Livro: A Sexta Extinção: Uma história Não Natural
Título Original: The Sixth Extinction: An Unnatural History
Autora: Elizabeth Kolbert
Editora: Intrínseca
Páginas: 336
ISBN: 9788580578041
Sinopse: Ao longo dos últimos quinhentos milhões de anos, o mundo passou por cinco brutais extinções em massa, nas quais sua biodiversidade caiu de maneira abrupta. Dessas, a mais conhecida foi a que eliminou, entre outros seres vivos, os dinossauros, quando um asteroide colidiu com o planeta há 65 milhões de anos. Atualmente, vem sendo monitorada a sexta extinção, que tem potencial para ser a mais devastadora da história da Terra. Mas, dessa vez, a causa não é um asteroide ou algo semelhante. Nós somos a causa. Em "A sexta extinção", a jornalista Elizabeth Kolbert explica de que maneira e por que o ser humano alterou a vida no planeta como absurdamente nenhuma espécie fizera até hoje. Para isso, a autora lança mão de trabalhos de dezenas de cientistas nas searas mais diversas e vai aos lugares mais remotos em busca de repostas: de ilhas quase inacessíveis na Islândia até a vastidão da cordilheira do Andes. Kolbert mostra que a sexta extinção corre o risco de ser o legado final da humanidade e nos convida a repensar uma questão fundamental: o que significa ser humano?

    Elizabeth Kolbert é jornalista e colaboradora da revista The New Yorker desde 1999, e neste veículo foi onde saiu boa parte de sua pesquisa (e alguns trechos) do livro A Sexta Extinção, vencedor do prêmio Pulitzer (o maior prêmio da comunidade jornalística da contemporaneidade) de 2015, como o melhor livro não-ficção. Também teve passagem pelo jornal The New York Times e pela revista Times Magazine. Também recebeu outros prêmios, como o National Magazine Award (por duas vezes) pela aclamada série de reportagens "The Climate of Man".

    Narrar a história do planeta pode parecer algo esplêndido. Mas não é nada bonito imaginá-lo como o nosso habitat quando eliminamos a possibilidade de outras espécies tê-lo como tal. É isso que Elizabeth Kolbert nos leva a pensar com A Sexta Extinção. Os seres humanos nem sempre dominaram a Terra, nem sempre foram os responsáveis pelas extinções em massa que ocorreram a dezenas (centenas ou milhares, em alguns casos) de anos atrás. Mas caminha a passos cada vez mais rápidos para essa situação. Kolbert se dispôs a acompanhar cientistas de diversos segmentos para mostrar essa face brutal da realidade
    Doze espécies são analisadas ao longo do livro — algumas já em extinção, outras correndo o temido risco de desaparecerem também. Cientistas que estudam os casos de cada uma, são ouvidos e suas posições são retratadas, visando o futuro de tais espécies, como podemos encarar a preservação daquelas que ainda não foram extintas e como prosseguir se o pior acontecer. As previsões não são muito animadoras, e a autora não hesita em mostrar isso com toda a honestidade. Porém, ao estudar cientistas diferentes, incluindo aqueles que "fizeram história", como Charles Darwin, Georges Cuvier, Charles Lyell, entre outros, mostra que a ciência não é constante e que debates podem haver, bem como caminhos diferentes podem ser percorridos.

    O jornalismo ambiental é algo escasso na área da escrita e, ao meu ver, merece mais atenção por parte da sociedade como um todo, e não apenas daqueles que se encontram nesse meio. Tratar sobre o ambiente que vivemos, bem como sobre o futuro da raça humana, me parece algo digno de destaque, principalmente quando nos leva a refletir. Essas razões foram o que me fizeram nutrir interesse pelo livro. Fatos baseados em dados, estatísticas e previsões — mesmo que não sejam muito animadoras — costumam dar uma "sacudida" na mente e em nosso agir. Isso faz com que este livro seja instigante para mim, sem falar em seu gênero de reportagem, que tem o poder de deixar uma obra mais atrativa e acolhedora — e a autora soube se aproveitar muito bem disso. 
    A narrativa não segue um ritmo lento. Sendo narrada pela própria autora, destacando suas experiências durante a pesquisa, a obra cria um universo extremamente realístico onde adentramos com facilidade, porque, afinal de contas, já estamos dentro dele — o enredo simplesmente nos ajuda a entender melhor como isso funciona, nos pondo como parte de um todo ao qual sempre pertencemos, mas não nos damos conta. Mesmo se tratando de um assunto sério e com uma linguagem mais técnica, Kolbert não deixa de lado as tiradas cheias de um humor inteligente acerca do assunto, o que contribui para dar ainda mais um choque de realidade. Descreve de forma detalhada cada coisa que viu, ouviu e sentiu durante suas aventuras no meio das florestas, nos museus, em cavernas, e em vários outros lugares.

