melhor de tudo: não está esquecido em empoeirados livros de história viking que ficam nos recantos de algumas seções esquecidas de biblioteca. A narrativa varia bastante e vários tipos de formatos são apresentados. Há o formato de entrevista (o pingue-pongue, com perguntas e respostas), curiosamente escrito por um dos corvos fiéis de Odin, onde o Lorde Snorri se encontra com deuses e deusas fazendo perguntas a respeito de suas funções e personalidades (e também aproveita para bajular um pouco, como é do costume do exibido personagem). Também conta com recortes de notícias, memórias e artigos escritos por outros personagens já conhecidos dos livros anteriores.

"Pelo que entendi, quando combinado com outras palavras, a hashtag tem o poder de distrair a mente de assuntos mais importantes. Se eu estiver certo, esse vai ser o assunto do meu próximo livro. A princípio, o título vai ser... você vai adorar... Hashtag" (p. 27).
 
   Mesmo sendo voltado à explicação de uma das mitologias mais antigas do mundo, Rick consegue dar uma nova roupagem e trabalhar os mitos adaptando-os aos nossos dias. Por exemplo, o mundo dos elfos, Álfaheim, é conhecido pela Alflix, serviço de vídeo por streaming, enquanto os costumes de interpretação das runas são deixados de lado pelas gerações recentes. Essa tentativa de ligação com o público jovem é a marca registrada de Rick, que realmente tem um talento nato de atingir seu público com maestria. Outro detalhe interessante é que o livro dá margem para O Martelo de Thor, deixando pistas que serão aproveitadas no livro dois.
    Alguns dos personagens mencionados no guia (inclusive os deuses) já tiveram sua apresentação no primeiro livro (o guia foi lançado depois do primeiro e antes do segundo), o que cria uma ligação entre o leitor e os personagens que consegue identificar. Nesse livro vemos mais alguns lados de Snorri, que se prova pior que nos outros livros. Também há o relato de como John Henry conheceu seu pai, Thor – uma história prometida no livro anterior – e do amável Mestiço Gunderson contando uma das conhecidas histórias sobre as criaturas fantásticas que servem em Valhala. Porém, uma das melhores histórias (chega a ser emocionante) é a do anão Gonda, que conta detalhe por detalhe sobre seu trabalho, pelo qual é apaixonado.
    Há mais quatro livros lançados por Rick que seguem esse mesmo estilo de manual. Três acompanham a série Percy Jackson e os Olimpianos: Diários do semideus, Os arquivos do semideus e Guia definitivo (sem contar com o livro-bônus, lançado com exclusividade no Brasil, Semideuses e Monstros). O outro é da série As crônicas dos Kane: Guia de Sobrevivência. São todos bastante vastos e costumam explorar bastante não apenas a mitologia na qual se baseia, mas também o universo criado por Rick nos livros que os precedem. Em comparação com esses, Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos é bem simples e não se aprofunda da forma como eu esperava. Tem grandes doses de leveza e bom humor, mas infelizmente, dosou demais a superficialidade de algumas informações – talvez por uma demasiada preocupação com o entendimento de seu público-alvo – e pendeu mais para o universo de Rick do que para o universo nórdico original.

"Temos os draugr (zumbis), as volvas (videntes), as bruxas (bruxas) e os atendentes de telemarketing (irritantes)" (p. 87).

    O design da capa dura segue o estilo do original e dos outros livros do mesmo tipo – citados acima – também publicados pela editora Intrínseca. A arte lembra uma capa em couro, com uma combinação de cores que o torna um livro de aparência rústica e simples. Pouco maior que um livro de bolso (18x13cm) Hotel Valhala: Guia dos mundos nórdicos é prático para se levar a qualquer lugar e que cabe facilmente na estante. Ainda contém várias ilustrações e uma diagramação recheada, o que deixa a obra ainda mais dinâmica e divertida.
    Com o objetivo de informar e ao mesmo tempo entreter, Rick Riordan leva à crianças e adolescentes o maravilhoso mundo da mitologia nórdica. Apesar de vermos o tempo todo a publicidade em torno do Thor das histórias em quadrinhos e das suas adaptações no cinema, a série Magnus Chase e os deuses de Asgard – principalmente este guia – mostra que os mitos vikings são muito mais que isso. Todos os seres fantásticos que compõem essa antiga crença tem uma vasta riqueza que Rick sempre consegue demonstrar em suas obras (não podemos esquecer o quanto a mitologia grega se tornou popular depois de Percy Jackson e os Olimpianos). Estabelecer essa linha de diálogo entre histórias tão importantes para a composição da atual civilização e o público jovem é algo sempre encantador. Hotel Valhala: O guia dos mundos nórdicos não só dá as boas-vindas aos novos moradores do hotel mais conhecido de Asgard, mas também a todos os leitores que pretendem embarcar nessa aventura. 

Primeiro parágrafo: "Estimado hóspede, venho, em nome de toda a equipe do Hotel Valhala, lhe desejar as boas-vindas. Sabemos que somos apenas uma das muitas opções para sua pós-vida, por isso agradecemos pelo sacrifício altruísta que o fez se juntar aos guerreiros de Odin em vez de optar por outras acomodações".
Melhor quote: "Não tem nada de inventado ou imaginário nesses seres: eles são reais. Quanto mais cedo você acreditar na existência deles, mais seguro estará. Pelo menos é o que eu acho".




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