Livro: Zac & Mia
Autor(a): A.J. Betts
Editora: Novo Conceito
Páginas: 288
ISBN: 978-85-8163-774-7

Sinopse: A última pessoa que Zac esperava encontrar no quarto de hospital ao lado do seu era uma garota como Mia – bonita, irritante, mal-humorada e com um gosto musical duvidoso. No mundo real, ele nunca poderia ser amigo de alguém como ela. Mas no hospital as regras são diferentes. Uma batida na parede do seu quarto se transforma em uma amizade surpreendente. Será que Mia precisa de Zac? Será que Zac precisa de Mia? Será que eles precisam tanto um do outro? Contada sob a perspectiva de ambos, Zac & Mia é a tocante história de dois adolescentes comuns que se encontram em circunstâncias inesperadas.


Crescida na Austrália Ocidental (em sua capital, Perth), A.J. Betts é contabilista, mas também leciona e escreve. Já tem dois títulos publicados além de Zac & Mia, mas este é o primeiro publicado no Brasil pela editora Novo Conceito.
A vida de Zac Meier — um típico cidadão do interior pacato da Austrália — muda drasticamente quando ele é obrigado a deixar tudo de lado para focar na doença que nele foi diagnosticada. O que ele não esperava, é que no quarto ao lado do qual não poderia sair por conta de seu tratamento, alguém surgiria para lhe tirar do tédio e para lhe mostrar outro modo de encarar a luta contra as consequências do câncer. Esse alguém é Mia, que, assim como Zac, tem dezessete anos; mas, diferente dele, encara tudo como uma cruel batalha, na qual apenas ela pode se sobressair — mesmo quando não tem mais forças.
Se tudo para Zac mudou, para Mia, virou de cabeça para baixo. A garota da cidade que sempre foi popular, desejada e invejada, agora se vê enfrentando algo que não pode controlar e que a deixa cada vez mais fraca. Então ela tem que dar adeus às festas, às diversões com os amigos e à vida fácil e sem sofrimento. E é quando está passando por isso, se considerando a pessoa mais azarada do mundo, que conhece o garoto do Quarto 1, bem ao lado do seu, com quem passa a se comunicar de formas estranhas. Mia se surpreende ao perceber que, mesmo Zac tendo um tipo de câncer pior que o seu, ainda consegue ver tudo de forma simples, e até mesmo divertida.
De repente, um se torna o ponto de apoio do outro. Mesmo Mia sendo alguém difícil de lidar, cheia de certezas absolutas e mau humor, Zac, sendo exatamente seu perfeito oposto, consegue entrar no mundo da garota que nunca deixa ninguém chegar perto demais. Mesmo passando por momentos difíceis, eles conseguem se entender e, acima de tudo, compreender a doença que possuem, passando por diversos níveis: desde a aceitação dela, até a parte em que percebem do que precisam abrir mão, se quiserem continuar curtindo a coisa maravilhosa que pode ser a vida.
A.J. Betts é uma escritora completamente nova para mim. Porém, sick-lits já não me são novidade. O gênero, que anda conquistando cada vez mais o público, tem como características o drama, a melancolia depressiva, com personagens que sofrem algum distúrbio, doença, etc., enfatizando bastante seu significado: “literatura-doentia”. Porém, com a abertura para jovens leitores, os sick-lits se tornaram mais joviais, adquirindo características alternativas, que dão mais dinâmica à leitura. E com Zac & Mia não foi diferente.
Narrado em primeira pessoa, o livro se divide em três partes: uma narrada apenas por Zac; outra em que Zac e Mia alternam a narração; e por último, Mia é a narradora-personagem. Apesar de ser uma narrativa lenta, é bastante simples, e tão leve que as páginas passaram sem que me desse conta. Além disso, acaba adotando uma linguagem cibernética informal, em momentos que a tecnologia e redes sociais se fazem presentes. Os diálogos são muito bem formulados, pela química que todos os personagens têm entre si. Mas os melhores momentos da escrita de A.J. Betts ocorrem nas reflexões fora dos diálogos – é onde as coisas realmente acontecem.

“De todos eu sou o menos corajoso. Nunca me alistei para essa guerra. A leucemia me convocou, essa filha da puta” (pág. 51).