"A sexta extinção continuará determinando o curso da vida bem depois de tudo o que as pessoas escreveram, pintaram e construíram ser reduzido a poeira e os ratos gigantes terem — ou não — herdado a Terra" (p. 279).

    Os personagens principais desta história com certeza são as espécies abordadas. Kolbert as põe na berlinda e temos que nos inclinar perante elas e estudá-las, analisá-las, ou até mesmo, pedir-lhes perdão — muitas vezes somos responsáveis, mesmo que de forma indireta, pelos riscos que elas correm todos os dias. Os especialistas nos assuntos tratados também têm uma importante participação secundária. Pontos de vista divergentes são relatados, e de forma indireta, a escritora também inserir sua visão de mera espectadora.
    Um livro escrito por uma jornalista, apenas uma escavadora da verdade e que não é especialista no assunto abordado, exige muita atenção, pesquisa e observação. Esses ingredientes, sem dúvida, preencheram o enredo do início ao fim. Muita leitura foi realizada, muitos especialistas foram ouvidos, muitas experiências foram vividas de perto pela própria autora. O livro traz então, um conjunto de tudo isso, e de forma perfeitamente organizada — trabalho que a escritora atribui às agentes editoriais em sua nota — consegue transmitir sua mensagem.
     As fotografias que permeiam as páginas do livro mostram cada detalhe que é narrado. Pode-se tê-las como demonstração de tudo o que está sendo dito. Isso, para o jornalismo, é visto como provas visuais, um grande avanço neste meio e para o leitor, é um embasamento quase científico — se considerarmos fotografias como uma ciência, o que também é possível apesar de haver controvérsias. O cuidado com as notas e com os créditos também foi algo de muito zelo por parte da autora e também a criação de infográficos explicativos (ou seja, não precisa ser nenhum expert em geologia, biologia, paleontologia, ou qualquer uma das ciências que o livro utiliza em sua construção).

"Uma teoria para o fim das amonites, popular no início do século XX, dizia que  a concha desenrolada de espécies como a Eubaculites Carinatus indicava que o grupo tinha exaurido suas possibilidades práticas e ingressado numa fase de decadência, mais ou menos como Lady Gaga" (p. 98).

    Enxerguei apenas coisas positivas no livro — e não é para menos que ele tenha ganhado um prêmio tão importante quanto um Pulitzer —, que tratou de um assunto tão sério com uma leveza surpreendente, sem se tornar uma leitura enfadonha. Mesmo que toque em um assunto que exige pesquisa, conhecimento e ação, a autora toma para si a liberdade, como escritora e testemunha das extinções que ocorrem a nossa volta com inúmeras espécies (algumas que ela mesma teve a oportunidade única de conhecer), de questionar autores que se posicionaram céticos, no passado, com relação às extinções — mesmo que seja Darwin! Essa ousadia foi realmente encantadora, e mostra que a autora não apenas relatou uma história (não natural, como a mesma afirma) mantendo-se passiva, ela também é uma atuante consciente, assim como cada um de nós.
    O trabalho de capa e diagramação ficaram muito bonitos e dinâmicos. O uso do vermelho com o amarelo e branco sobrepostos, deram um ar melhor ao livro já que se trata de um tema polêmico, de urgência — a combinação de cores traz um diferencial muito mais bonito e atraente ao que é mostrado no original (amarelo ao fundo combinado ao azul marinho e vermelho). Em outra versão ele é verde ao fundo e o combina com a amarelo, vermelho e preto. Porém, a intrínseca fez uma boa escolha de coloração e contrastes. 
    A Sexta Extinção não é uma obra que nos leva apenas a pensar em outras espécies de forma piedosa e nos ajuda a tomar mais consciência em nossas atitudes com nossa forma de enxergar a situação. Vai mais além. Ela também consegue pôr o ser humano no mesmo barco que todas as outras espécies extintas e em risco de extinção, mostrando que só porque avançamos em níveis de evolução, não quer dizer que temos o direito de tomarmos o planeta para nós e exercemos um domínio brutal e massacrante sobre as outras espécies. Mostra que o Homo Sapiens, agindo de forma hostil com outros seres, pode estar virando-se não apenas contra o planeta, mas, consequentemente, contra si mesmo. É o tipo de livro que perdura em sua mente mesmo após terminar sua leitura — faz pensar e desejar ter um mundo e uma perspectiva melhores a respeito do futuro.
   
Primeiro parágrafo: "Dizem que os primórdios tendem a ser obscuros. O mesmo ocorre com esta história, que começa com o surgimento de uma nova espécie há mais ou menos duzentos mil anos. A espécie ainda não tem nome — nada tem nome —, mas tem a capacidade de nomear as coisas"
Melhores quotes: "Não importa muito se as pessoas cuidam ou não do planeta. O que importa é que as pessoas mudam o mundo"."Quando tivermos acabado, é bem provável que não haja mais nenhum representante dos primatas além de nós mesmos".


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