Algo que achei novo e ao mesmo tempo instigante, foi o fato de que a autora não revelou totalmente o jogo – o que é meio esperado quando um livro é narrado em primeira pessoa. Aos poucos, é que vamos conhecendo os personagens principais, e a ideia inicial que se tem sobre cada um deles não é mantida. Nada é constante, e isso é bom, pois o enredo não tem altos e baixos muito drásticos, então toda pequena epifania causada nos leitores é bem-vinda.
Os conhecimentos revelados no livro também foi uma característica interessante. Ao final, nos agradecimentos, é que pude ver o quanto a ajuda que a autora teve para escrevê-lo foi essencial. A doença dos personagens, bem como seus tratamentos, e todos os procedimentos necessários ligados ao câncer, foram utilizados com maestria. E não só isso, mas pelo fato de Zac viver numa fazenda onde se há plantação de azeitonas e criação de animais, A.J. Betts surpreendeu ao citar todos os minimalismos de um lugar como aquele, e revelou justamente todo o auxílio que recebeu quanto a isso, além de ter se preocupado com notas de rodapé explicativas. Todos esses detalhes fazem com que o leitor mergulhe de cabeça no universo que o livro apresenta.
 Cada um dos personagens são extremamente realistas, a começar por Zac e sua família. Ele é o tipo de pessoa que, mesmo tendo passado por muita coisa desde seu diagnóstico e com suas restrições, não vive em função da doença; prossegue junto com aqueles que ama, sem maiores preocupações, aceitando que a leucemia faz parte de sua vida agora, e leva em si o lema “o que tiver de ser, será”. Com Mia e sua mãe, ocorre o oposto: o drama da descoberta de algo tão inesperado abala ainda mais a relação entre elas. Todo o furor que fazem a respeito do câncer vem à tona quando a garota recebe a notícia, o que é comum. Mas com o passar do tempo, as coisas vão evoluindo e tomando o rumo esperado.
Os personagens secundários conseguiram me conquistar mais facilmente que os próprios protagonistas, pois se trata daquelas pessoas que estão ao redor dos pacientes com câncer. E a forma como eles conseguem lidar com a situação, sabendo sempre do risco iminente de perder uma pessoa querida, é inspiradora – e claro, nunca é fácil, por isso eles passam por altos e baixos, nem sempre enfrentando tudo com tanta firmeza quanto gostaria. Além desses, há personagens como Cam, que também sofre com a doença, e seu modo de encará-la também se difere dos de Mia e de Zac. Médicos e enfermeiras se juntam aos outros, e no livro é mostrado a real solidificação desses profissionais frente à esse trabalho difícil.


A única coisa recomendada para quem pretende ler o livro é: não crie expectativas. Dificilmente elas serão mantidas. Isso não é de todo ruim, mas ter que aguardar um clímax que não chega, pode acabar com a empolgação de alguém durante a leitura. Apesar de cada capítulo apresentar uma coisa nova que acrescenta muito à história, não há um verdadeiro clímax, um momento bombástico e revelador ou algo do tipo. O livro é, sim, bastante envolvente, mas nada arrebatador.
Como sempre, a editora Novo Conceito traz um trabalho de diagramação belíssimo — que em si já traduz a beleza e a sublimidade do livro — além de uma perfeita tradução e revisão. Dentro de uma gama de lançamentos com títulos de mesmo formato que “Zac & Mia”, o trabalho visual inovou e se tornou atrativo de um jeito simples. Quanto a isso, tenho apenas congratulações a fazer. Impecável.
Com um enredo light, é um ótimo livro para relaxar, porém, com reflexões profundas em sua simplicidade. Zac & Mia não é apenas mais um do mesmo. Ver as pessoas, o mundo e o câncer através desses incríveis personagens, não é só uma forma de entretenimento onde se pode torcer pela felicidade de ambos, mas um jeito novo de enxergar a si próprio e as pessoas que sofrem com a doença. Certamente, depois de ter tido essa leitura como experiência, não penso mais da mesma forma que antes. E acredito que o conteúdo dessa obra pode modificar muitas outras convicções.

Primeiro parágrafo:
“Um novato chega ao quarto ao lado. Desse lado da parede escuto o arrastar de pés, inseguros sobre onde ficar. Escuto Nina dando as instruções de chegada com aquele jeito animado de aeromoça, como se este “voo” fosse seguir tranquilo, sem a necessidade de puxar a alavanca da saída de emergência. Apenas relaxe a aproveite o benefício. Nina tem aquele tipo de voz que faz a gente acreditar.
Melhores quotes:
“Espanta-me como a confusão do universo sabe exatamente o que está fazendo, como tudo foi acertado 13 bilhões de anos atrás e a as galáxias estão seguindo as regras desde então. Elas estão todas lá em cima, seguindo o ritmo e fazendo todo o sentido, enquanto nós humanos estragamos tudo no pequeno tempo que tivemos”.
“Percebo agora o que é coragem. Coragem é ficar parada, apesar de querer correr. Coragem é se plantar no lugar e encarar coisas que assustam, quer seja sua perna, ou seus amigos, ou o cara que pode partir seu coração de novo. É abrir os olhos e encarar o medo até ele recuar”.





Um Comentário

  1. Faz algum tempo que tenho visto falar nesse livro, mas nunca parei pra ler nenhuma resenha.
    Me interessou bastante a proposta do livro, pois é o tipo de gênero que gosto e sempre consigo me identificar.
    Gostei também da sua resenha e como você deixa em evidência as palavras pra chamar a atenção - cumpriu o propósito, haha.
    Parabéns pela resenha e blog!

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